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Livro Bhagavad Gita – capítulo 5 – Renúncia

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Livro Bhagavad Gita – capítulo 5 – Renúncia

 

Comparação era o prato do dia. E ainda é. Talvez sempre seja, especialmente no campo da manifestação. Renúncia e ação altruísta agora são comparadas. Tal foi o pedido de Arjuna.

“Você valoriza ambas, Ó Krishna, renúncia e ação. Diga-me, decisivamente e de uma vez por todas, qual delas é a melhor.” (5.1)

A resposta imediata de Sri Krishna é: “Ambas levam à Bem-aventurança suprema, mas a ação é mais fácil, a ação é superior.” (5.2)

O divino Professor torna claro, no entanto, que a renúncia não pode ser alcançada num piscar de olhos. E alcançar o fruto da renúncia sem ação altruísta é quase impossível.

Yoga é ação liberta da separatividade. A percepção da separação é a morte da renúncia. Ação realizada com um sentimento de unicidade universal é o nascimento glorioso da renúncia.

Duas escolas. Uma escola ensina a renúncia de toda ação. A outra escola ensina o agir, a ação correta. Uma escola diz: “Pare de fazer qualquer coisa.” A outra escola diz: “Comece a fazer todas as coisas.” Ora! Uma vez que a mensagem do Gita não foi inteiramente compreendida na Índia, esse país possui muitos ascetas áridos e homens de ação não-iluminados.

A partir da ação, a ação surge. A ação em si não pode extinguir a ação. A ação é contínua. A ação é perpétua. Não importa o quão duramente trabalhemos, o quão longamente trabalhemos, a mera ação nunca poderá nos mostrar a Face do Supremo. O verdadeiro karma yogi é aquele que trabalha para o Supremo e para o Supremo apenas. De fato, o karma yogi é também o maior renunciante, pois ele nada busca, nada rejeita. Gostar e desgostar para ele possuem igual importância. A seu alto comando estão todos os pares de opostos. Eles existem para afirmá-lo, satisfazê-lo, coroá-lo com vitória interior e exterior.

Os ensinamentos de Krishna almejam uma Meta, a Bem-aventurança suprema. Temperamentos humanos estão fadados a diferir. Seres humanos possuem variadas tendências e inclinações. Tal sendo o caso, é difícil para Arjuna aferir o mais imediato e direto caminho.

Ação e renúncia são idênticas. A ação é a árvore. A renúncia é o fruto. Não é possível que um seja maior do que o outro. A árvore e o fruto crescem no regaço da Infinidade, para serem amados pela Eternidade e abraçados pela Imortalidade.

A liberdade existe? Caso exista, onde está? A liberdade existe. Ela vive na nossa entrega consciente à Vontade do Divino. Nossa entrega sem reservas é a nossa unicidade infalível com o Supremo. Já que o Supremo é a Liberdade infinita, nós, em essência, não podemos ser diferentes.

Foi Marlowe quem disse:

 

Não está sob nosso poder amar ou odiar,

Pois, em nós, a vontade é sobrepujada pelo destino.

 

Isso é verdade apenas quando o nosso destino é determinado pelos ditados extremamente limitados do ego. Nosso destino assim deplorável passa por uma transformação radical – total limitação é transformada em ilimitada liberdade – quando nós, com nossa sempre-ascendente chama-aspiração, vivemos na ilimitada e todo-poderosa vontade da alma. O que possuímos dentro e o que enxergamos fora é a consciência da liberdade que evolui, expande e irradia. Não importa que tipo de liberdade ela nos traz, física ou espiritual, pois essa liberdade não é apenas para transcender a limitação ou mesmo substituir a limitação, mas sim transformar o próprio alento da limitação na Imortalidade da liberdade. E isso é liberdade, sem aspas, como uma figura mundialmente famosa comentou.

O serviço pode fazer muitas coisas por nós. Primeiro de tudo, devemos saber que o serviço realizado em um espírito divino é a maior oportunidade que temos em nossas mãos para aniquilar nosso orgulho e vaidade e apagar a marca do ego. É no serviço dedicado que vemos a harmonia universal, onde nos tornamos a consciência universal.

Nossa vontade se torna a Vontade de Deus. Aquilo que chamamos de serviço nada é, senão a satisfação da Vontade Divina. Aqui na terra, um possui a capacidade, e outro possui a necessidade. A capacidade e a necessidade devem seguir juntos. Quando a capacidade é oferecida, não apenas a necessidade é satisfeita, mas também a capacidade é reconhecida e valorizada. A capacidade, por si só, recebe apenas satisfação parcial. Mas, quando a capacidade e a necessidade correm juntas, a plena satisfação floresce.

“De cada um de acordo com suas habilidades, e para cada um de acordo com suas necessidades.” No nosso dia-a-dia, essa verdade é muito aplicável.

Deus tem de ocupar a mente. E, nesse estado de divina concentração, deve-se servir a humanidade. Nesse exato momento, o serviço em si se torna a maior recompensa. Apesar de a meditação e o serviço constituirem abordagens completamente diferentes no campo da espiritualidade, o trabalho e o serviço dedicado nada são, senão pura meditação.

Krishna agora nos conta sobre prazer e dor. “O prazer dos sentidos acaba em dor. Por isso, o prazer dos sentidos é evitado pelo sábio. Constante auto-controle é a verdadeira e perpétua felicidade.” (5.22-23)

Com auto-controle continuado, a auto-mestria desperta. A existência mundo e a atividade-mundo estão sob o comando da auto-mestria. A maneira mais fácil de obter auto-controle é escolher o caminho da auto-consagração. A auto-consagração é sempre abençoada pela iluminação da alma. As turbulentas forças dos nossos sentidos devem se curvar à iluminação da alma. Aquele que possui iluminação interior sabe que sua existência na terra é a incorporação de Deus e que suas ações são expressões de Deus. Ele sente que nunca é o agente. Ele é apenas um instrumento.

Agora aprendemos com o Gita o que é o corpo. “O corpo é uma cidade dentro de nove portões.” (5.13)

Citando Wesley La Violette, em “An Immortal Song” (O Bhagavad Gita):

 

O corpo é uma cidade com muitos portões,

onde a mente soberana pode descansar em paz.

Dentro dessa cidade está o sagrado Templo do Espírito,

Mente, onde não há desejo

por ação, nem causa motivadora,

mas ainda assim sempre com a alegria e diposição

para cumprir o Dever, quando ele chama. (5.13-14)

 

É verdade que o corpo possui um templo sagrado. Igualmente verdade é que o próprio corpo é sagrado. A poderosa asserção de Whitman deve ser recebida com gratidão: “Se alguma coisa é sagrada, então o corpo humano é sagrado.”

Hoje, o corpo é um obstáculo insuperável. Amanhã, esse mesmo corpo poderá ser e será o orgulho da Divindade, pois em e através do corpo Deus mostra ao mundo com o que Ele se parece, o que Ele faz e o que Ele é.

Ao final deste capítulo, Sri Krishna diz firmemente que a sensualidade deve ser evitada completamente, para que o homem viva e possua a Divindade totalmente. As paixões-tigre devem ser superadas. O aspirante tem de concentrar-se constantemente em seu Libertador. Certamente, apenas para ele é a Meta, a salvação inigualável.