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Yoga e Meditação

Por Adriano Passini

Atualmente a palavra yoga está muito difundida em nossa sociedade, porém, as vezes me pergunto se o verdadeiro significado dessa palavra é compreendido. A palavra yoga significa união com Deus, é uma palavra proveniente do sânscrito, uma língua antiga da Índia. De acordo com Sri Chinmoy, essa união, acrescida da aspiração, disciplina, dedicação e outras muitas qualidades da vida espiritual, levarão o buscador a comunhão completa com Deus, ou como preferir, iluminação ou Deus-realização, termo muito utilizado por Sri Chinmoy.

Existem vários tipos de Yoga, dentre elas as mais famosas são: Karma yoga, que é o serviço dedicado à Deus, Bhakti yoga, que é a devoção à Deus, e Jnana yoga, que é a yoga do conhecimento. Segundo Sri Chinmoy, Sri Aurobindo, que foi o seu mestre espiritual, uniu esses tipos de yoga e criou a Integral yoga, que em resumo, seria a prática de todas essas yogas como um método mais rápido e eficiente para se alcançar a união com Deus.

Mas a yoga mais praticada que tanto ouvimos falar é a Hatha yoga, que nada mais é que uma preparação para a meditação. Hatha yoga são uma série de técnicas de concentração, respiração e exercícios físicos. No caminho de Sri Chinmoy, nós não estudamos este tipo de yoga, não que ele não seja adequado, longe disso, mas porque nós utilizamos outros tipos de atividade física como parte da nossa disciplina e auto-transcendência, tais como: corrida, natação e ciclismo, normalmente aplicados a eventos de longa distância.

A prática de esportes em nosso caminho, nos leva ao benefício de boa forma física e capacidade de superação de nossos limites, é como se fosse um “convencimento” para a nossa mente, que somos capazes de realizar feitos que nem sonhávamos antes de iniciar a prática da meditação. Isto é, podemos dizer que o meio em que nos preparamos para a meditação compatível com a Hatha yoga são os esportes. Porém, o mais adequado é que o buscador se sinta bem com o que ele faz. Se a Hatha yoga lhe traz bons benefícios, então deve ser praticada.

Segundo Sri Chinmoy, se alguém quer ir além, muito além em medida infinita, se quiser conhecer a verdadeira paz e felicidade, então não será através da atividade física e nem da Hatha yoga. O buscador espiritual deverá rezar e meditar de forma intensa com muita disciplina e superar as dificuldades e as qualidade não-divinas, tais como: medo, ansiedade, impureza, dúvida, orgulho, etc.. Portanto, os esportes e a Hatha yoga serão apenas mecanismos para facilitar esse aprendizado espiritual.

Yoga para iniciantes

yoga para iniciantes

Começando no yoga – yoga para iniciantes

por Patanga Cordeiro

Os oito passos do yoga

oito passos no sadhana ou disciplina espiritual: Yama, Niyama, Asana, Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi. Yama é autocontrole e abstinência moral; Niyama é a manutenção rigorosa de uma conduta e caráter; Asana são posturas físicas para tranquilizar o corpo e torná-lo um instrumento receptivo; Pranayama é a respiração sistemática para acalmar e ajudar a controlar a mente; Pratyahara é o afastamento da vida dos sentidos; Dharana é a fixação da consciência em Deus; Dhyana é meditação; e Samadhi é o transe, a união absoluta da consciência individual com a Consciência universal.

 

É preciso iniciar no (hatha) yoga?

No entanto, você não PRECISA começar pelos primeiros passos. O que acontece é que todos temos uma parte desses primeiros passos já desenvolvida. Yama e Niyama são virtudes morais. O próximo passo é desenvolver virtude física, ou seja, uma certa receptividade no físico.

É aí que entra a Hatha Yoga, que são os exercícios para principiantes no Yoga, que trazem uma tranquilidade e serenidade ao corpo, mente e emoções dos iniciantes.

A meditação, que é Dharana, Dhyana e Samadhi, vem por sobre a base criada no físico.

 

Qual é o valor do yoga?

Ou seja, o nosso objetivo é Dharana e Dhyana – as posturas físicas, chamadas de ásanas, servem para facilitar a meditação. É muito comum haver uma inversão – um pouco de meditação depois de uma hora de ásanas.

 

Como um iniciante, como posso começar a praticar yoga?

Na sua prática diária, para uma pessoa iniciante no yoga que consegue se concentrar um pouco por cinco minutos, talvez o melhor seja inverter: praticar alguns minutos de Hatha Yoga (asanas) por dia, e dedicar uma hora à meditação. Essa hora pode e deve ser dividida durante o dia. Talvez comece com 5-10 minutos de manhã cedo, mais 5-10 à noite, mas, com a prática, poderá chegar rapidamente a 20-30 minutos de manhã cedo e à noite novamente.

 

Kundalini yoga

Kundalini yoga é uma forma de yoga ancestral que lida com a abertura dos chakras em busca da iluminação. Alguns mestres do século XIX e XX como Sri Ramakrishna, Sri Aurobindo e Sri Chinmoy explicam que não é necessário para os buscadores que se identificam com seus ensinamentos procurarem abrir os chakras, como no kundalini yoga – na verdade, quando as condições interiores de aspiração, devoção e entrega se manifestam, esses centros serão abertos e satisfeitos de forma natural, segura e espontânea.

Segue abaixo quatro perguntas e suas respostas relacionadas aos temas de kundalini yoga e seus poderes.

Perguntas sobre kundalini yoga

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       Pergunta: É verdade que os poderes psíquicos não se desenvolvem ou não se manifestam espontaneamente nos Yogis, mas que devem ser desenvolvidos através de exercícios ou outros meios?

Sri Chinmoy: Existem sete centros psíquicos principais no nosso corpo. Eles não estão no físico, mas sim no corpo sutil. Na coroa da cabeça está um centro, chamado Sahashara, o lótus de mil pétalas. Um pouco acima do ponto entre as sobrancelhas fica a sede da visão, o centro chamado Ajna chakra. Na base da garganta se localiza o chakra da fala e exteriorização. Chamamos ele de Vishuddha. No centro do peito está o Anahata, o chakra do coração, e muitas pessoas obtêm grande parte dos seus poderes psíquicos daqui. No umbigo está o Manipura. No baço há outro centro, o Svadhisthana. E abaixo, na base da coluna, temos o chakra chamado Muladhara. Muladhara, Svadhisthana, Manipura, Anahata, Vishuddha, Ajna e Sahashara: são esses os sete chakras.

Quando um buscador conscientemente ou inconscientemente se concentra nesses centros, ele desenvolve poder psíquico. Ele pode não saber o nome do centro, mas caso se concentre no lugar correto, automaticamente irá adquirir algum poder intuitivo. Para abrir os chakras e fazer com que a Kundalini comece a funcionar, você deve se concentrar em cada chakra. Essa é uma maneira de adquirir poder psíquico, através de disciplina espiritual.

Especialmente no ocidente, escuto muitas pessoas dizerem que fulano tem poder psíquico ou que fulana tem poder psíquico, mesmo que tal pessoa não tenha uma gota de poder. Algumas pessoas recebem um leve sentimento intuitivo vindo do plano da intuição ou da mente física, onde há intuição sutil, e afirmam possuir poder psíquico. Mas não é tão fácil adquirir poder psíquico. Deve-se trabalhar duro para obtê-lo.

Caso um Guru ou Mestre espiritual queira, ele pode injetar aquele poder em você, sem que você precise meditar ou praticar Kundalini Yoga. A capacidade de conceder esses poderes é privilégio de Mestres espirituais. Porém, tudo depende da Vontade de Deus. Se Deus quiser dar a você poder psíquico, durante o sono você receberá um tipo de mantra que lhe é adequado. A figura ou ser que aparecer no sonho então lhe dirá quantos milhares de vezes você deve repetir aquele mantra específico. Não será necessário se concentrar em um centro específico. Você apenas precisa repetir aquele mantra um certo número de vezes e logo possuirá poder psíquico. Isso acontece até mesmo no caso da realização. A maior parte das pessoas realiza Deus praticando a espiritualidade por toda a vida, mas existem algumas pessoas que simplesmente não precisam praticar a vida espiritual. Em um sonho, Deus entra na pessoa e ilumina a sua consciência, e qualquer um dotado de visão espiritual verá que aquela pessoa é liberta e realizada.

Igualmente, não é sempre necessário clamar conscientemente por poder psíquico. Quando alguém se torna um Yogi, os seus centros normalmente se abrem, de forma espontânea, e o poder psíquico aparece automaticamente. Mesmo se alguém não busca poder psíquico, ele frequentemente aparece quando se está avançando rápido, muito rápido, em direção à meta. Se o poder oculto vier como uma benção e não impedir alguém de manifestar a sua divindade interior, nesse poder não haverá mal. Porém, caso se coloque como uma maldição ou um obstáculo, caso alguém sofra tentação, ou caso faça com que a pessoa perca a sua velocidade ou se desvie do caminho, então essa pessoa deve corajosamente rejeitar o poder e colocar a sua concentração primeiro no alcançar da sua meta.

   Pergunta: Na Índia, os faquires que possuem tal tipo de poder os dedicam aos bons princípios da Yoga ou os utilizam para fazer negócios?

Sri Chinmoy: É certo que muitos se desviaram do caminho da verdade. Para aqueles que assim procederam, o poder psíquico que possuem é como magia negra. Não serve a nenhum propósito espiritual. Se alguém está doente e Deus diz a você que deve curá-lo, ou se alguém está sob perigo iminente e Deus quer que você o salve, então você deve utilizar os seus poderes psíquicos. O poder psíquico deveria ser usado apenas quando requisitado ou aprovado por Deus. A maior parte das pessoas que estão utilizando esses poderes, na Índia e em outros lugares, não o faz de acordo com a Vontade de Deus. Apenas satisfazem o próprio orgulho, ego e vaidade. Elas agem contra a Lei de Deus. Cometem um engano terrível, e a punição será muito severa na próxima vida.

Poderes místicos e yoga

Sri Chinmoy: A astrologia não tem o poder de mudar o nosso destino, mas a espiritualidade ou Yoga tem esse poder. A diferença entre a astrologia e a Yoga é que a astrologia apenas indica; ela indica o futuro com base no passado, mas não pode transformá-lo. No entanto, a Yoga pode superar o passado e moldar o futuro. A astrologia faz o seu papel o mais efetivamente até o momento em que se entra para uma espiritualidade mais profunda. Então a astrologia se curva, da mesma maneira que você se curva diante de mim. Antes de aceitarmos a espiritualidade, a astrologia é muito poderosa, como um leão. Então, quando entramos para a vida espiritual mais profunda, ela se torna um pequenino gatinho de estimação.

Kundalini e a abertura dos chakras

Sri Chinmoy: Caso você pratique Kundalini Yoga apenas um pouco – digamos, quinze minutos diariamente –, juntamente com a sua verdadeira meditação e aspiração, verá que os seus centros psíquicos ou do oculto estarão se abrindo. No entanto, se tiver entrado para a vida interior apenas para obter poder oculto e mostrar ao mundo a sua capacidade, a verdadeira espiritualidade nunca despertará em sua vida. Se quiser abrir o seu chakra cardíaco e demonstrar milagres para que as pessoas o apreciem ou admirem, e se acha que receberá mais inspiração através do apreço e admiração deles, estará cometendo um engano. Em outros casos, quando você faz algo e é exaltado aos céus, poderá receber mais inspiração para fazer ainda melhor. Mas nesse caso não é assim. Se mostrar um pouco do seu poder oculto e os outros demonstrarem apreciação, você pode ter certeza de que será o seu fim. Não ficará inspirado; pelo contrário, ao invés de buscar profundamente em seu interior para obter a verdadeira realização, você continuará aumentando o seu poder oculto. O poder oculto é todo tentação.


Lista de links e informação sobre yoga nos sites de meditação:

Japa yoga – mantras e cânticos

A lembrança do Nome de Deus

É um céu-perfeição.

A repetição do Nome de Deus

É um sol-satisfação.

-Sri Chinmoy

textos do livro A Fonte da Música, de Sri Chinmoy

Japa yoga – mantras e cânticos

Na vida interior, os mantras possuem um papel significativo. Um mantra é uma sílaba, um grupo de sílabas ou uma sentença divinamente imbuída de poder divino. Uma vez alcançado através da repetição, esse poder pode ser utilizado para um propósito divino ou um propósito não-divino. Existem muitos e muitos mantras em sânscrito, e cada pessoa possui um mantra próprio. Nas escrituras indianas está dito que, se você deseja iluminação da mente, pureza ou outra qualidade, o que deveria fazer é praticar um mantra.

 japa yoga

Japa (e japa yoga)

Japa é a repetição de um mantra. Quando se repete Aum duas, três ou mesmo centenas de vezes, essa repetição chama-se japa. No japa verdadeiro, o buscador repete um certo mantra que lhe foi concedido por seu Mestre. Se não tiver um Mestre, poderá ser revelado a ele esse mantra a partir de seu interior. Um buscador também é capaz de determinar interiormente quantas vezes entoar o mantra, se não tiver um Mestre para lhe dizer.

Quando um praticante de Japa Yoga precisa de pureza, seu Mestre lhe recomenda repetir um mantra específico milhares de vezes ao dia. Mas se quiser sabedoria mental, terá de usar um outro mantra. Para cada qualidade divina que o aspirante buscar, ele deve recitar um mantra diferente. Um aspirante pode ter decidido fazer um oferecimento do nome de Deus, entoando-o dez ou quinze mil vezes com a expectativa de um certo resultado. Mas enquanto canta o nome várias e várias vezes, ele pode estar, na verdade, pensando em outra coisa. A falta de concentração unidirecionada e atenção devotada levam embora grande parte da eficácia do mantra. Não se pode esperar nada ao repetir o nome de Deus dez mil vezes ao dia enquanto se pensa em outra coisa. Não importa quantas horas são dedicadas ao canto se você não o faz sincera e devotadamente. Porém, se entoar corretamente, o japa pode ser muito eficaz.

O japa não deve ser feito logo antes de dormir. Quando se repete mil, duas mil ou três mil vezes o mantra, a sua mente ficará agitada se o corpo desejar adentrar o mundo do sono. O aspirante repete “Supreme, Supreme, Supreme …” , mas está apenas agindo mecanicamente. E se continuar para além de sua capacidade, sua mente ficará inquieta. Então o buscador sofrerá, pois não conseguirá dormir bem.

O exercício do japa pode ser feito pela manhã ou no correr do dia. Mas antes de ir para a cama, só deve ser feito no máximo cem, duzentas ou trezentas vezes. Caso esqueça de fazer durante o dia ou não esteja disposto e deixe para fazer tudo antes de dormir, isso não será bom para você. Ao meditar antes de dormir você invocará paz, luz e beatitude – todavia, quando repetir o mantra mil vezes, você estará na verdade invocando poder e energia, e ficará muito tenso para conseguir um bom sono.

Por vezes, escutamos a palavra que recitávamos mesmo após termos cessado sua repetição. Ao repetir “Supreme, Supreme, Supreme …” por um certo tempo, ouviremos esse mesmo Nome de Deus reverberando em nosso coração. As cordas vocais não agem, mas o ser interior continua a repetir o mantra de forma natural e espontânea.

O japa não é, estritamente falando, uma forma de meditação. É um chamamento. Utilizando um mantra, podemos invocar Deus para a nossa existência interior, nosso eu mais profundo. Já na meditação, procuramos de uma forma mais ampla adentrar a Infinidade, Eternidade e Imortalidade de Deus.

Utilizando os mantras

Cada mantra propicia um resultado particular. Usando um mantra específico, invocamos um certo aspecto de Deus para nos trazer paz, luz, beatitude ou algo mais de que precisemos. Se pudermos meditar bem por dez ou quinze minutos, isso servirá o mesmo propósito, pois entraremos na vastidão infinita de paz, luz e beatitude, onde nossa alma poderá sorver tudo aquilo que precisar ou desejar.

Mas se um aspirante não consegue alcançar sua meditação mais profunda, devido à inquietação da mente, surge, então, a oportunidade para usar um mantra. “Supreme”, “Aum” ou “Deus” podem ser repetidos por qualquer pessoa antes da meditação. O mantra deve ser repetido lentamente e em voz alta. Se você espera resultados rápidos em sua vida, repita um mantra todos os dias, sem falta, por no mínimo meia hora: quinze minutos pela manhã e quinze minutos ao anoitecer.

 


Lista de links e informação sobre yoga nos sites de meditação:

Yoga e a libertação da mulher

Abaixo algumas perguntas do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida


Pergunta: Qual o papel da mulher na vida espiritual nesses tempos de ‘libertação feminina’ e tudo o mais? Num sentido espiritual, qual o verdadeiro lugar da mulher e do homem?

Sri Chinmoy: Ao Olho de Deus, não há homem e nem mulher. Ao Olho de Deus, eles são a mesma coisa. O homem é o rosto; a mulher é o sorriso. Sem o rosto, como pode haver um sorriso? E, sem um sorriso, de que adianta um rosto? Ambos são igualmente importantes.

Pergunta: O esposo e a esposa podem ter diferentes professores?

Sri Chinmoy: Se esposo e esposa tiverem diferentes professores será como ir para um mesmo destino por duas estradas. Haverá problemas se o esposo disser que a sua estrada é clara, sol-iluminada, ao passo que a estrada da esposa está cheia de obstáculos. As dificuldades começarão aí. Mas, se o esposo disser: “Eu gosto desta estrada, e você gosta dessa. Siga o seu próprio caminho, e eu seguirei o meu. Tentaremos alcançar o mesmo destino,” então não haverá problemas. A postura correta é quando o esposo não tenta converter a esposa, e a esposa não tenta converter o marido. Contudo, quando surge um sentimento de comparação ou competição, tudo se perde.

Pergunta: Mas a união entre duas pessoas diminui quando estão seguindo dois caminhos diferentes até a mesma coisa?

Sri Chinmoy: Não. O que precisamos saber é quanto respeito e compreensão eles têm pelo caminho do outro. Se tiverem o mesmo Mestre, se estiverem caminhando pela mesma estrada, será sempre seguro. Se o esposo e a esposa seguem o mesmo caminho e o esposo fica cansado, exausto, é atacado por dúvidas, a esposa se torna seu auxiliar. E, se a esposa é atacada por dúvida ou medo, o esposo pode ser um auxílio genuíno. Se seguirem o mesmo caminho será muito vantajoso.

Todavia, se a esposa disser, “Eu quero seguir o caminho do coração,” e o esposo disser, “Eu quero seguir o caminho da mente,” eles precisarão ser muito cuidadosos. Cada um deve saber que o que o outro faz está correto, de acordo com o seu entendimento e capacidade. É necessário respeito mútuo pelas descobertas individuais.


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Espiritualidade e yoga

Espiritualidade e yoga

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

Espiritualidade não é mera tolerância. Ela não é nem mesmo aceitação. É o sentimento de unicidade universal. Na nossa vida espiritual, buscamos enxergar o Divino, não apenas nos termos do nosso próprio Deus, mas como o Deus de todos. Nossa vida espiritual estabelece firme e seguramente a fundação da unidade na diversidade.

Espiritualidade não é mera hospitalidade à fé dos outros em Deus. Ela é o absoluto reconhecimento e aceitação da fé que eles têm em Deus como sua própria. É difícil, mas não impossível, pois tal foi a experiência e prática de todos os Mestres espirituais de todos os tempos.

 

Ouça a alma

A vida espiritual é a vida da alma. Devemos nos tornar conscientemente um com nossa alma. Apenas quando sentimos nossa unicidade com a alma que a verdadeira satisfação pode despertar nas nossas vidas. Nunca ficaremos verdadeiramente satisfeitos com a nossa própria satisfação exterior. Poderemos ser permanentemente felizes apenas quando satisfizermos Deus da Maneira própria de Deus. Deus é a nossa Realidade mais elevada. Quanto mais escutamos a alma dentro de nós, mais nos tornamos a Realidade altíssima dentro de nós. Apenas assim poderemos ser eternamente satisfeitos.

 

Pergunta: Há desarmonia entre os meus pais e eu porque o meu pai é ateu.

Sri Chinmoy: Qual é o problema em ser ateu? Você acredita no Amor de Deus, e ele acredita em outra coisa. Não há ninguém na Terra que não acredite em nada. Ele acreditará na comida, no corpo, numa flor, no futebol ou na ciência. Ele tem de acreditar em algo que tenha visto, ou então acreditará no nada. Diga ao seu pai, “Você é ateu, mas acredita em algo.”

Você acredita em Deus; o seu pai acredita em outra coisa. Mesmo o nada é uma realidade. A filosofia indiana diz ‘neti, neti’ – ‘nem isso e nem aquilo.’ Esse nada também vem da mente e do coração. Você poderia dizer ao seu pai que ele pode ter fé nesse nada, e ele enxergará o seu Deus no nada. Você pode dizer: “Eu digo ‘tudo’. Você tem o seu ‘nada’. Por fim, você verá que dentro do meu tudo estará o seu nada, e que dentro do seu nada está o meu tudo.”

Se quiser que eu defina a espiritualidade, eu a definiria com apenas uma palavra: satisfação. A espiritualidade é nada mais e nada menos do que satisfação.

Dentro do finito Deus manifesta a Sua Infinidade. Hoje, uma gota de luz é tudo para nós. Mas, quando subirmos alto, a própria Infinidade não bastará, pois Deus nos concedeu uma sede infinita. Estamos falando da realização suprema. Hoje o seu pai não compreende sobre o que estamos falando, mas um dia ele entenderá, pois ele mesmo realizará essa própria coisa que é a realização.

Portanto, não se preocupe com o seu pai. Apenas diga que ele deve ter fé no que ele tem e acredita. Mantendo a própria fé, os seus problemas serão solucionados. Encoraje-o a encontrar satisfação naquilo que acredita ser verdade na vida dele. Contudo, se não estiver satisfeito, poderá então dizer: “Você não está encontrando satisfação nas suas crenças, mas eu estou encontrando nas minhas, então porque diz que estou errado? Porque não experimenta o meu caminho?”

A diferença entre o coração e a mente é esta: o coração quer dar; a mente odeia perder.


Mais sobre espiritualidade e o que é yoga

Religião, espiritualidade e yoga

Religião, espiritualidade e yoga

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

A partir do Yoga, a espiritualidade começou a existir e, a partir da espiritualidade, a religião passou a existir. A partir da religião, a filosofia passou a existir. A filosofia nos lembra de que este não é o único mundo, que há muitos mundos superiores e também interiores, e nos indica entrar nesses mundos.

 

O sentimento de um coração-unicidade

A essência de toda religião é o amor por Deus. Não há sequer uma religião que não nos diz para amar Deus. O problema começa com os seguidores da religião. Muitas vezes eles dizem “A minha religião é a melhor de todas, e a sua religião é muito ruim.” Os seguidores das diferentes religiões são como filhos numa mesma família. Todas têm os mesmos pais e recebem o mesmo afeto, amor e compaixão dos pais. Apesar disso, as crianças ainda brigam e disputam. Se uma irmã acha que a outra é mais bela, ela fica com inveja e briga com a sua irmã. Se um irmão vê que o outro é mais forte, imediatamente o irmão mais fraco fala mal do irmão mais forte. Numa família, um irmão dirá “Eu sei mais do que todos!”, e o outro dirá “Não, eu entendo mais que você!” Igualmente, cada religião dirá às suas religiões irmãs e irmãos “Eu sei mais sobre o Pai do Céu do que vocês.” Ou então “A minha maneira de amar a Deus é a única forma correta, e a sua maneira está errada.” Frequentemente há disputas e lutas entre as diversas religiões.

Mas onde todas as religiões concordam é em amar a Deus. Se realmente amamos uma pessoa, sentimos a nossa unicidade com ela. Portanto, se realmente amamos Deus e sentimos nossa unicidade com Deus, também sentiremos a nossa unicidade com a criação de Deus. Nos mais profundos recônditos do nosso coração, sabemos que somos todos um, mas o orgulho aparece, e dizemos aos outros, “Não preciso de você.” Mas nós precisamos, sim, uns dos outros. Somos partes da mesma realidade-existência. Uma árvore é composta de tronco, galhos, folhas, flores e frutos. Se o tronco disser que não precisará mais dos galhos e folhas, que tipo de árvore ela se tornará? E se as flores disserem que não precisam dos galhos e do tronco, como viverão? É necessário estabelecer uma unidade.

Quando entramos num jardim, imediatamente nos tornamos cientes da beleza, pureza e fragrância do jardim. Cada flor tem a sua própria beleza, mas a beleza que sentimos no jardim é a beleza da multiplicidade. Essa é a beleza que nos traz uma imensa alegria. Igualmente, Deus sente uma imensa alegria com a multiplicidade dos corações-flor de todos os Seus filhos.

Na religião, é o sentimento de coração-unicidade que deve prevalecer, e nada mais. Religião não é uma questão de razão. Se vivemos no nosso coração-unicidade, sentiremos a essência de todas as religiões, que é o amor a Deus. Contudo, vivendo na mente, apenas tentaremos diferenciar uma religião da outra e ver como suas ideologias diferem. O coração é quem é capaz de ter um verdadeiro entendimento intuitivo da amplitude e alcance de todas as religiões. O coração vê e sente a harmonia interior e a unicidade de todas as religiões.

Uma religião verdadeira tem uma qualidade universal. Ela não vai contra as outras religiões. As religiões falsas verão erros nas outras religiões. Elas dirão que a sua religião é a única religião válida, e que o seu profeta é o único salvador. Mas uma religião verdadeira sentirá que todos os profetas são salvadores da humanidade. Perdão, compaixão, tolerância, fraternidade e o sentimento de unicidade são os sinais de uma religião verdadeira.

 

Pergunta: Você acredita que todas as religiões levam à mesma verdade, ainda que tomando estradas diferentes?

Sri Chinmoy: Sim, absolutamente. Concordo plenamente que todas as religiões levam a uma verdade, a Verdade Absoluta. Existe uma Verdade. Existe apenas uma Meta, mas há vários caminhos. Cada religião está certa da sua própria maneira. Contudo, se uma religião diz que ela é a única religião, ou que é a melhor de todas, acharei difícil concordar com essa religião. Se uma religião diz: “A minha religião é verdadeira. A sua religião é igualmente verdadeira,” então concordarei plenamente. Mas, se eu disser que o nosso hinduísmo é a melhor de todas, e que o seu cristianismo não é nada comparado com o hinduísmo, serei o maior dos tolos neste mundo. Se eu disser “Se você aceitar a minha religião, eu o levarei até a Meta mais rapidamente,” e tentar convertê-lo à minha religião, estarei mais uma vez cometendo um erro gigantesco.

Cada religião está certa. A religião é uma casa. Eu tenho de viver na minha casa. Você tem de viver na sua. Eu não posso ficar na rua, e nem você pode. Mas chega o dia em que ampliamos a nossa visão. Sentimos que além dos limites dos ritos e rituais da religião jaz uma Meta mais elevada. Então, o que fazemos? Tentamos aperfeiçoar a imperfeição que há na religião. O resultado é que imediatamente entramos em conflito com os fanáticos. Ou descobrimos que não conseguimos mudar as regras e cânones da religião, e ficamos tristes. Contudo, ao viver uma vida espiritual, a vida interior, não conflitamos com qualquer religião. Aqueles que desejam seguir uma religião devem fazê-lo. Mas aqueles que desejam uma Meta ainda mais elevada, Yoga, a união consciente e constante com Deus, devem seguir o caminho do Yoga. Então, através da nossa unicidade com Deus, diremos que o mundo inteiro é nosso. Cada ser humano é nosso irmão ou irmã. Quando você mergulha no campo do Yoga e quer realizar a Verdade altíssima, a Verdade absolutamente altíssima, posso dizer que estará acima da sua religião. Isso quer dizer que se não quiser seguir a sua religião ou qualquer outra religião, estará livre para fazê-lo, pois você está clamando pelo Altíssimo de uma forma especial. A despeito das respectivas imperfeições, a sua religião e a minha religião buscam a mesma Meta. Agora você sente que possui um tremendo anseio interior para alcançar o Altíssimo sem se envolver com as ditas imperfeições da sua religião, da minha ou das outras. Naturalmente, você tentará alcançar a sua Meta sem nos perturbar, sem perturbar os outros e, ao mesmo tempo, você mesmo não será perturbado.

 

Pergunta: Você é parte de um corpo religioso organizado, seita ou culto, ou você é apenas você mesmo?

Sri Chinmoy: Eu não pertenço a seita ou religião alguma. Ao mesmo tempo, os meus ensinamentos incorporam a quintessência de todas as religiões. Eu nasci numa família hinduísta; portanto, conheço os detalhes da religião hinduísta. Mas eu não pratico o hinduísmo. Não sigo nenhuma religião específica. A minha religião é amar a Deus e se tornar um humilde instrumento de Deus. A religião hinduísta é como uma casa; o cristianismo é outra casa; o judaísmo, outra casa. Podemos viver em diferentes casas, mas frequentaremos uma mesma escola para estudar. Espiritualidade, Yoga, é o que afinal precisamos estudar.

 

iPergunta: Há alguma diferença entre uma religião e outra? O Yoga exige abdicar de toda religião?

Sri Chinmoy: Não há diferença fundamental entre uma religião e outra, pois cada religião incorpora a Verdade última. Assim, o Yoga não interfere com qualquer religião. Qualquer um pode praticar Yoga. Tenho discípulos que são católicos, protestantes, judeus, etc. Pode-se praticar Yoga independentemente da sua religião. Se alguém conhece o hinduísmo, por exemplo, ele poderá ter medo de aceitar o catolicismo, e vice-versa. Mas o aspirante verdadeiro que mergulhou na espiritualidade e Yoga não verá dificuldade em permanecer na sua própria religião. Digo aos meus discípulos que não devem abandonar suas religiões. Permanecendo nas suas religiões e praticando a vida e disciplina espirituais eles serão capazes de ir mais rápido, pois suas religiões lhe darão segurança constante no que estão fazendo e confirmarão o que praticam de verdade nas suas vidas. Por isso eu sempre digo aos meus alunos que devem manter suas religiões, pois o Yoga não exige a renúncia de qualquer religião.

 

Estamos dentro do Coração de Deus

A religião não é obstáculo para a vida espiritual. O Yoga, ou disciplina espiritual, nunca estará contra qualquer religião. Yoga quer dizer união com Deus, união consciente com Deus. Eu posso orar a Deus da minha própria maneira; você pode orar a Deus do seu próprio modo. Deus fica satisfeito com ambos. Isso é religião. Então, quando realizamos Deus, nos tornamos um com a Sua criação, com o Seu universo. Sentimos que estamos dentro do Coração de Deus. Quando realizo Deus, sinto-me dentro do Coração de Deus. E você fará o mesmo.

Por isso não devemos criticar qualquer religião. Quando é uma questão de Yoga, saibamos que o Yoga transcende toda religião. É como se não quiséssemos ficar satisfeitos com apenas com a minha casa ou a sua casa. Queremos considerar todas as casas do mundo como nossas, pois Deus está dentro de todas elas. No Yoga, todas as religiões se tornam nossas, pois Yoga significa união com Deus. Quando temos essa união, transcendemos nossos sentimentos limitados de ‘eu’ e ‘meu’, a minha religião, a sua religião. É nessa hora que vamos além dos limites da religião.

Todas as religiões são verdadeiras. Mas, quando entramos para a vida espiritual, vamos um passo além da religião. Então Deus passa a ser o nosso único objetivo, a nossa meta. Quando entramos Nele, adentramos a Consciência infinita. Se oramos e meditamos, aceitamos todas as religiões do mundo como parte de nós e as colocamos no justo Coração de Deus.

Religião é a casa, espiritualidade é a sala de estar e Yoga é a sala de oração e meditação. A casa é bela, a sala de estar é útil e a sala de oração e meditação é frutífera.

Yoga, os desejos e a vida material

Yoga e a vida material

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

Um místico pode viver na terra de forma segura e firme, como um barco na água. O barco está na água, mas não é afetado pela água.

 

O tesouro infinito

O Yoga nos auxilia no nosso dia a dia. Na verdade, o Yoga é aquilo que pode ser o auxílio supremo na nossa vida cotidiana. Nossa vida humana está repleta de dúvida, medo e frustração. O Yoga nos auxilia a substituir o medo pela coragem invencível, a dúvida pela certeza absoluta e a frustração por realizações douradas.

 

Pergunta: Que resposta você daria a uma pessoa que perguntasse “Como a vida espiritual beneficiaria uma pessoa comum, uma pessoa que esteja mais preocupada em ganhar o pão e sustentar sua vida?”

Sri Chinmoy: Se a pessoa está mais preocupada em ganhar o seu pão, isso quer dizer que precisa de poder-dinheiro. Se tiver dinheiro, poderá comprar o pão. E o que nos ajuda a ganhar dinheiro? É a energia, o trabalho, a força e o esforço. Todas essas coisas vêm de dentro. Se uma pessoa tiver uma vida espiritual, ela ficará repleta de energia. A vida espiritual pode inspirar pessoas em todos os âmbitos da vida; ela pode ajudar qualquer um na Terra. A espiritualidade, no sentido estrito da palavra, existe para a realização-Deus. No entanto, se alguém não quiser ir tão longe, se quiser apenas um pouco de progresso na vida material para que se torne próspero, essa pessoa poderá utilizar a oração. A oração é uma forma de espiritualidade; a meditação também. Sua oração e meditação o ajudarão a obter mais dinheiro e se tornar mais próspero. Mas essa não é a verdadeira meta da vida espiritual. A meta da vida espiritual é obter o tesouro infinito, a infinita Luz do Supremo, que está sempre a nosso dispor. Porém, se pessoas mundanas praticarem a oração e a meditação, as coisas que desejam não serão levadas embora. Pelo contrário, elas as obterão em medida abundante.

 

Pergunta: Seria possível me esforçar por riqueza material na minha vida material e ainda assim manter a paz na minha vida interior?

Sri Chinmoy: Certamente. Mas saibamos de quanta riqueza material precisamos. Ela deve estar de acordo com as nossas necessidades. Se quisermos nos tornar a pessoa mais rica na Terra, poderemos orar e meditar por isso. Contudo, precisamos saber para onde essa oração estará nos levando. Se nos tornarmos os homens mais ricos do mundo através das nossas orações, ficaremos felizes? A nossa oração e meditação nos dizem apenas uma coisa: Deus é todo Alegria. Se orarmos a Deus para que faça de nós as pessoas mais ricas da Terra, Deus poderá ouvir a nossa prece. Mas a felicidade é algo completamente diferente. Neste mundo, quando Deus nos confere poder material, vemos que esse poder-dinheiro não é do que realmente necessitamos. Poder-amor, poder-unicidade é do que precisamos.

Se nos tornarmos os homens mais ricos do mundo através das nossas orações, ficaremos felizes?

Podemos até ser milionários, bilionários, mas quando vemos que as pessoas não nos amam, nossos corações se partem. Como pedintes, mendigaremos o amor dos outros. Contudo, o nosso poder material, o poder-dinheiro, não conquistará o amor dos outros. Apenas o nosso poder-amor, nosso poder-unicidade, será capaz de conquistar o seu amor. Assim, ao orarmos a Deus, que peçamos apenas uma coisa: “Seja feita a Vossa Vontade.” Se for a Vontade de Deus tornar um indivíduo a pessoa mais rica, Deus o fará. Se a Vontade de Deus for outra, então Deus agirá de forma diferente. Podemos orar a Deus por poder material, mas temos de ser sinceros à nossa causa. Queremos felicidade verdadeira na vida? Se queremos felicidade real na vida, temos de saber que o poder material pode ser um obstáculo à nossa descoberta-Deus.

 

Pergunta: Eu gostaria francamente de saber o que a espiritualidade da Índia fez por ela. Como é que, apesar dos seus yogis e santos, ela ainda é um país pobre e atrasado?

Sri Chinmoy: Primeiro de tudo devemos saber o que trouxe essa situação. Na Índia ancestral, a vida material não era renunciada. As pessoas aspiravam pela síntese da Matéria e do Espírito, e até certo ponto elas conseguiram alcançá-la. Mas há um abismo entre esse passado ancestral e o presente.

Em períodos subsequentes da história da Índia, os santos e visionários sentiram que a vida material e a vida espiritual nunca poderão caminhar juntas, que deveriam renunciar a vida exterior para alcançar Deus. Portanto, a vida exterior foi negligenciada. Isso levou a conquistas por estrangeiros e muitos outros problemas. Mesmo hoje, a postura de que a prosperidade e beleza materiais devem ser negadas é muito comum na Índia. Isso explica muito da sua pobreza continuada.

Mas hoje em dia há gigantes espirituais na Índia que sentem que Deus deve ser realizado na Sua totalidade, que o Criador e a criação são inseparáveis. Eles advogam a aceitação da vida, a necessidade verdadeira de progresso e perfeição em todas as esferas da existência humana. Essa nova abordagem é amplamente aceita na Índia moderna.

A Índia pode estar empobrecida hoje, mas ela progredirá rapidamente através da sua nova percepção e nova aspiração. Ela não apenas tem a magnanimidade do coração, como também o poder de trazer a força da sua alma à tona e utilizá-la para resolver todos os seus problemas.

 

Pergunta: Muitas pessoas acordam de manhã, engolem um café da manhã rápido e saem de casa correndo para o metrô, para trabalhar e ficar completamente envolvidas na sobrevivência no dia a dia. Antes do fim do dia é bem difícil sentar-se e ter uma abordagem espiritual do que acontece, pois é preciso estar lá fora, correndo. É preciso ter um emprego. Há alguma maneira de integrar a vida espiritual com a parte econômica?

Sri Chinmoy: A nossa filosofia é a filosofia da sabedoria: primeiro o mais importante. A maior parte dos seres humanos não tem paz, paz de espírito. Eles entram na correria do dia a dia pela manhã e, durante o dia, não sentem uma gota de paz. Mas nós sentimos que, se fizermos primeiro as coisas mais importantes, estaremos sendo sábios. De manhã cedo, se orarmos a Deus por ao menos alguns minutos, estaremos fazendo a coisa mais importante primeiro.

Agora sentimos que é o poder-dinheiro, a riqueza material, aquilo que nos trará satisfação. Mas não é o poder material, mas sim o poder interior, o poder espiritual que nos trará verdadeira satisfação. Se Deus, o Pai Todo Poderoso, estiver satisfeito conosco, Ele nos dará paz de espírito. Uma vez que tenhamos paz de espírito, não importa onde formos e que atividades façamos, teremos um sentimento de satisfação. Hoje a satisfação está muito distante. Mas se orarmos a Deus de manhã cedo, teremos um pouco de paz de espírito. Essa paz de espírito é certamente satisfação verdadeira na vida.

 

A jornada do desejo até a aspiração

Muitas vezes sentimos no dia a dia que o desejo é uma coisa e que Deus é outra. O desejo, dizemos, é ruim na vida espiritual, pois quando desejamos algo, sentimos que aquilo que queremos é o próprio objeto. É verdade que apenas através da aspiração é que podemos realizar Deus, mas Deus reside no nosso desejo assim como na nossa aspiração. Quando percebemos que o desejo também existe em Deus, essa é a nossa primeira iluminação.

Nossa jornada terrena começa com o desejo. Na vida comum, não conseguimos viver sem ele. Mas se sentimos que não estamos prontos para a vida espiritual porque temos muitos desejos, então nunca estaremos prontos para a vida espiritual. Temos de começar nossa jornada espiritual aqui e agora, enquanto ainda trilhamos o caminho do desejo.

Observemos o caminho do desejo como um objeto e sintamos o Alento de Deus dentro dele. Lenta e infalivelmente, o Alento de Deus surgirá e transformará o nosso desejo em aspiração. Se fizermos isso com a aspiração também, sentiremos que a nossa aspiração e a existência terrena nunca poderão ser separados.

Há dois tipos de homem na Terra que não possuem desejos: aqueles que têm almas libertas e aqueles que têm almas inertes, sem vida, enfadonhas. As almas libertas se libertaram do apego, limitações e imperfeições. Eles vivem livres da ignorância e se tornaram um com suas almas na iluminação transcendental. Todavia, alguns seres humanos não querem nada da vida. Eles somente chafurdam nos prazeres da inércia e letargia, sem aspiração para qualquer coisa. Eles nunca, nunca terão iluminação.

 

Você precisa começar

Certa vez, um jovem perguntou ao grande herói espiritual Swami Vivekananda como ele poderia realizar Deus. Vivekananda respondeu: “De agora em diante, comece a contar mentiras.” O jovem disse: “Você quer que eu conte mentiras? Como poderei realizar Deus? É contra os princípios espirituais.” Mas Vivekananda disse: “Eu sei mais do que você. Compreendo em que nível você está. Você não mexe uma palha; é um inútil, praticamente morto para a vida comum, tanto mais para a vida espiritual. Se começar a contar mentiras, as pessoas irão atacá-lo, e você terá de exercer a sua própria personalidade. Primeiro você precisa desenvolver a sua própria individualidade e personalidade. Chegará então o dia em que terá de entregar a sua individualidade e personalidade à Sabedoria divina, à Luz e ao Deleite infinitos. Mas primeiro você deve começar a sua jornada.”

Há algumas pessoas desequilibradas que sentem que realizarão Deus caminhando pelas ruas como vadios ou torturando seus corpos e permanecendo fracos. Eles encaram a fraqueza física como um precursor da realização-Deus. O grande Senhor Buddha tentou o caminho da mortificação, mas chegou à conclusão de que o caminho médio sem extremos é o melhor. Temos de ser normais; é preciso ser saudável no dia a dia. A aspiração não é algo sem relação com o nosso corpo físico. A aspiração do nosso coração e o nosso corpo físico caminham juntos. A aspiração física e a aspiração psíquica podem e devem correr juntas.

Desejo é ansiedade. Essa ansiedade encontra satisfação apenas ao se firmar num apego sólido. Aspiração é serenidade. Essa serenidade encontra satisfação apenas quando é capaz de se expressar através do desapego onisciente e tudo-amoroso.