Pergunta: Seus ensinamentos podem ser recebidos por qualquer pessoa, ou é necessária alguma qualificação?
Sri Chinmoy: Para se tornar meu discípulo, em primeiro lugar é necessário ser muito sincero e dedicado. É necessário sentir que a vida espiritual não é a vida de prazer e conforto: é uma vida de sinceridade, simplicidade e perfeição. Qualquer buscador que seja sincero está pronto para a vida espiritual. No entanto, uma pessoa pode ser extremamente sincera e, ao mesmo tempo, pode não estar destinada ao nosso caminho.
O nosso caminho é o caminho do amor, devoção e entrega. Não dizemos que se alguém não segue o nosso caminho, essa pessoa não é adequada para a vida espiritual. Milhões de pessoas na Terra estão muito prontas para a vida espiritual, mas não são adequadas ao nosso caminho justamente porque não se interessam tanto pelo amor, devoção e entrega que queremos praticar nas nossas vidas. Mas eles se adequarão a vários outros Mestres espirituais e caminhos espirituais.
Escolher um caminho é como escolher uma universidade. Duas universidades podem ter um padrão igualmente elevado, mas uma será mais adequada a um certo aluno do que a outra. Mas ambas as universidades estão servindo a humanidade com conhecimento. De maneira similar, o nosso é um dos caminhos, e não o único caminho. É um caminho que leva até a Meta. Se você seguir outro caminho, certamente chegará no seu destino. O destino é sempre o mesmo.
Pergunta: Você poderia nos dizer o que é o Cristo?
Sri Chinmoy: Cristo é a infinita Consciência da Realidade Eterna. Cristo como o homem físico, o filho de um carpinteiro, ficou na terra por trinta e três anos. Mas se você se importar com o espiritual, o divino, o imortal, dirá que Cristo é infinito, eterno, imortal. Há dois mil anos atrás o Cristo veio em forma física, mas agora mesmo Ele está conosco na forma espiritual e ficará para sempre conosco. Para buscadores espirituais, Ele estará sempre dentro dos seus corações. Para pessoas comuns, mesmo que Ele venha e se coloque na frente delas, elas ainda duvidarão Dele.
Pergunta: Cristo foi um avatar?
Sri Chinmoy: Na força da minha própria realização mais elevada, quero dizer que Cristo foi, é e sempre será um avatar. Avatar significa o representante direto de Deus – Deus na forma humana. Um avatar incorpora a Visão e a Realidade de Deus de uma sé vez. Com ele, a Visão e a Realidade caminham juntas. Cristo, Sri Krishna, Buda, Sri Ramakrishna, vieram todos da mesma Fonte, mas tiveram nomes diferentes. Nesse momento, eu O chamo Krishna porque gosto da forma de Krishna; no momento seguinte, eu gosto da forma de Buda, então O chamo Buda; depois posso chamá-Lo de Ramakrishna ou Cristo. Mas eles todos são eternamente um.
Há uma maneira de um Mestre espiritual provar a sua filosofia ou a sua realização, mas você tem que permiti-lo fazer isso à própria maneira dele. Eu lhe pedirei para desistir das suas dúvidas, impurezas, apegos e desejos por alguns meses e meditar comigo sincera e devotadamente. Se me permitisse provar a mim mesmo dessa forma, muito em breve, você veria e sentiria a verdade. Mas se disser: “Não, eu não quero que você prove a si mesmo dessa forma; nesse momento, eu quero que você me mostre Deus, a Verdade e a Luz, bem diante dos meus olhos”, o que eu poderia fazer? Eu ficaria desamparado nesse momento. Eu poderia fazê-lo, mas os seus olhos interiores estariam bem fechados e você não veria nada, então, ainda duvidaria da minha capacidade e da minha verdade.
No mundo exterior você precisa dos olhos para ver se alguém está fazendo algo. Similarmente, no mundo interior você precisa do terceiro olho para ver se alguém está fazendo algo interiormente. A pessoa tem que usar a sua visão interior para ver a autenticidade do Mestre espiritual. Os olhos externos, que servem à mente, não têm utilidade para ver coisas interiores. Se você quer provar a autenticidade de um Mestre espiritual, medite e vá fundo dentro de si, aquiete a sua mente e tente entrar na Consciência universal. Só assim você verá se o homem espiritual está ou não falando a verdade; apenas assim, você se tornará um juiz competente.
Mas você não pode esperar se tornar um juiz qualificado da noite para o dia. Se quiser aprender a ser um eletricista, você se colocará nas mãos de um profissional qualificado por um ou dois anos, e seguirá as instruções dele cuidadosamente. Ao final desse período, se ele não o tiver ensinado muito bem, você poderá dizer: “Você não era qualificado” ou “Você não sabia o que estava fazendo”. A Deus-realização é um assunto infinitamente mais difícil. Se um homem espiritual diz: “Eu posso levá-lo a Deus”, você tem que seguir as suas instruções ao pé da letra, por ao menos um ano ou dois, para obter experiências preliminares, que lhe mostrarão que está no caminho certo. Se duvidar dele desde o comecinho, não estará dando uma chance nem a ele nem a você. Se o seu Mestre disser: “Eu vi a Luz e o levarei para a Luz”, você deve lhe dar uma oportunidade de conduzi-lo à Luz. Você tem que ser paciente e lhe devotar completa obediência. Eu uso a palavra ‘entrega’, mas a completa obediência é necessária até mesmo para começar. Para isso, a pessoa tem que rejeitar totalmente a mente duvidosa. Com uma enorme autodisciplina, você tem que forçar a si próprio a parar de duvidar, ainda que diga que é apenas por um período temporário. Diga: “Eu vou parar de duvidar por dois anos e dar a esse homem uma chance de me mostrar a Luz.” Mas se duvida dos seus ensinamentos no momento em que está tentando aprendê-los, estará simplesmente destruindo as suas oportunidades.
Se quiser ver alguma coisa no mundo exterior, tem que ir ao lugar onde ela está. No mundo interior também é assim. Quando uma pessoa espiritual diz que está fazendo isso ou aquilo, você tem que ir ao seu nível, ao seu plano, para ver. Tudo tem que ser visto ou sentido ou julgado no seu próprio mundo. Eu não julgo a ciência porque nunca entrei nesse mundo; não sou competente para julgá-la no seu próprio nível. A verdade física tem que ser vista no mundo físico e a verdade espiritual tem que ser vista no mundo espiritual.
Ocidentais têm um problema especial com essa mente desenvolvida. É realmente uma desvantagem na vida espiritual ter uma mente intelectual altamente desenvolvida. Mas se você transformá-la e transmutá-la, ela pode se tornar um instrumento muito útil. Eu quero contar uma estória indiana tradicional, nesse assunto:
Um buscador que estudou milhares e milhares de livros espirituais, foi a um Mestre e disse: “Mestre, eu estudei tudo que os livros podem ensinar e agora, eu quero aprender com você.”
O Mestre disse: “Você não está preparado para ser meu aluno.”
O buscador perguntou: “Como assim não estou preparado? Você tem todo tipo de gente ignorante como aluno, enquanto eu estudei muitos livros e todas as escrituras.”
O Mestre replicou: “Porque agora, o que você aprendeu, tem que ser desaprendido, já eles não têm que desaprender nada. Você tem uma carga gigante nos seus ombros. A menos que descarregue a si próprio, não aprenderá nada comigo. Mas esses alunos inocentes que eu tenho, não estão carregados com informações de livros; eles são como novos.”
Então o Mestre pediu ao buscador que trouxesse um almanaque e o abrisse numa página em particular. “Aqui está escrito que nesse exato momento vai chover pesado. Agora torça o papel. Está chovendo aqui? Torça o livro todo. Está chovendo? Você torceu o livro tão forte quanto pode, mas não choveu. Livro-conhecimento é conhecimento teórico. Só a experiência é conhecimento prático. Simplesmente desaprenda tudo que você aprendeu por tantos anos e assim, estará pronto para ser meu aluno.”
Mestres indianos às vezes são muito, muito rígidos ou talvez devamos dizer, muito rudes com seus alunos, se eles chegam com perguntas intelectuais. Algumas vezes, eles esnobam seus alunos impiedosamente. Eles querem mostrar a eles que intelectualismo desnecessário, irá apenas obstruir o seu desenvolvimento espiritual.
Pergunta: Como o Mestre reconhece quando um dos seus discípulos está alcançando um estado de consciência mais elevado?
Sri Chinmoy: A alma do Mestre irá reconhecer uma consciência mais elevada nos discípulos. Se o Mestre não souber, quem saberá? Se você for um professor, saberá pelo seu próprio conhecimento, se o aluno está indo bem ou não. Se você é um professor, isso significa que já adquiriu um certo conhecimento. Você vai comparar o conhecimento do seu aluno com o Seu próprio e, se o dele estiver próximo ao seu, saberá que ele está indo muito bem. Mas se ele não estiver nem um pouco próximo, você simplesmente dirá que ele é um aluno principiante.
Seguir um Mestre espiritual é como caminhar com alguém que é infinitamente mais forte que você e está sempre pronto a auxiliá-lo e fazê-lo feliz de uma maneira divina.
O papel do professor espiritual
Todos têm um Guru, o Guru verdadeiro, que é o Piloto Interior, o Piloto Supremo. Há apenas um Guru, e esse Guru é Deus. O Mestre espiritual é somente um representante de Deus. Quando se é um principiante, talvez não se saiba onde está o verdadeiro Guru, o Guru eterno, justamente porque não se tem um acesso livre e consciente a Ele. Se então alguém auxiliar o buscador a entrar no seu próprio mundo de Divindade e Realidade, o buscador aprenderá ou descobrirá a sua própria Divindade. Esse é o papel do Mestre espiritual, do Guru humano. Mas o verdadeiro Guru está dentro dos mais íntimos recessos de cada coração aspirante.
O professor espiritual é o membro mais velho numa família. Porque ele tem um pouco mais de Paz, Luz e Deleite que os outros, Deus o escolheu para dar a sua pequena Paz, Luz e Deleite aos seus irmãos e irmãs mais novos. Ele sabe que não é o pai. E os irmãos e irmãs mais novos também sabem que ele não é o pai. O pai é outra pessoa. Mas, porque ele é o irmão mais velho, deve saber onde o pai está. O irmão mais velho da família diz aos mais novos: “Venham. Mostrarei a vocês onde o nosso Pai está.” Uma vez que consegue trazer os mais novos ao Pai comum, o seu papel acaba. Eles estarão por conta própria assim que mostrar a eles onde o Pai está.
A espiritualidade não é uma coisa fácil. Se alguém quiser aprendê-la corretamente, será necessário auxílio. Você foi para a faculdade ou universidade para conseguir o seu diploma, e então parou de estudar e começou a sua própria vida.
Se o buscador não buscar auxílio, ele poderá ter dificuldades, ter sérias dúvidas sobre a sua própria vida espiritual, e desistirá. Ele pensará que é impossível praticar a espiritualidade, pois há tantas dúvidas e tantas coisas erradas na sua vida. Mas, se houver um Mestre espiritual, o Mestre sempre o encorajará e o auxiliará.
Por isso é bom ter um Mestre espiritual, ainda que não seja obrigatório. Muitos realizaram Deus sem ter Mestres espirituais. Mas, se tiver um bom Mestre, será ótimo; você tem sorte.
Há diversas formas de saber se um Mestre é genuíno ou não. Se o Mestre diz que será capaz de conceder-lhe realização da noite para o dia, ele é um falso Mestre. Se disser que, caso você lhe pague uma taxa de algumas centenas ou milhares de dólares ele será capaz de auxiliá-lo a entrar num reino de consciência mais elevado e encontrar Paz, Luz e Deleite, então ele é um falso Mestre. Um verdadeiro Mestre dirá ao buscador que ele mesmo não é Deus; ele não é nem mesmo o Guru. Deus é o verdadeiro Mestre. O Mestre humano está apenas servindo a Deus nos buscadores; ele não é o Guru. O verdadeiro Guru é Deus. Se um buscador quiser saber quem é um verdadeiro Mestre, a partir dessas orientações ele poderá distinguir o verdadeiro do falso.
Mestre genuíno, buscador genuíno
Muitas vezes as pessoas tentam julgar se um Mestre é perfeito ou não. Mas facilmente elas podem se enganar. Se o Mestre é genuíno – isso é, se o Mestre realizou Deus – o que pode parecer uma fraqueza no Mestre na verdade não os afeta na sua auto-realização.
Contudo, certas fraquezas chamadas de humanas são uma coisa; mas, se o Mestre é indulgente na vida vital inferior, na vida sexual, esse Mestre é muito ruim e você deve deixá-lo. Se não sentir pureza no Mestre, se não enxergar nele a perfeição da vida do vital inferior, da vida emocional, mantenha uma enorme distância dele. Como você conseguiria através dele a perfeição da sua própria vida vital?
Pergunta: Como uma pessoa pode reconhecer um Mestre espiritual genuíno?
Sri Chinmoy: Quando você meditar com um Mestre espiritual, se em sua infinita bondade ele quiser lhe mostrar Luz e Paz através dos seus olhos ou através da sua presença espiritual, ele conseguirá. Quando um verdadeiro Mestre espiritual olha para um aspirante genuíno, o aspirante está fadado a sentir algo no Mestre. Uma pessoa Deus-realizada ou um Mestre espiritual não é alguém com asas e uma auréola para identificá-lo. Ele é normal, apesar de que em sua vida ele tem abundante Paz, Luz e Deleite. Se for até um homem espiritual esperando algo diferente de Paz, Luz, Deleite e Poder, você ficará desapontado.
Você também deve saber se é capaz de julgar. Se eu não conheço nada sobre a ciência médica, como julgarei um grande médico? Apenas outro médico será capaz de julgá-lo corretamente. Mas um enfermeiro, que conhece um pouco da ciência médica, será capaz de admirar um grande médico muito mais que eu. Na vida espiritual, um verdadeiro buscador que possui aspiração sincera e dedicação já alcançou um pouco de Luz interior. Por causa da sua aspiração, Deus lhe concedeu uma gota de Luz e, com essa Luz, ele estará destinado a enxergar e sentir algo num verdadeiro Mestre espiritual. Se alguém é realmente avançado na vida espiritual e está fazendo progresso rápido na sua jornada interior, a sua aspiração será o melhor juiz com relação a se o outro, chamado de Mestre, é genuíno ou não. O melhor juiz é a sua própria aspiração sincera.
Um Mestre espiritual é o guia incansável para os seres humanos buscadores de Deus.
Um Mestre que não é realizado poderá enganá-lo por um dia, um mês ou alguns anos, mas não poderá enganá-lo para sempre. Se a sua própria aspiração sincera for cem por cento pura e se você não quiser nada se não Deus, Deus não irá deixar você ficar com um Mestre não realizado, insincero, indefinidamente. Seria impossível!
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Há uma grande diferença entre um ocultista e um Mestre espiritual verdadeiro, que trilha o caminho da entrega à Vontade de Deus. “Seja feita a Vossa Vontade” não é a mensagem do Cristo apenas; é a mensagem de todos os Mestres espirituais. “Seja feita a Vossa Vontade” é a essência do Yoga da entrega. Não há Mestre espiritual que não chegue a essa percepção. Contudo, um ocultista que não seja da mais elevada visão sentirá que a sua própria vontade deve ser realizada antes. Essa é a diferença entre um ocultista e um verdadeiro Mestre espiritual.
O Filho de Deus, Jesus Cristo, esteve na Terra por trinta e três anos. Apenas durante os três últimos anos da sua vida ele fez milagres. Mas você pensa que o mundo ainda o adora e cultua apenas porque ele pode caminhar sobre as águas ou ressuscitar um homem morto? Não, não é por causa dos milagres que ele ainda é adorado, mas porque ele trouxe a Consciência eterna, a Consciência infinita. Sri Ramakrishna praticamente não fez milagres, e muitos, muitos outros Mestres espirituais não fizeram milagres. Eles sentiram que fazer milagres no plano físico seria pueril comparado com o que eram capazes de fazer no plano espiritual, na região do coração, onde habitam a infinita Paz, Luz e Deleite.
O poder kundalini e todos os poderes milagrosos da Terra são efêmeros, pois são poderes terra-limitados. Mas o Poder do Eu é infinito; o Poder do Eu transcendental é infinito e imortal. A coisa mais importante na Terra para um buscador espiritual é o despertar da consciência e a realização do Eu, pois isso é eterno. Se alguém vem aqui e faz alguns milagres, ficaremos fascinados. Mas quando formos para casa, nada sustentará a nossa fé no que ele fez. Parecerá tudo mágica ou ilusão. Por quanto tempo poderemos valorizar o mágico dentro ou diante de nós? Mas quando alguém ergue a nossa consciência mesmo por um segundo, ou se conseguirmos realizar isso através da nossa intensa aspiração, nossa fé nessa experiência será duradoura, pois ela será a nossa própria experiência.
Precisamos de tudo aquilo que dura para sempre. Precisamos da Imortalidade, da Imortalidade interior; e ela só vem com o despertar e elevação da nossa consciência.
Não foi apenas o meu Mestre espiritual que ensinou seus discípulos como meditar utilizando uma foto sua em consciência de iluminação. E temos muitíssima sorte em ter alguns Mestres realizados que vieram ao mundo após o advento da fotogravia (e até mesmo vídeo).
Assim, em homenagem ao incalculável privilégio de poder visualizar as imagens verossímeis desses grandes Mestres, montamos uma página com 13 fotos e imagens selecionadas. Eu mesmo não tenho autoridade para dizer quem é ou não é um Mestre genuíno. Assim, escolhi alguns dos Mestres mais recentes que Sri Chinmoy comenta e adora em suas histórias. De forma alguma, o fato de um professor não constar aqui não quer dizer que ele não é um Mestre, ok?
Abaixo duas imagens especiais. Sri Chinmoy tinha apreço particular pela estátua do Buda em Kamakura, no Japão, e pela pintura de Sallman sobre o Cristo. Então resolvi inclui-las aqui também.
O que é, como reconhecer, ensinamentos, discípulos e mais: a figura do Mestre espiritual
Logo abaixo está a página sobre o Histórias de Mestres espirituais, de uma de uma sequência de artigos sobre o Mestre espiritual, escritos por Sri Chinmoy. As outras páginas são:
Era uma vez um buscador. Durante muitos anos, ele procurou por um Mestre, um Guru. Infelizmente, nunca encontrou um. Esteve em muitos grupos, mas os professores que conheceu não eram do seu gosto. E ele procurava e procurava por um Mestre espiritual. Um dia, enquanto andava por uma rua, viu um Mestre espiritual com alguns discípulos. Estavam sentados na relva, num lindo gramado, e alguns discípulos molhavam a grama.
O buscador aproximou-se do Mestre e falou, “Mestre, todos esses seus discípulos escutam o senhor, não importa o que diga. Eles acreditam no senhor e estão certos quando o ouvem. Mas, eu gostaria de dizer que tenho algo para contar-lhe, mesmo que o senhor possa discordar.”
O Mestre disse, “A verdade certamente não é meu monopólio. Se você descobriu alguma verdade, naturalmente aceitarei a sua verdade de todo coração. Agora, por favor, diga-me, que verdade você descobriu?”
O buscador falou, “Minha descoberta é esta: uma pessoa do mundo não pode realizar Deus tão facilmente. Sou uma pessoa do mundo, e sei que até mesmo encontrar um Mestre é impossível. Se não encontro um professor espiritual, porque nenhum me satisfaz, então como será possível que eu realize Deus, algo infinitamente mais difícil? Encontrar um Mestre já é tão difícil para mim; alcançar a realização nesta vida é simplesmente impossível. O senhor concorda comigo?”
O Mestre respondeu, “Infelizmente, não concordo com você. Outros podem pensar que o que diz está certo, mas eu gostaria de dizer que não é tão difícil encontrar um Mestre nem alcançar a Deus-realização.”
O buscador ficou surpreso, e até os discípulos ficaram um pouco admirados com a observação do Mestre, porque a maioria sabia quão difícil fora para eles encontrar um Mestre espiritual, e que a Deus-realização era ainda uma meta distante.
O Mestre falou, “Veja, agora mesmo, alguns dos meus discípulos estão molhando a grama. Há pequenas plantas por aqui.” O Mestre apontou duas plantinhas bem miúdas. Então, o Mestre pegou uma pazinha e arrancou uma delas. Pegou a planta toda, raiz e folhas, e dirigiu-se para a outra planta. Aí, também, removeu a planta inteira e substituiu-a pela primeira. Daí, pegou a segunda planta e replantou-a no lugar da primeira.
Então, o Mestre falou, “Olhe aqui. Esta planta é o homem e aquela é Deus. Agora, eu sou o Mestre. Eu cheguei aqui e toquei esta planta. Foi uma questão de minutos, poucos minutos. Tão logo a toquei, imediatamente a planta me deu a divina resposta, e eu a peguei e a coloquei lá onde a planta chamada ‘Deus’ estivera. Então, peguei a planta-Deus e obtive toda Sua Compaixão, Amor, Alegria e Deleite, e os coloquei aqui onde o homem a planta estivera. Foi uma questão de apenas poucos minutos. Levei o homem a Deus e trouxe Deus ao homem.”
O novo buscador disse, “Mestre, quero ser seu discípulo. Por favor, inicie-me.”
“Eu o iniciarei em breve, meu filho”, disse o Mestre. E continuou, “Se sente que é quase impossível realizar Deus, significa que a sua ideia de Deus está errada, a sua ideia da espiritualidade está errada. Agora, está apegado ao mundo, mas se tiver o mesmo apego a Deus, verá que pode facilmente alcançá-Lo. Quando vou a Deus, bato em Sua porta. Imediatamente, Ele vem a mim, e eu digo, ‘Por favor, venha comigo’. Ele então vem com seu infinito Amor, Alegria, Bênçãos e Compaixão. Então, eu bato à sua porta, mas, quando bato, você não a abre; mantém a sua porta fechada, trancada. Naturalmente, Deus e eu vamos embora. Então, quando quero levá-lo ao palácio de Deus, digo, ‘Venha comigo’. Quando bato à porta de Deus de novo, Deus diz que, assim como você não abriu a sua porta quando eu O levei até você, Ele não lhe abrirá a porta Dele. Se tivesse aberto a porta quando eu trouxe Deus como o Convidado e se tivesse permitido a Deus entrar, naturalmente, Deus também teria permitido a você entrar no Seu Palácio. Portanto, se mantém a porta do seu coração aberta, Deus pode facilmente entrar.
“Mas, quando eu me aproximo, você fica perturbado. Pensa que tem medo, dúvida, problemas emocionais, problemas vitais, inveja, e assim por diante. Não quer se expor; quer se esconder. Mas, a planta que eu mudei, homem a planta, não teve medo, dúvida e nem timidez quando a toquei – absolutamente nada. Não teve medo algum da sua própria ignorância. Sentiu uma comoção porque alguém a estava levando para outro lugar, o qual era Deus. Assim, quando eu o toco, quando um Mestre espiritual o abençoa ou medita em você, nesse momento, se você oferece a sua ignorância e suas imperfeições, juntamente com suas qualidades devotadas, fica muito fácil para o Mestre levá-lo completamente para Deus. Se não, é quase impossível para o Mestre fazer qualquer coisa para transformar ou mesmo purificar as consciências dos discípulos. É uma troca de duas plantas. Isso é o que o Mestre faz quando lida com seus filhos espirituais. Uma planta é Deus, a outra planta é o homem.”
Então, o Mestre se afastou caminhando lentamente.
OS CONSELHOS DO MESTRE SOBRE
A ESCOLHA DE UM CAMINHO
Havia um Mestre espiritual que queria dar a cada um de seus filhos espirituais atenção, cuidados, bênçãos e orientação especiais, a despeito do fato de ter centenas e centenas de discípulos. Ele conduzia muitas reuniões por semana, às vezes, duas no mesmo dia, de modo que cada reunião pudesse ser mantida pequena e íntima, independente de quantos novos buscadores ele admitisse em sua família espiritual.
Em um ou dois dias na semana, o Mestre permitia a participação de visitantes nos encontros, e alguns posteriormente decidiam seguir o seu caminho. Um dia, quatro visitantes – três rapazes e uma moça – vieram ao Mestre, após um encontro. Um dos rapazes curvou-se perante o Mestre e disse, “Mestre, o senhor me aceitaria como seu discípulo? Eu tenho vindo aqui a cada semana durante o último mês, e finalmente decidi que este é o meu caminho.”
O Mestre perguntou ao buscador o seu nome e algumas informações sobre sua vida exterior, e, então, em silêncio, concentrou-se em sua alma. Finalmente, falou: “Certamente, eu o aceitarei como discípulo. Você tem a minha aceitação, de todo o coração. Por favor, venha aos nossos encontros regularmente e devotadamente. Eu vejo claramente que este é o seu caminho.”
O novo discípulo ficou extremamente feliz e agradecido por ter sido aceito pelo Mestre.
Então, o segundo rapaz disse, “Mestre, eu também tenho vindo durante o último mês, mas acabo de descobrir que se pode vir apenas quatro ou cinco vezes antes de decidir tornar-se um discípulo. Sinto que este pode ser o meu caminho, mas não quero tornar-me um discípulo de imediato porque não gostaria de ter qualquer conflito interior ou ser parcial quanto ao meu compromisso. Quero estar absolutamente certo.”
O Mestre respondeu, “Admiro profundamente a sua sinceridade. Infelizmente, temos essa regra aqui no ashram, mas você é muito bem vindo aos encontros das quartas-feiras à noite fora do ashram. Muitas pessoas têm vindo a esses encontros há oito, nove meses, ou mesmo um ano, mas ainda não assumiram um compromisso e, de nossa parte, não lhes pedimos que assumam qualquer compromisso. Decerto, eu sou a mesma pessoa, o mesmo Mestre espiritual, no meu ashram ou fora dele, de modo que você poderá ter a mesma oportunidade de decidir se eu sou seu Mestre.”
“Mestre, fico feliz em ouvir que poderei frequentar seus encontros nas quartas-feiras, e certamente continuarei vindo meditar com o senhor. Mas, porque o senhor tem esse regulamento rígido? Perdoe minha pergunta, mas porque a vida interior deveria ter essas limitações exteriores?”
O Mestre explicou, “Meu filho, se temos algumas regras e regulamentos como esse, podemos harmonizar mais efetivamente o grupo. Cada organização precisa de regras e regulamentos para funcionar bem. Também, é mais fácil disciplinar as vidas dos discípulos numa comunidade espiritual se há algumas regras.
“Há também uma razão espiritual, meu filho. Tenho visto claramente que, se alguém deseja selecionar um caminho, quatro visitas a um Mestre são mais que suficientes para a pessoa decidir se é o caminho certo para ela ou não. Após ver-me este número de vezes, se eu sou destinado a ser o seu Mestre, você deve sentir algo em mim. Não digo que, apenas por ser um Mestre espiritual você tem de sentir algo em mim; mas, se é meu destino ser o seu Mestre, definitivamente você sentirá algo em mim que o encorajará e o inspirará a tornar-se meu discípulo. Se diz, no entanto, que no seu caso, está demorando mais porque quer ser muito cauteloso e cuidadoso para evitar cometer um erro, então eu o convido a vir indefinidamente àquele outro encontro. Fique à vontade. Após uns seis meses, se sentir que este não é o caminho para você, poderá tentar outros caminhos.
“Sou seu irmão espiritual mais velho, digamos assim. Porque sou um pouco mais avançado que você no caminho espiritual, meu papel é levá-lo ao nosso Pai comum, mas eu mesmo não sou a Meta. Se há alguém espiritualmente um pouco mais avançado que você, então, naturalmente, ele também estará em posição de levá-lo ao Pai. Nós, Mestres espirituais, somos como mensageiros; apenas conduzimos os buscadores ao Pai. Você terá a mesma oportunidade de realizar Deus, se aceitar este caminho ou qualquer outro. Se quer aguardar, então por favor o faça, mas não se sinta triste ou perturbado. Nesse encontro e em todos os meus encontros – em todos os lugares – a porta do meu coração está toda aberta.”
O segundo buscador saudou o Mestre. “Mestre, estou verdadeiramente sensibilizado com a magnanimidade do seu coração e com a sua profunda sabedoria. Certamente continuarei vindo aos seus encontros. Muito obrigado.”
O terceiro rapaz aproximou-se do Mestre. “Mestre, sinto que minha vida está imersa em confusão. Como posso julgar minha própria sinceridade? Mestre, por favor, dê-me algum conselho.”
O Mestre falou, “Parece-me que você tem duas perguntas, não uma. Uma tem a ver com a sua confusão, outra com a sua sinceridade. Por que está confuso? O que o faz pensar que está tão confuso? Aceitação do nosso caminho é uma coisa, e confusão na sua vida, na sua mente, é um assunto completamente diferente. Pergunte-se se será feliz se não aceitar nosso caminho. Se sentir que será feliz, e se disser que não está confuso quanto a rejeitar ou aceitar nosso caminho, então a sua confusão está completamente separada de se você deve ou não aceitar a vida espiritual. Depende de você aceitar-nos ou rejeitar-nos. Este caminho é um meio de ver a verdade. A sua sinceridade lhe dirá se ele é para você.”
O Mestre respondeu, “Você pode facilmente julgar a sua sinceridade. Ela depende inteiramente da grandeza ou magnanimidade do seu coração. Você não tem de se tornar uma pessoa espiritual para ser sincero. Pense em si mesmo como duas pessoas. Pense no seu vital, mente e físico como alguém afogando no mar da ignorância, e pense no seu coração e alma como outra pessoa, atravessando o mar da ignorância a nado. Separe sua mente, vital e corpo de seu coração e alma. Sinta que, enquanto a sua mente, vital e corpo afundam, seu coração e alma têm a capacidade de salvá-los. O que deve fazer agora? Caso separe-se da pessoa que afunda, se ficar com o coração e a alma, imediatamente a grandeza do coração e a visão de futuro da alma virão salvar o homem que se afoga dentro de você. Mas, você tem de decidir se quer ou não seguir o caminho do coração e da alma para salvar o físico, o vital e a mente. Se sentir que o físico está lhe dando a mensagem certa, que o vital está lhe trazendo a mensagem certa e que a mente está lhe oferecendo a mensagem certa, estão não sentirá uma necessidade verdadeira da vida espiritual. Mas, se sentir que sua mente, por exemplo, está afundando, então deve voltar-se para o coração, porque o coração está em posição de oferecer iluminação à mente. Quando entrar para a vida espiritual, a sua mente intelectual será apenas um obstáculo inoportuno. A mente, como tal, não é ruim, mas a mente tem de ser iluminada pela luz do coração. E a luz do coração vem da própria alma.”
O terceiro buscador falou, “Mestre, seguirei seu conselho, e estou certo de que os problemas da minha confusão e da minha sinceridade logo serão resolvidos. Tentarei identificar-me com meu coração e minha alma.”
Então, o último visitante, uma moça, disse ao Mestre: “Embora tenha meditado e tido uma vida interior durante muitos anos, esta é a primeira vez que tento encontrar um Mestre. Sinto grande afinidade pelo senhor, mas não é muito cedo para eu tomar uma decisão?”
O Mestre falou, “Minha filha, entre em seu coração e alma. Se sentir que este é o caminho para você, certamente deverá vir. Se sentir que este não é o seu caminho, então vá a algum outro lugar. Mas este é o meu único pedido a você e a todos que não aceitaram um Mestre espiritual: encontre seu Mestre, o mais breve possível. Apenas porque é sincera, peço-lhe que não se adie. Você pode até dizer que tem de esperar pela Hora de Deus, mas eu digo que a hora já chegou. Este é o motivo pelo qual veio até aqui e está pensando em ir a alguns outros lugares também. Algumas pessoas são muito irrequietas. Embora vejam um objeto de que gostam na primeira loja que vão, pensam que, talvez, encontrarão algo melhor em outra loja. Vão a vinte outras lojas, esperando achar um objeto em particular, e após olhar e procurar, frequentemente acabam voltando à primeira loja.
“Porém, se são sábias, se estão realmente famintas e encontram a fruta que satisfará sua fome na primeira loja, comem lá mesmo e não se ocupam em ir de loja em loja. É certo que, se não gostarem da comida oferecida lá, têm todo o direito de ir a outro lugar. Mas, algumas pessoas exercitam o que chamam de sabedoria humana, a qual não tem validade do ponto de vista espiritual. Sua natureza é dizer ‘Vamos olhar outras coisas’. O problema é que o tempo é muito precioso. Se tenho de entrar em muitas lojas e examinar tudo, enquanto estou perdendo tempo, alguém pode comprar a fruta que eu queria a princípio. Além disso, o vendedor não mantém suas portas abertas vinte e quatro horas por dia. Se perambulo por sua loja durante muito tempo sem comprar o que preciso, ele pode decidir que é hora de fechá-la e pedir-me que vá procurar em outro lugar. Nessa hora, sou eu quem fica insatisfeito e incompleto.
“Então, após buscar em seu interior profundo, se seu coração e sua alma disserem que este não é o seu caminho, seja muito corajosa e procure outro Mestre. Mas, se sentir que este é o seu caminho, não permita que a mente se manifeste trazendo dúvida.
“Você pode pensar que a mente está sendo sinceramente cautelosa ao questionar o coração, mas, na verdade, a mente está apenas mostrando sua insegurança. A mente é perdidamente insegura, e por isso cria sempre confusão. Tenha fé somente no seu coração e na sua alma. Se a alma lhe envia a mensagem através do seu coração de que este é o seu caminho, aceite este caminho e mantenha-se nele.
“O que estou dizendo é que é melhor estar sempre alerta e não perder tempo. Temos de estudar três assuntos. O primeiro é Deus-realização, o segundo é Deus-revelação e o terceiro é Deus-manifestação. Mal começamos a estudar o primeiro, mas devemos completar todas as três disciplinas. Cada uma necessita de um grande investimento de tempo. Deus sabe quantos séculos, quantas encarnações cada uma exigirá. Então, quanto antes começarmos, melhor para nós.”
A buscadora se curvou ao Mestre e falou: “Mestre, não perderei um segundo. Buscarei fundo em meu interior e encontrarei o caminho para mim. Mestre, o senhor é nosso verdadeiro irmão espiritual, cuja única preocupação é o nosso progresso. Estamos profundamente sensibilizados com sua orientação incondicional. Faremos o que o senhor disse.” Os quatro buscadores curvaram-se agradecidos ao Mestre antes de saírem.
EU QUERO APENAS UM ALUNO: O CORAÇÃO
Havia um Mestre espiritual que tinha centenas de seguidores e discípulos. O Mestre sempre oferecia discursos em diferentes lugares – igrejas, sinagogas, templos, escolas e universidades. Sempre que era convidado, e sempre que seus discípulos encontravam oportunidades, ele proferia palestras. Ele deu palestras para crianças e adultos. Deu palestras para estudantes universitários e para donas de casa. Algumas vezes, proferiu palestras perante estudiosos e os mais avançados buscadores. E assim foi por cerca de vinte anos.
Finalmente, chegou o dia em que o Mestre decidiu interromper suas palestras. Ele disse aos discípulos: “Basta! Fiz isso durante muitos anos. Agora, não darei mais palestras. Apenas silêncio. Manterei silêncio.”
Durante cerca de dez anos, o Mestre não deu mais palestras. Manteve silêncio em seu ashram e em todo lugar. Ele havia respondido milhares de perguntas, mas agora, nem sequer meditava em público. Passados dez anos, seus discípulos lhe rogaram que retomasse seu antigo costume de dar palestras, responder perguntas e conduzir meditações públicas. Todos pediram, e ele por fim consentiu.
Imediatamente, seus discípulos organizaram eventos em muitos lugares. Colocaram anúncios em jornais e cartazes por toda parte, anunciando que seu Mestre iria proferir palestras novamente e conduzir elevadas meditações para o público. O Mestre ia a esses lugares com alguns de seus discípulos favoritos, que eram os mais devotados e dedicados. Centenas de pessoas se juntavam para ouvir o Mestre e ter suas perguntas respondidas. Mas, para a grande surpresa de todos, o Mestre não dizia coisa alguma. Do início ao fim dos encontros, por duas horas, ele mantinha silêncio.
Alguns dos buscadores na audiência ficavam incomodados. Diziam que estava escrito no jornal e nos cartazes que o Mestre daria uma curta palestra e responderia perguntas, bem como conduziria uma meditação. “Como, então, ele não disse coisa alguma?”, perguntavam. “É um mentiroso”, diziam muitos, que ficavam aborrecidos e iam embora. Outros permaneciam durante as duas horas, na esperança de que, talvez, o Mestre falasse ao final, mas ele encerrava as meditações sem dizer uma palavra. Algumas pessoas da audiência sentiam alegria interior. E algumas ficavam por medo de que, saindo cedo, as outras poderiam pensar que eles não eram espirituais e que não conseguiam meditar. Assim, alguns saíam, alguns ficavam com grande relutância, alguns ficavam a fim de se mostrarem para os outros, e muito poucos ficavam com grande sinceridade, devoção e clamor interior.
E assim se procedeu por três ou quatro anos. Muitos criticavam impiedosamente o Mestre e deixavam os discípulos envergonhados, dizendo: “Seu Mestre é um mentiroso. Como vocês justificam colocar anúncios no jornal dizendo que seu Mestre vai dar uma palestra, responder perguntas e conduzir meditação? Ele só faz a meditação e nós não aprendemos coisa alguma com ela. Quem consegue meditar por duas ou três horas? Ele está fazendo a gente de bobo, e se passando por tolo.”
Alguns discípulos próximos ficaram muito perturbados. Sentiam-se tristes porque seu Mestre era insultado e criticado. Rogavam ao Mestre para que desse apenas uma curta palestra e respondesse umas poucas perguntas ao final da meditação. Por fim, o Mestre aquiesceu.
Na ocasião seguinte, o Mestre não exatamente se esqueceu de que havia concordado, mas mudou de ideia. Em vez de duas, ficou meditando durante quatro horas. Até seus discípulos mais próximos ficaram tristes, já que não podiam zangar-se com o Mestre, pois é um séria falta kármica zangar-se com o próprio Mestre. Todavia, ficaram com medo de que alguém na audiência se levantasse e insultasse o Mestre. Em suas mentes, prepararam-se para proteger o Mestre caso ocorresse alguma calamidade.
Quando quatro horas haviam se passado sem sinal de que o Mestre falaria ou encerraria o encontro, um dos seus discípulos mais próximos levantou-se e disse, “Mestre, por favor, não se esqueça da sua promessa.”
O Mestre respondeu imediatamente: “Minha promessa, sim. Eu lhes prometi, e então é meu dever oferecer uma palestra. Hoje, minha palestra será muito curta. Quero dizer que dei centenas de palestras, milhares de palestras. Mas, quem ouviu minhas palestras? Milhares de olhos e milhares de ouvidos. Meus alunos eram os olhos e ouvidos das plateias – milhares e milhares de olhos e ouvidos. Mas falhei em ensinar-lhes qualquer coisa. Agora, quero ter um tipo diferente de aluno. Meus novos alunos serão os corações.
“Ofereci mensagens em milhares de lugares. Essas mensagens entraram por um ouvido e saíram pelo outro, todas no mais curto espaço de tempo. E o povo me viu dar palestras e responder perguntas. Apenas por um breve segundo, seus olhos percebiam algo em mim e, então, tudo se perdia. Enquanto eu falava sobre Verdade, Luz, Paz e Beatitude sublimes, os ouvidos não podiam captá-las porque já estavam cheios de rumores, dúvida, inveja, insegurança e impureza, coisas acumuladas durante muitos anos. Os ouvidos estavam totalmente poluídos e não receberam minha mensagem. E os olhos não receberam minha Verdade, Paz, Luz e Beatitude, porque viam tudo ao modo deles. Quando os olhos humanos veem algo belo, imediatamente começam a comparar. Dizem, ‘Como ele pode ser lindo, seu discurso ser lindo, suas perguntas e respostas serem lindas? Por que eu não posso ser assim?’ E, de pronto, chega a inveja. O olho humano e o ouvido humano ambos respondem através da inveja. Se o ouvido escuta algo bom sobre alguém, imediatamente a inveja chega. Se o olho vê alguém belo, imediatamente a pessoa sente inveja.
“Os ouvidos e olhos cumpriram seus papéis. Provaram ser alunos não-divinos, e não pude ensinar-lhes. Seu progresso foi totalmente insatisfatório. Agora, quero novos alunos e tenho novos alunos. Esses alunos são os corações, onde a unicidade crescerá – unicidade com a Verdade, unicidade com a Luz, unicidade com a beleza interior, unicidade com o que Deus tem e com o que Deus é. É o aluno-coração que tem a capacidade de se identificar com a Sabedoria, Luz e Beatitude do Mestre. E, quando ele se identifica com o Mestre, descobre a sua própria realidade: Verdade, Paz, Luz e Beatitude infinitas. O coração é o verdadeiro ouvinte, o verdadeiro observador; ele é o verdadeiro aluno que se torna um com o Mestre, com a visão, com a realização e com a Luz eterna do Mestre. De agora em diante, o coração será meu único aluno.”
EXPECTATIVA HUMANA E SATISFAÇÃO DIVINA
Um dia, um discípulo muito próximo de um grande Mestre espiritual o procurou e disse: “Mestre, o senhor me tem dito para não esperar nada da minha vida, mas esperar tudo apenas de Deus. Eu tenho fé em Deus, mas a menos e até que eu O tenha visto face a face, como posso esperar algo Dele? Se vejo uma pessoa, posso esperar algo dela, mas, se não a vejo, o que poderei esperar dela? Eu vejo minhas mãos e espero algo das minhas mãos. Vejo meus membros e, só porque os vejo, sinto que posso pedir-lhes um favor. Mas, no caso de Deus, como não O vejo, de que modo posso esperar algo Dele?”
O Mestre disse, “Meu filho, é verdade que não viu Deus, mas quero dizer-lhe que há muitas coisas que consegue, as quais não vêm de uma ação das suas mãos, nem dos seus olhos, nem de qualquer parte do seu corpo. Há muitas coisas que não espera, nem de você, nem de alguém mais, mas tais coisas ocorrem, mesmo que não perceba qualquer causa exterior ou qualquer providência feita por uma pessoa conhecida sua. Elas acontecem ao Modo de Deus, o qual está muito além da sua imaginação.”
“Mestre, isso é verdade. Mas devo dizer que, muito frequentemente, quando espero algo de Deus, minhas expectativas não são satisfeitas.”
O Mestre perguntou, “Quando esperas algo de si, as suas expectativas encontram satisfação sempre?”
“Não, Mestre.”
“Se não pode satisfazer tudo que espera de si, porque espera que Deus satisfaça tudo o que espera Dele?” Alguém espera algo porque estabeleceu um objetivo para si, e, ou espera que o objetivo venha alcançá-lo, ou procura ir ao seu alcance. Porque tem algum destino em mente, ou puxa o destino para si ou se conduz para o destino. Mas os esforços próprios nem sempre são suficientes para dar-lhe sucesso. Não. Há uma força maior, que se chama Graça, a Compaixão de Deus. Quando essa Compaixão desce das Alturas, nada há que não possa esperar da sua vida. Quando a Compaixão divina desce, se tiver uma expectativa divina, é certo que será satisfeita.
“Também há a possibilidade de que, no início da jornada, um buscador possa almejar uma meta menor porque não está consciente da sua maior capacidade, ou porque não está liberto de seus desejos. Se o indivíduo não tem verdadeira, sincera aspiração, se não é um buscador genuíno, Deus lhe dará o que ele conscientemente quer e espera. Mas, se ele ora e medita com toda alma, quando Deus vir a sua sinceridade e potencialidade, Deus não irá querer que ele alcance a meta inferior. Deus guarda uma meta infinitamente mais elevada pronta para ele.
“No início, sua expectativa pode ser uma gota de Luz, mas Deus está preparando você para poder receber uma vastidão infinita de Luz. No início, pode tentar obter apenas uma gota de Néctar; pode sentir que isto é suficiente. Mas Deus quer alimentá-lo com uma grande quantidade de Néctar. Assim, quando é absolutamente sincero na sua vida espiritual, se tem uma meta menor, Deus pode negar esse seu objetivo inferior, pois Ele guarda para você a Meta mais elevada. Mas, como não enxerga a Meta altíssima, sente que Deus não é bom nem Se importa com você.”
“O que é uma meta menor ou inferior?”, perguntou o discípulo.
“Deixe-me dar um exemplo”, replicou o Mestre. “Eu queria ser um cobrador de trem. Quando eu era criança e o cobrador passava pedindo os bilhetes, eu ficava tão fascinado pelos seus movimentos e com os seus gestos que eu queria ser igual a ele. Agora, veja! Eu me tornei um Mestre espiritual. Ser um Mestre espiritual é uma conquista infinitamente maior que ser um cobrador de trem. Assim, Deus não me permitiu atingir aquele objetivo menor.
“Eu também quis tornar-me um grande atleta, um corredor muito veloz, mas Deus quis algo mais. Ele quis que eu me tornasse um corredor muito rápido, não na vida exterior, mas na vida interior. O nome, a fama e as conquistas de um atleta campeão na vida exterior duram somente alguns anos. É verdade que ele inspira os jovens; mas a inspiração que oferece é nada se comparada com a inspiração que o campeão interior, o Mestre espiritual, oferece. Quando um Mestre inspira alguém, a consciência dessa pessoa é elevada, e ela dá um passo a frente em direção à Meta altíssima. O Objetivo derradeiro pode por fim ser alcançado com a ajuda da inspiração e aspiração de um Mestre.”
O discípulo disse, “Mas Mestre, mesmo quando eu espero de Deus a mais elevada Meta – Paz, Luz e Beatitude em quantidades infinitas – mesmo assim, minhas expectativas não são atendidas.”
“Meu filho, quando você espera Paz, Luz e Beatitude de Deus, significa que estabeleceu para si uma meta bastante elevada. Quando espera algo de seus amigos, parentes, vizinhos ou conhecidos, se eles não quiserem oferecer a você, então, simplesmente não o farão. E quando não obtém tal coisa, fica infeliz porque sente que, apesar de merecê-lo, não o conseguiu; ou sente que os outros não querem dar aquilo a você por causa de inveja e medo de que, se o conseguir, eles não serão capazes de mostrar sua supremacia.
“Mas, no caso de Deus, se Ele não lhe dá algo, não é porque Ele é invejoso ou porque Ele pensa que se der a você a Sua Infinidade não será capaz de manter Sua Supremacia. Não. Você pode sentir que o que tem recebido é apenas uma gota, enquanto o que espera é um oceano infinito; mas, quando Deus lhe dá somente uma gota, é porque Ele sente que mesmo essa pequena gota pode ser muito. Mas, gradualmente, Deus aumenta a sua capacidade, e chegará o dia que você será capaz de receber uma grande gota. E, por fim, será capaz de receber o oceano todo.
“Se espera algo de Deus, mas não o obtém, tenha certeza de que Deus tem razões muito boas e legítimas para não dar aquilo a você. É porque Ele lhe dará algo muito melhor no futuro. Também, Ele dirá a razão pela qual o está negando tal coisa. Se Ele não satisfaz sua expectativa, Ele oferece Luz a você. Através da Luz, Ele torna claro porque não está dando a você o que espera. E, se Ele dá de imediato o que quer, então Ele também diz o motivo de estar conseguindo aquilo agora. Assim, minha criança, se verdadeiramente quer esperar algo, espere não de si, nem de qualquer pessoa, mas somente de Deus.
“O atendimento de expectativas é simultaneamente uma necessidade humana e uma satisfação divina. Quando dizemos que estamos satisfeitos, referimo-nos ao atendimento da nossa expectativa. Mas essa satisfação de expectativa ocorre num modo divino apenas quando entregamos nossa vontade à Vontade de Deus.
“Senão, estaremos orando a Deus, meditando em Deus, adorando a Deus e tentando agradar a Deus com uma forma inadequada de expectativa. Porque rezamos durante oito horas, esperamos que Deus nos dê um sorriso. Mas como saber se, obtendo um sorriso de Deus, nossa vida será imortalizada, ou se, conseguindo outras coisas que queríamos, nossa vida será verdadeiramente satisfeita?
“Se esperarmos de Deus de um modo divino, a Realidade crescerá em nós; e com essa Realidade seremos capazes de seguirmos em direção à nossa Imortalidade, nossa Meta transcendental altíssima.”
QUEM É MAIS IMPORTANTE –
O GURU OU DEUS?
Um dia, um Mestre espiritual assistiu a uma triste discussão, uma disputa entre dois de seus discípulos. Os dois estavam quase brigando. O Mestre aproximou-se e falou, “Então, qual é o problema? Por que estão discutindo e brigando?”
Ambos exclamaram: “Mestre, Mestre, ajude-nos! Precisamos de sua orientação. Precisamos da sua luz.”
O Mestre disse: “Se falarem ao mesmo tempo, não poderei fazer qualquer julgamento. Então, diga-me, um dos dois, o que está aborrecendo vocês.”
Um deles falou: “Mestre, o pomo da discórdia é o senhor e ninguém mais.”
“O quê?”, exclamou o Mestre.
O discípulo continuou, “Ele diz que o Mestre, o Guru, é mais importante que Deus. Eu digo: impossível, Deus é mais importante. Ele diz que o Guru é mais importante porque o Guru mostra o caminho, pavimenta o caminho, e o Guru leva o discípulo até Deus. Ele também diz que, embora Deus se importe com todos, mesmo com o adormecido e o não aspirante, se alguém deseja as bênçãos e cuidados imediatos de Deus, é através do Guru que pode obtê-los. Por isso, o Guru é mais importante.
“Mas eu digo que não, que é Deus quem dá esse tipo de amor e compaixão ao Guru; é Deus quem faz do Guru um instrumento para ajudar a humanidade. Então, para mim, Deus é mais importante.
“Ele diz que há uma Meta, mas, se alguém não o levar até a Meta – esse alguém sendo o Guru – Deus será sempre um destino longínquo. Ele diz, ‘O Objetivo pode estar lá, mas quem me levará até lá? Não posso ir sozinho; não sei o caminho. Então, meu Guru é mais importante, porque a Meta não virá até mim.’
“Eu digo: não, a Meta pode não vir até mim, mas a Meta é Deus. Agora, se o Guru o leva até o Objetivo, Deus, e Deus não lhe dá atenção, qual a importância do mensageiro? O Guru pode levar alguém até perto da Meta; mas, se a Ela não se importa com essa pessoa, naturalmente a viagem é inútil. Um ser humano pode levar alguém a um Mestre, mas se o Mestre não se agrada da pessoa trazida, o caso é perdido. Mais importante não é quem leva o discípulo, mas quem se agrada do discípulo. Se Deus Se agrada de alguém, isto é mais do que suficiente.
“Ele diz que, se o Guru aceita alguém como seu mais querido discípulo, então ele toma em seus ombros a lei do karma. Quando o pai sabe que seu filho fez algo errado e o pai quer poupar o filho, ele mesmo assume a punição. Esse é o Guru. Mas Deus é o Pai Universal. Ele trabalha com a Sua Lei Cósmica. Quando fazemos algo errado, Ele nos dá as consequências, a punição. Ele sente que o Guru é mais importante, porque o Guru toma para si a punição que o discípulo merece, ao passo que Deus sempre administra a Sua Lei Cósmica.
“Mas eu digo que não, que Deus não nos pune; Ele apenas nos concede uma experiência. Quem pune quem? Deus tem Sua própria experiência em e através de nós. Não recebemos punição alguma, pois é Deus quem sofre ou Se alegra através de nós, em nós.
“Além do mais, Deus existia antes do Guru vir ao campo da manifestação, e Deus continuará sendo Deus por muito tempo após o Guru deixar o campo da manifestação. O Guru veio de Deus e retornará a Deus, sua Fonte. Mas Deus é infinito e eterno, e jamais deixará de existir. Deus é o Todo; o Guru é a personificação temporária.
“Guru, eu tenho total devoção ao senhor. Embora ele diga que você é mais importante que Deus e eu diga que Deus é mais importante, tenho profunda fé no senhor. Você poderia, por favor, iluminar-nos neste assunto?”
O Guru disse, “Vejam, pensando que o Guru é o corpo, então o Guru não tem importância alguma. Pensando que o Guru é a alma, então o Guru e Deus são igualmente importantes; eles são um e o mesmo. Mas, sentindo que o Guru é o Eu Infinito, o Eu Transcendental, então se faz necessário perceber que não é o corpo do Guru nem a alma do Guru, mas sim o Supremo nele o Eu Transcendental. O Supremo é o Guru, o Guru de todos. Tentando separar o físico, a alma e o Eu Transcendental em três partes diferentes, jamais Deus será realizado, jamais será possível realizar a Verdade altíssima. Para se realizar a Verdade altíssima, deve-se servir ao aspecto físico do Mestre, amar a alma do Mestre e adorar o Eu Transcendental do Mestre. O mais importante é ver no físico a luz sem limites do Mestre; na alma, a consciência de inseparável unicidade; e no Eu, a eterna libertação. Só então, o Mestre e Deus podem tornar-se um.
“Deus e o Guru são igualmente importantes no Jogo Eterno, o Teatro Divino.”
DEVE-SE SEGUIR
A PRÓPRIA NATUREZA
(Um homem santo nada no rio, e um observador está sentado na margem, assistindo. O homem santo vê um escorpião bem diante de si. Com pena da pobre criatura, ele o pega e, bem devagar, com toda gentileza, o põe em terra. Enquanto faz isto, o escorpião o ferroa severamente. O homem começa a chorar de dor.)
HOMEM SANTO: Eu queria salvá-la e salvei-a. É essa a minha recompensa? De qualquer modo, cumpri meu dever.
(Alguns minutos depois, o escorpião cai de novo no rio. O observador continua assistindo.)
(Ele pega o escorpião outra vez e o coloca em terra. Uma vez mais, o escorpião o ferroa, desta vez com mais força ainda, e o homem santo grita com tremenda dor.)
OBSERVADOR: Você é um tolo! Por que fez isso? Da primeira vez, errou, e da segunda, repetiu o mesmo erro.
HOMEM SANTO: Meu amigo, o que posso fazer? Minha natureza é amar, minha natureza é salvar. A natureza do escorpião é odiar, a natureza do escorpião é ferroar. Eu tenho de seguir minha própria natureza e o escorpião tem de seguir sua própria natureza. Se ele cair na água outra vez, eu o tirarei, não importando quantas vezes ele venha a cair. Serei picado, chorarei, lamentarei; mas não negarei minha natureza, que é amar, salvar e proteger os outros.
(O observador, imediatamente, pula no rio e toca os pés do homem santo.)
OBSERVADOR: O senhor é meu professor, meu Guru. Eu tenho procurado, ansiado por um Guru. Hoje, encontro no senhor meu verdadeiro Guru. E como sou seu discípulo, de agora em diante, se o escorpião cair no rio, serei eu quem vai colocá-lo de volta em terra.
(O discípulo canta.)
Amar bhabana
Amar kamana
Amar eshana
Amar sadhana
Tomar charane
Peyechhe ajike thai
Moher bandhan hiyar jatan
Timir jiban shaman shasan
Halo abasan nai nai ar nai
[Meus pensamentos, meus desejos, minha aspiração, as disciplinas da minha vida
Hoje encontraram morada a Seus Pés.
As amarras do apego tentador e as dores do coração,
A vida de escuridão e a tortura da morte,
Não mais vejo, não mais sinto.]
(Ele ajuda o homem santo a sair do rio. O Guru, agora sentado na margem, observa a cena. Em poucos minutos, o escorpião cai no rio. O discípulo o pega e o põe em terra firme, mas o escorpião não o fere.)
DISCÍPULO: Como pode, Mestre? Eu não fui ferido. Pensei que eu também seria ferroado pelo escorpião. O senhor foi ferido impiedosamente duas vezes. Eu não entendo.
MESTRE: Minha criança, você não compreende? Devo lhe dizer? Você acreditará em mim?
DISCÍPULO: Por favor, por favor, diga-me. Eu acreditarei no senhor, Mestre.
MESTRE: O escorpião também tem uma alma, e ela lhe disse que, se ele o picasse, ao invés de colocá-lo em terra, você o mataria imediatamente. O escorpião sabia que você não aceitaria aquilo, que não toleraria a ingratidão dele. De você, o escorpião não obteve qualquer garantia de sua segurança. O escorpião não o picou porque sentiu isso. No meu caso, a alma do escorpião sabia que eu jamais o mataria, independente de quantas vezes ele me picasse; eu apenas o pegaria e o colocaria em terra, para a segurança dele. No dia-a-dia, as pessoas também brigam, discutem e ameaçam outras apenas quando percebem que seus oponentes são fracos ou não querem brigar. Mas, caso vejam que alguém é mais forte do que elas, então ficam caladas.
DISCÍPULO: Mestre, o senhor tem discípulos?
MESTRE: Tenho muitos, muitos discípulos.
DISCÍPULO: O que o senhor faz com eles?
MESTRE: Eu dou e recebo, recebo e dou. Recebo seu veneno todos os dias e dou-lhes néctar. Recebo sua aspiração e dou-lhes realização. Recebo deles o que eles têm, ignorância, e dou-lhes o que eu tenho, sabedoria. Eles me dão a garantia da minha manifestação e eu lhes dou a garantia da sua realização. Nós necessitamos um do outro. Você precisa de mim para poder esvaziar-se – esvaziar sua impureza, imperfeição, obscuridade e ignorância – em mim. E eu preciso de você para poder enchê-lo com o meu todo, com tudo que há em meu interior. Assim é como completamos um ao outro. A sua natureza é dar-me o que você tem: impureza, obscuridade, imperfeição, limitação, apego e morte. Minha natureza é dar a você o que eu tenho: pureza, amor, alegria, luz, beatitude e perfeição. Quando sua natureza entra na minha natureza e minha natureza entra na sua natureza, ambos somos totalmente manifestos e totalmente completos. Assim é como o buscador e o professor satisfazem ao Piloto Eterno, o Supremo.
DOIS DISCÍPULOS
(Dois discípulos numa sala no ashram de seu Mestre)
PRIMEIRO DISCÍPULO: Eu disse, eu disse, eu disse!
SEGUNDO DISCÍPULO: O quê foi?
PRIMEIRO DISCÍPULO: Eu disse a você que nosso Mestre não tinha nada. Nada! Ele não tem poder espiritual. Ele não tem poder oculto. Ele só sabe falar. Ele fala sobre Realidade Transcendental, e Consciência Universal, e tudo o que ele pode fazer com seu poder oculto. Mas é tudo mentira. Ele sabe como falar e nós sabemos como ouvi-lo. Mas ele não tem nada, nada. Veja só, ele vem sofrendo desse reumatismo há três meses. Se tivesse ao menos um pingo de poder oculto, já poderia ter se curado.
SEGUNDO DISCÍPULO: Meu coração me diz que ele tem capacidade de se curar, mas Deus está pedindo-lhe que tenha essa experiência.
PRIMEIRO DISCÍPULO: Ele diz que está tirando nosso karma, mas não fizemos coisa alguma. Eu nada fiz de errado. Você e os outros discípulos também não. O que acontece é que ele nos culpa quando ele faz algo errado. Quem sabe o que ele fez de errado no mundo interior? É a razão para ser punido. E, exteriormente, ele nos culpa.
SEGUNDO DISCÍPULO: Ele nunca nos culpa. E eu acredito nele quando diz que está limpando nosso karma.
PRIMEIRO DISCÍPULO: Você acredita? Então, acredite. Fique com ele e sofra. Morra com ele.
SEGUNDO DISCÍPULO: Eu morrerei com ele. Não apenas morrerei com ele, mas morrerei por ele.
PRIMEIRO DISCÍPULO: Deus criou dois tipos de pessoas na Terra: um tipo para enganar, outro tipo para ser enganado; um tipo para tirar vantagens, outro tipo para ser explorado.
(Entra o Mestre. O primeiro discípulo começa a esgueirar-se para longe.
O segundo toca os pés do Mestre.)
MESTRE (para o primeiro discípulo): Então, você entende que eu não tenho capacidade, que apenas me vanglorio? Não sou o Mestre adequado para você. Você fará melhor indo para outro Mestre, ou esperando pelo Mestre adequado chegar. Deixe-me. Vá para casa e viva em paz. (Para o segundo discípulo) Você acredita em mim. É meu dever ajudá-lo, guiá-lo. Agora, diga-me, você realmente sente que tomo a sua ignorância, a sua imperfeição em meu corpo? Ou diz isso apenas porque estudou minha filosofia e livros escritos por outros? Você leu sobre Ramakrishna, que removeu a impureza, imperfeição e ignorância dos seus discípulos e sofreu tanto. Muitos, muitos Mestres espirituais disseram terem feito o mesmo. Você pensa que eu digo isso só porque tantos outros já o disseram? Pensas que estou apenas falando, ou acha que eu realmente removo coisas de vocês?
SEGUNDO DISCÍPULO: Mestre, eu sei o que o senhor tira de mim. Todos os dias, o senhor tira de mim insinceridade, obscuridade, impureza, inveja, dúvida, insegurança e muitas outras imperfeições. Para onde elas vão? Eu as dou ao senhor; elas vão para o senhor. Se ninguém mais na Terra acredita, não me importo. Mesmo que o senhor me diga que não as toma, que é o seu próprio karma, eu não acreditarei. Eu sei que Deus está dando-lhe essa experiência para o meu bem. Se eu tivesse de passar por essa experiência, talvez até morresse.
MESTRE: Minha criança, há duas razões para eu sofrer. Uma é que realmente tomo para mim os fardos, as imperfeições, as qualidades não-divinas dos meus discípulos próximos. Isso é o que o Supremo quer que eu faça. Há dois modos de extrair esse karma. Um é assumi-lo e sofrer; o outro modo é lançar as imperfeições do discípulo na Consciência Cósmica. Mas a maneira mais fácil, infinitamente mais fácil, é assumi-lo. É um caminho direto. Você sofre, e eu o toco e retiro seu sofrimento. O outro caminho é como levá-lo a um local diferente, para a Consciência Universal. A Consciência Cósmica pode ser vista como um monte de rejeito. Eu pego as suas impurezas e imperfeições e faço um pacote. Então, tenho de levar o pacote até lá e jogá-lo fora. Mas, daquela outra maneira, eu apenas o toco e, como um ímã, retiro seus sofrimentos, dores e qualidades não-divinas. É mais fácil, e é por isso que o faço. Deus quer que eu faça isso.
Eu digo a Deus: “Deus, minhas crianças me amam tanto e eu não as amo, eu não as agrado.” E então, Deus me diz: “Veja o quanto você sofre por elas. Veja o seu próprio amor, Meu filho – quão sinceramente, quão devotadamente você as ama. Você sente que na perfeição dos seus filhos está a sua perfeição, o que é absolutamente correto. Eles o amam apenas porque sentem que, se o possuírem, possuirão tudo. Elas o amam para terem-no; você as ama para poder trazê-las a Mim. Você as ama porque sente que, se puder trazê-las a Mim, terá cumprido o seu papel. Amando você por benefício próprio, elas sentem que fazem a parte delas. E, quando você as ama, quando as traz até Mim, para seu Altíssimo, você também sente que cumpriu a sua parte.”
Mas Deus também me deu outra razão para sofrer. Muitas pessoas vêm a mim com apenas desejos, desejos, desejos. Vêm a mim apenas para satisfazerem seus desejos. E quando veem que eu fico paralisado de dor, que também estou sujeito a sofrimentos e doenças, que sou tão fraco quanto eles, dizem: “Ele está inválido, desamparado. Como pode ajudar-nos? Como ele pode ser melhor do que nós?” Sentem que o melhor é procurarem outro que possa ajudá-los, e muitos partem. Mas a verdade é que Deus quer que essas pessoas me deixem. Quando se vão, meu barco fica mais leve e pode ir mais rápido em direção à Meta. Deus quer que aqueles que não aspiram deixem seu Mestre, assim tornando o barco do Mestre mais leve.
Essas são as razões por que sofro. Quando um discípulo sincero vê que estou sofrendo por ele, diz, “Se eu realmente amo meu Mestre, devo dar-lhe apenas alegria.” Então, o discípulo faz uma promessa, uma promessa interior: “Quero que ele sinta, constantemente, orgulho de mim. Nada me dará maior alegria do que ver meu Mestre sempre orgulhoso de mim.” E, assim, o discípulo não comete mais erros e o Mestre fica feliz e orgulhoso.
(O primeiro discípulo toca os pés do Mestre.)
PRIMEIRO DISCÍPULO: Mestre, por tanto tempo eu fui uma criatura inumana, desprovida de fé. De agora em diante, serei seu fiel e devotado discípulo.
SEGUNDO DISCÍPULO: Mestre, eu tenho sido um discípulo devotado e fiel por um longo tempo. Hoje, o senhor me contou o segredo do seu sofrimento. De hoje em diante, eu me considero uma importante parte consciente do senhor. Eu me considero um braço seu. Mestre, sua compaixão é a única salvação da minha vida.
PRIMEIRO DISCÍPULO: Mestre, seu perdão é a única salvação da minha vida.
MESTRE (para o primeiro discípulo): Reconhecendo a sua estupidez, a sua ignorância, você trouxe a sua divindade para a tona. (Para o segundo discípulo) Reconhecendo-me, a minha Verdade espiritual, você manifestou a Divindade de Deus na Terra. Manifestou a Vontade de Deus na Terra.
O que é, como reconhecer, ensinamentos, discípulos e mais: a figura do Mestre espiritual
Logo abaixo está a página sobre o aforismos sobre a relação Mestre-discípulo, de uma de uma sequência de artigos sobre o Mestre espiritual, escritos por Sri Chinmoy. As outras páginas são:
O Guru vê no seu discípulo a própria imagem de Deus; portanto, ele é todo sacrifício para o discípulo. O discípulo vê e sente no seu Guru o único abrigo para suas limitações; então, ele é todo amor para o seu Guru.
O amor do Guru pelo seu discípulo é a sua força. A entrega do discípulo ao seu Guru é a força do discípulo.
O Guru é, ao mesmo tempo, a fonte das conquistas do discípulo e o mais leal servo do amor do discípulo.
O Guru tem apenas uma arma de compaixão: o perdão. O discípulo tem três espadas nuas: limitação, fraqueza e ignorância. Mesmo assim, o Guru vence com grande facilidade.
Alcançar a realização por conta própria e sozinho é como cruzar o oceano num bote. Mas atingir a realização através da Graça de um Guru é como cruzar o oceano num navio forte e veloz, que o transporta com segurança através do mar de ignorância até a Costa Dourada.
Ó discípulo, você sabe quem é o comprador mais tolo da terra? É o seu Guru e apenas o seu Guru. Ele compra a sua ignorância e lhe dá conhecimento; ele compra a sua impotência e lhe dá poder. Pode imaginar barganha mais tola? Agora, aprenda o nome da tolice do seu Guru: compaixão, e nada mais.