por Juliana
Minha história nos esportes
Quando criança e adolescente eu era a última a ser escolhida para as equipes de educação física. Eu tinha muito medo da bola. Naquela época, não havia incentivo da família ou mesmo amigos que tivessem amor pelos esportes, que servissem de inspiração. Quando me tornei adulta, acabei priorizando a vida profissional e não sobravam tempo e energia para os esportes. E assim se passaram 35 anos. Sempre começando a fazer academia e parando após 1 ou 2 meses de pouca assiduidade.
Como comecei a treinar para a maratona
Em setembro de 2017, conheci o centro de meditação Sri Chinmoy, que me ensinou a meditar e me apresentou um caminho para a autotranscendência. Uma das dicas que aprendemos no curso de meditação fornecido pelo centro, é que para uma boa meditação a prática de esportes é um dos itens de grande importância. O professor indicou a corrida, pois é um esporte que não custa, precisamos apenas de um tênis e vontade. Como não estava me sentindo satisfeita com a minha vida, meus hábitos e desejava algo a mais, decidi que faria tudo que me fosse recomendado, tentaria fazer diferente. Em uma das aulas nos foi apresentado um documentário sobre uma senhora, que corria por aproximadamente 60 dias, o dia inteiro, em uma prova de rua organizada pelo centro internacional Sri Chinmoy. Fiquei impressionada, como isso seria possível? Os médicos dizem que é impossível! Foi super inspirador e me senti na obrigação de correr pelo menos por duas horas no dia seguinte. Mas, como eu não costumava fazer exercícios, consegui correr por 5 minutos direto (foi um super desafio) e caminhei por mais 25 minutos, porque o professor havia recomendado pelo menos 30 minutos de exercícios diários. No dia seguinte, consegui 10 minutos, depois 15 minutos e assim sucessivamente até chegar nos 40 minutos totalizando 5 km de corrida sem intervalos. Quando fiz os 5 km, me senti muito feliz, como se algumas barreiras mentais tivessem desmoronado, eu nunca antes pensei em correr. Foi uma experiência bem especial! Continuei correndo. Como ainda não tinha o hábito de correr, as vezes era bem difícil sair de casa para isso. No início, costumava ir 1 ou 2 vezes por semana para uma praça próxima à minha casa.
Foi um desafio estabelecer a rotina, mas com a meditação começamos a nos perceber, nos conhecer e sentimos com mais clareza o que está acontecendo dentro nós. E percebi que quando corria meu dia era bem melhor! Na minha turma tinha uma colega muito especial, que é minha amiga hoje, que começou a correr muito, a fazer exercícios, e ela me inspirou a continuar e intensificar os treinamentos. O professor e os colegas que já participam do centro de meditação há algum tempo, na sua maioria, são maratonistas e ultramaratonistas, muitas mulheres e pessoas acima dos 60 anos (são muito inspiradores e isso me incentivou). Com o tempo os 5km passaram para 7km, depois para 9km. Estava me sentindo muito bem. Após quatro meses, havia conseguido estabelecer uma rotina de exercícios, resolvi fazer academia para fortalecer os músculos e percebi que desta vez seria diferente, não sentia que iria desistir, pelo contrário, o sentimento era bem diferente.
Em fevereiro, soubemos que aconteceria a Maratona Internacional de São Paulo, em abril, com várias modalidades de prova, então, pensei em fazer a prova dos 24 km, o que seria um grande desafio! Mas um colega do centro, que é ultramaratonista, me incentivou a fazer a maratona e eu, sem pensar, aceitei! No dia seguinte consegui correr 15 km. Foi incrível. Naquele momento percebi que poderia facilmente correr os 24 km, tornando a maratona o grande objetivo, o grande desafio. Bom, eu tinha dois meses para treinar. Meu marido faz provas e correu algumas meia-maratonas nos últimos 4 anos. Mas ele nunca pensou em fazer uma maratona, pois sabe o quanto a maratona exige do corpo e da mente. Quando eu disse para ele que iria fazer uma maratona, ele que conhece meu histórico com esportes e sabe como é uma meia-maratona, disse: – você está louca!
Peguei um treino com o colega que me inspirou a fazer a maratona, peguei dicas com o professor que é ultramaratonista também e com os demais colegas. Fiz os treinos, mas não exatamente como haviam me passado, mas me exercitei quase todos os dias.
Como foi a experiência de correr a maratona
Enfim chegou o grande dia, 08/04/2018. Acordei as 4h da madrugada, meditei e fomos. Estava me sentindo muito feliz e grata. Logo no início encontramos um idoso de 98 anos de idade que ia fazer a prova de 8km, foi uma grande inspiração, na sequência, encontrei com uma senhora de 68 anos, que é ultramaratonista e que iria correr por 12 horas na próxima semana, super inspiradora! Quando cheguei aos 21km meu corpo já estava doendo bastante, no 24km encontrei um senhor de 65 anos que estava ajudando, apoiando e incentivando a todos que passavam por ele, um verdadeiro um anjo, que me deu energia para continuar. Ele estava andando, porque estava lesionado, mas estava andando muito rápido. No quilômetro 30 percebi que já havia superado minhas expectativas e que terminaria a prova nem que fosse andando ou me arrastando. Meus amigos estavam muito à frente de mim, algo que percebi por conta das enormes curvas da USP. As pernas estavam muito pesadas, as ruas já estavam ficando bem vazias, a maioria das pessoas não estava mais correndo, mas apenas andando, e isso estava me influenciando. Como eu andava de hora em hora para tomar meu suplemento alimentar, encontrei novamente com o senhor anjo (falei que ele anda rápido né?) Ele apareceu no momento em que eu estava precisando, já estava bem esgotada fisicamente, me incentivou muito e eu continuei. Estava no quilômetro 36. Neste momento a dor se foi, comecei a correr como se estivesse começando a correr naquele momento, foi incrível, a dor foi embora e o cansaço também. Até que encontrei uma amiga, que estava muito à frente de mim, ela estava muito esgotada, seguimos juntas correndo até o quilômetro 40, quando voltamos a andar até que outro anjo aparecesse e nos acompanhasse até a linha de chegada.
A meditação nas maratonas
Percebi o quanto eu havia me transformado com a meditação e que sem ela eu, definitivamente, não teria conseguido fazer a maratona. Durante todo o percurso não duvidei, não senti medo, não permiti que a dor me dominasse. Pela primeira vez na vida, percebi que tinha o controle da minha mente e que, com isso, nós podemos tudo. Nos identificamos com a mente e temos a impressão de que ela detém a verdade absoluta. Neste processo, desde a decisão de fazer a maratona, sinto que, por meditar, não dei ouvidos as pessoas que tinham medo ou colocaram restrições que me impossibilitassem de fazer a maratona. Não duvidei de mim. Tive energia e força para treinar e foi tudo tão natural, espontâneo, diariamente fazia a meditação e limpava minha mente, a cada dia uma nova oportunidade de superação.
Senti que a maratona é um treino para a vida de quem busca se superar. Se você quer evoluir, a dor é inevitável, mas o sofrimento é uma escolha (frase famosa que antes não fazia nenhum sentido para mim). Na maratona, se você quer concluir o percurso e se superar, não há outra alternativa, senão superar a dor e seguir em frente.
Maratona e o dia a dia
Em dado momento, você percebe que o resultado da sua vida é de sua responsabilidade, se você não fizer o que tem de ser feito, ninguém pode fazer por você. Na vida de evolução é assim, nos apropriamos da responsabilidade pelos resultados da nossa vida, se a nossa vida não está boa, é nossa responsabilidade. Como na maratona, é com você, só você pode ultrapassar a linha de chegada.
Percebemos que os melhores amigos são aqueles que acreditam neles mesmos, se eles acreditam neles, eles acreditam em você, e, por consequência, eles irão te motivar a seguir em frente, irão acreditar em você e te empurrarão para cima. Como na maratona, os anjos que apareceram, eles sabem da própria capacidade e por isso, sabem da sua capacidade também.
Na vida, como seres humanos, nosso propósito também é passar à frente o que aprendemos e o que ganhamos. Após a prova, a minha amiga, aquela que finalizou a prova comigo, me falou que eu tornei os últimos quilômetros mais leves para ela, não sinto que fiz nada demais, mas fiquei emocionada porque durante a prova eu também contei com a ajuda de algumas pessoas, me sinto muito grata, apenas por transmitir o que recebi, isso também dá sentindo a nossa vida.
Por fim, o mais importante, na vida como na maratona, o controle da mente faz com que consigamos ultrapassar as barreiras do que é racional. Nosso mestre, Sri Chinmoy disse: “ Como pode a sua vida ficar satisfeita com pequenas realidades, se o seu coração tem grandes sonhos”. Com a meditação, nos autoconhecemos, nos fortalecemos e expandimos nossa capacidade. A mente nos limita, o coração nos expande. Durante a maratona foquei no meu coração, como faço durante a meditação. Com gratidão tive a força que precisava para seguir em frente e concluir a prova. Foi uma lição de vida, algo transformador.
Resumindo, eu consegui fazer a maratona e se você quiser, você consegue!