Select Page

livro sagrado do hinduismo pdf bhagavad gitado livro de Sri Chinmoy, Comentários sobre o Bhagavad Gita


 

Livro Bhagavad Gita – capítulo 9 – O Segredo Supremo

 

O segredo supremo é o Conhecimento supremo. Ele não pode ser explicado. Ele deve ser realizado. Esse supremo Segredo está escrito em letras douradas nos mais profundos recônditos de cada coração divinamente humano. Ele não rejeita ninguém, nem mesmo aquele que está afogado em pecados. Aquele que não possui fé no que Krishna diz não terá saída das amarras da ignorância. Ter fé é ter uma medida de boa sorte singular. Assim como a devoção exemplar, a fé também precisa de um Deus pessoal, e ela tem um. A fé não é uma crença cega. A fé não é uma entrega cega, indefesa, aos livros sagrados. A fé é a percepção consciente da nossa liberdade ilimitada.

Krishna diz: “Ó Arjuna, a salvação não é para aquele que não possui fé. Ele está preso para sempre às tristezas da vida e às dores da morte.” (9.3) Aquele que trilha a estrada da fé verá por si mesmo a Verdade suprema aqui na terra. A determinação do coração aspirante do buscador é a sua fé mística. A convicção da reveladora alma do buscador é a sua fé triunfante. Um homem comum, não aspirante, é colocado a flutuar pelos mundos de falsas esperanças. Mas um homem de fé sempre vive nos mundos de forte afirmação. Completamente alegre e sem reservas, ele lança mais e mais combustível de fé reluzente no Altar de Deus. É desnecessário dizer que o florescimento de sua alma corre a passos largos.

Com um sorriso, Krishna diz: “Os desiludidos fazem pouco caso de Mim, das minhas encarnações humanas, não sabendo que Eu sou o Senhor Supremo de todas as coisas.” (9.11)

Reconhecer um Avatar não é uma tarefa fácil. É necessário ser abençoado pelo próprio Avatar ou possuir o dom da visão interior. Um aspirante deve se preparar para ser capaz de reconhecer um Avatar. Ele deve evitar os prazeres dos sentidos. Ele não pode ser controlado pelas paixões. É ele quem deve controlar suas paixões. Ele deve inspirar sempre o alento da pureza. O medo ele deve partir ao meio. A dúvida ele deve vencer. A paz ele deve invocar. A alegria ele deve beber.

Realizar cerimônias e ritos abstrusos não é necessário. A auto-doação é a única coisa necessária. Deus aceita tudo com a maior alegria. Podemos começar nossa jornada interior oferecendo a Ele folhas, flores e frutos. Mesmo o menor ato de oferecimento a Deus é um passo dos mais genuínos no caminho da auto-descoberta e Deus-descoberta. Nós pensamos. Se oferecermos nosso ‘pensar’ a Deus, esse próprio ato de oferecimento dos pensamentos nos fará por fim um com Deus, o Pensamento. Um homem comum sente que ele pensa apenas porque vive. Mas Descartes possui uma visão completamente diferente: “Penso, logo existo.” Esse “existo” não é apenas o fruto da criação, mas também o seu alento. São significantes as palavras de Bertrand Russell: “Os homens temem os pensamentos mais do que qualquer outra coisa na terra – mais do que a ruína, mais do que até mesmo a morte.”

Se pudermos descobrir um pensamento verdadeiro, divino, no mesmo momento Deus irá pedir ou obrigar o tempo a ficar do nosso lado. Com a exceção do tempo, nada pode nos ajudar a sentir o alento da Verdade e tocar os pés de Deus. Podemos possuir o tempo da Eternidade se realmente quisermos. São doces e cheias de significado as palavras de Austin Dobson: “O tempo se vai, você diz? Ah, não! O Tempo fica; nós vamos!”

Nós servimos. Se servimos a Ele, a Ele apenas, na humanidade, nos tornamos um com Sua Realidade absoluta e Sua Unicidade universal. Não podemos esquecer que nosso serviço dedicado deve ser oferecido com uma enxurrada do mais puro entusiasmo. O verso 29 é muito familiar e conhecido. “Para Mim, todos são iguais. Não sei favorecer; não sei desfavorecer. Meus devotos amorosos e que me adoram estão em mim; também eu estou neles.” (9.29) Essa é uma experiência que se destaca, como um resgate corajoso, na vida de um buscador verdadeiro. Não há privilégio especial. A todos é dada a mesma oportunidade. É desnecessário dizer que um verdadeiro devoto já passou por intensas disciplinas espirituais. Se ele agora se torna um devoto genuíno e passa a ser querido e próximo de Krishna, deve-se compreender que ele está tendo o resultado de suas disciplinas férreas e severas austeridades do passado. Sem dor, não há resultado. Sem sinceridade, não há sucesso. Tenha aspiração. Ela acelerará o seu progresso interior e exterior.

O devoto aspira. Sri Krishna reside em sua aspiração. O devoto realiza. Em sua relização, ele descobre que Krishna é o seu eterno alento. Um devoto nunca está sozinho. Ele descobriu a verdadeira Verdade – que o seu sacrifício o une com seu Senhor. Quanto mais ele se oferece conscientemente ao Senhor, mais forte se torna seu laço divino de união, ou melhor, unicidade.

Anityam (não duradouro, efêmero); Asukham (sem prazer, sem alegria)[1]. O mundo exterior vive em nossa consciência terra-limitada. Essa consciência terra-limitada pode ser transformada na Consciência Eterna através de aspiração, devoção e entrega. A Consciência Eterna abriga alegria perpétua. A libertação deve ser alcançada aqui neste mundo. Qualquer homem de promessa irá alegremente assinar a destemida declaração de Emerson: “Outro mundo!? Não há outro mundo. Aqui, ou em lugar nenhum, é a questão integral.”

Quando olhamos para o mundo com nosso olho interior, o mundo é belo. Essa beleza é a reflexão da nossa própria divindade. Deus, o Belo, tem nosso coração aspiração como Seu Trono eterno. Nós, os buscadores do Supremo, nunca poderemos seguir no mesmo sentido que a orgulhosa filosofia de Nietzsche. Ele profere: “O mundo é belo, mas possui uma doença chamada de homem.” Pelo contrário. Podemos dizer em termos precisos que o mundo é belo porque ele foi iluminado por uma beleza superna chamada de Homem.

Anityam e Asukham não podem envenenar o coração de um verdadeiro buscador. Sua fé é casada com seu destino dourado. Ele canta e canta:

 

Meus dias eternos se vêem em um tempo que acelera;

Eu toco Sua Flauta de rapsódia.

Feitos impossíveis não mais impossíveis parecem;

Em algemas-nascimento agora reluz a Imortalidade.

 

     – Sri Chinmoy, Immortality, My Flute, New York, 1972.

[1] * O autor aqui se refere ao verso 9.33 do Bhagavad Gita, onde ambas as palavras são usadas, e a segunda linha diz: “Você, que veio a este mundo transiente (anityam) e sem alegria (asukham), devote-se a Mim.”