por Patanga Cordeiro
“O servidor público internacional deve sempre mergulhar fundo de si para fortalecer sua dedicação e aumentar sua unicidade com seus irmãos e irmãs universais.” – Sri Chinmoy, num discurso sobre as Nações Unidas
Essa é mais uma história da minha vida cujo título não irá condizer com as expectativas dos leitores. O que acontece é que realmente passei num concurso público federal por causa da meditação, mas não é o que vocês imaginariam, algo como “fiquei mais focado, mais tranquilo, consegui me concentrar mais nos estudos.” Muito pelo contrário! Depois de começar a meditar, fiquei mais ativo, com menos tempo e com a cabeça a mil lidando com diversos projetos e inspirações pessoais! Leia para entender:
Quando comecei a meditar, eu estava cursando engenharia química na UFPR. Como estudante, minhas finanças eram reduzidas à liberdade financeira dos meus pais, que bastava para todas as necessidades diárias, com muito carinho da parte deles (é até bonito lembrar). Contudo, para os meus planos para a minha vida espiritual, que envolviam participar mais ativamente das atividades do Centro de Meditação, como viajar dentro e fora do Brasil para participar dos encontros dos discípulos, eu precisaria encontrar uma fonte de renda. De imediato, decidi trabalhar como jardineiro nos fins de semana, pois tínhamos as ferramentas de jardinagem em casa. Assim eu poderia estudar durante a semana e trabalhar nos fins de semana. Seria simples, mas talvez eu conseguisse fazer o mínimo que pretendia com essa renda.
Alguns dias depois, havia no mural do nosso Centro em Curitiba duas oportunidades de trabalho que envolviam provas. Uma era como assistente técnico da CELEPAR, e outro era para técnico judiciário da Justiça Federal. Eu achei que faria mais sentido ter um emprego fixo, pois isso me daria maior liberdade financeira.
Para tanto, comecei a estudar. Eu não tinha dinheiro para fazer cursinho preparatório, mas um colega que ganhou o cursinho de presente me encaminhou as apostilas via e-mail. Eu não tinha dinheiro para imprimir, então dividia o computador com meu pai e minha irmã para poder estudar durante as noites. Foi um estudo muito incomum, pois o computador ficava do lado da TV, onde à noite minha família sempre assistia muitos programas, em volume alto, em meio a fumaça de cigarro, com os dois cachorros e o gato brigando e tudo o mais que vocês imaginarem. Hoje em dia eu não conseguiria estudar assim, mas naquela época, de alguma forma, eu consegui.
Na verdade, eu tentei ler todas as apostilas, mas era muito, muito conteúdo para o pouco tempo que tinha. Então me concentrei no que parecia ser mais fácil, que era a parte de direito processual e administrativo. Tinha também português e raciocínio lógico. Tudo isso junto com os cursos de meditação, tradução de livros, viagens que conseguia fazer ou ganhava de presente, aprendizado de música espiritual, etc.
Uma prova era num domingo e a outra no domingo seguinte. Fui aprovado no concurso da CELEPAR, com um salário de 550 reais para 30h semanais. No concurso da Justiça Federal, que pagava na época 1800 reais para 40h, fiquei por volta de 180º lugar, sendo que só haviam 19 vagas. Eu nem sabia como funcionavam as listas de espera, mas achava que não iria ser chamado para trabalhar lá. Na verdade, o que me salvou na prova e me deixou entre os duzentos primeiros (esse fato será importante no fim da história), foi que eu fazia diversas traduções dos livros de Sri Chinmoy e, por conta disso, tive de aprender a escrever português corretamente.
Ter acertado praticamente toda a prova de português, que tinha peso triplo, foi o grande diferencial. Se eu não fizesse as traduções (que sempre fiz gratuitamente, por amor a compartilhar os escritos sagrados de Sri Chinmoy), não teria o emprego hoje. Essa é a primeira conclusão de como a meditação me ajudou a passar num concurso público. Não foi pela paz de espírito, mais foi ao encontrar uma vocação, uma forma de serviço e através de auto doação. “Buscai o Reino de Deus e as suas coisas, e tudo o mais seguirá.”
Quando faço que eu posso,
O meu Amado Supremo faz por mim
O que eu não posso.
– Sri Chinmoy
Comecei a trabalhar na CELEPAR e em breve vi que teria de largar a universidade, pois não seria possível me formar em engenharia enquanto trabalhava. (Disso surgiu o artigo “Como usar a meditação para passar no vestibular”). Durante esse tempo, usei a minha liberdade financeira da melhor maneira possível, e tive uma sensação de que Deus estava satisfeito com a minha postura, que, apesar de singela, era muito sincera e devotada (é bom escrever sobre a experiência, pois estou reavivando isso tudo enquanto escrevo).
Fui para Nova Iorque visitar meu Mestre, Sri Chinmoy, em agosto de 2005. (Disso surgiu o artigo “Se for a Vontade de Deus – ou não?”). Após alguns meses, recebi um telegrama me convocando para trabalhar na Justiça Federal. Descobri que estive entre os dez últimos candidatos a serem convocados para esse concurso. Após a nossa turma, o concurso perderia validade e seria feito um novo concurso.
(Na verdade, o concurso já tinha sido prorrogado uma vez, o que acho que foi um milagre que me deu mais oportunidades para usar minha pequena liberdade corretamente e criar mais vagas no concurso (por aposentadoria, desistência, etc.) para a minha nomeação)
Enfim, foi assim que a meditação me ajudou a passar num concurso público federal. Não ao aumentar a concentração ou qualquer outro clichê, mas sim ao mostrar para mim o que eu deveria fazer com a minha vida, que oportunidades eram mais importantes e o valor da auto doação e altruísmo na nossa vida.
Já fazem 11 anos que estou nesse emprego, que sinto cada vez mais que foi uma oportunidade que o Divino me proporcionou para fazer o seu serviço aos meus irmãos seres humanos do mundo inteiro. É nas minhas férias para as viagens espirituais, com o fruto do meu salário para servir os outros nos cursos de meditação gratuitos, com a relação interpessoal que sinto que posso fazer muito progresso interior e inspirar nos outros que valorizem a sua própria busca espiritual.
Não foi intencional, mas as escrever este último parágrafo, lembrei do trecho que abre este artigo. Acho que relendo ele agora, o sentido ficou bem mais claro para mim.
“O servidor público internacional deve sempre mergulhar fundo de si para fortalecer sua dedicação e aumentar sua unicidade com seus irmãos e irmãs universais.” – Sri Chinmoy, num discurso sobre as Nações Unidas