Preciso da minha saúde física
Todos os dias
Preciso da minha saúde espiritual
Constante e incansavelmente.
– Sri Chinmoy, My Christmas-New Year-Vacation Aspiration-Prayers, Part 07, Agni Press, 2002
Ao juntar os textos para este artigo sobre a parte científica dos benefícios da meditação, pensei naquela ideia de que há verdade em tudo. O quanto valorizamos essa verdade é que depende do ponto de vista.
Para mim e para, imagino, quase 100% dos meus colegas que praticam a meditação, a meditação é uma necessidade – é algo que apareceu nas nossas vidas como a lava que brota de um vulcão. Não era uma questão de pesar benefícios da meditação contra não praticar.
A vida como se encontrava não nos trazia o sentimento de progresso e satisfação verdadeiros, então precisávamos encontrá-los. E isso apareceu na figura de um caminho espiritual, um Mestre espiritual, e a disciplina espiritual. (conforme o mantra budista Buddham saranam gacchami, que representa essas três necessidades para uma busca completa e bem sucedida). Dessas três, a meditação é parte da disciplina e prática espiritual que, sim, traz imensos benefícios.
Separei dois trechos do texto principal que elucidam o que penso.
“Meditar é uma boa forma de alcançar uma vida mais feliz, saudável e produtiva”.
“Um estudo revelou que as pessoas que utilizaram a meditação de cunho espiritual tiveram maior redução da ansiedade, maior relato de afetos positivos e maior tolerância à dor, em comparação com o grupo que utilizou a meditação secular. Além disso, alguns autores sustentam que a meditação realizada fora de seu contexto original não é tão facilitadora de características tradicionalmente atreladas à prática, como níveis mais profundos de propósito na vida e auto-atualização.”
No entanto, deixei aqui três artigos que encontrei, com algumas omissões para simplificar e encurtar o texto. Eles falam de testes, resultados, impressões, etc, dos benefícios mensuráveis, seculares da meditação. Não é o que me interessa pessoalmente, mas talvez você ou outros se interessem. E também faz parte da verdade, né?
Por sinal, se quiserem ler um livro propriamente falando (pois aqui neste texto tem trechos de artigos científicos), e que tem uma compilação de perguntas e respostas sobre a prática em si, concentração, benefícios, etc, recomendo o livro Meditação, do meu professor Sri Chinmoy.
Meditação ganha, enfim, aval científico
Estudos sérios estão afastando as dúvidas que costumavam pairar sobre a prática e mostram que ela é extremamente eficaz no tratamento do stress e da insônia, pode diminuir o risco de sofrer ataque cardíaco e até melhorar a reação do organismo aos tratamentos contra o câncer
Por Tiago Cordeiro
Meditação ganha, enfim, aval científico
A receita para lidar com dezenas de problemas de saúde é fechar os olhos, parar de pensar em si e se concentrar exclusivamente no presente. A ciência está descobrindo que os benefícios da meditação são muitos, e vão além do simples relaxamento. “As grandes religiões orientais já sabem disso há 2.500 anos. Mas só recentemente a medicina ocidental começou a se dedicar a entender o impacto que meditar provoca em todo o organismo. E os resultados são impressionantes”, afirma Judson A. Brewer, professor de psiquiatria da Universidade Yale.
Iniciada na Índia e difundida em toda a Ásia, … Até a década passada, não contava com respaldo médico. Nos últimos anos, os pesquisadores ocidentais começaram a entender por que, afinal, meditar funciona tão bem, e para tantos problemas de saúde diferentes. “Com a ressonância magnética e a tomografia, percebemos que a meditação muda o funcionamento de algumas áreas do cérebro, e isso influencia o equilíbrio do organismo como um todo”, diz o psicólogo Michael Posner, da Universidade de Oregon.
A meditação não se resume a apenas uma técnica: são várias, diferindo na duração e no método (em silêncio, entoando mantras etc.). Essas variações, no entanto, não influenciam no resultado final, pois o efeito produzido no cérebro é parecido. Na prática, aumenta a atividade do córtex cingulado anterior (área ligada à atenção e à concentração), do córtex pré-frontal (ligado à coordenação motora) e do hipocampo (que armazena a memória). Também estimula a amígdala, que regula as emoções e, quando acionada, acelera o funcionamento do hipotálamo, responsável pela sensação de relaxamento.
Não se trata de encarar a meditação como uma panaceia universal, os estudos mostram também que ela tem aplicações bem específicas. Mas, ao contrário de outras terapias alternativas que carecem de comprovação científica, a meditação ganha cada vez mais respaldo de pesquisas realizadas por grandes instituições.
Hoje, os estudos sobre os benefícios da meditação estão concentrados em seis áreas.
Redução do stress
Meditar é mais repousante do que dormir. Uma pessoa em estado de meditação consome seis vezes menos oxigênio do que quando está dormindo. Mas os efeitos para o cérebro vão mais longe: pessoas que meditam todos os dias há mais de dez anos têm uma diminuição na produção de adrenalina e cortisol, hormônios associados a distúrbios como ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade e stress. E experimentam um aumento na produção de endorfinas, ligadas à sensação de felicidade. A mudança na produção de hormônios foi observada por pesquisadores do Davis Center for Mind and Brain da Universidade da Califórnia. Eles analisaram o nível de adrenalina, cortisol e endorfinas antes e depois de um grupo de voluntários meditar. E comprovaram que, quanto mais profundo o estado de relaxamento, menor a produção de hormônios do stress.
Este efeito positivo não dura apenas enquanto a pessoa está meditando. Um estudo conduzido pelo Wake Forest Baptist Medical Center, na Carolina do Norte, colocou 15 voluntários para aprender a meditar em quatro aulas de 20 minutos cada. A atividade cerebral foi examinada antes e depois das sessões. Em todos os pesquisados, foi observada uma redução na atividade da amígdala, região do cérebro responsável por regular as emoções. E os níveis de ansiedade caíram 39%.
Para quem já está estressado, a meditação funciona como um remédio. Foi o que os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos descobriram ao analisar 28 enfermeiras do hospital da Universidade do Novo México, 22 delas com sintomas de stress pós-traumático. A metade que realizou duas sessões por semana de alongamento e meditação viram os níveis de cortisol baixar 67%. A outra metade continuou com os mesmos níveis.
Resultados parecidos foram observados entre refugiados do Congo, que tiveram que deixar suas terras para escapar da guerra. O grupo que meditou ao longo de um mês viu os sintomas de stress pós-traumático reduzir três vezes mais do que as pessoas que não meditaram – índices parecidos aos já observados entre veteranos americanos das guerras do Vietnã e do Iraque.
Melhoria do sistema cardiovascular
A Universidade de Ciências da Saúde da Geórgia conseguiu melhorar a sobrecarga cardíaca de 31 adolescentes americanos hipertensos. Os jovens apenas acrescentaram um hábito a suas rotinas: meditar duas vezes por dia, durante 15 minutos, ao longo de quatro meses. Outros 31 receberam orientações médicas, mas não meditaram. A primeira metade terminou o período de testes com a massa do ventrículo esquerdo menor – sinal de redução dos riscos de desenvolver doenças cardíacas e vasculares.
Outro levantamento, este da Universidade da Califórnia em Los Angeles, mediu o acúmulo de gordura nas artérias de 30 pessoas com pressão alta. Depois de meditar 20 minutos, duas vezes por dia, ao longo de sete meses, a quantidade estava menor, enquanto que ela não havia sido alterada no grupo de controle.
Meditar também é útil para reduzir em 47% as chances de ataque cardíaco e infarto em adultos. Foi o que concluiu a Associação Americana do Coração, depois de acompanhar um grupo de pacientes de 59 anos de idade, em média, ao longo de nove anos, de 2000 a 2009. Todos continuaram recebendo a medicação necessária, mas metade foi convidada a participar de sessões de meditação sem regularidade definida. Neste grupo, a pressão arterial caiu significativamente. “Foi como se a meditação funcionasse como um medicamento totalmente novo e muito eficiente para prevenir doenças cardíacas”, afirma o fisiologista americano Robert Schneider, diretor do Center for Natural Medicine and Prevention e responsável pelo estudo.
Insônia e distúrbios mentais
Técnicas de relaxamento profundo, colocadas em prática durante o dia, podem melhorar a quantidade e a qualidade do sono. É o que aponta um estudo de 2008, do Northwestern Memorial Hospital, de Illinois. Cinco pessoas, com 25 a 45 anos e sofrendo de insônia crônica, foram submetidas à meditação durante dois meses. Passaram a dormir duas horas a mais por dia e alcançaram níveis de sono REM mais próximos do considerado saudável.
Em muitos casos, a insônia é sintoma de depressão. A meditação também funciona para atacar a causa. A Universidade da Califórnia conseguiu reduzir os casos de depressão entre 20 idosos com um simples programa de oito semanas de relaxamento, meia hora por dia. “No limite, meditar atrasa o aparecimento de sintomas do Alzheimer. A depressão na terceira idade é um fator de risco para o desenvolvimento desta doença”, afirma o psiquiatra Michael Irwin, professor do Semel Institute for Neuroscience and Human Behavior da universidade.
O psicólogo Michael Posner e o neurocientista e professor da Universidade de Tecnologia do Texas Yi-Yuan Tang mediram a densidade dos axônios de pessoas que começaram a meditar. Quanto mais densos, maior a capacidade de realizar conexões cerebrais e menores os riscos de sofrer distúrbios mentais, de depressão a esquizofrenia. “A quantidade de conexões cerebrais está diretamente relacionada à saúde mental. Neste sentido, podemos dizer que a meditação é um exercício para a mente, excelente para deixá-la mais musculosa e prevenir doenças”, afirma o professor Posner.
Alívio da dor
Quem tem a meditação como hábito sente menos dor. O pesquisador Joshua Grant, do Departamento de Fisiologia da Universidade de Montreal comprovou esta hipótese encostando placas aquecidas nas nucas de 26 pessoas, 13 delas sem contato com a técnica e outras 13 com mais de 1000 horas de experiência em meditação. A placa era aquecida a 46 graus, depois 47, e assim sucessivamente, até 56. Todos os meditadores suportaram temperaturas acima dos 52 graus.
Nenhuma das pessoas inexperientes aguentou mais do que 50 graus. Na medida, o grupo que medita respirou 12 vezes por minuto. O outro respirou 15 vezes, um indício de stress maior. “As pessoas que meditam precisam menos de analgésicos. Elas sofrem menos pela antecipação da dor”, diz Grant, que, no cruzamento de dados, concluiu que o hábito de meditar provocou uma resistência à dor 18% maior. De acordo com um grupo de neurocientistas do Center for Investigating Healthy Minds da Universidade de Wisconsin-Madison, a resistência de quem medita é maior em situações em que o stress influencia diretamente no nível de dor – caso de artrite e inflamações intestinais.
Reforço do sistema imunológico
O sistema imunológico também é favorecido. “O aumento da atividade cerebral relacionada a pensamentos positivos tem influência direta na maior produção de anticorpos. A meditação também intensifica a ação da enzima telomerase”, diz Judson A. Brewer, de Yale. As implicações desta descoberta são fundamentais para o tratamento de tumores malignos. A Associação Americana de Urologia já declarou que a meditação é recomendada para ajudar a conter o câncer de próstata.
Também ajuda a lidar com o câncer de mama. Um grupo de 130 mulheres com a doença, todas com mais de 55 anos, aceitaram participar de um teste que reforça esta teoria. Ao longo de dois anos, elas foram divididas em dois grupos, um deles fazendo meditação. A situação foi monitorada pelos médicos do Saint Joseph Hospital, em Chicago. A metade que meditou teve maior resistência para lidar com as dores provocadas pela quimioterapia e experimentou uma reação física melhor à doença.
Melhoria na concentração
Na escola estadual Bernardo Valadares de Vasconcellos, em Sete Lagoas (MG), os 1.400 alunos fazem, todos os dias, o Tempo de Silêncio. Quem desejar pode aproveitar os 15 minutos para meditar. Quem não quiser, pode apenas descansar. A iniciativa foi inspirada pela Fundação David Lynch, que já orientou a criação de programas de meditação na escola estadual Presidente Roosevelt, em São Paulo, e na escola estadual Helio Pelegrino, no Rio de Janeiro.
“Estimamos que 20% dos estudantes continuam meditando por conta própria”, diz Joan Roura, diretor da fundação no Brasil. “Alunos que meditam são mais tranquilos, mais focados e têm maior capacidade de apreender informações.” A prática rende melhores notas: entre 235 crianças de colégios de Connecticut que começaram a meditar, representou um aumento de 15% nas provas e avaliações.
As áreas do cérebro responsáveis pela memória e pela atenção chegam a ficar mais densas quando se medita. Foi a conclusão a que chegaram pesquisadores de Harvard, Yale e MIT, municiados por scanners de cérebro. Pessoas que meditam com frequência ao longo de vários anos também demoram mais para sofrer a redução destas áreas, em especial o córtex frontal.
“Um estudante que medita pode ter melhores notas, uma vida mais saudável e boas condições de lutar por melhores postos no mercado de trabalho, com menor tendência para sofrer doenças cardiovasculares, stress ou distúrbios mentais”, diz Judson A. Brewer. Em resumo: “Meditar é uma boa forma de alcançar uma vida mais feliz, saudável e produtiva”.
Os efeitos da meditação à luz da investigação científica em Psicologia: revisão de literatura
Psicol. cienc. prof. vol.29 no.2 Brasília 2009
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000200006&lng=en&nrm=iso
Carolina Baptista Menezes; Débora Dalbosco Dell’Aglio
(…)
Além das especificidades de cada técnica, outras variáveis, como predisposições genéticas, traços de personalidade, vivências particulares de cada um, expectativas, motivações e valores também podem mediar o tipo e a qualidade da resposta que a prática meditativa produzirá (Davidson & Goleman, 1977; Smith, 1978; Takahashi et al., 2005). Portanto, o estudo da meditação e de seus efeitos deve considerar as características do sujeito antes da prática, os estados que ocorrem durante ou pouco tempo após a meditação, e, por fim, as mudanças duradouras resultantes da prática continuada (Davidson & Goleman, 1977). É consenso que a melhor forma de fazê-lo é através de estudos longitudinais (Brefczynski-Lewis et al., 2007; Davidson & Goleman, 1977; Hankey, 2006; Lazar et al., 2005; Slagter et al., 2007).
A partir da revisão de literatura, observa-se que muitos resultados encontrados a partir de diferentes técnicas são bastante semelhantes. Com base nessa percepção e no fato de que técnicas distintas possuem características essenciais comuns (Goleman, 1988), alguns pesquisadores brasileiros concluíram que seria importante criar uma definição operacional geral acerca da meditação que abarcasse tais características e que permitisse uma padronização do seu uso para fins de pesquisa em saúde (Cardoso, Souza, Camano, & Leite, 2004). Assim, igualmente sob a prerrogativa da auto-regulação, descrevem a prática de meditação como a utilização de alguma técnica específica e claramente definida, com a qual se alcança algum relaxamento muscular e mental durante o processo, sendo um estado exclusivamente auto-induzido através da utilização de um foco (âncora).
Embora essa operacionalização seja um importante passo no sentido de sistematizar e padronizar o estudo da meditação, certamente o seu campo de investigação ainda está em desenvolvimento. Portanto, ainda são necessárias pesquisas que esclareçam alguns pontos que permanecem sem consenso por parte da comunidade científica, como as especificidades de cada técnica e seus respectivos efeitos, o grau com que se diferenciam e o impacto que tal diferença pode ter no resultado final da prática de longa duração. Entretanto, até o momento presente, o que se percebe é um grande corpo de pesquisas que, mesmo não intencionalmente, sugere alguma uniformidade entre os efeitos das práticas meditativas. Dessa forma, parece correto concluir, assim como propõem Cardoso et al. (2004), que existem alguns fatores comuns e essenciais nas diferentes técnicas meditativas que as tornam igualmente eficazes e que, de alguma forma, caracterizam o que é meditação.
Correlatos neurofisiológicos da meditação
Os primeiros estudos sobre meditação estiveram voltados para explicar os mecanismos subjacentes a essa prática e suas repercussões na vida do praticante. Através de medidas minuciosas e rigorosas, foi identificada uma série de padrões de reações associados à prática meditativa, que a caracterizam como um estado de consciência particular, diferente dos tradicionalmente conhecidos, como vigília, sono e sonho (Wallace, 1970). Essas reações também são chamadas de respostas psicofisiológicas ou neurofisiológicas, pois refletem mudanças no sistema nervoso central e autônomo (Aftanas & Golocheikine, 2001; Danucalov & Simões, 2006).
As alterações do sistema nervoso autônomo, constatadas por estudos experimentais e de meta-análise, incluem redução do consumo de oxigênio, da eliminação de gás carbônico e da taxa respiratória, o que indica uma diminuição da taxa do metabolismo. Além disso, a meditação também está associada a um aumento da resistência da pele e a uma redução do lactato plasmático, cuja alta concentração é associada a altos níveis de ansiedade (Dillbeck & Orme-Johnson, 1987; Travis & Wallace, 1999; Wallace, 1970; Wallace & Benson, 1972; Wallace, Benson, & Wilson, 1971). Com respeito à freqüência cardíaca, alguns estudos não observaram diferença (Dillbeck & Orme- Johnson, 1987; Travis & Wallace, 1999), enquanto outros verificaram uma diminuição significativa (Maura et al., 2006; Wallace, 1970; Wallace & Benson, 1972; Wallace et al., 1971). Embora já tenha sido discutido que os resultados sobre os efeitos da meditação não são conclusivos (Canter, 2003; Holmes, 1984), na literatura, há um crescente número de pesquisas corroborando os correlatos fisiológicos dessa prática (MacLean et al., 1997; Goleman & Schwartz, 1976; Takahashi et al., 2005; Travis & Wallace, 1999).
Em geral, a observação dessas reações levou à conclusão de que através da meditação é possível atingir um estado de hipometabolismo basal ao mesmo tempo em que a mente se mantém alerta e que aquele que medita desenvolve, portanto, a capacidade de controlar determinadas funções fisiológicas involuntárias (Wallace et al., 1971). É com base nessa idéia, ou seja, na capacidade de obter algum grau de controle sobre processos psicobiológicos autonômicos, que a meditação pode ser considerada uma técnica eficaz de biofeedback, constituindo uma das técnicas mais antigas de autoregulação (Cahn & Polich, 2006; Davidson & Goleman, 1977).
Além das mudanças autonômicas, desde a década de 70, também ganhou destaque a investigação dos efeitos cerebrais da meditação, sob a premissa de que estados mentais podem alterar as funções fisiológicas (Wallace et al., 1971). Foi verificado, então, que algumas características tradicionalmente associadas à meditação, como baixa ansiedade e afetos positivos, poderiam ser explicadas por mudanças da atividade neuroelétrica. Através do Exame de Eletroencefalograma (EEG), o aumento da produção de ondas alfa nas regiões frontais e, em menor quantidade, de ondas teta, foi observado tanto em iniciantes quanto avançados (Aftanas & Golocheikine, 2001; Hankey, 2006; Takahashi et al., 2005; Wallace & Benson, 1972), sendo a observação de ondas teta mais comum em meditadores com maior experiência (Cahn & Polich, 2006).
Atualmente, sabe-se que, além dessas mudanças funcionais, a meditação também pode produzir mudanças estruturais, atuando sobre a plasticidade cerebral. Uma pesquisa que comparou a espessura do córtex de meditadores experientes com um grupo-controle, encontrou uma diferença significativa nas regiões relacionadas à sustentação da atenção, onde a espessura era maior nos praticantes experientes (Lazar et al., 2005). Esse estudo corrobora a idéia de que a regularidade e a continuidade da prática influenciam a intensidade das respostas e que, portanto, a meditação pode produzir mudanças duradouras. Várias pesquisas observaram que, mesmo em situações basais, os meditadores mais experientes produziam respostas significativamente diferentes daquelas medidas em controles (Cahn & Polich, 2006; Dillbeck & Orme- Johnson, 1987; Easterlin & Cardeña, 1998; Goleman & Schwartz, 1976; Lutz, Greischar, Rawlings, Ricard, & Davidson, 2004).
A atenção é uma das funções cognitivas que parece estar particularmente envolvida nas mudanças que a prática meditativa pode gerar. Já na década de 70, foi demonstrado, através de alguns testes neuropsicológicos, que, quanto maior o tempo de prática de meditação, maior a capacidade de absorção atencional, estando esta associada à diminuição da ansiedade (Davidson, Goleman, & Schwartz, 1976). Pesquisas mais recentes têm confirmado essa idéia através de medidas cognitivas e neurais. Por meio do Exame de Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton único (SPECT) (Newberg et al., 2001) e por medição de ondas gama (Lutz et al., 2004), esses dois estudos verificaram que meditadores budistas experientes tinham respostas cerebrais que indicavam um poder significativamente maior de concentração, em comparação com o grupo-controle.
Dois estudos que investigaram praticantes da meditação concentrativa, também observaram diferenças significativas na habilidade atencional (Brefczynski-Lewis et al., 2007; Carter et al., 2005). Além disso, o estudo de Brefczynski-Lewis et al. corroborou uma das idéias centrais da meditação concentrativa, a de que, quanto maior o tempo de prática, menor o esforço exigido para manter maior foco. Os autores verificaram que os praticantes com maior número de horas apresentaram menor ativação das regiões envolvidas no processo meditativo, sugerindo que a técnica pode agir sobre a distribuição de recursos cognitivos, cuja idéia já havia sido demonstrada em outro estudo que utilizava a técnica mindfulness.
Através da tarefa do “piscar atencional”, foi constatado que as pessoas que participaram de um treino intensivo de três meses de meditação mindfulness tiveram uma redução da alocação dos recursos do cérebro para o primeiro estímulo da tarefa, com um conseqüente aumento da capacidade de detectar o segundo estímulo apresentado, sem que houvesse nenhum comprometimento na habilidade de perceber o primeiro (Slagter et al., 2007). Os autores concluíram que a habilidade de processar dois estímulos significativos e muito próximos temporalmente depende da eficiência com que os recursos mentais são empregados na percepção do primeiro estímulo, sendo a meditação uma forma de aumentar o controle sobre a distribuição desses recursos.
Embora com técnicas diferentes, essas pesquisas mostram resultados complementares, indicando que através da meditação é possível treinar habilidades cognitivas, como a atenção. Outros estudos se preocuparam em comparar as diferenças nos padrões cognitivos e na atividade neural entre os distintos tipos de meditação. Carter et al. (2005) verificaram que metade dos meditadores que praticaram o tipo concentrativo conseguiu manter uma estabilidade perceptiva significativamente prolongada no teste utilizado, comparado aos praticantes da meditação budista da compaixão (Carter et al., 2005). Outro estudo, ao comparar quatro subtipos da meditação budista, constatou que a atividade da freqüência gama (25-42 Hz) não apresentava uma distribuição igual entre as diferentes técnicas (Lehmann et al., 2001).
A partir desses resultados, pode-se inferir que existem algumas distinções nos mecanismos subjacentes a diferentes técnicas, mesmo que os resultados ainda não sejam conclusivos. Entretanto, também se pode notar que técnicas distintas parecem ser capazes de atuar na atenção, corroborando a idéia de que, mesmo havendo especificidades em cada prática, todas possuem a auto-regulação da atenção como processo básico comum.
Meditação, saúde física e saúde mental
Sintomas de estresse, em particular, têm apresentado resultados bastante significativos após o uso da meditação com populações clínicas e não clínicas, como apontam as medidas de sofrimento (distress) psicológico e marcadores biológicos (Cruess, Antoni, Kumar, & Schneiderman, 2000; Goleman & Schwartz, 1976; Oman, Hedberg, & Thoresen, 2006; Ostafin et al., 2006). Além disso, segundo uma meta-análise em que foi observado um alto e consistente tamanho de efeito da meditação sobre diversas situações clínicas, é através da redução do estresse que a meditação pode ser benéfica para diversas condições de saúde (Grossman, Niemannb, Schmidtc, & Walachc, 2004).
Estudos de acompanhamento descobriram que a meditação auxilia no gerenciamento e na redução do estresse, e que esse efeito se prolonga no tempo (Miller et al., 1995; Oman et al., 2006; Ostafin et al., 2006). Embora Ostafin et al. (2006) não tenham encontrado uma correlação positiva significativa entre a freqüência da prática e a diminuição do sofrimento psicológico, Oman et al. (2006) constataram que a adesão à prática de meditação ao longo de quatro meses, teve efeito direto na redução do estresse após esse tempo.
Outras pesquisas indicaram que a meditação pode proporcionar melhor adaptação ao estresse. Através de um estímulo aversivo, foi verificado que o grupo com maior experiência se recuperava mais rápido da excitação autonômica, ou seja, os meditadores experientes, após o término do estressor, tinham a freqüência cardíaca e a resposta de condutividade da pele diminuída mais rapidamente, o que indicava uma capacidade de habituação mais rápida ao estresse (Goleman & Schwartz, 1976). Nessa mesma direção, um estudo verificou que, mesmo quando praticantes iniciantes e avançados relatavam menor aceitação em condições de estresse, o grupo menos experiente apresentava significativamente menos aceitação (Easterlin & Cardeña, 1998).
Esses resultados são corroborados por estudos que mediram a relação entre meditação e cortisol e que observaram uma diminuição desse hormônio em pacientes HIV (Cruess et al., 2000) com câncer de próstata e mama (Carlson, Speca, Patel, & Goodey, 2004) e praticantes não clínicos (MacLean et al., 1997) em comparação aos controles. Ademais, essa redução esteve sempre associada à diminuição dos sintomas de sofrimento psicológico. Também foi constatado que a variância diurna da secreção de adrenocorticotrópico (ACTH) e ß-endorfina foi significativamente menor em meditadores em comparação a um grupo-controle, e que, portanto, essa técnica pode ter um efeito neuroendócrino modulador do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (Infante et al., 1998).
A prática meditativa também está associada à diminuição da ansiedade (Brown & Ryan, 2003; Davidson et al., 2003; Galvin et al., 2006; Schwartz, Davidson, & Goleman, 1978; Grossman et al., 2004), sendo que os efeitos de uma intervenção de oito semanas de meditação sobre a redução dos sintomas do transtorno de ansiedade generalizada e do transtorno de pânico, com e sem agorafobia, foram mantidos por três anos (Miller et al., 1995). Além disso, pessoas com o transtorno do comer compulsivo que passaram por uma intervenção que utilizava meditação, tiveram a freqüência e a intensidade de seus episódios diminuídas em função da redução da ansiedade e da depressão (Baer, Fischer & Huss, 2005; Kristeller & Hallett, 1999).
A meditação também é capaz de estimular aspectos saudáveis, estando muito associada à saúde mental (Goleman, 1988; Hankey, 2006). Uma pesquisa verificou que a prática meditativa associou-se à ativação do córtex pré-frontal esquerdo (Davidson et al., 2003), que está relacionado a afetos positivos e a maior resiliência (Davidson, 2004). Além disso, ondas teta produzidas pela meditação também mostraram correlação positiva com o relato da experiência emocional positiva durante a prática de meditadores experientes, em contraste com iniciantes (Aftanas & Golocheikine, 2001).
Medidas subjetivas e com instrumentos de auto-relato também indicaram que a meditação é capaz de gerar afetos positivos (Brazier, Mulkins, & Verhoef, 2006; Easterlin & Cardeña, 1998; Jain et al., 2007), melhorar o humor (Cruess et al., 2000), melhorar a qualidade de vida (Carlson et al., 2004) e o bem-estar psicológico (Brazier et al., 2006; Wallace, 1970), sendo que, quanto maior o tempo de prática, maior o relato da experiência emocional positiva (Aftanas & Golocheikine, 2001; Brown & Ryan, 2003). Além disso, uma pesquisa que comparou o afeto positivo entre meditadores experientes e um grupo-controle revelou que, mesmo em níveis basais, os meditadores apresentavam níveis significativamente maiores de afeto positivo (Goleman & Schwartz, 1976), corroborando o pressuposto das filosofias orientais de que a meditação pode trazer efeitos que se sobrepõem à condição de estado.
Assim, através da prática continuada, é possível transformar estados em traços, que atuam, inclusive, sobre a personalidade. Em comparação a um grupo-controle, meditadores experientes apresentaram menor neuroticisimo (Goleman & Schwartz, 1976; Leung & Singhal, 2004), sendo que, quanto maior o tempo de prática, menor era a prevalência desse traço (Leung & Singhal, 2004). Outro estudo verificou que meditadores mais experientes se mostraram mais adaptados, alegres, maduros, autoconfiantes e com melhor auto-imagem. Também foi observado que esses praticantes, em comparação com o grupo-controle, eram mais estáveis emocionalmente, conscientes, confiantes, relaxados e auto-suficientes (Sridevi & Krisha Rao, 1998).
Segundo Jain et al. (2007), a meditação pode proporcionar o desenvolvimento de características psicológicas positivas por meio da redução de pensamentos ruminativos e de distração. Ao comparar os efeitos da meditação e do relaxamento corporal, Jain et al. verificaram que, embora ambas as técnicas tenham produzido uma redução do sofrimento psicológico e um aumento de afetos positivos, a meditação teve um efeito maior no aumento dos afetos positivos. Além disso, foi a única técnica com efeito sobre a redução de pensamentos e comportamentos ruminativos.
Para Bishop et al. (2004), a consciência não-ruminativa desenvolve-se através de um processo meta-cognitivo característico da meditação, uma vez que esta trabalha fundamentalmente a auto-observação dos processos mentais. Essa idéia é consistente com os resultados que mostram um aumento da autoconsciência associada à prática meditativa (Brown & Ryan, 2003; Easterlin & Cardeña, 1998). Além disso, confirmam o pressuposto que, através dessa atividade, é possível atingir importantes níveis de insight (Goleman, 1988).
Em razão dessa relação entre meditação e aspectos psicológicos positivos, muitos autores a concebem como uma técnica útil para tratamentos psicoterápicos (Hayward & Varela, 2001; Martin, 1997; Naranjo, 2005). A meditação, assim como a psicoterapia, busca a eliminação das barreiras do ego, a fim de que as potencialidades humanas se manifestem (Martin, 1997; Naranjo, 2005). Através da focalização da atenção, a meditação pode ser interpretada como uma tentativa de desfazer os condicionamentos e as programações da mente (Goleman, 2003); além disso, o desenvolvimento de uma atenção livre de elaboração pode possibilitar o surgimento de conteúdos antes inacessíveis à consciência (Bishop et al., 2004); portanto, alguns autores acreditam que a meditação se aproxima dos pressupostos norteadores de diversas linhas teóricas da Psicologia (Naranjo, 2005; Vandenberghe & Sousa, 2006), podendo ser descrita como um estado de liberdade psicológica (Martin, 1997).
Aplicações
Além da relação com a psicoterapia, a meditação também passou a ser uma intervenção clínica utilizada como ferramenta para tratamentos coadjuvantes, tornando-se o foco principal de determinados programas de saúde. O Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR – Programa de Redução de Stress Baseado na mindfulness), por exemplo, é um programa desenvolvido por Kabat-Zinn, situado em uma clínica de redução de estresse para pacientes não hospitalizados no Centro Médico da Universidade de Massachusetts, cujo objetivo é proporcionar alívio ao sofrimento físico e psicológico (Kabat-Zinn, 2003). O programa é constituído de oito encontros semanais, de duas horas e meia, nas quais são treinadas as técnicas de posturas de yoga e meditação que devem ser praticadas no restante dos dias durante as oito semanas, por uma hora, em casa. Além disso, um retiro silencioso de sete horas é realizado na sexta semana. Inúmeros desfechos positivos de saúde, como a melhora da psoríase (Kabat-Zinn et al., 1998), dos transtornos de ansiedade (Miller, et al., 1995) e redução do estresse, tanto em pacientes não clínicos (Grossman et al., 2004; Jain et al., 2007) quanto clínicos (Carlson et al., 2004; Speca, Carlson, Goodey, & Angen, 2000), têm sido associados ao programa, o que sugere sua eficácia.
O MBSR também deu origem a outro programa similar, porém voltado para o tratamento da depressão, dentro de um contexto ligado à psicoterapia cognitivo-comportamental. Esse programa, intitulado Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT – Terapia Cognitiva Baseada na Mindfulness), tem como objetivo fazer um acompanhamento de pacientes depressivos que tiveram êxito na psicoterapia cognitiva, a fim de prevenir a sua recaída. Assim como o MBSR, o MBCT inclui oito encontros semanais, embora com grupos mais reduzidos, sendo que o participante não pode estar deprimido à época do treinamento. Esse programa diferencia-se da terapia cognitivo-comportamental na medida em que não enfatiza a mudança do conteúdo dos pensamentos, e sim, a transformação da consciência que o paciente possui acerca dos pensamentos e a forma como se relaciona com estes. O programa tem se mostrado eficaz para pacientes que tiveram pelo menos três episódios de depressão através do aumento do acesso à meta-cognição, em que pacientes vivenciam pensamentos e sentimentos negativos como meros estados mentais, e não como uma condição imutável do self (Teasdale et al., 2002).
Outro programa bastante conhecido em Harvard, no centro médico Mind Body Medical institute, foi desenvolvido no final da década de 60 pelo médico cardiologista Herbert Benson, e chama-se resposta de relaxamento (Casey & Benson, 2004). Benson cunhou o termo “resposta de relaxamento” para designar o conjunto de técnicas utilizadas, como a meditação e o relaxamento progressivo, no tratamento coadjuvante de diversas condições, buscando proporcionar maior saúde e bem-estar aos pacientes. O autor descreve a resposta de relaxamento como um conjunto de reações biológicas e emocionais opostas àquelas geradas pela resposta de luta ou fuga característica do estresse. Uma série de aplicações clínicas do programa tem mostrado resultados significativos, como menor somatização (Nakao et al., 2001), melhor manejo da dor crônica e aguda (Schaffer & Yucha, 2004), melhora de condições relacionadas ao estresse (Esch, Fricchione, & Stefano, 2003), entre outros.
A meditação e outras técnicas orientais e de relaxamento também vêm sendo utilizadas em sistemas de saúde de alguns países, como Nova Zelândia (Duke, 2005), Canadá (Andrewsa & Boonb, 2005), Austrália (McCabe, 2005), Reino Unido (Ernst, Schmidt, & Wider, 2005) e Estados Unidos (Spiegel, Stroud, & Fyfe, 1998), sob a designação de medicina complementar alternativa (CAM). No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 971, com base em um documento da Organização Mundial da Saúde, aprova a utilização de práticas complementares da Medicina chinesa, como acupuntura, homeopatia e meditação (Ministério da Saúde, 2006). Todavia, ainda não há publicações científicas que retratem a utilização da meditação no sistema de saúde, embora certamente seja utilizada na prática clínica pública e privada. Nas universidades brasileiras, também há escassez de investigações acerca do assunto. Tem-se notícia de dois grupos de pesquisa que vêm trabalhando na área, um bastante voltado para a pesquisa, no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e outro mais direcionado para a prática e a inserção da técnica no âmbito da saúde mental, na Clínica-Escola de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), onde é oferecido um serviço terapêutico gratuito à população.
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Um estudo revelou que as pessoas que utilizaram a meditação de cunho espiritual tiveram maior redução da ansiedade, maior relato de afetos positivos e maior tolerância à dor, em comparação com o grupo que utilizou a meditação secular (Wachholtz & Pargament, 2005). Além disso, alguns autores sustentam que a meditação realizada fora de seu contexto original não é tão facilitadora de características tradicionalmente atreladas à prática, como níveis mais profundos de propósito na vida e auto-atualização (Shapiro et al., 2005). Entretanto, propõe-se que a meditação seja concebida como um processo multifatorial, em que muitos aspectos se inter-relacionam, mediando seus efeitos, como genética e traços de personalidade, motivações e valores, tanto pré-existentes como adquiridos com a própria prática e com as experiências individuais, além do tipo da técnica. Embora a espiritualidade possa ter um impacto positivo sobre o bem-estar e a saúde física e mental (Guimarães & Avezum, 2007; Peres, Simão, & Nasello, 2007), existe um limite que se refere às pessoas que não querem levar uma vida calcada na espiritualidade e que nem por isso devem ser impedidas de meditar ou de ter acesso à prática meditativa. Ademais, são necessários mais estudos comparando os diferentes tipos quanto aos seus mecanismos subjacentes e quanto a uma possível distinção do impacto de cada um.
Além das especificidades de cada tipo, ressalta-se que os estudos sobre meditação ainda suscitam opiniões divergentes quanto à aceitação da sua aplicabilidade e eficácia no campo da saúde. Alguns autores advertem que ainda são necessárias pesquisas com metodologias mais rigorosas para assegurar que a meditação seja, de fato, a responsável pelos efeitos observados (Baer, 2003; Bishop, 2002; Canter & Ernst, 2004). Entre os principais argumentos, estão a não randomização de muitas amostras, o número reduzido de participantes, a afiliação dos pesquisadores às organizações ligadas à técnica investigada e, até 2004, argumentava-se com a falta de uma definição operacional objetiva (Bishop et al., 2004; Cardoso et al., 2004).
Por outro lado, uma grande quantidade de estudos com resultados positivos sugere que a meditação pode ser eficiente no que tange a reações psicossomáticas e, especialmente, a experiências subjetivas, como a sensação de bem-estar e de crescimento pessoal. Com relação ao tempo necessário para que tais efeitos ocorram, não há uma precisão. Embora pesquisas revelem que com alguns meses já se pode observar uma diferença significativa em determinados estados, também há estudos indicando que, quanto maior o tempo de prática, maior a intensidade e a permanência das respostas produzidas. Portanto, a regularidade da prática constitui-se em mais uma variável mediadora dos efeitos da meditação e, possivelmente, em um diferencial na medida em que tais reações se transformam em aspectos mais duradouros e estáveis da personalidade.
Tendo em vista a relevância do estudo científico da meditação e de suas diversas facetas, sugere-se que esse é um campo a ser explorado nos centros de pesquisa do Brasil. O estágio ainda em desenvolvimento em que se encontram os estudos sobre meditação gera um solo fértil para a sua investigação, e possibilita, à medida que os resultados vão se tornando mais conclusivos, a sua inserção e disseminação na prática clínica. Além disso, recomenda-se que aqueles profissionais que já a utilizam em suas práticas terapêuticas relatem seus casos com o rigor científico necessário para que se inicie um movimento brasileiro de validação do uso da meditação como uma ferramenta destinada a promover a qualidade de vida nas suas diversas dimensões.
Referências
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Harvard Study Unveils What Meditation Literally Does To The Brain
Arjun Walia, December 11, 2014
Numerous studies have indicated the many physiological benefits of meditation, and the latest one comes from Harvard University.
An eight week study conducted by Harvard researchers at Massachusetts General Hospital (MGH) determined that meditation literally rebuilds the brains grey matter in just eight weeks. It’s the very first study to document that meditation produces changes over time in the brain’s grey matter. (1)
“Although the practice of meditation is associated with a sense of peacefulness and physical relaxation, practitioners have long claimed that meditation also provides cognitive and psychological benefits that persist throughout the day. This study demonstrates that changes in brain structure may underlie some of these reported improvements and that people are not just feeling better because they are spending time relaxing.” – (1) Sara Lazar of the MGH Psychiatric Neuroimaging Research Program and a Harvard Medical School Instructor in Psychology
The study involved taking magnetic resonance images (MRI) of the brain’s of 16 study participants two weeks prior to participating in the study. MRI images of the participants were also taken after the study was completed.
“The analysis of MR images, which focused on areas where meditation-associated differences were seen in earlier studies, found increased grey-matter density in the hippocampus, known to be important for learning and memory, and in structures associated with self-awareness, compassion and introspection.” (1)
For the study, participants engaged in meditation practices every day for approximately 30 minutes. These practices included focusing on audio recordings for guided meditation, non-judgmental awareness of sensations, feelings and state of mind.
“It is fascinating to see the brain’s plasticity and that, by practicing meditation, we can play an active role in changing the brain and can increase our well-being and quality of life. Other studies in different patient populations have shown that meditation can make significant improvements in a variety of symptoms, and we are now investigating the underlying mechanisms in the brain that facilitate this change.” – (1) Britta Holzel, first author of the paper and a research fellow at MGH and Giessen University in Germany
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Sources:
(1) https://news.harvard.edu/gazette/story/2011/01/eight-weeks-to-a-better-brain/
https://www.princeton.edu/~achaney/tmve/wiki100k/docs/Grey_matter.html