Se queremos aceitar Deus o Criador, então nós temos de aceitar Deus a Criação também. Algumas figuras espirituais do passado venerável somente queriam aceitar Deus o Criador, mas não Deus a Criação. Eles disseram: ‘’Deixe que nós escalemos e permaneçamos no topo dos Himalayas.’’
Mas Deus disse, ‘’Se vocês Me amam verdadeiramente, então devem descer pela causa da pobreza da humanidade, pela causa daquelas pessoas que estão ao pé da montanha, e servir a eles com sua luz, com seu deleite, com sua paz – com o que quer que tenham descoberto. Se vocês querem subir, Eu estou lá para dar a vocês Luz e Beatitude, mas eu quero que compartilhem isso com a humanidade. ’’
Tentamos amar a toda humanidade com nossa consciência, conhecimento e convicção internos de que dentro de cada indivíduo está a presença de Deus. Só porque amamos Deus, tentamos devotar nós mesmos a Ele e servir a Ele na humanidade.
Se nós amamos o mundo durante a nossa meditação, mas o odiamos assim que nossa meditação tiver terminado, então essa não é uma boa meditação. Nossa meditação deve nos seguir quando entramos na correria do dia a dia.
Como podemos ter sincero amor pela humanidade?
Você pode ter sincero amor pela humanidade apenas quando amar a Fonte da humanidade, Deus. Se você ama a raiz, apenas então poderá amar a árvore. A raiz é Deus. Se você estiver consciente da raiz, apenas então poderá amar a humanidade. Você não pode amar qualquer ser humano a menos e até que ame Deus. Se você pode se fazer sentir que ama Deus, somente Deus, e ninguém mais, então você amará a todo mundo, porque Deus está dentro de todo mundo.
A cada vez que eu amo a humanidade
Sem reservas,
A cada vez que eu amo a Deus
Incondicionalmente,
Eu recupero uma parte
Da minha vida real.
Como pode alguém aceitar e amar os seus companheiros humanos?
Você deve considerar as pessoas ao seu redor como membros do seu próprio corpo. Sem eles você é incompleto. Cada pessoa tem um papel a cumprir. Seu polegar é muito mais forte do que o seu dedinho. Mas o dedinho também tem sua função. Deus nos deu cinco dedos. Seu dedo do meio é o maior. Se você sente que por essa razão não precisa dos outros dedos, então está tristemente enganado. Se quer tocar piano ou se quer digitar, então precisa de todos os cinco dedos.
Você pode amar as pessoas à sua volta somente quando sentir a necessidade de perfeição verdadeira. Se você permanece isolado como um indivíduo, então seu sucesso espiritual é limitado. Por essa razão, somente aceitando a humanidade como parte e parcela da sua própria vida e aperfeiçoando a humanidade com sua própria iluminação é que você pode aperfeiçoar a si mesmo.
Em termos práticos, como podemos dar ao mundo nosso próprio amor e cuidado?
De manhã ou à noite, durante sua oração diária, você pode adicionar à sua oração: ‘’Ó Senhor, eu peço que o mundo seja melhor, mais iluminante e satisfatório, pela Sua infinita Graça.’’ Deus é o Criador e Sustentador do mundo. Se sua oração alcança o Criador, o que certamente acontecerá se sua oração for sincera e intensa, Ele pode facilmente transportar o seu cuidado e amor ao mundo inteiro.
A paz, a alegria e o amor que nós recebemos em nossa meditação nós podemos facilmente dar aos outros. Mas o processo é interior. E a melhor maneira de executar esse processo é se aproximar da Fonte. Nós sabemos que não podemos ir a todo lugar e não podemos nos aproximar de todo mundo durante nossa oração. Mas há Alguém que pode fazer isso a nosso favor, e esse alguém é Deus. Durante nossa oração, se pedimos para Ele oferecer Paz, Cuidado e Amor ao mundo em geral, naturalmente Ele pode fazer isso. Nosso companheirismo diário com Deus é a melhor maneira de oferecermos ao mundo nosso amor e cuidado.
Como posso aumentar minha capacidade de aceitar amor?
Você pode aumentar sua capacidade de aceitar amor dando amor aos outros. Quanto mais amor você der, mais amor receberá. Se é capaz de dar mais amor à humanidade, então será capaz de receber amor abundante da humanidade. Você está expandindo sua própria realidade dentro da Realidade Universal de Deus.
PREFÁCIO: O Amor expande nossos corações. Oferecer amor a outro ser humano, ao mundo ou a Deus é o maior presente da vida. Amor enriquece todo momento e todo ato. E, porque somos apenas humanos, nós amamos para ser amados em retorno.
Assim, o amor humano é efêmero: O mundo é sem amor. Somente em Deus nós encontramos um Amado cujo amor por nós é eterno e incondicional.
Sri Chinmoy descreve vividamente como Deus nos ama mais do que podemos imaginar. Atravéz dos seus olhos, nós começamos a penetrar a verdadeira natureza do Amor divino.
NOSSO AMOR POR DEUS
Meu Senhor,
Eu sei que o que eu ofereço a Você
É sempre pequeno, muito pequeno,
No entanto Seu Coração transborda
Com Deleite-Néctar.
Eu estou preparado
Para vir ao mundo
De novo e de novo
Somente para Vislumbrar Seu Amor
Imensurável.
Amor é o elo interior, a conexão interior, a ligação interior entre homem e Deus, entre o finito e o Infinito. Nós sempre temos de nos aproximar de Deus através do amor. O amor é a chave secreta que nos permite abrir a porta de Deus. Onde existe o amor, amor puro, amor divino, existe a satisfação. Sem amor, não podemos nos tornar um com Deus.
O que é o amor? Se amor significa possuir alguém ou alguma coisa, então esse não é o verdadeiro amor. Se amor significa dar e tornar-se um com todas as coisas, com a humanidade, com a divindade, então esse é o amor verdadeiro.
Nada pode ser maior que o amor. Deus é grande somente porque Ele tem Amor infinito. Se quisermos definir Deus, nós podemos defini-lo de milhões de maneiras, mas eu gostaria de dizer que nenhuma definição de Deus pode ser mais adequada do que a definição de Deus como todo Amor.
Nós oramos a Deus só porque Deus é todo Amor. Deus não é como um diretor de escola com uma vara de ferro que nos atinge o tempo todo. Só porque Deus é todo Amor, todo Compaixão, nós vamos em direção a ele e não de qualquer outra pessoa.
O mundo existe só porque o amor ainda existe na Terra. Nenhuma outra qualidade divina pode criar, sustentar e satisfazer a Deus aqui na Terra como a qualidade do amor. Amor divino não significa uma troca emocional de pensamentos ou ideias humanas; significa a satisfação da unicidade.
Não podemos laçar amor divino com nossos pensamentos humanos, ideias ou ideais, mas laça-lo através de constante auto-sacrifício. O Amor divino é infinito, mas nós podemos laçar o infinito em nós através do auto-sacrifício.
Amor significa aceitação. O que vamos aceitar? Vamos aceitar esse nosso mundo, que está ao nosso redor e dentro de nós. Se não aceitarmos o mundo, que é o corpo exterior de Deus, então estaremos negando e rejeitando Deus silenciosamente, secretamente, se não categoricamente.
Como podemos ajudar nossas irmãs e irmãos do mundo? Nós poderemos ajudá-los se nos tornarmos todo amor pelo Um que é eternamente todo amor. Amemos o Um, a raiz da árvore. Então nós devemos ver que os ramos, as folhas e a folhagem da árvore também sentirão nosso amor. Cada indivíduo que satisfaz Deus e Sua Criação incorpora a vida Interesse e a vida Sacrifício de Deus.E é nesse Interesse e Sacrifício que Deus e homem são ambos satisfeitos.
Como posso amar Deus uma vez que não O conheço?
Você pode amar Deus mesmo que não o conheça do mesmo modo que você pode amar a si mesmo sem conhecer quem você verdadeiramente é. Uma vez que você conhecer a si mesmo, verá que você não é ninguém menos que Deus. Agora mesmo, você ama a si mesmo pensando que conhece a si mesmo. Mas isso é absurdo; você não conhece a si mesmo. Similarmente, você pode também amar Deus, a quem você não conhece.
Eu sinto como se nós não amassemos Deus o suficiente e ainda queremos amá-lo mais. Como podemos aprender a amá-lo mais?
Se nós não sentimos nosso amor por Deus pela manhã, nosso dia inteiro é miserável; há um sentimento de frustração. Mas, se amamos Deus, então mesmo se todas as coisas na nossa vida externa são desagradáveis, isso não importa. Se não meditarmos pela manhã, não importa quantas pessoas nos apreciam, sentiremos que algo está faltando. Mas, se nós meditarmos, não importa quantas calamidades aconteçam durante o dia, ainda estaremos felizes.
Então, se queremos satisfação divina, devemos meditar em Deus o com toda a alma. No começo isso é difícil porque Deus é só teórico. Mas, depois que meditamos por algum tempo, nós sentimos que Deus é algo natural e normal. Ele é como nós, exceto por ser iluminado e divino. Nós começamos com a ideia de que precisamos de Deus. Logo percebemos que precisamos somente de Deus e devemos escolhê-lo acima de todas as coisas. Então Deus nos pede que O consideremos parte de nós.
Existe um modo simples de amar a Deus com toda a alma e constantemente. Quando separamos a escuridão da luz, o transitório do eterno e o conhecimento externo da sabedoria interna, fica extremamente fácil para nós amar a Deus com toda a alma e constantemente. Após amarmos a Deus com toda a alma e constantemente, podemos ir um passo adiante e amar Deus incondicionalmente, dando a Ele o que nós temos e o que nós somos.
Como posso amar o Supremo com a maior intensidade?
Aqui na Terra você tem algo que o mantém vivo, que é o seu alento-vida. Assim, se pode sentir dentro de cada respiração o Amor e Luz vivos do Supremo, está fadado a amar o Supremo com a maior intensidade. Quando você estiver sentado de pernas cruzadas e respirando , seu corpo inteiro deve sentir conscientemente uma corrente de amor divino fluindo em e através dele.
Quem é a fonte dessa Luz e Amor? É o Supremo. Se você está constantemente aspirando para ir até a verdadeira Fonte, se você está o tempo todo clamando por livre acesso à Fonte, logo você sentirá a verdadeira intensidade do seu clamor e aspiração interior.
Sinto-me perdido sobre como oferecer amor a Deus. Parece que, a menos que Deus entre em você, você não tem amor a dar.
Se você começar pensando a respeito de como amar a Deus, então nunca será capaz de fazê-Lo. O amor tem que ser espontâneo. Quando você entra em um jardim, não tem que pensar como apreciar as lindas flores. Imediatamente sentirá sua fragrância e verá sua beleza. Da mesma maneira, amamos Deus não pensando, mas sentindo. Sinta que você abriu sua porta-coração. Quando abre o portão do jardim, você não tem de correr para uma flor em particular para apreciá-la. Imediatamente você recebe a pureza e a fragrância de todas as flores do jardim. Uma vez que entrar no seu jardim-coração você será capaz de ver o Jardineiro, nosso Senhor Amado Supremo, definitivamente.
Você pode começar por imaginar seu jardim-coração. A imaginação é um mundo próprio. É completamente diferente de pensar. O pensar é uma constante contradição. Mas, quando você imagina algo muito bonito e repleto de alma, isso tem tremenda realidade e tremenda verdade. Para voltar à nossa questão, não pense sobre como amar. Apenas ame. Amor já está lá, dentro de seu jardim-coração.
O Divino Amor
Tem florescido o ano inteiro
Dentro do jardim-gratidão do meu coração
E agora eu possuo
Um novo céu de esperança
Um novo sol de promessa
E
Um novo Deus de Compaixão infinita.
Como podemos amar mais Deus com nossa mente?
O amor vive dentro do coração e não dentro da mente. Na sua casa há um cômodo – seja a sala de estar ou a cozinha ou o quarto – onde você está a maior parte do tempo. Na vida espiritual também, o amor, durante a maior parte do tempo está no coração. Se eu sei que em um lugar em especial há água, devo cavar profundamente e achar água. Mas se não existe água lá e eu continuo cavando, cavando, cavando, isso é só um desperdício de tempo.
Se queremos ter mais amor por Deus, temos que nos aproximar Dele com nosso coração. Se começamos a nossa jornada com a mente, estamos sujeitos a ficarmos frustrados. Mas se começamos nossa jornada com o coração, estaremos destinados a sermos satisfeitos. Uma criança corre em direção à sua mãe, em direção ao seu pai, em direção a uma flor, por causa de seu amor contínuo. Uma criança não tem mente; ela apenas sente com o coração. Mas quando a criança cresce e começa a viver na mente, ela começa a duvidar de tudo e a criticar tudo.
Na vida espiritual temos de ser como uma criança. Quando usamos a mente, pensamos que sabemos muito sobre espiritualidade. Mas o que sabemos? Sabemos como duvidar, como suspeitar. Se queremos que a espiritualidade ofereça sua mensagem para nós, não precisamos de uma interpretação mental. A espiritualidade tem a sua própria luz, seu próprio amor, a oferecer. Nós não temos de passar dois ou três anos na vida espiritual para amar Deus. Não, nós podemos amar Deus a partir deste momento, contanto que usemos o coração para amá-Lo e não nossa mente para pensar sobre Ele. O coração é unicidade-identificação, enquanto a mente significa constante julgamento e separação.
Como podemos aprender a amar Deus com todo o nosso coração?
O coração espiritual é a mais doce e mais íntima parte de nós. Podemos esperar dele o sentimento de imediata e indivisível unicidade com Deus. Mas, agora, nossa existência física nos separa da nossa consciência-coração. Para dar o amor do nosso coração ao Supremo, primeiro precisamos nos identificar com o coração e não com o corpo ou a mente. A seguir, temos de sentir que nosso coração é composto somente de uma coisa: gratidão.
E essa gratidão é por quem? É pelo Supremo. No momento em que pudermos sentir que temos apenas um nome, gratidão, seremos capazes de oferecer nosso coração de amor para o Supremo totalmente, implicitamente e incessantemente. Por que temos que oferecer gratidão ao Supremo? Porque Deus nos deu a maior benção imaginável: há bilhões de pessoas na Terra que não têm o anseio de realizar Deus, mas Ele nos deu aspiração para conduzir uma vida espiritual e realizá-lo.
Livro Bhagavad Gita – capítulo 11 – A Visão da Forma Universal e a Manifestação Cósmica do Senhor
Em sua infinita Generosidade, ilimitado Amor e profundíssimo e devotado Cuidado, Sri Krishna desvelou o segredo supremo de que Ele está em tudo e Ele incorpora tudo. A eminente desilusão gitde Arjuna foi removida e dispersa. Ele agora desfruta da paz translúcida de sua alma.
Sri Krishna fala com a abundância do Seu amor. Arjuna ouve com a mais sublime devoção do seu coração, e acredita Nele sem reservas e devotadamente. O credo singular de Arjuna clama por sua transformação; sua aspiração chora por uma experiência. Sua mente compreende a verdade, mas seu coração anseia pela visão da verdade e por viver a Verdade. Por isso, ele necessita dessa experiência inescapável e inevitável. Sri Krishna graciosa e imediatamente a confere, a Experiência Sem Par.
“Ó Arjuna, observe em Meu corpo o universo inteiro.” (11.7) Os olhos físicos de Arjuna naturalmente falham em enxergá-lo. O Senhor o concede o olho de visão superna, o olho que enxerga o invisível – o olho yogi.
O corpo do qual o Senhor fala é o corpo espiritual. Portanto, para ver o corpo espiritual, Arjuna precisa que lhe seja concedido um olho espiritual. O corpo significa forma. O sem-forma reside nessa forma. A Visão Transcendental e a Realidade Absoluta brincam em unicidade, em e através da forma cósmica. O corpo de carne e osso passa por diversas vicissitudes, mas não o corpo de forma ilimitada, divina forma e substância imorredoura. Esse corpo divino é a encarnação e revelação da Divindade, Infinidade, Eternidade e Imortalidade da Verdade.
Sanjaya diz a Dhritarashtra: “Ó rei, Krishna, o Mestre supremo de Yoga, o Senhor Todo-Poderoso, revela a Arjuna Sua Forma divina, suprema. Arjuna agora vê Krishna como a Divindade Suprema, Parameshwara.” (11.9)
Arjuna vê a multiplicidade no Uno Supremo, possuindo uma miríade de bocas, inúmeros olhos, ilimitadas maravilhas, empunhando armas divinas, vestindo jóias e roupas divinas, usando guirlandas celestiais de fragrância superna. A efulgência de mil sóis irradiando ao mesmo tempo nos céus não se equiparam ao esplendor supremo do Senhor. Arjuna observa na pessoa divina de Krishna a Infinidade na multiplicidade. Sobrepujado, com êxtase inundando seu interior mais profundo, de mãos postas e cabeça baixa, ele exclama: “Ó Senhor, em Ti, em Teu Corpo, vejo todos os deuses e todos os níveis de seres, com marcas distintivas. Vejo até mesmo Brahma, sentado, resplandecente em Seu Trono-Lótus, com sábios por toda a parte e serpentes simbólicas – todas divinas.” (11.15)
Quando nos elevamos com a puríssima e ardente aspiração, entramos na consciência cósmica dos sábios. Esse é um caminho que leva ao alto. É o caminho da encarnação e realização. Há outro caminho, conhecido como o caminho da revelação e manifestação. Esse é o caminho que leva abaixo. Aqui, a nossa consciência flui no sentido descendente, através da energia cósmica, as serpentes simbólicas, circulando e espiralando.
Os versos 15 a 31 eloquentemente e psiquicamente descrevem o que Arjuna viu em Krishna com sua recém-adquirida visão Yogi. A luta ainda está por começar. Os poderosos guerreiros estão prontos e ávidos para lutar. Para sua maior surpresa, Arjuna vê a completa extinção das vidas dos guerreiros em Krishna. Antes do início da luta, ele vê a morte dos guerreiros. Estão destruídos. Quando ele vê as chamas da boca flamejante e tudo-devoradora de Krishna, seu próprio alento-vida estremece. O discípulo chama: “Tua compaixão, meu Senhor Supremo, eu imploro. Não conheço-Te. Quem és Tu?” (11.31)
“O Tempo é o que sou. Tempo, o poderoso destruidor, é o que sou. Eles estão destinados. Quer você lute ou não, eles já estão mortos. Mesmo sem você, seus inimigos não escaparão da morte. Erga-se, Ó Arjuna, erga-se. Adquira a glória e renome da vitória, conquiste seus inimigos. Desfrute do vasto reino, desfrute. Foi por mim ordenado o silêncio das suas vidas. Seja você a causa exterior. Seja apenas o meu instrumento, nada mais.” (11.32-33) Nimittamatram Bhava. “Seja um mero instrumento.” (11.33b)
Não pode haver maior orgulho, melhor conquista, do que ser o instrumento de Deus, pois ser um instrumento de Deus é ser infalivelmente aceito como parte Dele. Em e através do discípulo-instrumento, o Guru-Mestre enxerga e satisfaz o Propósito divino de Deus.
Krishna é o tempo tudo-devorador. Essa visão, de acordo com nossos olhos e compreensão exteriores, é terrível. Mas, de acordo com nossa visão interior e compreensão interior, ela é natural e inevitável. Sri Aurobindo escreve:
O Tempo se representa ao esforço humano como um amigo ou um inimigo, uma resistência, um meio ou um instrumento, mas ele realmente é sempre o instrumento da alma. O Tempo é um campo de circunstâncias e forças, encontrando-se e criando uma progressão resultante, cujo curso ele mede. Para o ego, é um tirano ou uma resistência; para o Divino, um instrumento. Portanto, enquanto o nosso esforço é pessoal, o Tempo parece ser uma resistência, pois ele traz toda a obstrução das forças que são conflitantes com as nossas próprias forças. Quando a ação divina e a ação pessoal são combinadas em nossa consciência, ele aparece como um meio e condição. Quando as duas se tornam uma, ele aparece como um servo e instrumento.[1]
Krishnaprem, o grande buscador, disse:
É impossível descrever em palavras essa maravilhosa visão. Todas as coisas continuam as mesmas, mas, ainda assim, estão mudadas. O Tempo reluz corporeamente na Eternidade; o Fluxo corrente é, em si próprio, o Eterno, o Eterno que, apesar de mover-se incessantemente, não se move.[2]
O conhecimento dos Upanishades ecoa e reecoa em nossos corações aspirantes: “Aquilo se move e, ainda assim, Aquilo não se move. Aquilo está longe e, ainda assim, Aquilo está próximo…” (Isopanishad 5)
O Tempo abriga a Verdade. Sri Krishna diz a Verdade, a Verdade Eterna, sobre Si próprio. Agora podemos lembrar das palavras significativas de Virginia Woolf: “Se você não disser a verdade sobre si mesmo, não poderá dizer a verdade sobre outras pessoas.” Reciprocamente, se você conhece a verdade espiritual sobre si mesmo, deve conhecer a verdade sobre os outros. Sri Krishna mostrou a Verdade divina que era Ele próprio.
Podemos alegremente caminhar com Marcus Aurelius: “Não consigo compreender como qualquer homem possa querer qualquer coisa senão a Verdade.”
Duvidar do Mestre espiritual antes de alcançarmos a iluminação não é incomum na história espiritual do mundo. Mesmo alguns dos mais queridos discípulos dos grandes Mestres espirituais passaram por isso. Mas se o buscador deixa o Mestre justamente porque a dúvida o assombra, isso é um ato de completa tolice. Segure-se, segure-se e não largue até o fim. As dúvidas daninhas desaparecerão como se nunca tivessem existido. O esplendor da Infinidade e Eternidade florescerá no regaço do Tempo. A sua aspiração ascendente realizará esse feito.
A voz soluçante de Arjuna profere: “Tu és a Alma primeva…” (11.38a) Ele chora pelo perdão de Krishna. Por conta de sua ignorância do passado, ele não reconheceu Krishna em Sua natureza divina. Seu passado estava repleto de ações incorretas, parte por conta da ignorância, parte por conta de falta de cuidado. Ele implora, com um coração que soluça, por perdão pelos seus atos de omissão e crimes cometidos contra Krishna.
“Tolere-me, assim como um pai tolera o filho, como o amigo, o seu amigo, como o amante, a amada.” (11.44a) Sri Krishna sem dúvidas perdoa Arjuna. Ele retorna à sua forma normal, natural e familiar.
Arjuna descobre que é a Graça Divina que lhe concedeu o olho yogi para ver o Não-visto, a Glória Suprema do Senhor, o presente, o passado e o futuro.
Ele também aprende com o Senhor que “nem o estudo dos Vedas, nem o sacrifício, nem a esmola, nem a austeridade e nem escolaridade podem obter essa visão cósmica…” (11.53) Mesmo os deuses anseiam por um vislumbre dessa Forma Universal que Krishna mostrou a Arjuna, em Sua ilimitada Compaixão.
Fé, devoção, entrega. Vejam! Krishna é conquistado. Não há outra maneira para realizá-Lo ou possuí-Lo.
[1] * Sri Aurobindo, The Synthesis of Yoga, 4th ed., Pondicherry, 1970, p. 61f.
[2] * Sri Krishna Prem, The Yoga of the Bhagavad Gita, London, 1951, p. 107.
Livro Bhagavad Gita – capítulo 9 – O Segredo Supremo
O segredo supremo é o Conhecimento supremo. Ele não pode ser explicado. Ele deve ser realizado. Esse supremo Segredo está escrito em letras douradas nos mais profundos recônditos de cada coração divinamente humano. Ele não rejeita ninguém, nem mesmo aquele que está afogado em pecados. Aquele que não possui fé no que Krishna diz não terá saída das amarras da ignorância. Ter fé é ter uma medida de boa sorte singular. Assim como a devoção exemplar, a fé também precisa de um Deus pessoal, e ela tem um. A fé não é uma crença cega. A fé não é uma entrega cega, indefesa, aos livros sagrados. A fé é a percepção consciente da nossa liberdade ilimitada.
Krishna diz: “Ó Arjuna, a salvação não é para aquele que não possui fé. Ele está preso para sempre às tristezas da vida e às dores da morte.” (9.3) Aquele que trilha a estrada da fé verá por si mesmo a Verdade suprema aqui na terra. A determinação do coração aspirante do buscador é a sua fé mística. A convicção da reveladora alma do buscador é a sua fé triunfante. Um homem comum, não aspirante, é colocado a flutuar pelos mundos de falsas esperanças. Mas um homem de fé sempre vive nos mundos de forte afirmação. Completamente alegre e sem reservas, ele lança mais e mais combustível de fé reluzente no Altar de Deus. É desnecessário dizer que o florescimento de sua alma corre a passos largos.
Com um sorriso, Krishna diz: “Os desiludidos fazem pouco caso de Mim, das minhas encarnações humanas, não sabendo que Eu sou o Senhor Supremo de todas as coisas.” (9.11)
Reconhecer um Avatar não é uma tarefa fácil. É necessário ser abençoado pelo próprio Avatar ou possuir o dom da visão interior. Um aspirante deve se preparar para ser capaz de reconhecer um Avatar. Ele deve evitar os prazeres dos sentidos. Ele não pode ser controlado pelas paixões. É ele quem deve controlar suas paixões. Ele deve inspirar sempre o alento da pureza. O medo ele deve partir ao meio. A dúvida ele deve vencer. A paz ele deve invocar. A alegria ele deve beber.
Realizar cerimônias e ritos abstrusos não é necessário. A auto-doação é a única coisa necessária. Deus aceita tudo com a maior alegria. Podemos começar nossa jornada interior oferecendo a Ele folhas, flores e frutos. Mesmo o menor ato de oferecimento a Deus é um passo dos mais genuínos no caminho da auto-descoberta e Deus-descoberta. Nós pensamos. Se oferecermos nosso ‘pensar’ a Deus, esse próprio ato de oferecimento dos pensamentos nos fará por fim um com Deus, o Pensamento. Um homem comum sente que ele pensa apenas porque vive. Mas Descartes possui uma visão completamente diferente: “Penso, logo existo.” Esse “existo” não é apenas o fruto da criação, mas também o seu alento. São significantes as palavras de Bertrand Russell: “Os homens temem os pensamentos mais do que qualquer outra coisa na terra – mais do que a ruína, mais do que até mesmo a morte.”
Se pudermos descobrir um pensamento verdadeiro, divino, no mesmo momento Deus irá pedir ou obrigar o tempo a ficar do nosso lado. Com a exceção do tempo, nada pode nos ajudar a sentir o alento da Verdade e tocar os pés de Deus. Podemos possuir o tempo da Eternidade se realmente quisermos. São doces e cheias de significado as palavras de Austin Dobson: “O tempo se vai, você diz? Ah, não! O Tempo fica; nós vamos!”
Nós servimos. Se servimos a Ele, a Ele apenas, na humanidade, nos tornamos um com Sua Realidade absoluta e Sua Unicidade universal. Não podemos esquecer que nosso serviço dedicado deve ser oferecido com uma enxurrada do mais puro entusiasmo. O verso 29 é muito familiar e conhecido. “Para Mim, todos são iguais. Não sei favorecer; não sei desfavorecer. Meus devotos amorosos e que me adoram estão em mim; também eu estou neles.” (9.29) Essa é uma experiência que se destaca, como um resgate corajoso, na vida de um buscador verdadeiro. Não há privilégio especial. A todos é dada a mesma oportunidade. É desnecessário dizer que um verdadeiro devoto já passou por intensas disciplinas espirituais. Se ele agora se torna um devoto genuíno e passa a ser querido e próximo de Krishna, deve-se compreender que ele está tendo o resultado de suas disciplinas férreas e severas austeridades do passado. Sem dor, não há resultado. Sem sinceridade, não há sucesso. Tenha aspiração. Ela acelerará o seu progresso interior e exterior.
O devoto aspira. Sri Krishna reside em sua aspiração. O devoto realiza. Em sua relização, ele descobre que Krishna é o seu eterno alento. Um devoto nunca está sozinho. Ele descobriu a verdadeira Verdade – que o seu sacrifício o une com seu Senhor. Quanto mais ele se oferece conscientemente ao Senhor, mais forte se torna seu laço divino de união, ou melhor, unicidade.
Anityam (não duradouro, efêmero); Asukham (sem prazer, sem alegria)[1]. O mundo exterior vive em nossa consciência terra-limitada. Essa consciência terra-limitada pode ser transformada na Consciência Eterna através de aspiração, devoção e entrega. A Consciência Eterna abriga alegria perpétua. A libertação deve ser alcançada aqui neste mundo. Qualquer homem de promessa irá alegremente assinar a destemida declaração de Emerson: “Outro mundo!? Não há outro mundo. Aqui, ou em lugar nenhum, é a questão integral.”
Quando olhamos para o mundo com nosso olho interior, o mundo é belo. Essa beleza é a reflexão da nossa própria divindade. Deus, o Belo, tem nosso coração aspiração como Seu Trono eterno. Nós, os buscadores do Supremo, nunca poderemos seguir no mesmo sentido que a orgulhosa filosofia de Nietzsche. Ele profere: “O mundo é belo, mas possui uma doença chamada de homem.” Pelo contrário. Podemos dizer em termos precisos que o mundo é belo porque ele foi iluminado por uma beleza superna chamada de Homem.
Anityam e Asukham não podem envenenar o coração de um verdadeiro buscador. Sua fé é casada com seu destino dourado. Ele canta e canta:
Meus dias eternos se vêem em um tempo que acelera;
Eu toco Sua Flauta de rapsódia.
Feitos impossíveis não mais impossíveis parecem;
Em algemas-nascimento agora reluz a Imortalidade.
– Sri Chinmoy, Immortality, My Flute, New York, 1972.
[1] * O autor aqui se refere ao verso 9.33 do Bhagavad Gita, onde ambas as palavras são usadas, e a segunda linha diz: “Você, que veio a este mundo transiente (anityam) e sem alegria (asukham), devote-se a Mim.”
Livro Bhagavad Gita – capítulo 8 – O Infinito Imperecível
Brahman é o Infinito Imperecível. Outro nome para Brahman é Aum. Aum é o Criador. Aum é a Criação. Aum está na Criação. O Aum está além da Criação.
Este capítulo começa com uma saraivada de perguntas muito significativas. Brahman, Adhyatma, Karma, Adhibhuta, Adhidaiva, Adhiyajña – o que são? O Senhor responde: “Brahman é o Absoluto Imperecível. Adhyatma é o auto-revelador Conhecimento da Natureza primeva de Brahman. Karma é o nascimento da atividade, normal e natural. Adhibhuta é a manifestação material perecível. Adhidhaiva é o conhecimento daqueles que são Reluzentes. Adhiyajña é o sacrifício que Eu faço para unir a manifestação de formas finitas com a Minha Vida infinita.” (8.3-4)
Krishna afirma que a auto-realização ou a realização da Imortalidade devem ser alcançadas durante a vida, no corpo, e em nenhum outro lugar. Assim como cada ser humano cria limitações, imperfeições e amarras, ele também é capaz de transcendê-las. Ele por fim entrará nos planos de Plenitude, Perfeição e Liberdade.
Nossa existência é o resultado de uma existência anterior. Este nosso mundo é o resultado de um mundo que existiu antes. Tudo evolui. A essência da evolução é um movimento interior e exterior. Esse movimento ou mudança acontece até mesmo no mundo de Brahma[1]. Mesmo após alcançar o mundo de Brahma, não há fuga das armadilhas do nascimento. Falando a verdade, nossos dias e noites terrenos nada são, senão um infinitesimal segundo, se comparados com os dias e noites de Brahma. Mil eras vivem num único dia de Brahma, e mil eras vivem em uma única noite de Brahma.
De nada adianta tomar refúgio em nossos dias e noites terrenos, pois são efêmeros. De nada adianta tomar refúgio nos dias e noites de Brahma, pois também eles não são eternos. Devemos e precisamos tomar refúgio apenas no Eterno Coração do Senhor Krishna, que é o nosso abrigo mais seguro, onde o dia não é necessário, e nem a noite, pois Seu coração é a Luz da Infinidade e a Vida da Eternidade. De nada mais precisamos, salvo a devoção. Nossa escolha suprema é a devoção. Nosso coração de devoção responde ao Seu Coração de Amor. Diz Ele: “Apenas a devoção invariável possui o direto e livre acesso à Minha Vida imortal, Minha Verdade absoluta.” (8.22)
O que está no interior cedo ou tarde se manifestará no exterior. O possuidor de pensamentos divinos também será o agente de ações divinas. Apenas para um homem dedicado e aspirante é possível pensar em Deus conscientemente enquanto estiver deixando o mundo terreno.
Krishna nos diz como um yogi entra no Derradeiro após deixar seu envoltório mortal. “Seus sentidos estão sob controle. Sua mente está colocada no coração, e ele medita em Mim. AUM ele canta devotadamente. Ele abandona o Prana, o alento-vida, e entra na realização última em Mim.” (8.12-13)
A madame H.P. Blavatsky, fundadora da Teosofia, mencionou Aum de uma maneira muito simples e significativa. Ela disse que “Aum significa boas ações, e não apenas um som dos lábios. Você deve dizê-lo em ações.” Para saber o que o Aum é e o que ele representa, é recomendado estudar os Upanishads que falam sobre Aum. O Mandukya Upanishad nos oferece o significado de Aum explicitamente.
O significado do Aum pode ser descoberto através de livros. Mas o conhecimento do Aum nunca pode ser obtido através do estudo dos livros. Ele deve ser conquistado vivendo-se uma vida interior, uma vida de aspiração, que transportará o aspirante aos níveis mais elevados de consciência. A maneira mais fácil e mais efetiva para subir alto, mais alto, altíssimo, é carregar-se de amor puro e devoção genuína. Dúvida, medo, frustração, limitação e imperfeição estão destinadas a se entregar ao amor devotado e à devoção entregue. O amor e a devoção têm o poder de possuir o mundo e serem possuídos pelo mundo. Ame a manifestação de Deus; você descobrirá que a criação cósmica é sua. Devote-se à causa da manifestação cósmica; você verá que ela o ama e o considera como parte de si.
É verdade que o conhecimento pode lhe trazer o que o amor e a devoção oferecem. Mas, muitas vezes, o conhecimento não é nutrido por amor à verdade, e sim pela satisfação dos desejos. É infrutífera a busca de conhecimento quando o desejo está por detrás dela. Quando o aspirante é todo amor e devoção, ele voa alto.
Durante o percurso de sua jornada, ele canta:
Não mais meu coração irá chorar ou se entristecer.
Meus dias e noites se dissolvem na própria Luz de Deus.
Acima da labuta da vida, minha alma
É um Pássaro de Fogo voando no Infinito.
Ao fim da sua jornada, ele canta:
Conheci o Uno e Seu Jogo secreto
E fui além do mar do Sonho-Ignorância.
Em ressonância com Ele, eu brinco e canto;
Possuo o Olho dourado do Supremo.
Ele agora se tornou sua própria Meta. Auto-amoroso, ele canta:
Profundamente embriagado com a Imortalidade,
Sou a raiz e os ramos de uma vastidão imensa.
Minha Forma eu conheci e realizei;
O Supremo e eu somos um – a tudo sobrevivemos.
– Sri Chinmoy, “Revelation”, My Flute, New York, 1972
[1] * O deus pessoal Brahma (masculino) não deve ser confundido com o Absoluto impessoal Brahma(n) (neutro). Por conta disso, muitos autores usam a palavra Brahma no nominativo e Brahman como forma-raiz (como Sri Chinmoy faz neste livro), pois dessa forma os dois nomes ou princípios são possíveis de distinção sem uma transliteração erudita exata.
Livro Bhagavad Gita – capítulo 7 – Conhecimento Iluminado
Em sua infinita Generosidade, Sri Krishna conta ao seu amado discípulo que ele lhe dará tudo o que tem e tudo o que é: Infinidade e Eternidade. Sri Krishna espera do discípulo apenas duas coisas em troca: Yoga e dependência. Podemos chamar essa dependência de entrega devotada, que é a unicidade indivisível do finito com o Infinito. Conhecer Sri Krishna é conhecer o Conhecimento Supremo. Realizar Sri Krishna é realizar a vida de tudo em essência.
Manushyanam sahasresu….
“Dentre milhares de homens, mal um se esforça pela perfeição espiritual, e dentre os que se esforçam e são bem sucedidos, mal um Me conhece em essência. (7.3)
Parece-nos que o terceiro verso joga água fria no buscador. Mas a intenção de Krishna não é nem um pouco parecida com isso. Krishna não apenas é todo Sabedoria, mas também todo Compaixão. Ele quer contar a Arjuna o que acontece de fato na maratona espiritual.
O Conhecimento supremo não é para aquele que possui curiosidade infantil, entusiasmo superficial, determinação fraca, devoção instável e entrega condicional. Qualquer uma dessas qualidades não divinas irá, sem falta, fazer o corredor interior fracassar.
O sexto e sétimo versos descrevem a relação que existe entre Sri Krishna e o universo. “Eu sou o princípio e o fim do universo. Sou a Fonte da criação e o local de dissolução. Além de Mim, nada existe. Tudo está entrelaçado em Mim, como pérolas num colar.” (7.6-7)
Quando nos concentramos em “Tudo está entrelaçado em Mim, como pérolas num colar,” imediatamente envisionamos o inigualável poeta Krishna.
São três as qualidades da natureza: sattva, rajas e tamas – harmonia, atividade e inatividade. Sri Krishna diz que essas três qualidades são Dele e estão Nele, mas Ele não está nelas.
Sattva é a principal das qualidades da natureza. Ela incorpora harmonia. Conheçamos a existência da harmonia em relação ao universo. Citemos Dryden:
Da harmonia, da harmonia Celestial
Esta Estrutura universal começou.
Da harmonia até a harmonia,
Por todo o compasso das notas, ela corre,
Com o diapasão soando pleno no Homem.
O possuidor da qualidade sáttvica tem certamente um coração de ouro. Ele sabe que sua vida possui uma significância própria. Seu alento é puro. Sua paciência, luminosa. Sua fortitude, inigualável. Sua certeza, infalível.
Rajas é a segunda qualidade. Um homem com a qualidade rájasica está sempre cheio de paixão dinâmica. Ele deseja possuir o mundo. Ele quer ser senhor do mundo. Ele praticamente não tem tempo para adentrar no mundo da iluminação interior. Sua vida acalenta apenas duas coisas: lutar e conquistar. Ele tem a possibilidade de se tornar um guerreiro divino ou ou guerreiro da completa falsidade. Ele possui a força para construir um templo da Verdade. Ele também tem a força para quebrá-lo e destrui-lo. Infelizmente, ele muitas vezes quebra e destrói o templo, por conta de sua visão sem luz e do elefante enlouquecido dentro de si.
Tamas é a terceira qualidade. É a preguiça, escuridão, ignorância, pecado e morte. Ela também é a desilusão mundana e a ilusão enganadora.
Sattva é a alma de visão clara.
Rajas é a vida frutífera ou infrutífera.
Tamas é a dança da morte.
Sattva se manifesta através da luz aspirante.
Rajas se manifesta através da força desejosa.
Tamas se manifesta através da noite escurecedora.
Um homem de virtude quer viver a verdade.
Um homem de ação deseja desfrutar do mundo.
Um homem de inatividade de nada desfruta. Pelo contrário, ele é desfrutado conscientemente pela escuridão, ignorância e morte.
Um homem de virtude possui uma amiga: a aspiração.
Um homem de atividade possui uma amiga: a inspiração.
Um homem de inatividade possui uma amiga: a ilusão.
Um homem de virtude tenta viver na verdade do presente, passado e futuro.
Um homem de ação quer viver no glorioso presente. Ele não dá muita atenção ao futuro.
Um homem de inatividade não vive no sentido direto da palavra. Ele dorme. Seus dias e noites são feitos de um sono sem luz.
O primeiro deseja se transcender devotadamente.
O segundo deseja se expandir forçosamente.
O terceiro se destrói inconscientemente.
Aqueles que trilham o caminho interior possuem quatro papéis distintos a realizar:
Arta, o deprimido, o aflito. A vida é uma cama de espinhos. Ele realizou essa verdade e clama pela transformação da vida. Ele deseja um leito de rosas. A dor é a sua dolorosa posse. Ele pode cantar com Francis Thomson:
Nada começa e nada termina
Que não seja pago com lamentos de dor;
Pois nascemos na dor dos outros
E perecemos nas nossas.
Jijñasu, o buscador, o investigador. O que ele busca é o conhecimento. O conhecimento nos diz porque um homem sofre, e mais. Já que o conhecimento incorpora poder, ele transforma o alento do sofrimento no alento do conhecimento vidente e instigador.
Artharthi, o buscador da riqueza verdadeira, a Verdade absoluta. Ele não possui tristeza. Ele não possui desejo terreno. Ele deseja viver na liberdade e libertação perpétua.
Jñani, o sábio. Aquele que é sábio conhece que o Supremo está em toda parte e que o Reino dos Céus está dentro de si. Ele vive no Supremo. Sua é a vida de unicidade com o Supremo. Seu é o mundo de verdadeira satisfação. Muitíssimo próxima é a intimidade entre ele e o Supremo.
Sri Krishna continua: “Nobres e bondosos todos eles são, mas eu considero o sábio, o iluminado, como minha alma escolhida e parte de Mim; somos completamente unos, absolutamente um. Quando a vida dele cumpriu o seu papel, quando a hora do silêncio bate à sua porta, Eu o coloco em Meu Coração, onde o Alento da Vida Eterna cresce.” (7.18-19)
O fim da hesitação! O fim do medo! O fim da confusão! O primeiro verso do sexto capítulo conta a Arjuna que o sannyasi e o yogi são um só. “Aquele que realiza seu dever sem expectativa do fruto da ação é, ao mesmo tempo, um sannyasi (sankhya-yogi) e um yogi (karma-yogi).” (6.1) Abstenção e dinamismo altruísta são iguais.
É desnecessário dizer que é a renúncia que une Sannyasa e Yoga. Essa renúncia é a renúncia do desejo e a renúncia da expectativa. A ação, ação correta, deve ser realizada. Ação não é limitação. Ação é aspiração. Ação é realização. O Gita exige a nossa liberdade da rígida limitação da ação, e não que deixemos de agir. A maligna limitação, que é nossa inimiga, está dentro de nós, e não fora. E o mesmo vale para a nossa amiga divina, a liberdade. Parece que estamos à mercê da nossa mente. Milton, em seu Paradise Lost, fala sobre a mente: “Ela (a mente) pode fazer do Céu um inferno, ou do inferno um Céu.” Mas um verdadeiro devoto pode facilmente transcender seu triste destino. Sua aspiração e rejeição o unem com a Vontade de Deus. Ele canta devotadamente:
Se ascendo ao Céu, Você está lá;
E lá também está Você, se faço meu leito no inferno.
Neste capítulo Sri Krishna utilizou as palavras ‘Yoga’ e ‘yogi’ pelo menos trinta vezes. Agora ele conta a Arjuna para quem o Yoga é destinado. “Arjuna, este Yoga não é para o epicuro, e nem para aquele que não come; não é para aquele que dorme demais, e nem para aquele que está constantemente acordado.”
Auto-indulgência e auto-mortificação são igualmente inadequadas. Para uma pessoa auto-indulgente, o Objetivo será sempre uma meta distante. Aquele que segue a filosofia de Charvaka[1] vive no mundo de indulgência, que nada é senão frustração. Essa frustração é a canção da destruição. O filósofo Charvaka declara:
A dor do inferno reside nos problemas que surgem com os inimigos, armas e doenças. Libertação (moksha) é a morte – a cessação do alento-vida.
Pelo contrário, a libertação é o alento-vida da alma humana. E esse alento-vida existia no nascimento da criação, está agora na criação e está também além da criação.
Já lidamos com a auto-indulgência. Agora foquemos nossa atenção na auto-mortificação. O Buda tentou auto-mortificação. E o que aconteceu? Ele descobriu a verdadeira verdade – que a auto-mortificação nunca poderia lhe trazer o que ele queria: a Iluminação. Assim, ele aceitou de bom grado o Caminho do Meio, a maneira dourada. Ele não aceitou a indulgência e nem a fome. Com essa sabedoria inigualável, o Buda alcançou a sua Meta.
A sinceridade reluzente de Arjuna fala por ele e também por nós. Yoga é equanimidade. Como pode a mente inquieta de um ser humano ser controlada? A mente é oscilante. Ela é rebelde como o vento. Krishna se identifica com o pobre nível de desenvolvimento de Arjuna. O consolo de Krishna é um outro nome para iluminação.
“Ó Arjuna, a mente é oscilante, certamente! Curvar a mente não é fácil. Mas a mente pode ser controlada por constante prática e renúncia.” (6.35)
O que deve ser praticado? A meditação. O que deve ser renunciado? A ignorância.
A firme convicção de Krishna, de que “Yoga pode ser alcançado através da prática”, (6.36) transforma nosso sonho dourado em Realidade tudo-preenchedora.
Prática é paciência. Não há atalho. “Paciência é a virtude dos asnos,” é o que ouvimos dos sabichões. O impaciente corcel ou o faminto tigre em nós imediatamente concordará com essa grande descoberta. Mas a reveladora paz e o preenchedor poder no aspirante o fazem sentir, de maneira clara e convincente, que a paciência é a luz da Verdade. A luz da Verdade é certamente a Meta.
Uma grande personalidade espiritual indiana, ao ser perguntada por seus discípulos sobre quantos anos de prática esforçada trouxeram a ela a Realização plena, simplesmente caiu na risada.
“Pratiquem! Minhas crianças, aquilo a que vocês chamam de prática nada é senão seu esforço pessoal. Quando eu estava no mesmo estágio que vocês, não realizada, eu pensava e sentia que meu esforço pessoal era noventa e nove por cento, e que a graça de Deus era um por cento, e não mais. Mas minha completa estupidez morreu no momento em que a auto-realização nasceu. Então, para minha surpresa, eu senti, vi e realizei que a Graça do meu misericordioso Senhor era noventa e nove porcento, e que o meu débil esforço pessoal era um por cento. Mas a minha história não termina aqui. Por fim, eu percebi que aquele meu um por cento também era o incondicional e devotado cuidado do meu Pai Supremo por mim. Minhas crianças, vocês sentem que a realização-Deus é uma corrida que exige muito esforço. Isso não é verdade. A realização-Deus é sempre uma Graça que vem das alturas.”
Do que realmente precisamos é paciência. Quando a impaciência nos ataca, nós podemos, no entanto, cantar com o poeta: “Você está tão longe – mas tateamos para alcançá-Lo.” Mas quando nossa consciência fica carregada de paciência, podemos cantar no mesmo fôlego com o mesmo poeta: “Você está tão próximo – mas não conseguimos agarrá-Lo.“
Não é incomum que vejamos mesmo um buscador muito honesto fracassar no caminho espiritual. Apesar do fato de que ele tinha fé e devoção em ampla medida, ele falha em completar sua jornada. Essa pergunta assombra o coração de Arjuna. Ele diz a Krishna: “Apesar de dotado de fé, um homem que fracassa em subjugar sua paixão, cuja mente se distancia do Yoga (no momento da morte) e que falha em atingir a perfeição, isso é, a realização-Deus, qual destino será o dele? Ele não se depara com a destruição, como uma nuvem partida? Ele fica sem ambos, realização-Deus e prazer-mundo. Seu destino o enganou no caminho do Yoga. Ele não tem lugar algum para ir. Ele não tem nada onde se sustentar.” (6.37-38)
Ora, o mundo interior não o aceita. O mundo exterior o rejeita e o condena. Ele está perdido, completamente perdido. Se é bem sucedido, ambos os mundos o abraçam e o adoram. Se fracassa, ele se torna objeto de impiedoso ridículo.
Antes de Sri Krishna iluminar a mente de Arjuna, chamemos Einstein. O imortal cientista declara:
“Se a minha teoria da relatividade for provada, a Alemanha irá me considerar um alemão, e a França declarará que eu sou um cidadão do mundo. Se minha teoria cair, a França dirá que eu sou alemão, e a Alemanha declarará que eu sou judeu.”
Retornando ao Professor e o aluno. O Professor ilumina a mente de seu aluno com os raios da consolação, esperança, inspiração e aspiração: “Ó Arjuna, não há fracasso para ele neste mundo ou no mundo além. O fatal destino maligno não é para aquele que faz o bem e se esforça pela auto-realização.” (6.40)
O Professor também diz que aquele que cai do caminho do Yoga nesta vida entra em um lar abençoado e santificado em sua próxima vida para continuar sua jornada espiritual.
Cada encarnação humana é tão somente um curto período, e nunca poderá determinar o fim da jornada eterna da alma. Ninguém consegue atingir a perfeição em uma vida. Todos devem passar por centenas ou milhares de encarnações até que alcancem a Perfeição Espiritual.
Um devoto sempre permanece no alento de seu doce Senhor. Para ele, não há queda verdadeira, não há destruição, não há morte. De que forma ele aparentemente fracassou, ou porque ele falhou, é apenas a história superficial. A história verdadeira será encontrada em sua sempre-alegre persistência, em sua vitória derradeira sobre a ignorância, em sua unicidade absoluta com o Supremo. Lembremos o significativo discurso de Jesus:
“Marta, eu sou a ressurreição e a vida; aquele que acredita em mim, apesar de morrer, viverá, e quem vive e acredita em mim nunca morrerá. Você acredita nisso?” Marta disse a Jesus: “Sim, Senhor, eu acredito.” (João 11:25-27)
Similarmente, junto com Arjuna, em toda sinceridade e devoção, podemos dizer ao Senhor Krishna: “Ó Krishna, eterno Piloto de nosso barco-vida, acreditamos em você. E vamos além. Krishna, você é a nossa eterna jornada. Você é a nossa Meta Transcendental.” (cf. 10.12)
[1] Charvaka foi um antigo filósofo indiano, cujas visões são conhecidas apenas pelas polêmicas e rejeições das outras escolas (em particular budistas e jainistas). Seu sistema, o Lokayata, era o único sistema materialista na Índia em toda a sua longa história e nunca alcançou qualquer importância especial. Seus seguidores são muitas vezes caracterizados como “aqueles que acreditam que o corpo seja o Eu (dehatmavadina).”
Comparação era o prato do dia. E ainda é. Talvez sempre seja, especialmente no campo da manifestação. Renúncia e ação altruísta agora são comparadas. Tal foi o pedido de Arjuna.
“Você valoriza ambas, Ó Krishna, renúncia e ação. Diga-me, decisivamente e de uma vez por todas, qual delas é a melhor.” (5.1)
A resposta imediata de Sri Krishna é: “Ambas levam à Bem-aventurança suprema, mas a ação é mais fácil, a ação é superior.” (5.2)
O divino Professor torna claro, no entanto, que a renúncia não pode ser alcançada num piscar de olhos. E alcançar o fruto da renúncia sem ação altruísta é quase impossível.
Yoga é ação liberta da separatividade. A percepção da separação é a morte da renúncia. Ação realizada com um sentimento de unicidade universal é o nascimento glorioso da renúncia.
Duas escolas. Uma escola ensina a renúncia de toda ação. A outra escola ensina o agir, a ação correta. Uma escola diz: “Pare de fazer qualquer coisa.” A outra escola diz: “Comece a fazer todas as coisas.” Ora! Uma vez que a mensagem do Gita não foi inteiramente compreendida na Índia, esse país possui muitos ascetas áridos e homens de ação não-iluminados.
A partir da ação, a ação surge. A ação em si não pode extinguir a ação. A ação é contínua. A ação é perpétua. Não importa o quão duramente trabalhemos, o quão longamente trabalhemos, a mera ação nunca poderá nos mostrar a Face do Supremo. O verdadeiro karma yogi é aquele que trabalha para o Supremo e para o Supremo apenas. De fato, o karma yogi é também o maior renunciante, pois ele nada busca, nada rejeita. Gostar e desgostar para ele possuem igual importância. A seu alto comando estão todos os pares de opostos. Eles existem para afirmá-lo, satisfazê-lo, coroá-lo com vitória interior e exterior.
Os ensinamentos de Krishna almejam uma Meta, a Bem-aventurança suprema. Temperamentos humanos estão fadados a diferir. Seres humanos possuem variadas tendências e inclinações. Tal sendo o caso, é difícil para Arjuna aferir o mais imediato e direto caminho.
Ação e renúncia são idênticas. A ação é a árvore. A renúncia é o fruto. Não é possível que um seja maior do que o outro. A árvore e o fruto crescem no regaço da Infinidade, para serem amados pela Eternidade e abraçados pela Imortalidade.
A liberdade existe? Caso exista, onde está? A liberdade existe. Ela vive na nossa entrega consciente à Vontade do Divino. Nossa entrega sem reservas é a nossa unicidade infalível com o Supremo. Já que o Supremo é a Liberdade infinita, nós, em essência, não podemos ser diferentes.
Foi Marlowe quem disse:
Não está sob nosso poder amar ou odiar,
Pois, em nós, a vontade é sobrepujada pelo destino.
Isso é verdade apenas quando o nosso destino é determinado pelos ditados extremamente limitados do ego. Nosso destino assim deplorável passa por uma transformação radical – total limitação é transformada em ilimitada liberdade – quando nós, com nossa sempre-ascendente chama-aspiração, vivemos na ilimitada e todo-poderosa vontade da alma. O que possuímos dentro e o que enxergamos fora é a consciência da liberdade que evolui, expande e irradia. Não importa que tipo de liberdade ela nos traz, física ou espiritual, pois essa liberdade não é apenas para transcender a limitação ou mesmo substituir a limitação, mas sim transformar o próprio alento da limitação na Imortalidade da liberdade. E isso é liberdade, sem aspas, como uma figura mundialmente famosa comentou.
O serviço pode fazer muitas coisas por nós. Primeiro de tudo, devemos saber que o serviço realizado em um espírito divino é a maior oportunidade que temos em nossas mãos para aniquilar nosso orgulho e vaidade e apagar a marca do ego. É no serviço dedicado que vemos a harmonia universal, onde nos tornamos a consciência universal.
Nossa vontade se torna a Vontade de Deus. Aquilo que chamamos de serviço nada é, senão a satisfação da Vontade Divina. Aqui na terra, um possui a capacidade, e outro possui a necessidade. A capacidade e a necessidade devem seguir juntos. Quando a capacidade é oferecida, não apenas a necessidade é satisfeita, mas também a capacidade é reconhecida e valorizada. A capacidade, por si só, recebe apenas satisfação parcial. Mas, quando a capacidade e a necessidade correm juntas, a plena satisfação floresce.
“De cada um de acordo com suas habilidades, e para cada um de acordo com suas necessidades.” No nosso dia-a-dia, essa verdade é muito aplicável.
Deus tem de ocupar a mente. E, nesse estado de divina concentração, deve-se servir a humanidade. Nesse exato momento, o serviço em si se torna a maior recompensa. Apesar de a meditação e o serviço constituirem abordagens completamente diferentes no campo da espiritualidade, o trabalho e o serviço dedicado nada são, senão pura meditação.
Krishna agora nos conta sobre prazer e dor. “O prazer dos sentidos acaba em dor. Por isso, o prazer dos sentidos é evitado pelo sábio. Constante auto-controle é a verdadeira e perpétua felicidade.” (5.22-23)
Com auto-controle continuado, a auto-mestria desperta. A existência mundo e a atividade-mundo estão sob o comando da auto-mestria. A maneira mais fácil de obter auto-controle é escolher o caminho da auto-consagração. A auto-consagração é sempre abençoada pela iluminação da alma. As turbulentas forças dos nossos sentidos devem se curvar à iluminação da alma. Aquele que possui iluminação interior sabe que sua existência na terra é a incorporação de Deus e que suas ações são expressões de Deus. Ele sente que nunca é o agente. Ele é apenas um instrumento.
Agora aprendemos com o Gita o que é o corpo. “O corpo é uma cidade dentro de nove portões.” (5.13)
Citando Wesley La Violette, em “An Immortal Song” (O Bhagavad Gita):
O corpo é uma cidade com muitos portões,
onde a mente soberana pode descansar em paz.
Dentro dessa cidade está o sagrado Templo do Espírito,
Mente, onde não há desejo
por ação, nem causa motivadora,
mas ainda assim sempre com a alegria e diposição
para cumprir o Dever, quando ele chama. (5.13-14)
É verdade que o corpo possui um templo sagrado. Igualmente verdade é que o próprio corpo é sagrado. A poderosa asserção de Whitman deve ser recebida com gratidão: “Se alguma coisa é sagrada, então o corpo humano é sagrado.”
Hoje, o corpo é um obstáculo insuperável. Amanhã, esse mesmo corpo poderá ser e será o orgulho da Divindade, pois em e através do corpo Deus mostra ao mundo com o que Ele se parece, o que Ele faz e o que Ele é.
Ao final deste capítulo, Sri Krishna diz firmemente que a sensualidade deve ser evitada completamente, para que o homem viva e possua a Divindade totalmente. As paixões-tigre devem ser superadas. O aspirante tem de concentrar-se constantemente em seu Libertador. Certamente, apenas para ele é a Meta, a salvação inigualável.
Livro Bhagavad Gita – capítulo 2 – o Yoga do Conhecimento
Este capítulo chama-se Sankhya Yoga – “O Yoga do Conhecimento.” Os argumentos de Arjuna contra a guerra eram bastante plausíveis ao nosso entendimento humano. Sri Krishna leu o coração de Arjuna. A confusão corria solta na mente de Arjuna. Ele via o sentimento afeminado em seu sangue Kshatriya como um amor pela humanidade. Mas a Arjuna nunca faltava sinceridade. Sua boca disse o que seu coração sentia. Infelizmente, a sua sinceridade abrigava, inconscientemente, ignorância. Krishna queria iluminar Arjuna. “Ó Arjuna, em sua fala você é um filósofo, mas em sua ação você não o é. Um filósofo verdadeiro não fica de luto nem pelos vivos e nem pelos mortos. Mas, Arjuna, você está triste e preocupado. Conte-me, por que você teme a possível morte desses homens? Você existia, eu existi, e eles também. Nunca deixaremos de existir.” (2.11-12)
Acabamos de mencionar a filosofia de Arjuna. Nas mesmas condições, nós não estaríamos em situação diferente. A filosofia verdadeira é muito difícil de se estudar, mais difícil para se aprender e dificílima de se viver.
A palavra em sânscrito para filosofia é darshan, que quer dizer “ver, envisionar”. O comentário significativo de Sri Ramakrishna é: “No passado, as pessoas tinham visões (darshan); agora as pessoas estudam darshan (filosofia)!”
Igualmente relevante é a mensagem do Antigo Testamento: “Seus velhos homens sonharão sonhos; seus jovens homens terão visões.” (Joel 3:1)
Arjuna, pela primeira vez, aprendeu com Sri Krishna que a sua crença, no que trata sobre vida e morte, não estava fundada na verdade. Ele se sentiu distraído por ilusões. Ele rezou a Sri Krishna por iluminação. “Eu sou o seu humilde discípulo. Ensine-me, diga-me o que é melhor para mim.” (2.7) Pela primeira vez a palavra discípulo brotou dos lábios de Arjuna.
Até então Sri Krishna tinha sido seu amigo e colega. O discípulo aprendeu que “a Realidade que permeia o universo é a Vida imortal. O corpo é perecível; a alma, o real no homem, ou o homem real, é imorredoura, imortal. A alma não mata e nem morre. O conhecedor dessa verdade não mata e nem causa matança.” (2.17-21)
Arjuna tinha de lutar a batalha da vida, e não a dita Batalha de Kurukshetra. Ele tinha força. Faltava-lhe sabedoria. A consciência semi-luminosa da mente física, ele tinha. Da consciência sol-luminosa da divindade da alma, ele precisava.
Sri Krishna usou os termos ‘nascimento’, ‘vida’ e ‘morte’. Nascimento é a passagem da alma de um corpo mais baixo a um corpo mais elevado no processo de evolução, na jornada de reencarnação da alma. O sistema Sankhya afirma a absoluta identidade de causa e efeito. A causa é o efeito, silenciosa e secretamente involuído, e o efeito é a causa, ativa e abertamente evoluída. A evolução, de acordo com a filosofia Sankhya, nunca vem a partir do nada, do zero. O aparecimento do “é” só pode surgir da existência do “foi”. Preenchamos nossas mentes com o ditado imortal de Wordsworth, em ‘Intimations of Immortality’:
Nosso nascimento é tão somente um sono e um esquecer:
A Alma que ascende em nós, a Estrela da nossa vida
Teve em outro lugar o seu poente
E vem de longe:
Não em completo esquecimento,
Não em completa nudez,
Mas deixando rastros de glória nós viemos
De Deus, que é o nosso lar.
Aqui o poeta nos carrega para dentro do mistério da viagem eterna da alma e nos lembra da Fonte perene.
O que é vida? É a única oportunidade para manifestar e satisfazer o Divino aqui na Terra. Quando a vida começa a sua jornada, a Infinidade a cumprimenta. Quando a jornada é metade cumprida, a Eternidade a cumprimenta. Quando a jornada da vida é completa, a Imortalidade a cumprimenta. A vida vive a vida de perfeição quando ela vive na espiritualidade. Quando a vida vive na espiritualidade, que é o alento de Deus, ela fica muita acima do chamado da moralidade e das exigências do dever.
Deus diz à vida humana: “Levante, acorde, aspire! A meta é sua.” A vida humana diz a Deus: “Espere, estou descansando. Estou dormindo. Estou sonhando.” De repente, a vida fica envergonhada da sua conduta. Chorando, ela diz: “Pai, estou indo.” Soluçando, ela diz: “Pai, estou chegando.” Sorrindo, ela diz: “Pai, cheguei.”
A vida – o problema – pode ser solucionada pela alma – a solução. Mas, para isso, é necessário estar interiormente desperto.
Aquele que vive a vida interior sabe que a morte é apenas um quarto para descanso. Para ele, a morte é qualquer coisa, menos extinção. É uma despedida significativa. Quando nossa consciência é divinamente transformada, a necessidade da morte não surge. Para transformar a vida, necessitamos de Paz, Luz, Deleite e Poder. Nós clamamos por essas qualidades divinas. Elas clamam pela nossa aspiração, igualmente ansiosas para nos conceder a vida inesgotável. Mas, até que nosso corpo, vital, mente, coração e alma aspirem juntos, o poder, luz, deleite e paz divinos não poderão nos possuir.
O corpo tem morte, mas não a alma. O corpo dorme; a alma voa. Relembremos as palavras alma-comoventes deste capítudo do Gita sobre a morte e a alma. “Assim como um homem descarta roupas velhas em troca de novas, também o habitante do corpo, a alma, deixando para trás os corpos desgastados, entra em novos corpos. A alma migra de um corpo ao outro. Armas não podem parti-la, o fogo não pode consumi-la, a água não pode encharcá-la e nem o vento secá-la.” (2.22-23) Isso é a alma e isso é o que se diz da existência da alma. Seria-nos bom conselho observar a existência da morte, se é que há alguma, nas densas palavras de Sri Aurobindo, o fundador do Yoga Integral. “A morte,” ele exclama, “não possui existência própria. Ela é resultado do princípio do decaimento no corpo, e esse princípio é latente – ele é parte da natureza física. Ao mesmo tempo, ela não é inevitável. Se alguém tem a consciência e força necessárias, decaimento e morte não são inevitáveis.”*
* Sri Aurobindo, Letters on Yoga, vol. 3, Pondicherry, 1971, p. 1230.
Aquilo a que chamamos de morte nada é senão ignorância. Podemos solucionar o problema da morte apenas quando sabemos o que é a vida. A vida é eterna. Ela existiu antes do nascimento e ela existirá após a morte. A vida também existe entre o nascimento e a morte. Ela está além do nascimento e morte. A vida é infinita. A vida é imortal. Um buscador da Verdade infinita não assina a declaração de Schopenhauer: “Desejar imortalidade é desejar a perpetuação de um grande engano.” Não há sombra de dúvida de que é o buscador incessante dentro do homem quem é a vida da Imortalidade, pois sua própria existência indica a Visão do Supremo, que ilumina o universo, e a Realidade do Supremo, que preenche a criação.
Arjuna, o discípulo, aprende também o seguinte: “Cumpra o seu dever. Não vacile. Não tenha um coração fraco. Você é um kshatriya. Não pode haver um convite melhor para um ksatriya do que uma guerra justa.” (2.31)
O dever de um ksatriya (guerreiro) nunca será o dever de um asceta. Um asceta não deve realizar o dever de um kshatriya. O kshatriya, igualmente, não deve seguir o caminho do mundo-renunciante. A imitação não é para o buscador. Aprendemos com Emerson que “imitação é suicídio.”
O dever de um guerreiro é lutar, lutar pelo estabelecimento da verdade. “Na vitória, o mundo inteiro será seu; na morte, as portas do paraíso o receberão.” (2.37)
Sri Krishna desvelou o caminho de sankhya (conhecimento) para Arjuna: “Arjuna, encare a vitória e a derrota, alegria e tristeza, ganho e perda como iguais. Não se importe com elas. Apenas lute! Lutando assim, não cometerá pecado algum.” (2.38)
O Professor revelou o caminho do conhecimento (sankhya). Agora, ele quer ensinar ao aluno o caminho da ação (karma yoga). Arjuna, surpreendentemente, aprendeu que esse caminho, o caminho da ação, o segundo caminho, é frutífero e lhe trará libertação. A sublime verdade é que “a ação é o seu dever nato, e não o resultado e nem os frutos da ação. Que os frutos não sejam o seu objeto, e que você não seja apegado à inação. Seja ativo e dinâmico, e não procure qualquer recompensa.” (2.47) Podemos simultaneamente atiçar a chama da nossa consciência com a sabedoria do Isha Upanishad: “A ação não se prende ao homem.” (Ishopanishad 2)
Já usamos o termo ‘yoga’. O que é yoga? “Equanimidade,” diz Sri Krishna, “é yoga.” (2.48) Ele também diz: “Yoga é sabedoria habilidosa em ação.” (2.50)
O progresso interior de Arjuna é notável. Ele agora sente a necessidade de se libertar da vida-desejo. Sri Krishna lhe ensina como se desapegar totalmente da vida-limitação dos sentidos, assim como uma tartaruga recolhe todas as suas patas para dentro do casco. A retração-dos-sentidos ou a retração dos objetos sensuais, no entanto, não indica o final da jornada do homem. “A mera retração não consegue por um fim ao nascimento do desejo. O desejo desaparece apenas quando o Supremo aparece. Em Sua Presença, a vida-desejo perde a existência. Não antes.” (2.59)
Este segundo capítulo lança considerável luz sobre sankhya (conhecimento) e yoga (ação). Sankhya e yoga nunca estão em oposição. Um é conhecimento meditativo desapegado, e o outro é ação dedicada e altruísta. A vida de prazer animal deve abandonar seu alento vivente e ardente na toda-preenchedora vida do Deleite divino.
O Katha Upanishad declara os degraus da escada sempre-ascendente.
Mais elevados do que os sentidos são os objetos dos sentidos;
Mais elevada do que os objetos dos sentidos é a mente;
Mais elevado do que a mente é o intelecto;
Mais elevado do que o intelecto é o Eu;
Mais elevado do que o Eu é o Imanifesto,
Mais elevado do que o Imanifesto é o Supremo personificado,
E o Supremo é o Altíssimo, a Meta Derradeira.
(Kathopanishad 1.3.10-11)
Já vimos o que acontece quando nos elevamos. Agora vejamos o que acontece quando vivenciamos os objetos-sentidos. O Gita nos diz: “Viver nos objetos-sentidos dá a luz ao apego, e o apego dá a luz ao desejo. O desejo (insatisfeito) traz ao mundo a vida de raiva. Da raiva, surge a desilusão, e da desilusão, a confusão da memória. Na confusão da memória, a sabedoria racional é perdida. Quando a sabedoria não é vista, o que há é destruição – dentro, fora, abaixo e acima.” (2.62-63)
A dança da destruição acabou. Ansiemos pela salvação. Apenas o aspirante disciplinado, auto-controlado, será abençoado pela enxurrada de paz. Por fim, o aspirante será abraçado pela salvação, a iluminação interior.
Aqui escolhi alguns trechos dos escritos de Sri Aurobindo relacionados à meditação, todos em inglês, disponíveis em PDF no site Sri Aurobindo Ashram. Sri Chinmoy cresceu no Ashram de Sri Aurobindo.
Meditation
What exactly is meant by meditation in Yoga? And what should be its objects?
The difficulty our correspondent finds is in an apparent conflict
of authorities, as sometimes meditation is recommended in the
form of a concentrated succession of thoughts on a single subject, sometimes in the exclusive concentration of the mind on a
single image, word or idea, a fixed contemplation rather than
meditation. The choice between these two methods and others,
for there are others, depends on the object we have in view in
Yoga.
The thinking mind is the one instrument we possess at
present by which we can arrive at a conscious self-organisation
of our internal existence. But in most men thought is a confused drift of ideas, sensations and impressions which arrange
themselves as best they can under the stress of a succession of
immediate interests and utilities. In accordance with the general
method of Nature much is used as waste material and only a
small portion selected for definite and abiding formations. And
as in physical Nature, so here the whole process is governed by
laws which we rather suffer than use or control.
The concentration of thought is used by the Rajayogins to
gain freedom and control over the workings of mind, just as the
processes of governed respiration and fixed posture are used by
the Hathayogins to gain freedom and control over the workings
of the body and the vital functions.
By meditation we correct the restless wandering of the mind
and train it like an athlete to economise all its energies and fix
them on the attainment of some desirable knowledge or selfdiscipline. This is done normally by men in ordinary life, but
Yoga takes this higher working of Nature and carries it to its
full possibilities. It takes note of the fact that by fixing the mind
luminously on a single object of thought, we awaken a response
in general Consciousness which proceeds to satisfy the mind by
pouring into it knowledge about that object or even reveals to
us its central or its essential truth. We awaken also a response
of Power which gives us in various ways an increasing mastery
over the workings of that on which we meditate or enables us to
create it and make it active in ourselves. Thus by fixing the mind
on the idea of Divine Love, we can come to the knowledge of
that principle and its workings, put ourselves into communion
with it, create it in ourselves and impose its law on the heart and
the senses.
In Yoga concentration is used also for another object, —
to retire from the waking state, which is a limited and superficial condition of our consciousness, into the depths of our
being measured by various states of Samadhi. For this process
contemplation of the single object, idea or name is more powerful than the succession of concentrated thoughts. The latter,
however, is capable, by bringing us into indirect but waking
communion with the deeper states of being, of preparing an
integral Samadhi. Its characteristic utility, however, is the luminous activity of formative thought brought under the control
of the Purusha by which the rest of the consciousness is governed, filled with higher and wider ideas, changed rapidly into
the mould of those ideas and so perfected. Other and greater
utilities lie beyond, but they belong to a later stage of selfdevelopment.
In the Yoga of Devotion, both processes are equally used
to concentrate the whole being or to saturate the whole nature with thoughts of the object of devotion, its forms, its
essence, its attributes and the joys of adoration and union.
Thought is then made the servant of Love, a preparer of
Beatitude. In the Yoga of Knowledge meditation is similarly
used for discrimination of the True from the apparent, the
Self from its forms, and concentrated contemplation for communion and entry of the individual consciousness into the
Brahman.
An integral Yoga would harmonise all these aims. It would
have also at its disposal other processes for the utilisation of
thought and the mastery of the mind
Essays in Philosophy and Yoga
The other source of my philosophy was the knowledge that flowed from above when I sat in
meditation, especially from the level of the Higher Mind when
I reached that level. . . . This source was exceedingly catholic
and many-sided and all sorts of ideas came in which might
have belonged to conflicting philosophies but they were here
reconciled in a large synthetic whole.
The Life Divine
No doubt the true and strong aspiration is needed, but it is not
a fact that the true thing is not there in you. If it had not been,
the Force could not have worked in you. But this true thing
was seated in the psychic and in the heart and whenever these
were active in the meditation it showed itself. But for the sake of
completeness the working had to come down into the physical
consciousness and establish the quietude and the openness there.
The physical consciousness is always in everybody in its own
nature a little inert and in it a constant strong aspiration is not
natural, it has to be created. But first there must be the opening,
a purification, a fixed quietude, otherwise the physical vital will
turn the strong aspiration into over-eagerness and impatience
or rather it will try to give it that turn. Do not therefore be
troubled if the state of the nature seems to you to be too neutral
and quiet, not enough aspiration and movement in it. This is a
passage necessary for the progress and the rest will come.
Especially in the beginning the one great necessity is to get the
mind quiet, reject at the time of meditation all thoughts and
movements that are foreign to the sadhana. In the quiet mind
there will be a progressive preparation for the experience. But
you must not become impatient if all is not done at once; it takes
time to bring entire quiet into the mind; you have to go on till
the consciousness is ready.
Letters On Yoga
In the Gita we have a process which is not the process of
Raja-Yoga. It seeks a short cut to the common aim and goes
straight to the stillness of the mind. After putting away desire
and fear the Yogin sits down and performs upon his thoughts
a process of reining in by which they get accustomed to an
inward motion. Instead of allowing the mind to flow outward,
he compels it to rise and fall within, and if he sees, hears, feels
or smells outward objects he pays no attention to them and
draws the mind always inward. This process he pursues until
the mind ceases to send up thoughts connected with outward
things. The result is that fresh thoughts do not accumulate in
the chitta at the time of meditation, but only the old ones rise.
If the process be farther pursued by rejecting these thoughts as
they rise in the mind, in other words by dissociating the thinker
from the mind, the operator from the machine and refusing to
sanction the continuance of the machine’s activity, the result is
perfect stillness. This can be done if the thinker whose interest
is necessary to the mind, refuses to be interested and becomes
passive. The mind goes on for a while by its own impetus just
as a locomotive does when the steam is shut off, but a time
must come when it will slow down and stop altogether. This
is the moment towards which the process moves. Na kinchid
api chintayet: — the Yogin should not think of anything at all.
Blank cessation of mental activity is aimed at leaving only the
sakshi, the witness watching for results. If at this moment the
Yogin entrusts himself to the guidance of the universal Teacher
within himself, Yoga will fulfil itself without any farther effort
on his part. The passivity will be confirmed, the higher faculties
will awake and the cosmic Force passing down from the vijnana
through the supermind will take charge of the whole machine
and direct its workings as the Infinite Lord of All may choose.
Essays Divine and Human
The awakening of illumination was actively effected by the triple method of
repetition, meditation and discussion. Avr¯ . tti or repetition was
meant to fill the recording part of the mind with the sabda´
or word, so that the artha or meaning might of itself rise from
within. Needless to say, a mechanical repetition was not likely to
produce this effect. There must be that clear still receptivity and
that waiting upon the word or thing with the contemplative part
of the mind which is what the ancient Indians meant by dhyana¯
or meditation. All of us have felt, when studying a language,
difficulties which seemed insoluble while grappling with a text,
suddenly melt away and a clear understanding arise without assistance from book or teacher after putting away the book from
our mind for a brief period. Many of us have experienced also,
the strangeness of taking up a language or subject, after a brief
discontinuance, to find that we understand it much better than
when we took it up, know the meanings of words we had never
met with before and can explain sentences which, before we
discontinued the study, would have baffled our understanding.
This is because the jn˜at¯ a¯ or knower within has had his attention
called to the subject and has been busy in the interval drawing
upon the source of knowledge within in connection with it. This
experience is only possible to those whose sattwic or illuminative element has been powerfully aroused or consciously or
unconsciously trained to action by the habit of intellectual clarity
and deep study. The highest reach of the sattwic development is
when one can dispense often or habitually with outside aids, the
teacher or the text book, grammar and dictionary and learn a
subject largely or wholly from within. But this is only possible to
the Yogin by a successful prosecution of the discipline of Yoga.
Muitas vezes as pessoas me perguntam se devem meditar de olhos abertos. Em noventa por cento dos casos, aqueles que mantêm os olhos fechados durante a meditação acabam dormindo; conseguem meditar por cinco minutos, e durante quinze, ficam no mundo do sono. Não há energia dinâmica, mas sim letargia, complacência e uma espécie de sensação doce, repousante.
Ao manter seus olhos fechados durante a meditação e entrar no mundo do sono, você pode ficar entretido com todos os tipos de fantasia. Sua imaginação fértil pode fazê-lo sentir que está entrando nos mundos mais elevados. Existem muitas maneiras de acreditar que está tendo uma meditação maravilhosa. Assim, é melhor meditar com os olhos semiabertos. Desse modo, você ficará na raiz e no ramo mais alto ao mesmo tempo. A parte que tem os olhos meio abertos é a raiz, simbolizando a Mãe-Terra. A parte que tem os olhos meio fechados é o ramo mais alto, o mundo da visão ou, digamos, o Céu. Sua consciência estará no nível mais elevado, mas também aqui na Terra, tentando transformar o mundo.
Quando medita com os olhos semiabertos, você está praticando o que é chamado de “meditação do leão”. Mesmo se estiver profundamente mergulhado em si mesmo, você focará a sua atenção consciente tanto no plano físico quanto no subconsciente. Tanto o mundo físico, com seus ruídos e distrações, como o mundo subconsciente, o mundo do sono, o estão convidando. Entretanto, você está vencendo os dois. Você está dizendo: “Estou atento. Vocês não podem me levar para os seus domínios”. Já que os seus olhos estão parcialmente abertos, você não vai dormir. Portanto, você está desafiando o mundo do subconsciente. Ao mesmo tempo, está controlando o plano físico, porque pode ver o que está acontecendo ao seu redor.
Meditação de olhos abertos, fechados ou entreabertos?
Comentário por Patanga Cordeiro
Olhos abertos, sempre! (Na verdade, entreabertos)
Essa é uma pergunta muito comum mesmo. Costumo ouvir essa pergunta mais ou menos umas duas ou três vezes por mês, de uma forma ou de outra. Quando você for aprender a tocar um instrumento musical, a postura das mãos pode ser incômoda, mas logo se acostumará e se tornará um bom músico. Se começar errado, o seu progresso irá obstar em algum momento e você terá que recomeçar com a posição correta. Por isso, a meditação se faz sempre de olhos abertos!
Por que não meditar de olhos fechados?
Porque se fechar os olhos, o seu corpo pensa que é hora de relaxar, dormir ou divagar. Meditação é para você elevar a sua consciência, crescer em percepção de uma realidade na qual não prestamos atenção diariamente. Dormir, relaxar ou divagar é o processo inverso.
Por que meditar de olhos abertos? (na verdade, entreabertos)
De olhos abertos, você consegue enxergar o seu ambiente. Assim, sabe que está desperto, ativo. O que não quer dizer que vai ficar pensando nas mesmas coisas do seu dia.
Repare nas estátuas do Buda e na foto de Mestres espirituais modernos… todos de olhos entreabertos em meditação.
E porque deixá-los entreabertos?
Com os olhos todo abertos, fica mais difícil piscar sem perder a concentração, além de que você enxerga bastante do ambiente. Com os olhos entreabertos, seu rosto fica mais relaxado, e menos informação chega até você. Ainda assim, você está alerta. Essa é a melhor posição dos olhos para meditar. Uma dica é não forçar os olhos para deixa-los entreabertos. Apenas relaxe as pálpebras, e o que for natural provavelmente será ideal. Algumas pessoas ficam com os olhos quase fechados, e outras quase abertos. O que for natural para você provavelmente será ideal.
Exercícios de meditação com olhos abertos
Do livro Meditação, de Sri Chinmoy
O ponto. Se você quiser desenvolver o poder de concentração, pode tentar este exercício. Primeiro, lave bem o rosto e os olhos com água fria. Então desenhe um ponto preto na parede, na altura dos olhos. Encare o ponto, mais ou menos a uns trinta centímetros de distância, e concentre-se nele. Após alguns minutos, tente sentir que, ao inspirar, na verdade, a sua respiração está vindo do ponto, e que ele também está inspirando, recebendo a respiração de você. Tente sentir que existem duas pessoas: você e o ponto preto. Sua respiração está vindo do ponto e a respiração dele está vindo de você.
Em dez minutos, se a sua concentração for muito poderosa, você sentirá que a sua alma o deixou e entrou no ponto preto da parede. Nesse momento, tente sentir que você e a sua alma estão conversando. Sua alma o está levando para o mundo dela, para a realização, e você está trazendo a alma para o mundo físico, para a manifestação. Desse modo você poderá desenvolver o seu poder de concentração com muita facilidade. Contudo, esse método precisa ser praticado. Há muitas coisas que são bem fáceis quando praticadas. Entretanto, por não as praticarmos, não conseguimos o resultado.
Visão e realidade. Outro exercício que você pode tentar é o seguinte: primeiro, faça um círculo bem pequeno na parede, na altura dos olhos. Dentro dele, desenhe um ponto preto. Ele deve ser preto; nem azul, nem vermelho, nem de qualquer outra cor. Então encare a parede, a cerca de um metro de distância, e focalize a sua atenção no círculo. Seus olhos devem ficar relaxados e semiabertos. Deixe que a força de sua concentração venha do meio da sua testa. Depois de três ou quatro minutos, abra totalmente os olhos e tente sentir que, da cabeça aos pés, você é todo olhos. Toda a sua existência física nada mais é senão visão, e essa visão está focalizada no ponto dentro do círculo. Então comece a fazer com que o objeto de sua concentração se torne cada vez menor. Após alguns segundos, tente sentir que o seu corpo inteiro se tornou tão pequeno quanto o ponto na parede. Tente sentir que o ponto é uma outra parte de você. Então entre no ponto, atravesse-o e vá até o outro lado. Do outro lado do ponto, olhe para trás e veja o seu próprio corpo. Seu corpo físico está de um lado. Entretanto, com a força da sua concentração, você enviou o seu corpo sutil para o outro lado do ponto. Por meio do seu corpo sutil, você está vendo o seu corpo físico. E, por meio do seu corpo físico, você está vendo o seu corpo sutil.
Quando começou a se concentrar, o seu corpo físico se transformou totalmente em visão. Nesse momento, o ponto era a sua realidade. Quando você entrou no ponto, a visão e a realidade tornaram-se uma só coisa. Você era a visão e também a realidade. Mas, ao olhar para si mesmo a partir do ponto, o processo foi invertido. Nesse momento você se transformou na visão externa de si mesmo, e o lugar ao qual retornou – o seu corpo – era a realidade. Assim a visão e a realidade tornaram-se uma só coisa novamente. Quando você pode enxergar a visão e a realidade desse modo, a sua concentração é totalmente perfeita. Quando o seu poder de concentração puder levá-lo para o outro lado do ponto – que você chamava de realidade – toda a sua existência estará muito além da visão e da realidade. E, ao sentir que transcendeu as a sua visão e a sua realidade, você terá poder ilimitado.
Se você for um discípulo meu, ao se concentrar no ponto preto dentro do círculo, poderá tentar ver o seu próprio ser ali – a sua face de aspiração. Sinta que você existe só ali e em nenhum outro lugar. Então procure sentir que a sua existência, a sua face, a sua consciência – tudo – foi substituído pela minha. Uma vez que sinta que a toda a sua existência anterior foi completamente substituída pela minha, terá estabelecido a sua unicidade inseparável comigo, e certamente a minha força de vontade entrará na sua vida.
A flor interior. Para este exercício, você precisará de uma flor. Com os olhos semi-abertos, olhe para a flor inteira por alguns segundos. Enquanto estiver se concentrando, tente sentir que você mesmo é a flor. Ao mesmo tempo, tente sentir que ela está crescendo nos recônditos mais profundos do seu coração. Sinta que você é a flor, e que está crescendo dentro do seu coração.
Gradualmente tente se concentrar numa única pétala. Sinta que a pétala que você escolheu é a forma-semente da sua existência-realidade. Depois de alguns minutos, concentre-se na flor inteira de novo, e sinta que ela é a Realidade Universal. Desse modo, siga de uma coisa para a outra, primeiro se concentrando na pétala – a forma-semente da sua realidade – e então na flor inteira – a Realidade Universal. Enquanto estiver fazendo isso, não permita que nenhum pensamento entre na sua mente. Procure deixá-la totalmente calma, silenciosa e tranquila.
Depois de algum tempo, feche os olhos e tente ver a flor em que estava se concentrando dentro do seu coração. Da mesma maneira que você se concentrou na flor física, concentre-se na flor dentro do seu coração, com os olhos fechados.
A vastidão do céu. Mantenha os olhos semiabertos e imagine o vasto céu. No começo, tente sentir que o céu está diante de você. Mais tarde, tente sentir que você é tão vasto quanto o céu ou que é a próprio vasto céu.
Depois de alguns minutos, feche os olhos e tente ver e sentir o céu dentro do seu coração. Sinta que você é o coração universal, e que dentro de si mesmo está o céu no qual meditou e com o qual se identificou. O seu coração espiritual é infinitamente mais vasto do que o céu. Portanto, você pode facilmente abrigar o firmamento dentro de si.
Aum é uma sílaba com um significado e poder criativo especiais. O Aum é a mãe de todos os mantras. Quando entoamos AUM, o que acontece é que trazemos Paz e Luz das alturas e criamos uma harmonia universal dentro e fora de nós. Quando repetimos AUM, nossos seres interior e exterior ficam inspirados e carregados de Luz divina e aspiração. AUM é inigualável. AUM possui um poder infinito. Podemos realizar Deus simplesmente repetindo AUM.
Aspiração
Aspiração é uma sede interior pelo Amor, Luz e Deleite de Deus. A aspiração é um choro interior. Chore, chore como uma criança, a partir dos mais íntimos recessos do seu coração. Não há oração que não seja atendida, meditação que não seja satisfeita, se você chorar sinceramente. A aspiração é o clamor ascendente da sua alma por alcançar o Altíssimo e trazer o Altíssimo para a consciência da Terra.
Chakras
Há três canais principais por onde a energia-vida passa. Esses canais se cruzam em seis lugares. Cada ponto de encontro forma um centro. Cada centro tem uma forma circular, como uma roda. A filosofia espiritual indiana chama esses centros de chakras. Todos os Mestres espirituais verdadeiros, partindo das suas experiências, dizem que é melhor abrir o chakra do coração primeiro, e apenas então tentar abrir os outros centros.
Guru
Guru é uma palavra do sânscrito que significa ‘aquele que ilumina’. Quem oferece iluminação é chamado de Guru. De acordo com a minha própria realização interior, eu gostaria de dizer que existe apenas um Guru de verdade, que é o Supremo. Nenhum ser humano é o verdadeiro Guru. Mas, apesar do Supremo ser o único Guru, na Terra valorizamos o tempo. Se encontrarmos alguém que pode nos auxiliar na nossa jornada em direção à iluminação, tomaremos seu auxílio e poderemos chamá-lo de Guru.
Japa
Japa é a repetição de um mantra. AUM é um mantra; não se trata de japa. Mas se repetir AUM duas, três ou centenas de vezes, essa repetição se chama de japa. Um mantra pode ter uma sílaba, várias sílabas ou mesmo algumas sentenças. Quando repetimos o mantra, isso se torna japa. O japa deve ser feito de manhã ou durante o dia, e não logo antes de ir para a cama.
O coração espiritual
O coração espiritual fica bem no meio do peito. Se achar difícil meditar no coração espiritual, poderá se concentrar no coração físico. Após meditar ali por alguns meses ou um ano, sentirá que dentro do seu coração humano comum está o coração divino, e que dentro do coração divino está a alma. Quando sentir isso, começará a meditar no coração espiritual.
Supreme
Só há um Deus, que chamado por diferentes nomes. Eu gosto do nome ‘Supreme’ [‘Supremo’ em português]. Todas as fés religiosas possuem o mesmo Deus, mas referem-se a Ele diferentemente. Um homem será chamado de ‘pai’ por alguém, ‘irmão’ por outra pessoa, e ‘tio’ por uma terceira pessoa. Igualmente, Deus é chamado de diversas formas, de acordo com o doce e carinhoso sentimento que temos. Ao invés de usar a palavra ‘God’, eu uso a palavra ‘Supreme’ na maior parte do tempo. Quando dizemos ‘Supreme’, falamos do Senhor Supremo que não apenas alcança o absoluto Altíssimo, mas vai sempre além e além e transcende o Além.
O vital
Cada ser humano é composto de cinco elementos: corpo, vital, mente, coração e alma. Há dois tipos de vital em nós. Um é o vital dinâmico, e o outro é o vital agressivo. O vital incorpora dinamismo divino ou agressão hostil. Quando o aspirante traz a luz da alma à tona, a agressão hostil se torna dinamismo divino, e o dinamismo divino é transformado em tudo-preenchedora Realidade suprema.
O vital e as emoções são coisas distintas. Pode-se dizer que o vital é a casa, e que na casa há o inquilino, a emoção. A emoção mais predominante é a emoção vital. Mas a emoção pode estar no corpo, na mente e no coração.
É possível trazer a capacidade meditativa para o seu trabalho, mas primeiro é preciso saber o quão longe você já trilhou o caminho da espiritualidade. Se você quiser ser um cantor, não se tornará um bom cantor do dia para a noite. Um dançarino também precisa de tempo para aprender os passos na ordem correta. Mas chega o dia em que o dançarino e o cantor se tornam habilidosos. Eles conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Quando um médico faz uma cirurgia, uma pessoa comum ficaria pasma ao ver em quantas coisas ele consegue se concentrar ao mesmo tempo. Quando você está aprendendo a dirigir, fica nervoso; contudo, uma vez que se torna um bom motorista, pode olhar para cá e para lá, e ainda assim tudo está sob perfeito controle.
Como podemos desenvolver esse tipo de capacidade? No começo é impossível. Se alguém diz que entrou para a vida espiritual hoje e que hoje já possui essa capacidade meditativa, saiba que está se enganando. Essa capacidade é como um músculo. Quando você se exercita, desenvolve os músculos. Na vida espiritual, se todos os dias você praticar a meditação regularmente, devotadamente e com alma, estará destinado a desenvolver essas capacidades interiores. Então, quando estiver no escritório, na escola ou em outro lugar com seus amigos, sentirá uma presença interior guiando-o. Mesmo quando falar sobre coisas mundanas, terrenas, não perderá a riqueza interior que acumulou durante a meditação.
No início, talvez o buscador comece com apenas cinco minutos de meditação de manhã cedo. Chegará o dia em que ele poderá se sentar e meditar por meia hora, uma hora, duas horas. E será capaz de meditar bem com mais frequência, e não apenas em raras ocasiões. Algumas pessoas ficam sentadas, mas não estão meditando. Contudo, se alguém consegue meditar por duas ou três horas sem parar, equânime, sem perder o seu equilíbrio mental, naturalmente é porque já fez progresso no âmbito da sua força interior, poder interior e luz interior. Tudo depende do que já foi conquistado. As coisas que realmente foram alcançadas na vida espiritual poderão ser utilizadas. Se eu tenho dinheiro, posso dá-lo a você se quiser; mas, se não tiver, apesar da minha melhor intenção, não serei capaz de dá-lo a você. O poder interior, a luz interior e todas as qualidades divinas estão dentro de você. O seu ser interior as acumulou. Agora elas devem ser trazidas à tona.
Temos de ir para o trabalho, temos de ir para o escritório ou para a escola. As suas aulas podem não ser nada espirituais. Outras pessoas podem estar tentando criar problemas, tentando influenciá-lo de forma consciente ou inconsciente. Você se torna uma vítima desse tratamento ruim e fica perdido. Contudo, se o seu ser interior capacitá-lo com a sua própria paz interior e alegria, você será capaz de ofuscar o comportamento não divino dessas pessoas. Enquanto responde a pergunta do seu professor ou fala com o seu chefe, você sentirá a presença do seu ser interior, que o ajudou quando estava meditando de manhã cedo. Você sentirá a sua presença como uma criança divina dentro de você.
Pergunta: Como é possível manter uma tranquilidade interior durante o trabalho, quando se está numa atmosfera com bastante pressão?
Sri Chinmoy: Você conseguirá manter a tranquilidade interior, não importando o que aconteça no seu escritório ou quantas forças ruins do seu escritório tentem agredi-lo, contanto que sinta que essas forças não são páreo para o seu amor pela luz. Quando está no escritório, você é constantemente atacado pela dúvida, que é uma força representante da escuridão. Caso sinta que não possui nada para lutar contra essa força, estará completamente perdido. Mas, caso sinta que dentro do seu coração existe algo chamado de luz, e que essa luminosidade ilimitada é infinitamente mais poderosa que a força que o está atacando, não terá nada a temer. Porque você está orando e meditando, e está constantemente tentando aumentar o seu amor por Deus, e porque você está consciente da Presença de Deus dentro do seu coração, saiba que você certamente incorpora luz.
As forças ruins vêm de fora. Mas dentro de você está a força mais poderosa, que está em constante comunicação com o Absoluto Todo-Poderoso. Essa força é a sua luz interior, que é imortal. Ela nunca se renderá às forças ruins. Na verdade, quando a escuridão tenta de forma consciente ou inconsciente entrar na luz, ela é transformada. Simplesmente ao trazer essa luz interior você verá que, surpreendentemente, a escuridão exterior cederá. Quanto mais você puder aumentar a sua luz interior e trazê-la à tona através da sua oração e meditação, mais cedo você verá a transformação das forças externas que o estão atacando.
Quanto mais você puder aumentar a sua luz interior e trazê-la à tona através da sua oração e meditação, mais cedo verá a transformação das forças externas.
Pergunta: Como é possível superar o ressentimento e raiva que sentimos quando nossos superiores parecem ser injustos?
Sri Chinmoy: Quando trabalhamos em um grupo, há muitos indivíduos, muitas ideias, muitos pensamentos e tendências trabalhando juntos. Temos de fazer o melhor para sentir que todos os indivíduos no grupo, todas as ideias e tendências são parte da nossa própria existência. Temos de sentir que são membros do nosso próprio corpo e que todos estão trabalhando juntos.
Sentimos que os nossos superiores não nos compreendem, valorizam ou apreciam nosso esforço e dedicação sinceros. Ao discutir com os nossos superiores, ao tentar o máximo para convencê-los de que estão errados ou que não possuem unicidade ou simpatia conosco, não conseguiremos mudar seu estilo de vida. Contudo, se considerarmos eles como parte da nossa própria existência e sentirmos que pertencemos a eles e eles pertencem a nós, então poderemos mudá-los.
Ao considerarmos nossos superiores como seres humanos totalmente diferentes de nós, completos estranhos aos nossos ideais, ideias e metas, nunca teremos alegria na vida. Temos de ver nossos superiores como membros, como ramos da mesma árvore-realidade. Então, quando percebemos que um dos ramos não está funcionando bem, tentamos curar o galho com o nosso amor interior, cuidado interior, luz interior. Se hoje os nossos braços estão deficientes, ou se qualquer parte da nossa realidade-existência está sofrendo de um defeito em particular, o que faremos? Focaremos toda a nossa concentração na parte defeituosa e mostraremos todo o nosso cuidado, amor, doçura e afeição. Tentaremos empenhar o resto do ser e mostrar todo o cuidado à parte defeituosa. Por fim, a parte defeituosa será curada.
Mas desejar apenas não será suficiente para que isso aconteça. Para que seja efetivo, temos de orar e meditar em silêncio para o Autor de todo o bem. Apenas Ele é capaz de curar um membro defeituoso, e Ele está mais do que disposto a ouvir nossa oração pela transformação dos nossos ditos ‘superiores’. É apenas a nossa oração e meditação que poderão por fim mudar radicalmente suas vidas. Todavia, antes disso acontecer, podemos tentar sentir que eles pertencem a nós e que nós pertencemos a eles. Podemos sentir que a sua falta de compreensão, a sua falta de fé em nós e a sua falta de reconhecimento do que fazemos é um defeito, uma imperfeição na nossa própria realidade-existência.
Pergunta: Quando estou no escritório, como posso controlar as minhas emoções? Há tanta injustiça, mas nada que eu possa fazer para me ajudar.
Sri Chinmoy: A injustiça está criando sofrimento na sua vida neste momento. Algumas pessoas no seu escritório o ferem interiormente, e, por causa do seu medo ou incapacidade, você não consegue se proteger. Contudo, caso se torne muito forte interiormente, você poderá usar essa força para se remover a outro plano, onde esses ataques não o alcançarão, ou conseguirá proporcionar aos outros certa iluminação, de forma que parem de incomodá-lo.
A injustiça é uma espécie de poder negativo ou não divino, ao passo que a luz é um poder divino. Ao entrar seriamente para a vida espiritual e aprender a invocar a Luz e Compaixão de Deus, essas forças divinas certamente o salvarão da situação que está lhe causando sofrimento agora. Mas pode levar certo tempo.
Uma maneira mais rápida para se salvar é conseguir paz de espírito. Nas nossas meditações aqui nas Nações Unidas, trazemos certa paz. Essa paz não é algo imaginário; ela é muito real. Quando medita conosco, não apenas você sente essa paz, como pode nadar no mar da paz. Essa paz é um poder sólido, infinitamente mais poderoso do que a injustiça. Quando você está nadando no mar de paz, nenhum poder humano poderá abalá-lo.
A paz é a arma mais eficaz para superar a injustiça.
Quando essas pessoas o atacam, você fica irritado e com raiva, pois sente que eles são do mesmo padrão que você. Mas quando o seu ser por completo estiver inundado de paz, não importa o que as outras pessoas façam, você sentirá que são como crianças brincando diante de você. Você dirá: “São apenas crianças. O que posso esperar delas?”
Quando você tiver de se defender ou se proteger, tente sempre usar uma arma mais elevada. Se as pessoas disserem algo e você retaliar no mesmo nível, não haverá fim. E, se simplesmente engolir a sua raiva, elas continuarão se aproveitando de você. Mas se estiver inundado de paz interior, elas verão algo em você que nunca poderá ser conquistado. Elas verão uma mudança em você, e essa mudança não apenas os deixará intrigados, como os ameaçará e amedrontará. Ela fará que percebam que suas armas são inúteis.
A paz é a arma mais eficaz para superar a injustiça. Se você ora e medita regularmente, logo sentirá que a sua paz é infinitamente mais forte, preenchedora e energizante que as situações infelizes que os outros criam.
Pergunta: Quando eu não respeito a pessoa com quem estou trabalhando, não sei como me comportar.
Sri Chinmoy: Existe algo chamado sabedoria prática. Suponhamos que o seu chefe está completamente errado sobre alguma coisa. Se brigar com ele e ficar na sua lista negra, por fim ele irá demiti-lo. Ninguém quer ser corrigido ou aperfeiçoado. A vida humana é assim, especialmente no caso dos chefes. Está aquém da sua dignidade ser corrigido pelos subordinados.
A sabedoria prática nos diz que, se o seu chefe o despedir, você ficará em apuros. Se o seu chefe fizer um relatório muito ruim sobre você, você ficará em apuros. Não estou dizendo que é preciso ficar lisonjeando o chefe. Mas você pode ignorar a situação, dizendo a si mesmo: “Meu chefe está errado. Mas farei o quê? Se eu tentar aperfeiçoá-lo ou corrigi-lo, ele ficará furioso.” Você pode fazer de conta que não viu nada; cegar-se da situação. Isso é chamado de sabedoria prática.
Pergunta: Como podemos ter unicidade com nossos colegas de trabalho?
Sri Chinmoy: Caso os seus colegas de trabalho não sejam espirituais ou inclinados à espiritualidade, exerça mais compaixão e sacrifício. Se alguém precisa de mais bondade e afeição, você deveria estar pronto a dar aquilo à pessoa – não de acordo com o que ela merece, mas de acordo com a magnanimidade do seu coração. Se alguém é maldoso com você ou não o ajuda com o seu trabalho, encare como um desafio para se tornar mais gentil, mais bondoso e mais doce, para que consiga trazer à tona as boas qualidades naquela pessoa. Algumas pessoas são bondosas, outras são más. Se tratarmos as pessoas más da forma que elas nos tratam, estaremos entrando no mundo animal. Temos de trabalhar de uma maneira divina e tentar conquistá-los através da paciência, cuidado e amor.
Pergunta: Ao trabalhar para uma empresa e tentar vender um produto, tenta-se obter ganho material para a empresa. Como podemos conciliar isso e dedicar nossa energia ao trabalho?
Sri Chinmoy: O que é importante é saber se está participando de uma enganação ou não. Digamos que está vendendo açúcar para uma empresa, mas sabe que misturaram algo no açúcar para enganar os clientes. Se você realmente quiser ser espiritual, não deverá trabalhar para esse tipo de empresa. Mas se vender algo para ter algum lucro, isso não será enganação. Se você comprar algo por dois dólares e vender por dois dólares, como irá ganhar o seu sustento? Precisará vender por dois e cinquenta ou três dólares. Lucro não é enganação. Mas quanto lucro? Se você comprar algo por dois dólares e vender por vinte, estará explorando as pessoas. Durante a guerra, algumas pessoas sabiam que os preços subiriam muito, e por isso compraram coisas por seis dólares que poderiam ser vendidas por, no máximo, doze dólares. Mas foram capazes de vendê-las por noventa dólares. Apenas porque algo estava indisponível e as pessoas precisavam muito daquilo, tal tipo de exploração foi possível. É preciso saber se você está enganando ou explorando o seu cliente, e também alcançar um meio termo entre a exploração e a tolice.
Pergunta: Como podemos aspirar enquanto trabalhamos?
Sri Chinmoy: Quando você ora e medita de manhã, sinta que obteve uma riqueza verdadeira na forma de paz, luz e deleite. Assim como você guarda o seu dinheiro dentro da carteira, guardará a paz, luz e deleite dentro do seu coração. Quando a ignorância aparecer, com a sua riqueza espiritual você poderá ameaçar ou conquistar a força não divina que está se aproximando de você. É possível comprar qualquer coisa que quiser com o poder-dinheiro. Igualmente, o poder espiritual que se obtém da oração e meditação é um poder verdadeiro. Quando as pessoas estiverem gritando, berrando e se comportando de forma não divina, traga à tona o poder interior que guardou no seu coração. Pense em quanta paz, luz e deleite você obteve de manhã cedo. Paz é poder, luz é poder, deleite é poder, assim como o dinheiro é um poder. Trazendo-os à tona você não terá qualquer dificuldade.
Não existe coisa tal como um trabalho insignificante.