Poderíamos definir filosofia de muitas formas. Por que só uma estaria certa? Segundo Sri Chinmoy, a filosofia pode ser vista como um grau de verdade. Podemos utilizar essa verdade relativa como um trampolim para uma verdade ainda mais elevada. Assim, a filosofia também nos inspira a agir – corretamente, espiritualmente, na prática, com aplicação diária. Por isso fizemos um curso gratuito para quem quer “filosofar” e agir ao mesmo tempo.
Montamos um minicurso gratuito de 3h com Sri Chinmoy, onde você poderá absorver palavras de sabedoria que tem cunho prático e já aplicá-las na sua vida cotidiana.
O curso aborda diversos aspectos do ser humano moderno, desde a diferença entre o bem e o mal, passando pelo papel do corpo físico e dos esportes (os filósofos gregos eram atletas também!), arte, amor e as emoções de um aspecto mais elevado, o papel das organizações que existem no mundo (como a ONU), morte e reencarnação, oração e meditação e mais.
Abaixo deixamos algumas perguntas interessantes sobre a filosofia.
Perguntas e respostas sobre filosofia prática
Pergunta: como podemos fazer a filosofia espiritual ser uma realidade vivente em nossas vidas?
Sri Chinmoy: A única forma da filosofia se tornar uma realidade vivente é através da oração e meditação. Ao praticar oração e meditação, ao tentar manter um contato direto, imediato com o Piloto Interior, é que uma pessoa pode transformar a filosofia espiritual numa realidade vivente.
Você sente que os ocidentais conseguem compreender a filosofia oriental?
Sri Chinmoy: Alguns a entendem perfeitamente. Aqueles que não possuem interesse em compreendê-la devem sofrer em sua falta de compreensão. A mente ocidental acha difícil compreender a filosofia ocidental porque, no oriente, a filosofia não é separada da verdadeira vida espiritual e yoga. No ocidente, é diferente. Aqui diz-se: “Isso é religião. Isto é filosofia. Aquilo é vida. São coisas diferentes.” Na Índia, a espiritualidade possui o mais complete direito de chamar-se de filosofia, e a filosofia de chamar-se de espiritualidade. Ambas estão entrelaçadas.
Se você ensina algo sobre Deus, isso é religião, e não filosofia. Filosofia não reconhece Deus.
Sri Chinmoy: Esse é um conceito errado da filosofia ocidental. Toda a filosofia indiana, as escrituras védicas, começam com Deus, Brahman, o Infinito, o Supremo inigualável. A filosofia indiana começa com os Vedas, os Upanishads, o Bhagavad Gita e outros escritos. A filosofia indiana moderna, também, começa e termina com Deus.
Perguntas em inglês sobre filosofia moderna, prática e aplicada ao dia a dia.
Sri Chinmoy: No, no, no! Philosophy has its own significance. To study philosophy is not a waste of time. Philosophy gives us the message of another world, a higher world. This is of paramount importance. Philosophy’s contribution can never be questioned. It is something substantial.
Question: Is there any consolation in philosophy?
Sri Chinmoy: Philosophy does have consolation-power deep inside it. When people suffer from the injustices and other shortcomings of the world, at that time philosophy can offer consolation. Philosophy will tell us: “This suffering is unimportant. God’s Light from Above is all we need; we do not need anything else.” In this way, philosophy can console people who are in the philosophical world.
Question: How can I better live the philosophy that you have already put forward?
Sri Chinmoy: Love, devotion and surrender is my philosophy. If you ask how you can better live it, then I will say, “Just do it.” There is no other way. It is only by practising and practising that you can better live our philosophy.
Question: Is there a danger of getting lost in philosophy?
Sri Chinmoy: Yes, there is a great danger of getting lost in philosophy. Many, many people have lost their spirituality by being too much involved in the mental jugglery of philosophy.
Question: Is philosophy really a degree of truth or is there something more?
Sri Chinmoy: Everything is a degree of truth. Such being the case, philosophy is also a degree of truth. The truth that philosophy embodies may be earth-bound; again, this truth may be Heaven-free. When philosophy gives us the message of renunciation, when it tells us to go beyond, then it becomes something more.
Question: What is the best philosophy for a spiritual seeker?
Sri Chinmoy: For a spiritual seeker, the best philosophy is always to abide by God’s Will. Whatever the seeker feels from within as God’s Will, he has to obey.
Question: Can the study of philosophy also promote spiritual progress?
Sri Chinmoy: The real inner progress, the heart’s progress, does not depend on the study of philosophy. Philosophy encourages us or stimulates us, but the real inner progress, love of God or implicit faith in God, philosophy does not or cannot supply us with. For that, spirituality must come into being. So philosophy as such cannot bring about spiritual progress because real spirituality is far beyond the domain of philosophy.
Estava assistindo um filme chamado Victoria e Abdul: O Conselheiro da Rainha, que é baseado em fatos reais, se passa em 1887, onde dois jovens indianos são escolhidos para viajar até a Inglaterra para presentear a Rainha Victoria. Abdul, um dos jovens, se torna amigo da Rainha e seu confidente. Em um dos momentos do filme a Rainha fala a Abdul como a vida dela é difícil e ela diz não entender o motivo para tudo aquilo, qual era o propósito de sua vida. Abdul, com muita doçura e sabedoria diz: “Servir, servir ao outro é o propósito, como está escrito no alcorão”.
Quando estava começando a despertar para vida espiritual, de forma inconsciente, lembro que estava em uma sessão de terapia e falei para minha terapeuta que tinha tido um “insight”, que o propósito da vida era servir o outro, lembro que ela me questionou, não me recordo ao certo o que ela falou, mas lembro que ela não concordava comigo. Nessa época, estava buscando um sentido para viver, não desejava estar por aqui, era doloroso de certa forma, não fazia sentindo a minha vida. E não havia motivo para me sentir assim, na verdade, eu tinha conseguido coisas que jamais imaginei conseguir, havia realizado meus sonhos, estava casada com uma pessoa especial, estava com saúde, enfim, nada que me fizesse triste em especial, mas sentia que faltava algo. Por esse motivo cheguei ao “insight” sobre ajudar o outro. Comecei a participar de um centro espírita kardecista, lá fazíamos entrega de comida para moradores de rua. Foi boa a experiência, mas sinceramente não era algo que me fazia sentir plena, era legal, mas não preenchia o vazio que estava sentido. Não era natural, estava mais para uma obrigação embora ninguém estivesse me cobrando nada. Fiquei com isso em mente, ajudar o outro, busquei outras alternativas, participei de eventos para arrecadar dinheiro para uma instituição sem fins lucrativos que ajudava crianças carentes. Mas me sentia da mesma forma.
O tempo foi passando até que encontrei o centro de meditação Sri Chinmoy, onde aprendi o que é meditação e descobri meu caminho espiritual. Nos primeiros meses senti que eu nunca conseguiria ajudar alguém da forma como estava, tinha várias questões e limitações para acertar. Com a meditação nos autodescobrimos e percebemos onde estamos. Entendi em que estágio me encontrava e ficou claro que só poderia ajudar alguém se me ajudasse em primeiro lugar. Sempre fui muito independente, a pessoa que “resolve” os problemas da família, que não amola os amigos com problemas, que acha pode resolver o problema de todos e que tenta mesmo ajudar da forma como pode. Com depois de algum tempo tentando meditar ficou evidente que eu não tinha esse poder de ajudar alguém, que era muita pretensão minha acreditar que eu tinha mais a oferecer ao outro do que ele a mim. Ou que ajudando financeiramente alguém ou mesmo aconselhando, estaria eu contribuindo de alguma forma para a vida de alguém. Entendi que em alguns casos, na minha história familiar, eu acreditava estar ajudando, mas na verdade, estava atrapalhando o desenvolvimento das pessoas ao meu redor e que a melhor forma de viver é aquela que nos permite fazer qualquer coisa, mesmo a coisa errada, pois a experiência é que permitirá o aprendizado.
Após o curso, é dada a oportunidade de se tornar um aluno de Sri Chinmoy, isso para as pessoas que sentem que há alguma conexão interna com esse caminho. Me senti conectada e prossegui para a segunda etapa do processo. Continuei participando dos cursos de meditação, agora como auxiliar do professor. Chegava mais cedo para arrumar as cadeiras, organizar os livros, vídeos e receber os alunos. Foi muito natural participar de cada curso de meditação que foi realizado após ter finalizado o que eu participei. A cada curso, me sentia mais forte e consegui viver várias experiências internas a partir da história, postura, mensagem, relatos sobre experiências com a meditação, que os alunos e os professores contavam nas aulas. Até que um dia estava lendo um dos livros do meu mestre Sri Chinmoy, que falava sobre como sabemos que estamos fazendo a coisa certa para nossa alma, ou seja, quando estamos servindo a Deus da forma como Ele deseja que o façamos, e não da forma como nós achamos que devemos servi-Lo. Ele falava da naturalidade, da alegria que sentiríamos ao fazer tal serviço, da energia que sentiríamos (estou colocando com as minhas palavras, pois não me recordo as palavras exatas), mas basicamente ele dizia que ao nos sentirmos felizes estaríamos servindo corretamente.
Após um tempo, tivemos uma conversa muito especial com o líder do centro de meditação aqui no Brasil, ele é uma pessoa muito inspiradora que emana uma energia muito sutil e que contagia, nessa conversa ele, que por muito tempo viveu muito próximo ao meu mestre quando ele estava encarnado, disse que o mestre gostava muito dos cursos, de quando seus alunos davam cursos. Ele dizia que era uma das melhores formas de servir. Nesse dia, consegui sentir o que significa servir, que é bem diferente de ajudar o outro. Ajudar faz com que nos elevemos a um patamar diferente do outro, com o “ajudar” fortalecemos as diferenças. Quando servimos o outro, estamos no mesmo degrau que ele, na mesma caminhada e caminho. Entendemos que estamos nos ajudando ao servir, que o serviço é um presente. Percebi o quão natural é participar dos cursos, estar presente como apoio, suporte, fazendo qualquer coisa. Percebi o quão triste me deixa quando ficamos um período sem cursos e quão feliz é escutar as histórias de superação, as dúvidas, as experiências de cada aluno.
O Filme Victoria e Abdul: O Conselheiro da Rainha, me fez relembrar o que representa servir, o serviço ao outro pode ser feito a todo momento, na forma como se fala com o outro em qualquer situação, nas ações do dia a dia, estar presente não só fisicamente, mas efetivamente ouvindo, num abraço forte ou na palavra de apoio. O serviço é o que dá sentido à vida. Mas para servir temos de nos cuidar, nos nutrir, nos amar. Com a meditação conseguimos sentir o que significam várias coisas que geralmente são ditas, mas que poucos sentem. Posso recomendar essa experiência, temos os cursos que sempre acontecem mensalmente e será um prazer para todos que participam do curso servindo, servir a você!
Amar é ver o homem em Deus. Servir é ver Deus no homem. -Sri Chinmoy
A prática de meditação tem crescido entre os ocidentais, e no Brasil, percebemos que cada vez mais as pessoas procuram meios de se interiorizarem a fim de buscar equilíbrio e paz.
A postura pode influenciar no momento de praticar a meditação, pois quando temos estabilidade no corpo, a mente tem mais facilidade de se estabilizar, e uma mente estável favorece experiências de paz.
Quanto maior a estabilidade do corpo durante a prática, maior são as chances de você ter uma experiência de paz, encontro, amor, harmonia, proteção, ordem, coerência, alegria, plenitude, etc.
Nos cursos de meditação que oferecemos, se você tiver interesse, podemos mostrar alguns tipos de almofadas e bancos e, se quiser comprar, podemos indicar uma loja que os faz. Você também pode ligar diretamente para a Juliana no telefone (11) 98128-1376.
Zafu – almofada redonda
A almofada zafu é recheada de espuma ou estopa de forma a ficar um pouco rígida. Ela ajuda você a deixar a coluna ereta. Para isso, sente-se mais na ponta da almofada, de forma que o quadril fique um pouco rotacionado para frente.
Se quiser, você também pode tentar usar uma almofada qualquer que tiver em casa. O importante é que consiga meditar bem. Mas, normalmente, ter uma almofada específica irá ajudá-lo nisso!
Banco seiza
Esse banco serve para sentar-se ajoelhado. Como o quadril se apoia na parte almofadada, o peso não fica nos joelhos. Se tiver um modelo dobrável, pode usar ele como uma almofada simples.
Tapetes (mats) para yoga
Você pode usar ele para ter um pouco de maciez na região das suas pernas que tocam o chão e, também, pode deixar uma parte enrolada atrás, como se fosse uma almofada que ergue o quadril
Cadeira ou banco simples de casa
Sim, você pode meditar sentado numa cadeira comum ou um banquinho normal! A dica é procurar uma cadeira que não tenha um ângulo para trás, o que dificultará que você fique com a coluna ereta.
Almofada com encosto
No começo da prática, ou mesmo quando existe algum problema de saúde, a cadeira de chão para meditação tem favorecido muitos praticantes por ter encosto e deixar a coluna reta, postura que é solicitada na maioria das práticas de meditação. Esse tipo de almofada possui além da parte inferior acolchoada um encosto longo para apoiar as costas, caso sinta que não consegue meditar usando uma almofada.
Com isso, esperamos ter informado sobre os principais assentos de meditação e como usá-los de forma apropriada.
Busque sempre a ajuda do seu profissional de saúde. Os textos desta página são meramente motivacionais, não substituindo tratamento médico. Se tiver a intenção de utilizar algo daqui, faça-o apenas em consulta com o seu médico e com seu acompanhamento.
Textos traduzidos de Sri Chinmoy
O Amor de Deus: a cura para a depressão
Quando somos atacados por preocupações e ansiedades, temos de sentir que há um antídoto. Quando uma serpente nos morde, tentamos buscar uma cura. Se as preocupações do mundo-pensamento querem entrar em nós e nos atacar, temos de obter o antídoto. O antídoto é sentir interiormente o Amor de Deus por nós.
Amamos Deus, mas não temos certeza se Deus nos ama. Oramos para Deus dizendo: “Ó Deus, conceda-nos isso, satisfaça esse desejo.” Mas o fato de Deus nos amar ou não continua vago. Na verdade, temos de começar com o sentimento de que Ele nos ama infinitamente mais do que amamos nós mesmos. Como é possível para Deus nos amar mais do que nós nos amamos? A resposta é que Deus não duvida de nós como nós duvidamos. Numa certa hora, sentimos que somos muito fortes, como um grande imperador; no momento seguinte, deparamo-nos com uma formiga peçonhenta e morremos de medo. A ansiedade aparece quando há uma separação entre a nossa existência e a existência de Deus. Ela também surge quando não consideramos Deus como parte de nós ou não dizemos “eu sou de Deus, eu sou por Deus.” As preocupações e ansiedades irão embora apenas quando nos identificarmos com algo que tenha paz, serenidade, divindade e o sentimento de unicidade absoluta. Ao nos identificarmos com o Piloto Interior, obtemos a força da sua Luz iluminadora. As preocupações surgem porque nos identificamos com o medo. Se nos identificamos com algo divino, eterno e imortal, naturalmente a essência e qualidades latentes de algo passarão a fazer parte de nós. Preocupando-se todo o tempo ou pensando pensamentos não divinos, nunca seguiremos adiante em direção à nossa meta. Entraremos na divindade apenas ao ter pensamentos positivos: “Eu sou de Deus; eu sou por Deus.” Pensando isso, não haverá preocupações nem ansiedade.
Dois tipos de depressão: psíquica e emocional
Há tanto a depressão psíquica quanto a depressão vital. Na depressão psíquica, o indivíduo sente que há tantas coisas que Deus quer que ele faça e que o Próprio Deus tenta manifestar em e através da pessoa, mas a ignorância-mundo não permite que a pessoa manifeste Deus. Você está com seus amigos, e o seu chefe é o Supremo. Esse chefe pediu a você que fizesse algo, e você está tentando, e Ele está tentando em e através de você. Mas há pessoas a seu redor que resistem aos seus esforços. Eles consideram que Deus é o Pai, e Ele as considera Seus filhos, mas esses filhos não são receptivos à Luz de Deus. A depressão psíquica ocorre quando você sabe o que é melhor e, ao mesmo tempo, está incapaz de fazê-lo. Alguns dos seus irmãos e irmãs ao seu redor sabem o que é melhor para eles, mas não querem fazê-lo; não querem mexer um músculo por aquilo. Outros não sabem o que é melhor para si mesmos. Você, no entanto, sabe o que é melhor para si e para eles também, e gostaria de fazê-lo; mas está impedido.
Você sabe o que a verdade é e quer manifestar a verdade. Mas encontra-se incapaz porque as pessoas a seu redor e diante de você não cooperam. O Supremo, o seu Piloto Interior, pressiona-o, e você pressiona si mesmo, mas não adianta. Quando a paz e luz interiores têm dificuldade em vir à tona da maneira que o Supremo deseja, na Hora escolhida por Deus, é que surge a depressão psíquica. Mas a depressão vital (N.d.T: emocional) é algo diferente. A depressão vital vem das exigências insatisfeitas do orgulho, ego e vaidade. Nessa depressão, você gostaria de ter feito algo ou satisfeito algum desejo, mas não conseguiu. Você fica frustrado. A depressão vital surge imediatamente. A depressão psíquica existe num nível infinitamente mais elevado, onde a sua intenção e a intenção de Deus são uma só. Na depressão vital, a sua intenção é o seu desejo, mais isso não tem nada a ver com a Vontade de Deus. Tudo o que há é você e o seu desejo insatisfeito. Deus não participa. Na depressão psíquica, você visionou a Visão de Deus; Deus colocou a Sua Visão diante de você, mas você está incapaz de transformá-La em realidade. Não é por reconhecimento pessoal ou ego que você gostaria de conseguir agir. Nada disso. Você e Deus possuem a mesma aspiração, a mesma visão, a mesma meta, mas ela não está manifestada ainda. A depressão psíquica é o resultado de uma Visão insatisfeita do Supremo em e através de você. É a divindade de Deus que deseja manifestar-se em e através de você, mas ela está sendo atrasada, pois as forças do mundo, as forças-ignorância, estão opondo-se a você. Você e Deus tornaram-se um: uma aspiração, uma alma, um objetivo. Mas a Visão de Deus não é satisfeita. Por isso você sente depressão psíquica.
A cura para a depressão psíquica é render-se abertamente à Vontade de Deus. Aspire devotadamente e constantemente e, então, entregue-se à Vontade de Deus. Você poderá clamar e clamar com devoção, mas, depois da depressão psíquica começar, às vezes você pode querer descansar. Você sente que é um caso sem esperanças e, por isso, o melhor é desistir, render-se – não a Deus, mas à ignorância-mundo. Aconteceu muitas vezes de o indivíduo saber que Deus e ele são um, mas, quando percebe que o Supremo nele tem sempre ficado insatisfeito, ele desiste. Muitos Mestres espirituais e muitos buscadores desistem. Eles tentam junto com Deus, mas, quando sentem que é um caso sem esperanças, eles desistem. Contudo, isso não é bom. É preciso nunca desistir. Deve-se lutar até o fim. Cedo ou tarde, a Vontade de Deus será manifestada em e através de você.
Pergunta: Quando algo no mundo me perturba, perco toda a minha sinceridade e fico deprimido.
Sri Chinmoy: Saiba que há uma grande diferença entre sinceridade e estupidez. Se alguém contou uma mentira, você deve tentar iluminar essa pessoa. Se um erro foi cometido por alguém, você deve tentar retificar esse erro interiormente ou exteriormente com o oferecimento da sua boa vontade. No seu caso pessoal, a tolice é o que aparece. Quando faz algo errado, você sente que, ao aumentar a sua culpa, você resolverá o problema. Mas essa não é a abordagem correta. Pense sempre na meta, que é perfeição. Você deve trazer a perfeição para a situação.
Se algo errado foi feito, seja por você ou outra pessoa, sinta que tem de oferecer o resultado imediatamente ao Supremo. Você precisa dizer: “Eu estava incapaz (ou: aquela pessoa estava incapaz.). Fomos atacados por forças negativas. Sabemos que fomos atacados e queremos oferecer o nosso erro a Você.” Mas também deve ser consciente e sábio. Uma vez que perceber que está fazendo algo errado, deve parar de fazer essa coisa.
A depressão não é a resposta. Quando você participa de uma prova de corrida e é desqualificado, o que você faz? Você espera por um novo dia e tenta novamente alcançar a meta. Se parar de competir nas provas apenas porque teve uma experiência ruim, nunca alcançará a meta. Uma experiência infeliz não deve ser a experiência final. Considere-a uma nuvem passageira. Você certamente sairá dessa nuvem-ignorância.
Sri Chinmoy: A depressão surge quando não queremos viver na verdade, quando consciente ou inconscientemente queremos viver no prazer-ignorância. Esse prazer certamente será acompanhado pela depressão. A depressão é causada pela nossa aceitação da ignorância. Quando aceitamos a ignorância como parte de nós, ficamos deprimidos. Não conseguimos ir além dela. Estamos presos; presos no pequeno eu da ignorância.
Queremos sucesso constante, progresso constante, conquistas constantes e satisfação constante, mas no nosso dia a dia não temos essas coisas. Cada momento é uma oportunidade para nos tornarmos mais um pouco a Luz, Paz, Deleite e Poder de Deus. Contudo, se utilizarmos erroneamente o nosso tempo, imediatamente as forças negativas entrarão em nós. Essa forças negativas são a dúvida, o medo, a ansiedade, a preocupação e a depressão. Quando estamos deprimidos, não podemos esperar mais da Graça e do Amor de Deus; nem podemos esperar simpatia contínua da humanidade. Se estamos deprimidos, um amigo pode vir e nos consolar ou simpatizar conosco; mas o seu consolo não ceifará a raiz da nossa depressão. A única cura para a depressão é a luz.
Temos de saber o que realmente queremos. Se queremos apenas luz, então temos de saber onde a luz está. A luz está na nossa paz de espírito, na tranquilidade do nosso coração. Quando desvelarmos a nossa paz interior, veremos que ela é toda satisfação e conquistas: conquistas e satisfação infinitas no processo de se tornar infinita Realização. Se não desvelarmos a nossa paz interior, estaremos fadados a ser príncipes da escuridão.
Temos de sentir que não somos ignorância, que não representamos ignorância, que não estamos na ignorância e que não somos para a ignorância. Nada disso. Estamos na luz e queremos nos tornar a mais profunda, mais iluminadora luz. Com esse sentimento não haverá depressão. A luz que é o resultado da nossa aspiração imediatamente fará em cinzas a nossa depressão, ou então transformará a nossa depressão numa aspiração constante. Se pudermos nos identificar com a alegria interior espontânea da alma, sempre teremos alegria interior e exterior. Tentemos permanecer na alegria espontânea da alma.
Pergunta: Por que a mente não quer vencer os desejos?
Sri Chinmoy: Porque a mente física está absorvida na consciência física. Está constantemente duvidando de si e dos outros e criando confusão e incerteza por si mesma. A menos e até que ela receba a luz do coração, permanecerá na escuridão da prisão e limitação humana. Infelizmente, essa é a natureza da mente humana.
Pergunta: Na psicologia, há um sintoma chamado de maníaco-depressivo, onde a pessoa está primeiro alegre e animada, e depois se torna depressiva. Eu reparei nisso nos discípulos algumas vezes, pois parece ser uma parte da psiquê humana. O que podemos fazer para quebrar esse ciclo?
Sri Chinmoy: O problema com todos os seres humanos é que não estão satisfeitos com uma coisa por mais de cinco minutos. Quando temos algo por cinco minutos, sentimos que somos muito ricos. Em seguida, aquela coisa não nos satisfaz mais, e corremos atrás de algo novo. Sentimos sempre que a grama do vizinho é mais verde. Então vamos até lá e vemos que não é nada verde. Ou podemos ir e ver que o outro lado é realmente verde. Apreciamos esse verde por cinco minutos, mas depois pensamos “Nada disso! Eu estava errado – o outro lado era igualmente verde.” Então voltamos para o lado inicial e não encontramos nada demais. Assim sendo, três ou quatro vezes ao dia estaremos felizes, e três ou quatro vezes estaremos tristes. Ou então estaremos muito felizes num dia e no dia seguinte estaremos deprimidos. Para cima e para baixo, para cima e para baixo! Mas por que deveria haver um “para baixo”? Se estivermos caminhando pela estrada correta e formos andarilhos sinceros, deveremos apenas continuar em frente.
Quando estamos felizes, sentimos que estamos vivendo dentro do nosso coração, dentro da nossa alma. Mas não ficamos satisfeitos lá por mais de cinco minutos. Queremos ir até o vital, até a mente ou até o físico, pois obtemos muita alegria na mudança constante. Assim, consciente ou inconscientemente retornamos ao físico, ao vital e à mente. A mudança é boa quando é uma mudança do bom para o melhor, e do melhor para o melhor de tudo. Se estamos obtendo um pouco de alegria do coração ou da alma, tentamos aumentá-la e intensificá-la. Quando chegar o dia em que estivermos na mais altíssima condição mental, quando estivermos na consciência da alma, não haverá fim para a nossa alegria.
Sabemos o que temos na cozinha e na sala de meditação. Na sala de meditação há incenso, velas e flores. Sentimos muita alegria por causa da nossa inspiração, da nossa sinceridade na vida espiritual. Sabendo o que a sala de meditação pode oferecer, por que deveremos ir até a cozinha e nos depararmos com toda a confusão que há? É porque sentimos que lá também existe alegria. Mas eu gostaria de dizer que a cozinha é o lugar errado para encontrarmos alegria.
Devemos ser como fazendeiros indianos. Um fazendeiro indiano não espera a chuva ou o sol. Ele sente que o seu trabalho é arar o campo. Todos os dias ele vai para o campo e faz a sua tarefa. No nosso caso é igual. Não devemos antecipar altos e baixos. Depois de ficarmos durante um dia numa condição de alegria, no dia seguinte segue uma onda de depressão. Contudo, se vivermos na Luz, se vivermos na Paz divina, isso não acontecerá. Tais coisas acontecem apenas porque ainda não dominamos completamente o nosso vital (N.d.T: emocional) e mente.
Indo além dos pensamentos negativos
Pergunta: Eu gostaria de saber como superar pensamentos negativos, tanto durante a meditação como durante as minhas atividades diárias.
Sri Chinmoy: A verdadeira natureza dos pensamentos negativos é roubar, consciente e deliberadamente, a riqueza que nós temos: nossa Alegria, Luz e Amor divinos. Esses são nossos tesouros, porém, a dúvida, o medo e a negatividade são verdadeiros ladrões. Algumas vezes, um ladrão entra no nosso apartamento e rouba coisas, mas somente porque nós negligenciamos e permitimos que isso aconteça. Nós podemos ser vigilantes por dez minutos por dia, durante a nossa meditação, mas, no resto do dia somos totalmente descuidados. Quando entramos nas nossas atividades diárias, não lembramos de ficar atentos aos nossos pensamentos. Nesse momento, não seremos diferentes de todas as pessoas comuns ao nosso redor, que nunca meditaram.
Você pode deixar as dúvidas e os pensamentos negativos de lado, se puder constantemente lembrar da sua meditação. Após meditar, você deve tentar lembrar desses poucos minutos com a maior alegria, afeição e apreço. Deve acalentá-los como objetos de adoração. Durante todas as suas atividades comuns, tente lembrar da sua meditação devotadamente e não esqueça da necessidade de reter uma consciência espiritual ou pensamentos espirituais. Não permita que a sua mente afunde num baixo nível. Se puder manter pensamentos puros e divinos quando não estiver meditando, você terá uma força adicional quando meditar.
Qualquer momento em que a dúvida e os pensamentos negativos vierem, você tem que pará-los imediatamente com os seus pensamentos divinos. Dessa maneira, será capaz de vencer os seus pensamentos negativos. Se seus pensamentos forem puros durante todo o dia, quando meditar, a sua mente já estará pura. Mas se permitir que os seus pensamentos vagueiem no mundo da ignorância e da impureza por quatorze ou dezesseis horas por dia, como pode esperar que seus pensamentos sejam puros na hora da meditação?
Como purificar a mente
Pergunta: Como eu posso purificar a minha mente?
Sri Chinmoy: Todos os dias, tente pensar na sua mente como um receptáculo vazio. Quando lida com a mente, se ela estiver vazia, isso significa que você já fez um progresso considerável. Você jogou fora a ignorância, a preocupação, a imperfeição, a limitação e todas as coisas não divinas. Então, o que você fará? Vai preencher este receptáculo vazio com alegria, amor, pureza e todas as qualidades divinas.
Você quer purificar a sua mente. Vai encontrar pureza abundante dentro do coração e da alma. É muito difícil para as pessoas sentirem a alma, mas não é difícil sentir a presença do coração. Quando puder sentir essa presença, mais uma vez você fez progresso. Logo, todo dia medite no coração e tente sentir que ele é composto de nada além do que a pureza. Uma vez que se sinta absolutamente certo de que o seu coração é feito de pureza, todos os dias pegue um pouquinho dela e derrame no receptáculo vazio que é a sua mente.
Outra coisa que pode fazer, é pensar na mente como uma cesta vazia. Tente sentir dentro do seu coração, uma árvore de pureza desabrochando. Todo dia, colha uma flor-pureza da árvore-coração e coloque-a dentro da cesta-mente.
Gradualmente, a cesta encherá até a borda e a mente será preenchida com o aroma de inumeráveis flores-pureza.
Pergunta: Como podemos manter a mente pura quando não estivermos nos concentrando ou meditando?
Sri Chinmoy: A melhor coisa que pode fazer é aprender algumas canções espirituais e cantá-las para si mesmo em silêncio enquanto estiver trabalhando ou dirigindo ou fazendo qualquer coisa que não exija concentração mental. Enquanto estiver cantando em silêncio, a sua mente estará sendo purificada porque a sua alma virá à tona. Quando você cantar, tente sentir que o Supremo está ouvindo. De outra forma, o canto será um mero hábito mecânico. Então, sinta que há um ouvinte – não um ouvinte humano, mas o Próprio Supremo – ouvindo dentro do seu coração. Quando sentir que tem um ouvinte divino, obterá mais inspiração; será sobrecarregado com inspiração ilimitada e alegria interior sem fim. Quando sentir a presença do Supremo no seu coração, Ele o abençoará com a maior alegria e orgulho. Ele fará tudo para transformar, purificar, iluminar e liberar a sua mente.
Porque existe a depressão?
A depressão aparece por dois motivos. O primeiro motivo é o vital. Quando você tem uma boa meditação, o vital comum – o vital que quer nome, fama, conquistas exteriores – sente que não será mais alimentado, que irá morrer. A calma que a meditação traz é como um veneno para o vital inquieto. Então a paciência é de importância fundamental, pois a paciência faz com que o vital sinta que a sua existência não está sendo ameaçada.
Há outro motivo para o surgimento da depressão. O coração traz a partir da alma a mensagem de que você irá muito longe, que você alcançará a sua meta final nesta vida ou na próxima. O ser por completo se torna um com a luz que o coração está trazendo da alma. Olhando adiante, você percebe que tudo está ensolarado. Mas, ao olhar para o seu estado atual, você percebe que trata-se de um tempo nublado, chuvoso. Então aparece a depressão. Você sente um enorme abismo entre a sua situação atual e o objetivo, que está bastante longe. As suas possibilidades enquadram a verdade altíssima, a realização mais elevada. Mas a sua realidade atual é completamente diferente! Possibilidades e realidade parecem tão divergentes que naturalmente a depressão ocorre.
A melhor forma de superar a depressão é meditar todos os dias de manhã cedo, mas sem esperar coisa alguma da sua meditação. Você precisa apenas dar a sua atenção consciente à sua meditação. Considere a meditação uma criança. Você oferece o seu cuidado, o seu amor e afeição a ela, mas não espera nada em troca. De maneira similar, ofereça à sua meditação o seu amor e cuidado. Não espere nada. Apenas dê o que você tem. Se puder dar sem esperar, chegará o dia em que a sua meditação lhe trará todas as qualidades divinas.
Uma vez que comecemos a ter experiências interiores verdadeiras, não haverá necessidade de resolver nenhum problema com a psicologia ou a filosofia. Psicologia, filosofia e outras maneiras mentais de explicar as coisas, são simplesmente falíveis e inúteis. Quando temos nossas próprias experiências interiores, podemos ver a verdade, com a luz da espiritualidade, que é o Alento de Deus. Antes disso, se vivemos no mundo humano, nós temos que usar a mente, temos que usar a psicologia ou nunca conseguiremos nem mesmo uma satisfação parcial. Para alívio temporário, podemos nos abrigar na mente. Mas para soluções permanentes, temos que obter a iluminação espiritual.
Pergunta: Como iluminar a depressão?
Sri Chinmoy: Trazendo à tona a Luz de dentro de você. Quando medita na Luz, a Luz vem, seja de cima ou de dentro do coração e, com isso, vem a Alegria e a Paz divinas.
Pergunta: Qual é a participação da mente em transcender os desejos e paixões?
Sri Chinmoy: Para ser totalmente franco, a mente nunca quer vencer ou transcender os desejos. A mente já é um depósito de todos os tipos de desejos e sua porta está sempre escancarada para desejos novos. Se você quer vencer os desejos, deve usar a sua aspiração e entrar na sua alma. Se sente que a sua mente vai ter aspiração, está enganado. Concentre-se no seu coração e a partir dele, tente entrar na alma. Primeiro tente se identificar com o seu coração e ele o levará para a sua alma. Então, a luz abundante e efulgente que reside na alma, irá espontaneamente fluir dela para o coração e dele para a mente.
Quando a mente estiver iluminada por esta luz, irá perder todo o interesse nos desejos terrenos. Somente trazendo a luz da alma para a mente através do coração, você será capaz de livrá-la dos desejos.
Você precisa ir além da mente, o qual é muito difícil, ou prestar toda a atenção ao seu coração que aspira. O coração que aspira não é o que está próximo à região vital. O vital está próximo ao umbigo. O coração que aspira está localizado mais acima, no centro do peito. Se você não puder elevar a sua consciência para o verdadeiro coração, será uma vítima constante de desejos.
Qual a melhor forma de superar a depressão?
Sri Chinmoy: Quando você estiver deprimido, tente sentir conscientemente que se forçou a carregar um fardo enorme nos seus ombros. Sinta que é um corredor, e que há uma meta para você. Você tem que correr em direção a esse objetivo. Quanto mais rápido correr, mais cedo chegará até a meta. Agora, se você colocar de forma consciente e deliberada algo pesado sobre os seus ombros, naturalmente, sua velocidade será muito lenta. Não seja tolo. Você entrou para essa corrida. A corrida não é competir com os outros, mas sim competir com si mesmo e contra as forças não divinas da depressão, dúvida, medo, inveja e todas as outras forças negativas.
Quando a depressão entra na sua mente ou vital, sinta que há uma carga pesada nos seus ombros. Naturalmente, você irá querer se livrar dela, pois quer correr com velocidade. Você a descartará, a deixará de lado, e então correrá em direção ao seu objetivo destinado tão rápido quanto puder.
A meditação é a abertura de nossa consciência para a divindade, para planos mais elevados. Quando praticada de modo correto, a Graça Divina pode nos abençoar de diversas formas: alegria, luz, paz e, algumas vezes, criatividade. Criatividade é a capacidade que nós temos de criar algo, mas, se formos ao sentido mais elevado dessa palavra, ela é a mais pura manifestação de algo que imaginamos, depois criamos e finalmente manifestamos.
Mas como funciona esse processo de criatividade? Durante a meditação, nós podemos ativar de modo consciente ou inconsciente alguns chakras. Os chakras inferiores, responsáveis pelos instintos de sobrevivência, não nos levam a ser criativos. Na verdade, precisamos iluminá-los para, enfim, purificá-los. Os chakras superiores, responsáveis pela nossa iluminação e a abertura aos planos mais elevados de consciência, são os que devem e naturalmente são ativados para nos elevar espiritualmente.
Quando meditamos, algumas vezes ativamos o quinto chakra. Ou até mesmo pela Graça Divina, Deus nos abençoa com uma leve abertura desse chakra, chamado de Vishuddha, ou chakra da garganta. Nele temos acesso ao mundo da criatividade. Acredito que grandes escritores, artistas e músicos de grande sabedoria, possuíam essa abertura, onde conseguiram manifestar a criatividade divina aqui na Terra.
Sri Chinmoy, com toda sua capacidade espiritual, certamente tinha livre acesso a esse mundo de criatividade, pois sua manifestação através de mais de 1700 livros publicados, mais de 22000 músicas escritas, milhares de poemas e suas pinturas chamadas de Jharna-Kala (fonte-arte) não seria possível manifestar através da nossa mente humana limitada.
Nós buscadores espirituais que meditamos conseguimos manifestar essa divindade, mesmo não atingindo níveis de meditação tão elevados? De certa forma sim, evidentemente não na sua plenitude, tal como Sri Chinmoy, mas em níveis compatíveis com o nosso desenvolvimento espiritual. Algumas pessoas têm maior facilidade para criatividade, mas a Graça Divina pode vir para qualquer um. Basta meditar de forma correta, buscando a elevação espiritual. Então, se for a Sua Vontade, poderemos receber uma inspiração na forma de imaginação e posteriormente colocar em prática e sermos criativos.
Em outros termos, criatividade não necessariamente é criar uma música ou pintar um quadro, pode ser qualquer coisa no qual seja útil e sirva como inspiração para alguém. O simples fato de escrever um artigo como esse pode ser considerado uma forma de criatividade e manifestação, caso alguém venha a lê-lo e se inspire de alguma forma.
Ter ideias, imaginar, ou como algumas pessoas dizem: “pensar fora caixa” é um sinal de imaginação. Se a pessoa conseguir colocar em prática, podemos dizer que essa pessoa foi criativa. A criatividade não vem até nós de forma forçada. Muitas vezes, temos uma ideia, ou um insight, que seria uma compreensão súbita em momentos inesperados. Possivelmente uma ideia criativa pode vir entre um pensamento e outro, que na verdade é uma forma de meditação.
Portanto, se você meditar de forma correta, sem interesse em algo, e deixar que a Graça Divina faça a sua parte, você, cedo ou tarde pode ser abençoado com uma ideia criativa que pode inspirar alguém, sinta-se feliz, pois você estará expressando Deus de uma forma bem peculiar, que Ele mesmo escolheu.
Palestra de Sri Chinmoy proferida nas Nações Unidas sobre o tema da paz interior e a paz exterior.
A paz é o nosso direito de nascimento: como podemos encontrá-la?
Há dois tipos de paz: a paz interior e a paz exterior. A paz exterior é uma concessão do homem. A paz interior é a satisfação do homem. A paz exterior a á transformação do homem sem a sua satisfação. A paz interior é a satisfação do homem em ser completamente e supremamente preenchido.
Como pode a paz exterior ter a mesma capacidade da paz interior? A paz exterior pode ter a mesma capacidade se e quando a criação do homem e a criação de Deus tornam-se inseparavelmente uma.
Qual é a criação do homem? Neste momento, a criação do homem é o medo. A criação do homem é a dúvida. A criação do homem é a confusão. O que é a criação de Deus? A criação de Deus é o Amor. A criação de Deus é a Compaixão. A criação de Deus é o Cuidado.
O medo é a formiga mais indefesa do homem. A dúvida é o elefante mais selvagem no homem. A confusão é o tigre devorador no homem. Não há uma grande distância entre o medo que o homem acalenta e o seu medo forçado. Duvide de Deus, e o perdão lhe será garantido. Duvide de si mesmo, e a sua completa destruição será decretada. A confusão de ontem foi o início da sua insinceridade. A confusão de hoje é o início da sua insegurança. A confusão de amanhã será o início da sua futilidade.
O Amor de Deus pelo homem é a aspiração do homem. A Compaixão de Deus pelo homem é a salvação do homem. O Cuidado de Deus pelo homem é a perfeição do homem.
A busca preenchedora e satisfeita do homem pelo Real é a paz. Deus o Amor é o Convidado eterno do homem nos mais profundos recônditos do seu coração. Deus a Paz é o Anfitrião eterno nos mais íntimos recessos do Seu Coração. É por isso que infalivelmente e certamente consideramos a paz amorosa e satisfatória nosso direito de nascimento.
Como podemos ter paz – mesmo uma gota de paz – na nossa vida exterior, em meio à correria da vida e nossas múltiplas atividades? É fácil: temos de escolher a voz interior. É fácil: temos de purificar nossas emoções impuras.
A voz interior é o nosso guia. Os pensamentos aprisionadores são o clima escuro e imprevisível. A emoção impura é a tempestade interior. Temos sempre de ouvir a voz interior. Ela é a nossa proteção certa. Temos de ser cuidadosos com nossos pensamentos aprisionadores. Esses pensamentos possuem tremenda vitalidade. Devemos nunca permitir que inchem e se tornem tornados. Temos de enfrentá-los e dominá-los. Esses pensamentos são absolutamente não essenciais, e não temos tempo para nos preocuparmos com coisas não essenciais. Se queremos a paz interior e exterior, temos de nos abster do luxo da tempestade emocional. A emoção impura é uma frustração imediata, e a frustração é o precursor da completa destruição interior e exterior.
Para escolhermos a voz interior, temos de meditar de manhã cedo. Para controlar e dominar nossos pensamentos não divinos, temos de meditar ao meio-dia. Para purificar nossas emoções obscuras e impuras, temos de meditar à noite.
O que é meditação? A meditação é a percepção constante e a aceitação consciente de Deus. A meditação é o oferecimento incondicional de Deus ao homem.
O poder da meditação é algo que transcende o que os limites da mente humana, mas o que ela tem haver com a imaginação? Se a meditação é a arte de silenciar a mente, como posso obter o poder da imaginação enquanto medito? Parecem duas coisas contraditórias, mas, na verdade, não são. A imaginação é algo realmente incrível, que pode ser, de certa forma, um sinônimo de inspiração.
Sri Chinmoy escreveu vários poemas sobre a imaginação. Eis abaixo um deles, que relata o poder dela:
“O poder da imaginação nunca poderá ser mensurado.”
Um dos maiores físicos de todos os tempos, senão o maior, Albert Einstein, certa vez disse uma frase que reflete perfeitamente o que está por trás imaginação:
“Imaginação é mais importante que o conhecimento.”
Durante a meditação nós elevamos nossa consciência, nos abrimos a uma fonte ilimitada de luz, paz e sabedoria. Esse processo é longo e gradual, e são necessários muitos anos de prática diária para termos acesso a tudo isso. Enquanto meditamos, se a meditação for feita do modo correto, é possível que um dos frutos seja a inspiração para realizar algo. Essa inspiração pode vir na forma de uma sutil percepção de alguma coisa, que nada mais é que uma pequena obtenção de luz vinda de um plano mais elevado de consciência, que certamente está diretamente ligada ao poder da meditação. Abaixo, mais um exemplo que Albert Einstein escreveu:
“Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio – e eis que a verdade se me revela.”
A partir do momento que recebemos essa inspiração, nossa imaginação começa a agir, criar e moldar essa ideia. É algo natural de se acontecer. Por exemplo, se essa ideia for uma viagem a ser realizada, nós começamos a planejar a viagem. O ato de iniciar o planejamento, nada mais é que uma materialização desse acontecimento, é como se criássemos um universo paralelo dentro de nossa mente, com cada detalhe a ser cumprido.
Evidentemente, existem pessoas com capacidade intrínseca de utilizar a imaginação, mas qualquer pessoa é capaz de fazer isso a um certo grau. Quando recebi a inspiração de nadar o Canal da Mancha, que foi através de várias meditações, foi exatamente esse processo que aconteceu. A imaginação e planejamento começaram a ser ativadas, e cada detalhe dessa jornada, cada treino, cada passo, foi acontecendo de forma espontânea e natural. Inclusive a própria travessia foi algo planejado minunciosamente, e o que houve na verdade foi uma materialização do que foi imaginado.
É como se algo já estivesse realizado e concretizado no mundo interior, e o trabalho que tive foi apenas o de materializar isso no mundo exterior. De certa forma, o poder da imaginação deve ser utilizado apenas para o bem. Sri Chinmoy descreve em mais um dos seus aforismos sobre o poder da imaginação que ela deve ser utilizada de forma adequada.
“Imaginação possui poder.
Imaginação é poder.
Entretanto, tenha certeza de ter
Uma boa e elevada imaginação.”
Portanto, meditação e imaginação são dois amigos inseparáveis. Mormalmente a meditação convida a imaginação a fazer parte de uma realidade. Basta o buscador espiritual possuir determinação e dinamismo suficiente para aplicar essa inspiração na sua vida.
É possível meditar enquanto trabalhamos? Esta é uma pergunta simples de responder: não, não é possível, a não ser que você pare o que esteja fazendo, ou então seja uma pessoa que já tenha atingido a iluminação. Porém, atingir os estágios iniciais da meditação é plenamente factível. De acordo com Sri Chinmoy, o estágio que antecede a meditação é a concentração; nela o buscador concentra-se em algum objeto, seja um ponto na parede ou o topo da chama de uma vela.
Durante qualquer tipo de trabalho, seja ele mais intelectual ou mais corporal, é fundamental que nos concentremos naquilo que estamos fazendo, para que atinjamos um bom resultado. O simples fato de focar toda nossa atenção no que estamos executando já é algo de grande valor. Acredito que muita gente já teve a sensação de realizar algum trabalho e depois de um certo tempo parar e pensar: “Nossa, o tempo passou voando, nem percebi”. Essa simples sensação é resultado de um alto nível de concentração em sua atividade.
Quando realizamos qualquer tipo de trabalho, essa é a atitude correta. Concentrar-se e não medir esforços para que consigamos atingir excelência em nossa atividade. Dessa forma, nós conseguiremos ficar felizes e deixaremos as pessoas, que farão uso de nossa atividade, muito satisfeitas com o resultado alcançado.
Indo um pouco mais além da concentração, uma forma de trabalho abnegado é através do Karma Yoga, que é nada mais que a execução de um serviço para Deus. Mas como podemos realizar um trabalho comum a serviço de Deus? Se conseguirmos atingir total concentração em uma determinada atividade, se essa tarefa for realizada com excelência, e se, principalmente, pensarmos que ela será entregue para uma pessoa, a qual possui dentro dela Deus, representada pela sua alma, podemos considerar que o resultado nada mais é que um tipo de meditação.
Portanto, o conceito de meditação, que é esvaziar a mente de pensamentos para se abrir a uma consciência mais elevada é praticamente impossível de ser atingida com um trabalho convencional. Mas, atingir o estágio de concentração máximo, e termos em mente que estamos lidando com pessoas, que nada mais são que representantes de Deus, pode ser considerado uma forma de Karma Yoga, que é um dos aspectos para se atingir unicidade com o nosso Criador.
“A poesia que brota de um coração devoto leva corações irmãos ao Uno sempre-doce e faz deles repúblicas, onde Ele é o Presidente…. Nos dias luminosos que têm despertado na terra, bem poderemos buscar o fermento da poesia transcendental para erguer a massa humana.”
A fazer melhor uso do nosso tempo e das oportunidades dos nossos leitores, queremos escrever com o coração de forma a causar o maior impacto positivo em suas vidas. Como escrever com o coração?
O que é a escrita do coração?
O que o coração escreve não é uma sequência de conflitos, buscas dos desejos, satisfação dos sentimentos pessoais.
“A poesia que brota de um coração devoto leva corações irmãos ao Uno sempre-doce…” – Sri Chinmoy
O coração espiritual é um lugar de deleite infindável – e o fato dos Mestres espirituais sempre nos orientarem a buscar nosso coração somente aponta ao fato de que viver no coração é o futuro do ser humano. O coração o fará sentir liberto, deveras satisfeito e com uma alegria muito suave e, ao mesmo tempo, muito tangível. Você se sente como se fosse um santo distribuindo o Amor do divino ao seu redor.
Mas é possível ficar no coração por alguns momentos, e estando no coração, nossas ações ficarão mais suscetíveis à sua luz angelical.
Como ficar no coração – uma disciplina diária
O coração é o lugar da sua vida espiritual. Através da meditação, serviço, amor a Deus, amor a Deus na humanidade, oração, do sentimento de unicidade com a criação. Pratique sinceramente todos os dias.
Encontre algo que o leve para o coração. Eu mesmo fiquei inspirado a escrever este texto na manhã seguinte de completar uma tradução de poemas espirituais de Sri Chinmoy. Cada poema era mais lindo e mais significativo que o outro… chega uma hora em que o coração vem à tona, e fica. Num período de 48h desde que comecei a traduzir os poemas, posso dizer que fiquei a maior parte do tempo com essa sensação do coração espiritual à tona. Tudo fica mais belo, simples, puro – como uma criança. Eu mesmo sinto-me como uma criança. A meditação fica muito mais fácil e espontânea – e agradável.
Outras coisas que me ajudam é passar tempo com crianças, assistir desenhos animados inocentes, etc. Mas tudo fundamentado na oração e meditação diárias, sem falta, todos e todos os dias.
Escrevendo com a beleza do coração
Seja poesia, prosa ou um texto como este, para escrever usando um pouco do coração, precisamos primeiro nos abastecer da sensação de amor divino. Esse amor é algo que está latente em nós – um verdadeiro direito de nascimento, uma herança divina.
Leia sobre Deus, sobre os grandes Mestres espirituais. Leia suas obras, releia, medite e releia, ore e releia, dia após dia, ano após ano. Torne-se repleto da beleza divina que se encontra nesses escritos.
Então a sua própria beleza interior ressoará e se manifestará na medida que você estiver aberto, puro e disposto a expressar essa realidade. Novamente, essa abertura, pureza e entrega, virão da sua prática espiritual diária e da Graça divina.
Dicas práticas para escrever com o coração
Pratique a sua espiritualidade diariamente, conscientemente, diligentemente.
Aguarde uma pequena inspiração divina. Você saberá quando é uma inspiração mental ou divina. Pegue essa chance, deixe tudo de lado e escreva.
Para encontrar essa inspiração, fundamente-se em fontes confiáveis. Leia os escritos de Mestres espirituais, como o Buda, o Cristo, Sri Ramakrishna, Sri Aurobindo, Sri Chinmoy, Sri Chaitanya e outros.
Não tenha apego – apenas sirva com a sua escrita. Se esperar um resultado peculiar, isso quer dizer que o coração já foi embora dali faz tempo.
Meditações de Ano Novo e como aprender a meditar em 2018
Poemas e aforismos de Sri Chinmoy
Possa a beleza do Ano Novo
Embelezar o meu coração.
Possa a pureza do Ano Novo
Purificar a minha mente.
Possa a simplicidade do Ano Novo
Simplificar o meu vital
Possa a intensidade do Ano Novo
Intensificar o meu corpo.
Possa a responsabilidade do Ano Novo
Glorificar a minha vida
Possa apenas a divindade do Ano Novo
Completamente satisfazer-me.
Sri Chinmoy,
1 de Janeiro de 1997, Takamatsu, Japão
Um ano novo é
A vinda bem-aventurada
De uma nova consciência.
Sri Chinmoy,
Seventy-Seven Thousand Service-Trees, part 39, Agni Press, 2004
Um novo ano é uma nova vida. Uma nova vida é um novo segundo. Um novo segundo é uma nova oportunidade. Uma nova oportunidade é uma nova bênção do Supremo Infinito.
Sri Chinmoy,
Arise! Awake! Thoughts of a Yogi, Frederick Fell, Inc., 1972
Se você quiser sentir novidade
No ano novo,
Terá de obter essa novidade
Do ano novo em si.
O ano novo possui todas as novidades:
Nova promessa,
Novo sucesso,
Novo progresso.
Sri Chinmoy
Ten Thousand Flower-Flames, part 52, Agni Press, 1983
Minhas crianças espirituais, o seu ano novo tem de ser o ano da fé, e não da dúvida.
O seu ano novo tem de ser o ano da alegria, e não do desespero.
O seu ano novo tem de ser o ano das conquistas e satisfação genuína, e não do fracasso e desgraça.
O seu ano novo tem de ser o ano da vida imortalizante, e não da morte escurecedora.
Sri Chinmoy
Arise! Awake! Thoughts Of A Yogi, Agni Press, 1972
Um exercício de concentração para meditar no Ano Novo
Meditações de Ano Novo
Nesta página, tentamos escolher algumas mensagens e meditações relacionadas ao ano novo.
Na véspera do Ano Novo uma nova consciência desperta na Terra. Deus uma vez mais inspira cada ser humano – cada criatura – com nova esperança, nova luz, nova paz e nova alegria. Deus diz: “O Novo Ano desponta e uma nova consciência desperta também dentro de você. Corra em direção à Meta destinada.” Nós ouvimos a Deus, aos ditames de nosso Piloto Interior, e corremos em direção à Realidade derradeira. O Ano Novo nos energiza, nos encoraja e nos inspira a correr em direção àquela Meta derradeira.
Quando desperta o Ano Novo, temos de nos fazer conscientes do fato de que devemos ir além de nós mesmos neste ano. Temos de ir além de nossa capacidade atual, além das nossas conquistas de hoje. Quando possuímos esse tipo de firme determinação, Deus derrama sobre nós as Suas Bênçãos prediletas.
Deus nos quer sempre seguindo em frente, e não olhando para trás. Sabemos que, se um corredor corre com velocidade e olha para trás, ele poderá tropeçar. Igualmente, se nós estamos constantemente olhando para trás, para o ano que estamos deixando de lado, pensaremos em nossa tristeza, sofrimento, frustração, fracasso e tudo o mais. Todavia, se olharmos adiante, veremos esperança despertando em nosso interior profundo. A cada dia devemos sentir que viajamos mais uma milha. Sabemos que um dia alcançaremos nossa Meta. Ainda que nossa velocidade diminua, temos de continuar correndo e não desistir no meio do caminho. Quando alcançarmos nossa meta, veremos que valeu a pena o esforço.
comentários e história ao fim por Patanga Cordeiro
Zen e meditação (ou Zazen)
Zen e Zazen: a iluminação já está dentro de você
Se está buscando a iluminação, saiba que a iluminação já está dentro de você. Ao praticar o Zen, você traz essa iluminação à tona. O que está no interior irá um dia vir à tona, isso é certo. Deus está dentro de nós, mas não O vemos, não O sentimos. Ao praticar espiritualidade, Yoga, trazermos Ele à tona e tentamos vê-Lo e sentir a Sua presença em todas as nossas variadas atividades. No mundo interior, já possuímos tudo, mas na nossa vida exterior ainda não conseguimos ser capazes de trazer isso à tona. No mundo interior temos Paz, Luz e Deleite em medida abundante. No mundo interior temos iluminação; na nossa vida exterior, não. Assim, quando pratica o Zen ou segue qualquer outro caminho, saiba que é o despertar interior, a realidade interior, que você está tentando trazer à tona.
No ponto mais alto do zen há algo chamado de satori, ou iluminação. Antes da iluminação há uma escuridão de um lado e uma luz do outro, e nós estamos entre as duas coisas. No entanto, se nos abrigarmos na iluminação, a nossa própria fulgência interior abraçará e abrangirá o mundo inteiro. Vivemos na ignorância por milênios, mas, uma vez que a iluminação acontece, não existe mais ignorância alguma em nós. Tudo é luz e nos tornamos um com a Visão do Absoluto. A maior dádiva no Zen é a iluminação – a mais elevada, tudo-iluminadora, tudo-preenchedora iluminação.
O método de disciplina Zazen e Yoga
O processo Zen exige uma disciplina rigorosa, quase militar. Já o processo de yoga é a tranquilidade baseada na confiança. É como a confiança de uma criança, advinda da sua unicidade com seu pai e sua mãe. Uma criança não possui sequer um centavo, mas, caso seu pai seja muito rico, ela também se sentirá muito rica. Mesmo que agora não tenha nem mesmo um dólar, ela sabe que em alguns anos será capaz de utilizar todas as riquezas do seu pai. O que quer que o pai tenha, ela corretamente e legitimamente considera como sua. Se o pai tem um carro, a criança sente que é o carro dela. Ela não pensa que é o carro do pai ou que pertence à sua família. Ela dirá aos seus amigos: “Vejam, esse é o meu carro.” Ela está absolutamente certa por conta da sua unicidade. Quando estiver mais velha, ela sabe que dirigirá esse carro. No processo de yoga, você sente que Deus é seu, que Ele o ama, e que você O ama. Porque você sente a sua unicidade com Ele, você sabe que, quando chegar a hora, Ele lhe dará tudo o que tem e é.
No caminho do Zen, você tem de se preparar. Se seguir uma disciplina rigorosa e fizer uma certa coisa, então terá um resultado; se não, não terá. No Zen, tudo é um esforço pessoal, um esforço pessoal. No yoga acreditamos na Graça. Sentimos que o Pai irá mostrar a Sua Afeição, Amor e Compaixão, e que a criança irá responder com amor, devoção, entrega e gratidão. No Zen, primeiro você tem de se tornar algo, e apenas então você merecerá receber alguma coisa, que é iluminação. E para se tornar algo será preciso ter uma disciplina rigorosa.
Eu toco a água e imediatamente sinto a consciência da água. Toco uma parede e sinto a consciência da parede. E, se eu tocar os pés de um santo, imediatamente sentirei a consciência do santo. Isso é Yoga: unicidade, unicidade, unicidade. Mas não é preciso tocar qualquer coisa. Simplesmente através da identificação você consegue obter a consciência da pessoa que é um santo, que possui iluminação. No processo Zen, você obtém o que o santo tem ao se concentrar no que você busca. O processo no Yoga é se identificar com a meta. Mas a meta que alcança ao se concentrar no Zen e a meta que eu alcanço ao me identificar com alguém é a mesma.
Há um ótimo professor de Zen em Rochester chamado Philip Kapleau. Ele é meu amigo e uma grande autoridade sobre o Zen. Ele escreveu um livro chamado “Os Três Pilares do Zen”. Se tiver interesse, você pode aprender com ele. Ou, se tiver interesse em vir nas nossas meditações nas terças se sextas aqui [N.d.T: refere-se às Nações Unidas], poderá ver o que se obtém da nossa meditação. Se vier, certamente sentirá algo.
Mas não estou de forma alguma tentando afastá-lo do Zen – longe disso. Consideremos a meditação uma loja e o Zen, outra. Se entrar numa loja, haverá certos itens que poderão agradá-lo. Basicamente, as duas lojas oferecem a mesma coisa: o amor pela Verdade. Você entra numa loja e vê que ela tem o que você precisa. Na outra loja também há a mesma coisa. Você é quem decide de que loja você quer obter aquilo de que precisa.
A raiz é o hinduísmo. Do hinduísmo veio o budismo, e do budismo surgiu o zen. Vejamos o hinduísmo como o avô, o budismo como o pai, e o zen como o filho. Vejamos o hinduísmo como uma religião, ou uma forma de autodisciplina que um dia nos fará sentir ilimitada alegria, paz e amor. Quando pensamos no budismo, o aspecto-compaixão da realidade é o que surge na nossa mente. O mundo precisa muito de compaixão. Com a nossa compaixão mútua podemos existir juntos na terra. No zen, o importante é a percepção. Temos de ser completamente, conscientemente e constantemente cientes do que estamos fazendo, do que estamos vendo e no que estamos nos tornando. Durante a meditação, teremos ciência disso; durante as refeições, teremos ciência disso; conversando com um amigo, teremos ciência disso também.
No ponto mais alto do zen há algo chamado de satori, ou iluminação. Antes da iluminação há uma escuridão de um lado e uma luz do outro, e nós estamos entre as duas coisas. No entanto, se nos abrigarmos na iluminação, a nossa própria fulgência interior abraçará e abrangirá o mundo inteiro. Vivemos na ignorância por milênios, mas, uma vez que a iluminação acontece, não existe mais ignorância alguma em nós. Tudo é luz e nos tornamos um com a Visão do Absoluto. A maior dádiva no Zen é a iluminação – a mais elevada, tudo-iluminadora, tudo-preenchedora iluminação.
O hinduísmo se baseia no yoga. Yoga é uma palavra do sânscrito que quer dizer unicidade. Quando seguimos os ensinamentos do hinduísmo, seguimos a canção da unicidade. Se alguém sofre, nos tornamos completamente, inseparavelmente um com o seu sofrimento. Se alguém está no sétimo céu de deleite, nos tornamos um com ele no sétimo céu de deleite.
A meta do yoga, ou do hinduísmo, é se tornar um com Deus. Quando nos tornamos um com Deus, não apenas alcançamos a iluminação, como na verdade nos tornamos a iluminação. Nos tornamos um com a infinita Luz de Deus. Na nossa constante unicidade com o que Deus é, com o que Deus nos ofereceu e com o que Deus irá nos oferecer, nos tornamos perfeitos. Nos tornamos Seus instrumentos perfeitos, para revelar e manifestar o Altíssimo na terra. Yoga é unicidade e perfeição, e zen é iluminação e libertação.
Temos seis centros espirituais no corpo. Você está se concentrando no Centro que é chamado de manipura. Esse é o centro a que se costuma dar importância na prática do zen. De acordo com os ensinamentos espirituais da Índia, desse centro pode-se obter energia dinâmica. Se utilizar essa energia divina para um propósito divino, você cria. Se a utilizar para um propósito agressivo, você destrói.
Se quiser controlar seus pensamentos, concentre-se no centro que fica entre as sobrancelhas. Se ficar muito rígido e a sua concentração for intensa, não se concentre aqui por mais do que dois minutos. Caso contrário, ficará exausto no começo. Ao se concentrar no chakra do coração, você terá paz, amor e alegria. Ao entrar no coração, tente ouvir o som cósmico, o som sem som. Se trouxer amor, alegria, paz e deleite do coração até o chakra entre as sobrancelhas, verá que não há pensamentos lá.
O coração é o lugar mais seguro para se concentrar e meditar. Fazendo isso, automaticamente encontrará purificação, pois dentro do coração está a alma, e a alma é uma com o Infinito. Daqui se obtém tudo.
De acordo com o zen budismo, o chakra do umbigo deve ser aberto primeiro. Já, rigorosamente de acordo com o sistema hinduísta da vida espiritual, esse chakra não deve ser aberto até que o chakra do coração seja aberto. Se o chakra do umbigo for aberto antes do coração, o vital impuro mais baixo entrará no coração e destruirá todo o seu potencial espiritual. Os mestres zen dizem que ao se concentrar e abrir os centros inferiores se dá a purificação. Mas eu sinto que é melhor primeiro abrir o coração. Se então quiser subir, você sobre; se quiser descer, você desce. É nisso que os meus ensinamentos diferem da prática do Zen.
Tanto no zen quanto em outros caminhos, cada professor é qualificado para falar sobre o seu respectivo caminho. Eu não comparo se um é melhor que outro, ou julgo qualquer caminho, pois não estou autorizado ou qualificado para fazê-lo.
Há um ditado zen que diz que, antes de estudar Zen, as montanhas são montanhas. Depois de ingressar na prática do Zen, as montanhas não mais são montanhas. E, finalmente, quando se obtém a iluminação, as montanhas voltam a ser montanhas. Podemos dizer que as montanhas são as dificuldades que encontramos quando entramos para a vida espiritual. Depois de um tempo, vemos que essas montanhas de dificuldades podem ser facilmente atravessadas. São como nuvens que passam, com o sol interior destinado a reaparecer. Por fim, quando realizamos o Altíssimo, vemos que as montanhas de dificuldades que encontramos previamente foram transformadas em montanhas de oportunidades – oportunidades para progresso, conquistas e um maior despertar na sempre-transcendente experiência da Realidade altíssima. As dificuldades se tornaram oportunidades a nos levar para o sempre-transcendente Além.
O mestre zen chinês Hyakujo costumava trabalhar duro junto com seus discípulos, mesmo com seus oitenta anos de idade. Ele costumava podar as árvores, limpar o chão, cuidar do jardim, etc. Seus discípulos estavam muito chocados com todo esse esforço. Eles sabiam que não adiantaria nada sugerir a ele que parasse de trabalhar, pois ele não lhes daria ouvidos. Então tiveram uma ideia brilhante. Eles esconderam suas ferramentas. E o mestre cumpriu o seu papel. Ele parou de comer. Isso se sucedeu por vários dias. Os discípulos descobriram porque ele não estava comendo, e devolveram as suas ferramentas. Com um sorriso, ele pegou seu equipamento e exclamou: “Sem trabalho, sem comida!”. Ele voltou a comer normalmente.
O que você pode fazer para me agradar ao máximo? Agradar-me ao máximo. Responderei agora como um professor zen. Os professores zen responderiam a sua questão desta forma, com um koan. Você me pergunta como pode me agradar ao máximo, e eu digo “Agradando-me ao máximo”. Como você pode me agradar ao máximo? Agradando-me ao máximo.
Não tentar, mas fazer. Essa é a resposta. Não deve haver “como”, não deve haver pergunta. “Estou fazendo” é o que deve haver. Não diga “quero fazer,” ou “irei fazer.” Apenas faça. Se você não puder dizer “eu fiz”, que, infelizmente, é algo que está uns centímetros distante da realidade, diga “estou fazendo.”
Cedo ou tarde, ou no futuro longínquo, você será destinado a presenciar a purificação de sua vida. Se no curso dessa transformação as pessoas não compreenderem ou apreciarem sua vida de pureza, não dê ouvidos às suas críticas. Vemos que até mesmo um Mestre espiritual verdadeiro, sendo a própria encarnação da alva pureza, pode se tornar alvo de críticas do mundo ignorante.
Era uma vez um Mestre Zen, muito puro e iluminado. Perto do lugar em que vivia, uma loja de alimentos havia sido construída. O dono do estabelecimento tinha uma filha que era bela e solteira. Certo dia, ela descobriu que logo seria mãe. Os pais dela se enfureceram. Eles queriam saber quem era o pai, mas a moça não revelou o nome. Após muito repreendê-la e atormentá-la, ela disse que era o Mestre Zen. Os pais acreditaram e correram até ele, insultando-o com uma língua afiadíssima. O Mestre Zen disse: “Verdade?” Tal foi o seu único comentário.
Quando do nascimento da criança, os avós deixaram o bebê com o Mestre. Ele aceitou a criança e cuidou dela. Sua reputação já se havia arruinado, e o Mestre era alvo de chacota. Dias tornaram-se semanas, semanas somaram meses e meses viram-se anos. Mas na vida humana existe algo chamado consciência, e a moça era continuamente torturada por sua própria consciência. Um dia, ela contou aos seus pais o nome do verdadeiro pai da criança, um trabalhador no mercado de peixe. Novamente, os pais lançaram-se em fúria. Ao mesmo tempo, a tristeza e humilhação fustigavam a casa. Correndo para o Mestre Zen, os pais da moça pediram o seu perdão, narrando a história toda e levando a criança de volta. Seu único comentário foi: “É verdade?”
O mundo pode não entender ou apreciar a pureza, mas se a Mãe-Terra for lar para uma única alma de pureza, sua alegria não conhecerá limites. Ela dirá: “Aqui, enfim, há uma alma em que posso confiar.”
Um mestre zen estava observando uma cigarra que estava trocando de pele. Ela já havia se libertado da maior parte da casca antiga, restando apenas uma asa presa ainda. O mestre ficou tomado de compaixão e ajudou a cigarra, tirando a pele seca da asa esquerda.
No entanto, a cigarra não conseguia bater a asa esquerda para voar e só ficou caminhando sem rumo pelo chão do templo.
Então ele entendeu que tinha feito um grande desfavor ao inseto. A cigarra precisava passar por aquele esforço e sair sozinha da antiga casca, ou então não teria força em suas asas suficiente para voar.
Exercícios de concentração e meditação no estilo Zazen
Se quiser alcançar uma concentração extraordinária, por favor, tente esses exercícios.
Cavando um buraco | Coloque-se bem em frente a uma parede e ponha um ponto nela, bem ao nível do seu terceiro olho [o centro espiritual entre as sobrancelhas]. Deverá ser um ponto preto; você não deve usar nenhuma outra cor. Então olhe para o ponto. Primeiro, olhe com os olhos bem abertos e, então, gradualmente, gradualmente, feche os olhos, mas não totalmente. Tente ver o ponto preto com o mínimo de visão dos seus olhos humanos. Abra seus olhos tanto quanto o e, em seguida tente deixá-los tão pequenos quanto possível, de modo que sua visão seja quase nenhuma. Repita mais uma vez.
Após conseguir fazê-lo, mantenha seus olhos abertos e tente sentir que você está cavando um buraco na parede e entrando nele. Aumente a sua necessidade de atravessar a parede. Em alguns minutos, verá que o seu corpo está aqui, mas alguma parte sua atravessou a parede para o outro lado. O seu poder de concentração levou você para o outro lado da parede. Sinta que deste lado da parede está o corpo e do outro lado está o poder-alma. Então, a partir do seu corpo você olha para a sua alma e, da sua alma, você olha para o seu corpo. Deixe o corpo ver a capacidade da alma e deixe a alma ver a avidez do corpo em se tornar um com ela. Se puder fazer esse exercício, seu poder de concentração irá aumentar imensamente e muito rapidamente.
Respirar a partir do ponto | Se você quer desenvolver o poder de concentração, tente fazer isso. Antes de se concentrar, lave bem o seu rosto e olhos com água fria. Então faça um ponto preto na parede, à altura dos olhos. Encare o ponto a uns 30cm de distância e concentre-se nele.
Após alguns minutos, tente sentir que, quando está inspirando, a sua respiração está realmente vindo do ponto, e esse ponto também está inspirando, tirando a própria respiração de você. Tente sentir que há duas pessoas: você e o ponto preto. Sua respiração está vindo desse ponto e a respiração dele vem de você.
Em dez minutos, se a sua concentração for muito poderosa, você sentirá que a sua alma o deixou e entrou no ponto preto na parede. Nesse momento tente sentir que você e a sua alma estão conversando. Sua alma o está levando para o mundo dela, para a realização, e você a está trazendo para o mundo físico, para a manifestação. Dessa forma você pode desenvolver o seu poder de concentração muito facilmente. Mas esse método tem que ser praticado. Há muitas coisas que são muito fáceis com a prática, mas, apenas porque não as praticamos, não obtemos os resultados.
Você é todo os olhos | Faça um círculo muito pequeno na parede, à altura dos olhos e, dentro dele, faça um ponto preto. Ele deve ser preto, não azul ou vermelho ou de qualquer outra cor. Então encare a parede, mais ou menos a um metro de distância, e foque a sua atenção no círculo. Seus olhos devem estar relaxados e meio abertos. Deixe a força da sua concentração vir do centro da sua testa.
Após três ou quatro minutos, abra totalmente os olhos e tente sentir que, da cabeça aos pés, você é todo os olhos. Toda a sua existência física se tornou nada além de visão. Então se concentre no ponto dentro do círculo e comece a diminuir o objeto da sua concentração. Após alguns segundos, tente sentir que todo o seu corpo se tornou tão pequeno quanto esse ponto na parede. Tente sentir que o ponto é outra parte da sua própria existência.
Então entre no ponto, atravesse-o e vá para o outro lado. Do outro lado do ponto, olhe para trás e veja o seu próprio corpo. O seu corpo físico está de um lado, mas, pela sua concentração, você enviou o seu corpo sutil para o outro lado do ponto. Através do seu corpo sutil, você está vendo o seu corpo físico e, através do seu corpo físico, está vendo o seu corpo sutil.
Quando começou a se concentrar, o seu corpo físico se tornou todo visão. Naquele momento, o ponto era a sua realidade. Quando entrou no ponto, visão e realidade se tornaram um. Você era a visão e também era a realidade. Quando olhou de volta para si, a partir do ponto, o processo se reverteu. Lá você se tornou a visão, e o lugar para o qual você retornou – seu corpo – era a realidade. Então, a visão e a realidade se tornaram um novamente. Quando puder ver a visão e a realidade dessa forma, a sua concentração será absolutamente perfeita. Quando o seu poder de concentração puder trazê-lo para o outro lado do ponto, o qual estava chamando de realidade, nesse momento, toda a sua existência estará muito além de ambos, visão e realidade. No momento que você puder sentir que transcendeu a sua visão e a sua realidade, terá poder ilimitado.
Se quiser saber mais sobre zazen, e zen budismo e suas histórias, leia mais um artigo sobre o zen.
Maya, a ilusão ou esquecimento, faz você sentir que é finito, fraco, desamparado. Isso não é verdade. Você não é o corpo.
Você não é os sentidos. Você não é a mente. Eles são todos limitados.
Você é a alma, que é ilimitada. Sua alma é infinitamente poderosa.
Sua alma desafia o espaço e tempo.
Sri Chinmoy
texto por Bhumika Barros
Se pensarmos que noções como ‘espaço’ e ‘tempo’ são projeções da nossa mente, criadas para que pudéssemos funcionar de forma, digamos, organizada, na sociedade, fica na verdade fácil de entender que o ‘desafio’ do espaço-tempo pela alma, nada mais é do que a expressão de sua (da alma) liberdade eterna. A alma não pode ser amarrada a conceitos estabelecidos pelo mundo comum dos homens. Portanto o normal para ela não é considerar tais questões.
Sei que isso fica muito vago para nossa mente (talvez um pequeno mergulho na física quântica ajudaria a clarear o assunto). Mas, aceite isso: você não é só o que é palpável. Há todo um mundo oculto, que, eu diria, vivemos também, mesmo que não conscientemente. Portanto, quando dizemos “ah, agora não, vou deixar para fazer isso mais tarde” (seja lá o que for), estamos nos conectando equivocadamente com o tempo eterno, aquele que faz parte do mundo da alma, mas não dos homens. A alma, na verdade, tem urgência em se expressar, se revelar, pois ela é uma fagulha da própria divindade! Nós, seres humanos, esquecidos que somos de nossa alma perfeita, é que usamos o tempo eterno para adiarmos e adiarmos nossas tarefas, nosso conhecimento, nossas aspirações, nossa realização.
Eu poderia estar falando de nossos objetivos comuns de vida, tais como, profissionais, relacionais etc. Conquistas que queremos alcançar na vida, mas que ainda assim, adiamos, nessa conexão equivocada com o tempo eterno (já que temos um tempo limitado de atuação nessa vida, pois perecemos, como corpo físico). Mas estou falando de algo maior, da missão que todos viemos realizar aqui, que é a revelação de que somos seres divinos, habitando um corpo humano. Que missão, não é? Pois a adiamos também. E como! Adiamos ainda que sem perceber, tudo nessa nossa vida, seja a de objetivos comuns ou a de objetivos divinos. Como? Simplesmente porque nunca estamos presentes em nada que fazemos. Já notaram? Estamos sempre no ontem ou no amanhã. Quantas vezes nos pegamos (e observar isso já seria bom) pensando no problema de ontem (e não raramente, esse ontem já está num passado bem distante…) e projetando coisas para o amanhã (projeções para daqui a cinco anos, por exemplo). Quantas vezes estamos realmente conectados com o presente? Com o que estamos fazendo e aonde estamos neste exato momento? Essa verdadeira ‘fuga’ do presente nos leva para uma vida que só existe na nossa mente e não na realidade. Na realidade, podemos estar simplesmente jantando, e isso é tudo que deveria existir, é a nossa verdade. Pensem nisso…Se pudermos viver cada realidade de uma vez, ao invés de pensarmos na que já foi ou na que poderá ser, estaremos mais próximos dos objetivos de nossa alma, que é mostrar sua face divina, pois as fugas só nos afastam de nós mesmos, já que não somos mais o que fomos um dia e não somos ainda o que iremos ser. Viver o presente, viver no presente é o nosso desafio humano para ajudar a alma a desafiar o tempo-espaço.
Apresento pois, o texto a seguir, de Sri Chinmoy, que exalta simplesmente…o Agora!
O agora
Estamos sempre dispostos a dizer que não é muito tarde para fazer alguma coisa, mas falamos que não é muito cedo para fazer algo? Não é muito cedo para fazer qualquer coisa na vida. Não é muito cedo para rezar nas primeiras horas da manhã. Não é muito cedo para realizar Deus. Não é muito cedo para revelá-Lo. Não é muito cedo para manifestá-Lo. O quão cedo realizarmos Deus, revelarmos Deus e manifestarmos Deus, mais cedo teremos um novo começo, apontando para uma meta mais elevada, mais iluminada e mais satisfatória.
Na vida espiritual não há tal coisa como, cedo. Esse momento, o Agora eterno, é o único salvador, único libertador e único preenchedor. Levantar de manhã cedo, às três da manhã, é uma tarefa difícil. Mas se você disser que é muito cedo, então eu direi que está enganado. Você está enganado, porque o que chama de cedo ou tarde, é decidido pela sua mente. É uma descoberta da sua mente, de que três da manhã é cedo e seis da manhã é tarde. É a mente que lhe diz que três da manhã é muito cedo e oito da manhã é muito tarde.
Se for além da mente, não haverá tal coisa como cedo ou tarde. Haverá apenas uma hora, que é a Hora de Deus. E onde está a Hora de Deus? Está dentro do Agora. O que é o Agora? O Agora é Deus-a Preparação, Deus-a Aspiração, Deus-a Evolução e Deus-a Perfeição sempre-transcendente.