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A importância da leitura para a meditação

Costumo ler por 20-30 minutos depois de meditar de manhã cedo. Hoje, após meditar, lembrei de fazer algo, que me fez fazer mais algo, e mais algo. Quando fui ver, já tinha pulado a minha leitura diária da manhã. Pensei “de tarde eu leio, então.”

Fiz várias coisas na hora do almoço, trabalhei, etc, e me percebi bem inquieto. A minha cabeça estava funcionando de forma diferente. É algo que acontece quando uso muito o computador ou o telefone.

Aí pensei: melhor ir ler agora, antes que não dê tempo, e também para recuperar o equilíbrio mental. Deitei na rede e fiquei lendo uns 20-30 minutos histórias do meu Mestre Sri Chinmoy. Saí dali completamente diferente. Estava sólido, claro, inspirado. Não só o conteúdo da leitura, mas a própria atividade da leitura ajudou-me a retornar a ser alguém razoável e mais equilibrado.

Mais profundo do que isso, outro motivo para ler livros que foram escritos por Mestres espirituais que realmente alcançaram a realização última, ou pelo menos buscadores muito avançados, é que essa leitura trará uma luz ou uma certa luminosidade para a sua mente. Assim como precisamos fazer exercícios corretamente para o nosso corpo físico estar em condições adequadas para a nossa vida, também a mente precisa de luz (e não mera informação) para agir de forma vasta e luminosa (que são as qualidades da mente), ao invés de desconfiada e duvidosa (que é o que a informação seca nos traz.)

A importância da leitura

A meditação segundo o Bhagavad Gita

mestre meditando jvilleA meditação no Bhagavad Gita – traduzido ao português

 

No capítulo seis do Bhagavad Gita, Sri Krishna ensina a Arjuna como praticar a meditação. Segue abaixo o capítulo inteiro, traduzido ao português a partir da versão em inglês de Sri Aurobindo.

Se quiser ler mais sobre o Bhagavad Gita ou a prática de Meditação podemos recomendar os dois livros de Sri Chinmoy nos links, em versões impressa, pdf e áudio, além de participar presencialmente.

 

A postura mental para meditação

6.10- Que o Yogin* pratique continuamente a união com o Eu, sentado sozinho e afastado, com todos os desejos e ideias de posse banidas da sua mente, autocontrolado em todo o seu ser e consciência.

*N.d.T: Os cabeçalhos são nossa inserção, para facilitar a leitura/navegação. O uso do termo Yoga (LINK) remonta à palavra União, e não aos exercícios físicos praticados nas modalidades de hatha yoga. Yogin é o praticante, o aspirante a essa Yoga de União com o divino.

 

O local para meditar

6.11-12- Ele deve preparar num lugar puro o seu assento firme, nem muito alto e nem muito baixo, coberto com um tecido, com uma pele de cervo, com ervas sagradas, e ali sentado com uma mente concentrada e com as ações da consciência mental e dos sentidos sob controle, ele deve praticar Yoga para a autopurificação.

 

A postura física correta para meditar

6.13-14- Mantendo o corpo, cabeça e pescoço eretos, imóvel, com sua visão internalizada e fixada entre as sobrancelhas, (…), mente calma e liberta do medo, observado o voto de Brahmacharya*, a integralidade da mentalidade controlada direcionada a Mim, ele deve sentar-se firme no Yoga, completamente entregue a Mim.

*N.d.T: Abstinência sexual, física e mental, entre outras práticas. Literalmente: “Conhecedor da conduta que leva a Deus”

 

O resultado da prática meditativa

6.15- Assim, sempre colocando-se em Yoga pelo controle da mente, o Yogin alcança a paz suprema do Nirvana, que tem a Mim como fundação.

 

Moderação nos hábitos e serenidade na forma de enxergar

6.16- Este Yoga não é para aquele que come demais ou dorme demais, nem é para aquele que abdica do sono e alimento, Ó Arjuna.

6.17- O Yoga destrói toda a tristeza para aquele cujo sono e vigília, alimento, ações, esforços são todos em medida correta.

 

A mente silenciosa

6.18- Quando a consciência mental integral e perfeitamente controlada e livre de anseios por coisas agradáveis permanece silente no Eu, diz-se: “ele está em Yoga.”

6.19- Imóvel como a luz de uma lamparina num local sem vento é a consciência do Yogin que pratica união com o Eu.

 

O objeto da meditação

6.20- Aquilo em que a mente fica silente e imóvel pela prática de Yoga; aquilo em quem o Eu é visto no Eu pelo Eu (e não o que é visto, mal traduzido, falsamente ou parcialmente pela mente e representado a nós através do ego, mas sim autopercebido pelo Eu), nele a alma está satisfeita;

6.21- Aquilo em que a alma conhece o seu próprio e incrível deleite, que é percebido pela inteligência e está além dos sentidos, onde estabelecida não mais pode cair da verdade espiritual do seu ser;

6.22- Aquilo em que obtido não considera outro ganho maior; aquilo em que estabelecido não é perturbado pelo maior dos ataques de tristeza mental;

6.23- Aquilo deve ser conhecido pelo nome de Yoga – a libertação da associação com a dor e tristeza. Esse Yoga deve ser continuamente aplicado com um coração livre de desânimo e depressão.

 

Controlando a mente para meditar

6.24-25- Abandonando sem exceção todos os desejos nascidos na vontade-desejo e controlando todos os sentidos pela mente, de forma que não possam correr para todos os lados, deve-se gradualmente recolher-se na tranquilidade através de um buddhi controlado por constância e, fixando-se a mente no Eu, não deve-se pensar em qualquer coisa.

6.26- Por qualquer coisa que a mente inquieta e inconstante perambule, daquilo ela deve ser restringida a acessar e trazida de volta ao subjugar do Eu.

6.27- Quando a mente está completamente silenciada, vem ao Yogin a altíssima intocada, purificada bem-aventurança da alma que se tornou o Brahman.*

*Deus, o Absoluto

 

A bem-aventurança do Divino

6.28- Assim liberto da mácula da paixão e colocando-se constantemente em Yoga, o Yogin facilmente e alegremente desfruta do toque do Brahman que é deleite inefável.

6.29- Com sua visão equalizada para tudo, o homem cujo eu está em Yoga vê o Eu em todos os seres e todos os seres no Eu.

6.30- Aquele que vê a Mim em todo lugar e vê tudo em Mim, ele nunca Me perde, nem ele se perde de Mim.

6.31- O Yogin que sustenta-se na unicidade e ama a Mim em todos os seres, de qualquer maneira que ele agir e viver, vive e age em Mim.*

((trecho do comentário de Sri Aurobindo na sua tradução): A visão espiritual de Deus e do mundo não é apenas uma idealização, e nem mesmo é principalmente ou inicialmente idealização. Ela é uma experiência direta e tão real, vívida, próxima, constante, efetiva e íntima quanto a visão que a mente possui através dos sentidos das imagens, objetos e pessoas….)

6.32- Ó Arjuna, aquele que enxerga com equanimidade tudo na imagem do Eu, seja tristeza ou felicidade; ele eu considero o Supremo Yogin.

 

A inquietação e o controle da mente

6.33- Arjuna disse: esse Yoga que foi por Você declarado sobre a natureza da equanimidade, Ó Madhusudana, nele não vejo fundação estável por conta da inquietação.

6.34- De fato inquieta é a mente, Ó Krishna; ela é veemente, forte e difícil de curvar; considero-a tão difícil de controlar quanto o vento.

6.35- O Divino Senhor disse: Sem dúvidas, Ó Kaunteya de braços fortes, a mente é inquieta e muito difícil de controlar, mas ela pode ser controlada através de prática constante e desapego.

6.36- Por aquele que não é autocontrolado, esse Yoga é difícil de alcançar; mas para o autocontrolado, é alcançável por esforços propriamente direcionados; tal é a minha visão.

 

Desistindo no meio do caminho

6.37- Arjuna disse: Aquele que toma o Yoga com fé, mas não consegue controlar-se, com sua mente vagando para longe do Yoga, fracassando em alcançar perfeição no Yoga, qual é o seu fim, Ó Krishna?

6.38- Ele não perde, Ó Krishna de braços fortes, a sua vida e a consciência brâhmica a que aspira e, caindo de ambos, falece como uma nuvem dispersando-se?

6.39- Peço-lhe que disperse esta minha dúvida completamente, Ó Krishna; pois ninguém além de Você pode destruir essa dúvida.

 

O futuro do buscador

6.40- O Divino Senhor disse: Ó Partha, nem nesta vida e nem na próxima haverá destruição para ele; nunca alguém que pratica o bem, Ó querido, vem a sofrer.

6.41- Tendo alcançado os mundos daqueles que têm retidão e habitado lá por anos a fio, aquele que cai do Yoga nasce novamente na família dos puros e gloriosos.

6.42- Ou então pode nascer na família de sábios Yogins; tal nascimento é de certo raro de se obter neste mundo.

6.43- Portanto, Ó alegria dos Kurus, ele recupera a disposição búdica* que tinha alcançado na vida passado e com ela continua a se esforçar pela perfeição.

*N.d.T: buddhi, dentre possíveis traduções, pode ser vista como ‘consciência interior’

6.44- Pela virtude da paciência do passado, ele é carregado inexoravelmente; mesmo o buscador do Yoga vai além do alcance dos Vedas e Upanishads.

 

A meta altíssima

6.45- O Yogin que se esforça com assiduidade, purificado dos pecados, aperfeiçoando-se através de muitas vidas, alcança a meta altíssima.

6.46- O Yogin é maior que os praticantes de asceticismo, maior que os homens de conhecimento, maior que os homens de ação; torne-se o Yogin, então, Ó Arjuna.

6.47- De todos os Yogins, aquele que com todo o seu ser interior entregou-se a Mim, tem amor por Mim e fé em Mim, considero ele o mais unido Comigo em Yoga.

Um diário espiritual para escrever todos os dias

diario livroInspirados nos ensinamentos de Sri Chinmoy, organizamos um formato de diário para auxiliá-lo no seu progresso interior.

 

 

Como usar o seu diário-coração

Preencha o local onde está, o dia da semana, e a data a cada dia na primeira linha. 

De manhã cedo, concentre-se no seu Coração por um minuto, sentindo-se grato. Escreva então um ou mais motivos para ser grato no diário. Coisas que lembrem você de sentir gratidão a Deus, gratidão ao ser humano, à sua busca, à sua percepção de si, às suas realizações interiores, do seu próprio jeito.

Escreva também coisas que pretende realizar ou posturas a adotar hoje que tornarão esse um dia de muito progresso e inspiração.

Se quiser, você pode também decorar a mensagem que há no cabeçalho da página. Tente recitá-la ou lembrar dela algumas vezes durante o seu dia; tente vivê-la.

À noite, por um minuto concentre-se em gratidão no seu coração. Pense em boas qualidades que enxerga em si mesmo e que viu no seu dia, e escreva-as no diário.

Escreva também as experiências significativas que teve, coisas da sua vida interior, coisas que um dia podem lembrar você de que está fazendo progresso constante na sua vida. Ou até mesmo uma frase que leu ou sensação que gostaria de lembrar para sempre.

Ao final, caso esse dia tenha sido memorável de uma forma especial, anote-o na página final do livro com os “dias extraordinários”. Esse será um índice que você cria com os acontecimentos principais que anotou no seu diário. Quando estiver precisando de uma inspiração ou força positiva no seu dia, basta você ir até essa página e lá encontrará os dias mais inspiradores do seu ano. Ao ler como esses dias foram, você voltará a se sentir repleto de esperança e gratidão.

 

O meu diário

Nas primeiras horas da aurora,

Nas tardias horas da noite,

Eu escrevo o meu diário.

O meu diário só abriga uma palavra:

Gratidão.

Gratidão à Compaixão de Deus,

Gratidão ao serviço do homem,

Gratidão à busca pela minha auto-transcendência,

Gratidão ao meu auto-questionamento,

Gratidão à minha descoberta-Deus.

– Sri Chinmoy (em tradução)

The Dance of Life, part 6, Agni Press, 1973

Audiobook – download gratuito mp3 – A Aventura da Vida, por Sri Chinmoy

yoga livro

Disponibilizamos gratuitamente a gravação do audiobook do livro A Aventura da Vida em mp3

 

Capítulos do livro Yoga, meditação e a arte de viver: A Aventura da Vida

  1. Liberdade e paz
  2. O que é yoga?
  3. Yoga e a vida material
  4. O caminho e os passos do yoga
  5. Religião, espiritualidade e yoga
  6. Deus e os mundos superiores
  7. Chakras, poder oculto e kundalini yoga
  8. Mestres verdadeiros e mestres falsos
  9. Espiritualidade e sociedade
  10. O fim do mundo, forças malignas e a origem da humanidade
  11. Meditação
  12. Alimentação, saúde e esporte
  13. Vida familiar
  14. Meditação no trabalho

Como escrever textos, poesia e prosa usando o coração

Por Patanga Cordeiro

“A poesia que brota de um coração devoto leva corações irmãos ao Uno sempre-doce e faz deles repúblicas, onde Ele é o Presidente…. Nos dias luminosos que têm despertado na terra, bem poderemos buscar o fermento da poesia transcendental para erguer a massa humana.”

Sri Chinmoy, Philosopher-thinkers: the power-towers of the mind and poet-seers: the fragrance-hours of the heart in the West, Agni Press, 1998

 

A fazer melhor uso do nosso tempo e das oportunidades dos nossos leitores, queremos escrever com o coração de forma a causar o maior impacto positivo em suas vidas. Como escrever com o coração?

 

O que é a escrita do coração?

O que o coração escreve não é uma sequência de conflitos, buscas dos desejos, satisfação dos sentimentos pessoais.

“A poesia que brota de um coração devoto leva corações irmãos ao Uno sempre-doce…” – Sri Chinmoy

O coração espiritual é um lugar de deleite infindável – e o fato dos Mestres espirituais sempre nos orientarem a buscar nosso coração somente aponta ao fato de que viver no coração é o futuro do ser humano. O coração o fará sentir liberto, deveras satisfeito e com uma alegria muito suave e, ao mesmo tempo, muito tangível. Você se sente como se fosse um santo distribuindo o Amor do divino ao seu redor.

Mas é possível ficar no coração por alguns momentos, e estando no coração, nossas ações ficarão mais suscetíveis à sua luz angelical.

 

Como ficar no coração – uma disciplina diária

O coração é o lugar da sua vida espiritual. Através da meditação, serviço, amor a Deus, amor a Deus na humanidade, oração, do sentimento de unicidade com a criação. Pratique sinceramente todos os dias.

Encontre algo que o leve para o coração. Eu mesmo fiquei inspirado a escrever este texto na manhã seguinte de completar uma tradução de poemas espirituais de Sri Chinmoy. Cada poema era mais lindo e mais significativo que o outro… chega uma hora em que o coração vem à tona, e fica. Num período de 48h desde que comecei a traduzir os poemas, posso dizer que fiquei a maior parte do tempo com essa sensação do coração espiritual à tona. Tudo fica mais belo, simples, puro – como uma criança. Eu mesmo sinto-me como uma criança. A meditação fica muito mais fácil e espontânea – e agradável.

Outras coisas que me ajudam é passar tempo com crianças, assistir desenhos animados inocentes, etc. Mas tudo fundamentado na oração e meditação diárias, sem falta, todos e todos os dias.

 

Escrevendo com a beleza do coração

Seja poesia, prosa ou um texto como este, para escrever usando um pouco do coração, precisamos primeiro nos abastecer da sensação de amor divino. Esse amor é algo que está latente em nós – um verdadeiro direito de nascimento, uma herança divina.

Leia sobre Deus, sobre os grandes Mestres espirituais. Leia suas obras, releia, medite e releia, ore e releia, dia após dia, ano após ano. Torne-se repleto da beleza divina que se encontra nesses escritos.

Então a sua própria beleza interior ressoará e se manifestará na medida que você estiver aberto, puro e disposto a expressar essa realidade. Novamente, essa abertura, pureza e entrega, virão da sua prática espiritual diária e da Graça divina.

 

Dicas práticas para escrever com o coração

Pratique a sua espiritualidade diariamente, conscientemente, diligentemente.

Aguarde uma pequena inspiração divina. Você saberá quando é uma inspiração mental ou divina. Pegue essa chance, deixe tudo de lado e escreva.

Para encontrar essa inspiração, fundamente-se em fontes confiáveis. Leia os escritos de Mestres espirituais, como o Buda, o Cristo, Sri Ramakrishna, Sri Aurobindo, Sri Chinmoy, Sri Chaitanya e outros.

Não tenha apego – apenas sirva com a sua escrita. Se esperar um resultado peculiar, isso quer dizer que o coração já foi embora dali faz tempo.

Tenha companhia adequada. Por exemplo, fiquei inspirado a escrever depois de conversar com um colega que pratica meditação. Por coincidência, li também um artigo de uma moça que também pratica meditação falando sobre escrever com o coração. Tudo isso junto me trouxe até aqui hoje.

 

Como meditar no coração

Como Meditar no Coração

Atthaka – o livro budista das oitavas

por Patanga Cordeiro

O Atthaka é uma compilação dentre as mais antigas do budismo, passada oralmente por séculos, por fim escritas para benefício dos buscadores.

O Atthaka se chama de livro das oitavas porque a maior parte dos seus 16 textos possui oito frases. Como de costume na literatura budista, os temas abordados são frequentemente a busca pelo eu verdadeiro, a irrealidade do exterior, a falta de valor das conclusões e do ego, a pureza no caminhar e agir e a vida de disciplina.

(Vale lembrar que, assim como o Dhammapada, o Atthaka se foca no Jñana Yoga budista, e que buscadores de outros caminhos poderão sentir que há outras possibilidades na vida espiritual além da renúncia e abstinência (vejam mais no artigo sobre o livro Dhammapada) que levam ao Nirvana, pois há outras metas de iluminação que são paralelas ao Nirvana do Buda.)

Para consultas, usei o livro “Dhammapada – caminho da lei e Atthaka – o livro das oitavas / doutrina budista ortodoxa em versos”, da Editora Pensamento, traduzido por Georges da Silva.

Abaixo, tento resumir em uma frase, com minhas palavras e numa leitura superficial e pessoal, a mensagem que me inspirou cada um dos dezesseis textos do Atthaka.

 

Meu resumo do Atthaka

  1. Liberte-se das paixões e seja feliz por não depender delas
  2. Salve-se dos seus desejos e torne-se imperturbável.
  3. Não dê atenção a conversas, sejam boas ou ruins. Equânime, mantenha-se acima dos rótulos.
  4. Não se adquire pureza com conceitos – é necessário praticar o dhamma/dharma.
  5. Não tenha preconceitos, seja “bom” ou “ruim”, não valorize uma disciplina espiritual ou religião sobre a outra e enxergará mais facilmente a verdade.
  6. A vida é curta, então flutue como um lótus no pântano, pois não vale apena cobiçar ou desejar, para, alcançando o objeto, repudiá-lo.
  7. O sábio deve ater-se rigorosamente à abstinência da sensualidade e luxúria. “Deve ir sempre só em suas peregrinações, pois que este é o tipo de vida que enobrece.”
  8. Não desperdice energia discutindo e comparando ideias e filosofias. Melhor é ser contente, sem combater.
  9. Alcança a pureza aquele que não se deixa iludir pelas aparências, pelo que dizem as pessoas comuns e pensam as demais. “Os pensamentos tentadores, que evocam desejos e luxúria, jamais conseguiram despertar em mim o menor desejo que seja pelas relações sexuais. Que é, afinal de contas, esta bela filha que tendes, senão um saco de excrementos? Eu não a tocaria nem mesmo com o pé.” – Buda
  10. Perfeito é aquele que conseguiu vencer o desejo – não tem filhos, fado, terras, capital, ressentimento, tempo, classe e nem seus próprios pensamentos do passado o afetam.
  11. A discórdia entre os homens vem das paixões pessoais. As paixões vêm do desejo. O desejo vem da noção de “agradável” e “desagradável”. A ilusão é consequência da percepção.
  12. Não existe verdade que possa ser obtida por meio sensorial. “Abstei-vos, por isso, de toda e qualquer teorização, com suas inevitáveis disputas.”
  13. Deixe de ver nome e forma, sendo liberto dos conceitos baseados nas coisas vistas e ouvidas, e será tranquilo, transcendendo tanto o tempo quanto a abstinência.
  14. O indivíduo que alcançou disciplina e se libertou das coisas do mundo não deve mais pensar em termos de “eu”. Trate cada um de si, não se queixe nos períodos de adversidade, nem anseie pela mudança de circunstâncias que não tema. Não acumule alimento, bebida ou roupas, e não se mostre ansioso por não obtê-los.
  15. “Vi homens debatendo-se como os peixes de um lago que está secando, atrapalhando-se uns aos outros. Oprimido pelo horror, vergou-se-me o corpo. Percebi que o mundo todo carece de substância e que a desintegração é a regra.”
  16. Aos indivíduos reclusos, que não se perturbem por perigos, argumentos sutis, fome, doença, frio ou calor, falta de lar, mostrem cordialidade a todos, afastem a cólera e orgulho, empreguem o tempo ordenadamente, sem desperdiça-lo na ociosidade, assim ficando sempre em plena vigilância e seguros de si. “Conseguindo manter-se equânime, solucionará todas as dúvidas e todos os problemas da sua mente. Assim falou o Buda.”

O livro Dhammapada – ensinamentos budistas (o Caminho da Lei)

Por Patanga Cordeiro

 

Brilha o sol durante o dia,

À noite brilha a lua;

Brilha o guerreiro na sua armadura,

Brilha o sábio na sua meditação;

Mas, dia e noite, o Iluminado sempre brilha, tudo iluminando.

– trecho do Dhammapada

 

o que e meditar mestreDhammapada significa o Caminho da Verdade, sendo uma antologia de 423 ensinamentos, dentre os ensinamentos tradicionais do budismo. Buda vem da palavra que significa desperto, consciente, ciente, visão e sabedoria. Siddharta Gautama alcançou tal estado e por isso é conhecido como Buda, sendo que há outros Mestres realizados que poderiam ter tal título, mas, em geral esse termo só é usado no budismo, e por isso onde ele é chamado de “O Buda”, sendo o foco das práticas budistas.

Uma parte dele é destinado à conduta de monges no caminho.

Para consultas, usei o livro “Dhammapada – caminho da lei e Atthaka – o livro das oitavas / doutrina budista ortodoxa em versos”, da Editora Pensamento, traduzido por Georges da Silva, e da versão traduzida do Dhammapada de Acharya Buddharakkhita. que é disponível gratuitamente em PDF.

Logo abaixo deixei alguns trechos do livro. Após, comentários sobre as diferentes escolas filosóficas.

 

 

 

 

Trechos do Dhammapada

 

Brilha o sol durante o dia,

À noite brilha a lua;

Brilha o guerreiro na sua armadura,

Brilha o sábio na sua meditação;

Mas, dia e noite, o Iluminado sempre brilha, tudo iluminando.

 

Os sábios dizem que correntes de ferro, madeira ou corda, não são fortes. Mas a paixão e o anseio por jóias e ornamentos, crianças e mulheres – isso, dizem, é uma corrente bem mais forte e que, embora aparentemente solta, é difícil de tirar. Esta também os sábios cortam. Sem saudade alguma, abandonando o prazer sensual, renunciam ao mundo.

 

Se falamos ou agimos com a mente lúcida, a felicidade nos acompanha tal como a sombra segue o corpo do qual se projeta.

Tudo o que somos hoje é resultado do que temos pensado. O que hoje pensamos determina o que seremos amanhã. Nossa vida é criação de nossa mente.

 

Com energia e diligência,
com domínio e autocontrole,
façam os sábios uma ilha
que as enchentes não possam inundar.

 

Os tolos e ignorantes
se entregam à negligência,
mas os sábios preservam a diligência
como o seu maior tesouro.

 

Começa por te estabelecer a ti mesmo no Caminho, só então poderás instruir os outros. Assim o sábio evita censuras.

 

Amigável entre os hostis,
pacífico entre os violentos,
desapegado entre os apegados:
esse é o verdadeiro brâmane.

 

Percebendo claramente o Caminho, não negligencies; continua nele, vigilante, mesmo que de grande valor te pareçam outras vias.

 

Seja o seu próprio protetor,
seja o seu próprio refúgio.
Assim controle a si mesmo
tal como um mercador a sua preciosa montaria.

 

 

Melhor não praticar uma ação prejudicial
pois uma ação condenável atormentará mais tarde.
Melhor praticar uma ação benéfica,
que praticada, não atormenta.

 

A falta de repetição compromete a eficácia dos mantras. A falta de conservação é a ferrugem que compromete a solidez das habitações. A falta de exercícios saudáveis é a ferrugem que compromete a beleza e a saúde do corpo. A falta de atenção é a ferrugem que compromete o vigilante

 

Se renunciando a uma felicidade menor se pode perceber uma felicidade maior, que o homem sábio renuncie à menor, considerando a maior.

 

As impurezas só aumentam para aqueles que são arrogantes e descuidados, que deixam de fazer o que deve ser feito e que fazem o que não deve ser feito.

 

Escola filosófica e valor dos escritos do Dhammapada para cada um

Para quem são recomendados os ensinamentos:

Na parte dos ensinamentos espirituais, o livro, como os ensinamentos das escolas budistas em geral, foca nossa atenção no desenvolvimento do Jhana, o autoconhecimento, conhecido na Índia como Jñana Yoga. Esse conhecimento é justamente não conhecer o mundo externo, considerando-o uma ilusão efêmera, mas sim compreender espontaneamente a sua própria realidade imorredoura. Não se adquire Jhana através de leituras, mas, sim, através de meditação e prática correta. Tal é a beleza dos ensinamentos!

Os ensinamentos morais são de natureza pacifista até mesmo diante de sacrifício próprio, e semelhantes com os encontrados no Novo Testamento, com as palavras do Cristo.

Para quem não se pode recomendar levar os ensinamentos ao pé da letra:

Pelo mesmo motivo, para aqueles que não se identificam com a visão de que o mundo é um ilusão, e sentem que o mundo é parte de Deus, parte da Sua criação, e que devemos agir no mundo e servir a sua realidade divina incipiente, seja através da meditação, da devoção ou da ação (Bhakti e Karma Yoga), o livro se demonstrará um pouco desolado. Isso acontece porque muito dos ensinamentos dos caminhos de Jñana Yoga (como o budismo) focam-se na irrealidade do mundo externo.

Aqueles que se identifiquem com valores morais diferentes do Dhammapada talvez se beneficiem de outras leituras, como Swami Vivekananda, Sri Aurobindo e Sri Chinmoy. Esses três Mestres viveram no século XX e dão uma postura diferente com relação à parte moral da espiritualidade. Em contraste à paciência ou resignação do Jñana yogi, há o serviço ou ação (Karma Yoga), que é uma forma de agir em benefício dos outros – na verdade, em benefício do Divino, em concordância direta com a Sua Vontade – e pode não ser, necessariamente, ações de caridade ou elogios. Em um exemplo, não se deve sacrificar cegamente suas oportunidades por outros.

(por exemplo, é necessário defender-se; a lei “quando baterem na sua face esquerda, dá a direita também”, mas para o Karma yogin, ele deve sempre agir quando preciso, pois assim alcançará o seu potencial (físico, mental, espiritual) máximo. Esse esforço em si auxiliará no progresso espiritual individual.)

No final

é isso o que mais importa:

Quão bem você amou?

Quão plenamente viveu?

Quão completamente largou?

– O Senhor Buda


Se tiver interesse em temas budistas, recomendo também o livro Atthaka.

Poemas de amor místico sufi de Mahsati

Mahsati Ganjavi (1098-1185) foi uma poetisa persa. O nome Mahsati é composto pelas palavras persas: Maah (lua) e Sati (Dama/Senhora). Nascida em Ganja, Mahsati ficou conhecida por um estilo de vida livre e inconvencional e foi perseguida por escrever contra o fundamentalismo, fanatismo e dogma religioso. Até aos nossos dias chegaram os seus escritos filosóficos e poemas. Especula-se sobre a ligação de Mahsati com vários intelectuais eminentes da época, como Omar Khayyám e o próprio sultão Sanjar. Aqui ficam poemas de Mahsati Ganjavi.

traduzidos de Seven Great Female Sufi Poets, translation and introduction by Paul Smith

 

 

Tua face invejada pela rosa e jasmim,

Amado,

teu olhar interessado atiça homens e mulheres,

Amado.

Pelo caminho descobri que, como um córrego graciosamente fluindo,

água corre dos meus olhos de novo, e de novo,

Amado.

 

Este meu corpo tem um coração repleto de êxtase

no interior…

ele tem também uma alma com mil chamas para se ver

no interior.

E quando dia e noite anseio pelo Seu rosto,

tenho dois olhos cheios de água livre corrente…

no interior!

 

Esse meu relacionamento, além de lábios secos e olhos úmidos

passou;

Sua flecha cruel que voa através do meu coração e alma,

passou.

Para mim, a chama do Seu amor foi como a água no raso que,

no entanto, quando nela pisei, para os meus olhos

passou.

 

Seu cabelo está em tal harmonia com a Sua face

que temo começar a blasfemar de inveja:

Ó Gracioso, curvar-me-ei à brisa que

do Seu rosto remover o Seu cabelo, completamente!

 

Quando lágrimas rubi-coloridas dos meus

olhos pingam,

água do coração da pedra e dos olhos dos

céus pingam.

Quando eles são removidos de Você, meus

olhos pingam:

do corte, sangue… claramente, meus

olhos pingam.

 

Desde que no mundo do amor o meu coração se tornou um rei

ele foi liberto de não acreditar, e de acreditar também.

Vi o meu eu inferior como um obstáculo no meu caminho…

quando deixei-o, meu caminho se abria para mim.

 

Ela que foi enfeitiçada pela Sua beleza

voltou:

aquela que, pela União com Você, sedenta…

voltou.

Limpe a gaiola, lance umas sementes de bondade:

este pássaro de asa quebrada que Você agora vê…

voltou.

 

A não ser que o Seu jacinto, âmbar gris rapidamente espalhe

brisa matutina do recipiente… o almíscar não se espalhará.

Se um asceta de cem anos de idade visse a Sua mão…

não me culpe se não for mais austeridade o que ele praticar.

 

Uma vez que estes olhos meus viram os

Seus olhos;

o sono abandonou meus olhos, longe de infelizmente,

Seus olhos.

Ó Você, cujos olhos tornam a visão de todos os outros olhos clara,

nunca meus olhos viram outros como a sua majestade,

Seus olhos.

Poemas sobre os grandes Mestres espirituais

Sri Chinmoy meditando

Sri Chinmoy

Os grandes Mestres espirituais que existiam na humanidade são uma inestimável fonte de inspiração e iluminação. Separei diversos aforismos e mensagens da série de poemas de Sri Chinmoy “The Dance of Life”, todos com o tema dos Mestres como Sri Krishna, o Cristo, Buda, Sri Ramakrishna, Swami Vivekananda, Sri Chaitanya, Sri Chinmoy e outros. Os poemas estão no inglês original.

Veja também os poemas meditativos.


250. I searched and searched

I searched and searched
For my soul.
At last I found my soul in the Flute of Krishna.

I searched and searched
For my heart.
At last I found my heart in the Cross of Christ.

I searched and searched
For my mind.
At last I found my mind in the Meditation of Buddha.

I searched and searched
For my vital.
At last I found my vital in the Life of Vivekananda.

I searched and searched
For my body.
At last I found my body on the Lap of the Supreme.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 5, Agni Press, 1973

294. Alas, it is too late

Why did I not take
Fighting lessons from Sri Rama?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Playing lessons from Sri Krishna?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Suffering lessons from the Buddha?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Forgiving lessons from the Christ?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Dancing lessons from Sri Chaitanya?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Long-distance walking lessons from Sri Shankara?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Crying lessons from Sri Ramakrishna?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Struggling lessons from Swamiji?
Alas, it is too late.

Why did I not take
Surrendering lessons from Sri Chinmoy?
Alas, it is too late.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 6, Agni Press, 1973

221. At the pinnacle

At the pinnacle
Of the Rama-enlightenment,
I became Sacrifice divine.

At the pinnacle
Of the Krishna-enlightenment,
I became Love divine.

At the pinnacle
Of the Buddha-enlightenment,
I became Compassion divine.

At the pinnacle
Of the Christ-enlightenment,
I became Concern divine.

At the pinnacle
Of the Ramakrishna-enlightenment,
I became Cry divine.

At the pinnacle
Of the Chinmoy-enlightenment,
I became Surrender divine.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 5, Agni Press, 1973

 

226. His heart

His heart of love
Became Krishna’s Kadamba-tree.

His heart of wisdom
Became Buddha’s Bodhi-tree.

His heart of cries
Became Ramakrishna’s Panchavati-trees.

His heart of service
Became Chinmoy’s Rupantar-tree.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 5, Agni Press, 1973

 

227. Naren and Thakur

My Naren,
You have struggled and struggled,
You have fought and fought
To manifest me.

Our Thakur,
You have cried and cried,
You have served and served
To illumine me.

My Naren,
Your heart of love,
Your mind of light
Are my giant shoulders.

Our Thakur,
Your Feet of Compassion,
Your Eyes of Perfection
Are my Dream-Boat
And
Reality-Shore.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 5, Agni Press, 1973

 

228. Question and answer

Maharshi Ramana’s question:
“Who am I?”
You are the cry of your ascending heart,
You are the smile of your descending soul.

Ramakrishna Paramahansa’s answer:
“Mother Kali.”
Where is She?
In the battlefield of life.
Who is She?
Chaser of volcano-passion,
Bringer of Compassion-flood.

Swami Vivekananda’s answer:
“The Olympian Will-power.”
What is it?
The only Reality.
Whose is it?
Yours, only yours, absolutely yours.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 5, Agni Press, 1973

 

 

232. Giants of the spirit

Naren, When are you planning
To come down to the earth?
“I have no such plans.”

Gadadhar, When are you thinking
Of coming down to the earth?
“I don’t cherish that kind of thought any more.”

Jesus, When will you illumine the world
To celebrate your second resurrection?
“I am more than satisfied
With my advent and with my first and last resurrection on earth.”

Siddhartha, Have you ever thought of moving
From your Nihil house to Earth house?
“Oh no! I shall forever
Remain in my Nihil house
Of Immortal Peace
And
Immortal Bliss.”

Kanu, You declared that you enter into the world-arena
Whenever righteousness declines
And
Unrighteousness prevails,
To destroy the dark hands
And save, elevate and illumine the snow-white hearts.
Since then, how many times
Have you appeared and disappeared
From the earth-scene?
“I am not accountable to the world for my lofty promise.
In top secret I tell you:
The absolute Supreme is not going to fire me
Even if I hopelessly fail to stick to my well-intentioned promise.”

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 5, Agni Press, 1973

 

 

249. The Masters are fond of him

He has a child’s heart.
Therefore
Ramakrishna is fond of him.

He is always dancing and roaming.
Therefore
Chaitanya is fond of him.

He is always humble and meek.
Therefore
Christ is fond of him.

He is always kind and benevolent.
Therefore
Buddha is fond of him.

He is always loving and playing.
Therefore
Krishna is fond of him.

He is always crying and smiling.
Therefore
God is fond of him.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 5, Agni Press, 1973

 

270 . At the entrance

He entered into the vital world
To feel its hunger wild.
At the entrance Alexander, Caesar, Napoleon,
Hitler and Stalin greeted
Him with solemnity.

He entered into the mental world
To feel its hunger great.
At the entrance Socrates, Plato, Aristotle,
Shankara and Madhava greeted
Him with a series of smiles.

He entered into the psychic world
To feed his hunger deep.
At the entrance Rama, Krishna, Christ,
Chaitanya and Ramakrishna greeted
Him with the warmest embrace.

 

273. Ramakrishna

He was born in a tiny
Obscure Bengali village in India.
He lived in a tiny corner
Of a big temple.
A Kali-worshipper he was.
A man-lover he became.
A world-teacher he is
And
Forever shall remain.

Sri Chinmoy, The Dance of Life, part 6, Agni Press, 1973