todos os textos são de autoria de Sri Chinmoy
fontes diversas traduzidas (Beyond WIthin, The Spiritual Life)
Possam a beleza de minha alma,
A pureza de meu coração
E
A sinceridade da minha mente
Tentar fazer a bondosa Terra feliz.
Se acreditamos que com a mente adentramos um nível muito profundo e muito vasto, mesmo tal sensação de profundidade e imensidão não é praticamente nada se comparada com a experiência que já tivemos ou poderemos ter. Quando dizemos a uma criança que algo é muito grande, ela logo pensará num elefante ou numa casa. É a sua concepção de grandeza. Quando pensamos com a mente, a nossa idéia de profundidade e imensidão é semelhantemente limitada. A mente não pode conceber uma vastidão infinita, não pode receber adequadamente tal impressão. Por isso, quando um aspirante busca trazer algumas qualidades divinas com a sua mente, tem de saber que a mente nem sequer consegue conceber essas qualidades, e muito menos conseguiria atraí-las. Isso é porque as concepções da mente humana são limitadas, ao passo que as qualidades divinas são ilimitadas.
A intuição e o conhecimento intuitivo nunca vêm da mente consciente ou do plano subconsciente. A intuição não está ligada à mente, está além. O reino da intuição está muito acima da região mental. Sempre que você recebe um vislumbre ou uma verdade do plano intuitivo, ela não precisa de nenhum apoio do plano mental, vital ou físico para a sua manifestação. Ela é divinamente única e universal, e tem o poder de despertar e iluminar o buscador.
Há duas estradas. Uma é a estrada da mente e a outra é a do coração. A estrada do coração é um atalho. Se trilharmos a estrada-mente, com freqüência encontraremos dúvidas. Duvidaremos da nossa própria aspiração, duvidaremos das nossas próprias experiências e do nosso próprio sentimento por Deus. Num momento amamos Deus, e, no momento seguinte, deixamos de amá-Lo porque Ele não realizou os nossos desejos. No caminho-mente estamos sempre contradizendo os nossos próprios pensamentos. Num momento dizemos que o caminho é muito bom e que estamos progredindo, e no momento seguinte, quando os nossos desejos não são satisfeitos e as dúvidas entram em nós, o nosso progresso é interrompido.
O outro caminho é o do coração. Uma vez que amamos Deus, nos lançamos no mar de Paz, Luz e Felicidade. Como uma gota que cai no poderoso oceano, sentimos que nos convertemos no próprio oceano. Se empregarmos a mente, ela duvidará imediatamente, dizendo: “Serei destruída neste imenso oceano!” Mas o coração dirá: “Ao saltar não me perderei, apenas me tornarei o Infinito.” O coração é uma criança, e uma criança sempre tem fé nos seus pais. Se nós temos um Mestre, teremos fé nele e também teremos fé em Deus, pois Deus está sempre fazendo o melhor por nós. Isso é o que sentimos quando seguimos o caminho do coração. É o caminho mais curto.
Há muitas razões para que eu aconselhe as pessoas a permanecerem no coração e não na mente. O coração sabe como se identificar com o Mais Elevado, com o mais distante, com o mais profundo. No caso da mente não é assim. A mente tenta identificar-se com um objeto, com uma pessoa, com algo limitado. Essa identificação não é pura nem completa. Quando a mente tenta identificar-se, ela foca o objeto com um olhar de hesitação, ou mesmo de suspeita. Mas quando o coração quer identificar-se com algo ou alguém, utiliza o sentimento de amor e unicidade. Quando o coração deseja ver algo, ele o vê sem reservas. Já a mente procura atrasar e separar ao tentar enxergar alguma coisa. O coração simplifica, a mente complica. De maneira inconsciente, a mente obtém prazer em coisas complicadas e confusas, enquanto o coração se alegra nas coisas que são simples.
A mente humana, física, terrena, está presentemente à nossa disposição. Mas a mente superior, a mente mais elevada, a mente intuitiva e a supermente não estão à nossa disposição no momento. No dia-a-dia utilizamos aquela mente física terrena que está sempre a se contradizer. É uma pena que raramente usemos o coração, que é todo amor, todo simpatia, todo pureza, todo cuidado, todo harmonia e todo unicidade.
Por que é que eu peço que dêem mais atenção ao coração do que à mente? Porque o coração expande. A alma representa a nossa iluminação, e é dentro do coração que ela reside. Na vida espiritual o nosso tesouro é a alma. É apenas com a ajuda da alma que podemos fazer o mais rápido progresso na vida interior, e só podemos contatar a alma se meditamos em nosso coração. Todos os caminhos conduzem à meta, mas há uma estrada específica que nos leva mais rápido que as outras.
Não estou falando do coração humano ou físico, que é apenas um órgão, ou do coração emocional, o qual é na verdade o vital. Estou falando do coração puro, o coração espiritual. Alguns Mestres espirituais dizem que o coração espiritual está no centro do peito, outros dizem que está situado um pouco à direita e alguns dizem à esquerda. Inclusive há um Mestre que diz que o coração espiritual está um pouco acima do meio das sobrancelhas, no chamado terceiro olho. Como é que um Mestre espiritual pode dizer isso? Porque o terceiro olho iluminado é luz, e o coração iluminado também é todo luz. De acordo com a minha própria realização, o coração espiritual encontra-se no centro do peito, no centro da nossa existência.
O coração é como um comandante, enquanto que a alma é o rei. Quando a alma vem ao mundo, o seu primeiro interesse é iluminar o coração. Quando a alma separa-se do corpo, automaticamente o comandante perde o seu poder. O coração deseja estar com o seu rei, não quer seguir ou juntar-se a outro rei ou a outro exército. No mundo exterior os nossos amigos podem nos decepcionar, mas no caso da alma e do coração, a sua intimidade é muito mais próxima. O nosso físico às vezes não escuta a alma, e o nosso ser vital e mente podem ignorá-la. Mas o coração é sempre fiel à alma. O coração também sabe identificar-se com outros corações. Uma mãe não tem de demonstrar o amor pelo filho dizendo-lhe: “Eu amo você, eu o amo”, porque a sua identificação com o filho fará com que este se sinta amado. O verdadeiro coração não necessita convencer; ele tem o poder da unicidade.
Para que você consiga entender que você não é a mente, mas sim a alma, primeiro tem de ir além da mente. Há duas maneiras de fazê-lo: uma, subindo através dos diferentes níveis da mente, transcendendo-os, e outra, trazendo Luz dos planos superiores até a mente. Quando a Luz superior alcança a mente, esta deixa de ser um obstáculo à realização interior da nossa unidade consciente com a existência de nossa alma.
Na verdade, quando nascemos não viemos da luz para a escuridão. É um assunto muito complexo. Cada nascimento faz parte do processo evolutivo. Cada pessoa tem uma alma e, quando esta entra na matéria, é a partir dela que aspira. A Mãe Terra tem o anseio interior, a aspiração de tornar-se uma com o Altíssimo, o Eu cósmico, e eventualmente todos os seres humanos da Terra se tornarão um com o Espírito altíssimo. É um processo evolutivo que conduz à perfeita Perfeição.
Quando Deus não está na criação, mas sim além dela, Ele é todo Luz e desfruta da Luz do Além. Mas quando entra na manifestação, Ele deseja experimentar a Si mesmo em milhões de formas. O Eu cósmico deseja completar o seu jogo cósmico em cada indivíduo e em cada criatura aqui na Terra, e é por isso que a evolução ocorre.
A nossa alma é toda luz. Mas na Terra a atmosfera não é propícia à aspiração. Quando alguém nasce, a primeira coisa que vê é ignorância e ilusão em toda parte. No plano mais elevado todos somos perfeitos, mas agora, no plano material, estamos vivendo o jogo da ignorância. Durante a meditação elevamos um pouco a nossa consciência, e nos vemos centenas de quilômetros acima da cama de espinhos. Todavia, se ficarmos somente onde a nossa meditação nos leva, acima dos espinhos, e clamarmos por perfeição, nosso clamor será apenas parcialmente satisfeito. Não estaremos saboreando a fruta toda. Deus está dentro de tudo e também deve ser realizado no plano material. Na filosofia mais profunda, aquilo a que chamamos noite não é noite absoluta. Também lá há alguma luz. Uma pessoa realizada tem naturalmente mais luz que uma outra que não é realizada. O mundo diz que a pessoa não-realizada é toda ignorância porque não realizou Deus. Estamos sempre a comparar uma pessoa com outra. O que se passa na realidade é que estamos crescendo de pouca luz até uma luz maior, até a Luz abundante, cada um de acordo com a sua própria compreensão.
A alma só se manifesta neste planeta porque ele está em evolução. Evolução significa conquista e progresso constantes. Quando alguém deseja progredir e quer seguir adiante, este é o lugar. Nos outros mundos, os Deuses cósmicos e outros seres estão satisfeitos com aquilo que alcançaram. Não querem ir um centímetro além daquilo que já possuem. Mas aqui na Terra você não está satisfeito, eu não estou satisfeito, ninguém está satisfeito com aquilo que já atingiu. Estar insatisfeito não significa estar zangado com alguém ou com o mundo, não. Insatisfação significa que temos aspiração constante para seguir adiante. Se nós temos um pouco de luz, desejamos ter mais luz: queremos sempre expandir.
Quando a criação teve início, as almas tomaram caminhos diferentes. Aquelas que quiseram a Verdade última, a Verdade infinita, aceitaram o corpo humano de modo a algum dia poderem alcançar, revelar e manifestar a Verdade aqui na Terra. Segundo a tradição indiana, existem milhares de Deuses cósmicos. São tantas deusas e deuses regentes quanto seres humanos. Esses deuses permanecem em mundos superiores, seja no mundo vital, no mundo intuitivo ou em qualquer outro plano elevado. No momento, de acordo com a limitada capacidade deles, eles têm mais poder do que nós. Mas quando estivermos libertos e realizados, quando formos totalmente unidos com a Consciência do Supremo, com a Vontade do Supremo, nós os transcenderemos.
A nossa capacidade humana é infinitamente maior que a das chamadas deidades regentes, porque estas estão satisfeitas com aquilo que têm, e nós não. Mas na realidade não é uma questão de insatisfação; é um caso de aspiração constante. Sabemos que o nosso Pai Supremo é infinito, e sentimos que ainda não chegamos a ser o Infinito, mas clamamos por nossa expansão constante. Aqui há este anseio interior. Por um lado, o planeta é obscuro, ignorante, e não se interessa pela vida divina, mas por outro lado tem esse impulso interior tremendo, do qual a maioria dos seres humanos não está consciente. Quando esse anseio interior opera, não há fim para as nossas possibilidades, para as nossas conquistas, e, quando alcançamos o Infinito, naturalmente superamos as conquistas dos outros mundos.
A sua alma tem uma missão especial e ela está supremamente consciente disso.
Maya, a ilusão ou esquecimento, o faz sentir finito, fraco e indefeso. Isso não é verdade. Você não é o corpo, não é os sentidos, não é a mente. Estes são todos limitados. Você é alma, ilimitada, infinitamente poderosa e que desafia tempo e espaço.
Poderá você algum dia realizar a alma? Poderá estar plenamente consciente da sua alma e ser um com ela? Certamente que sim, pois você não é nada senão a alma. A sua alma é quem representa o estado natural da consciência. Mas a dúvida torna difícil percebê-la. A dúvida é o conflito estéril do homem no mundo exterior. A aspiração é a confiança frutífera do aspirante no mundo interior. A dúvida luta persistentemente e por fim derrota o seu próprio objetivo. A aspiração voa acima, ao altíssimo, e ao fim da sua jornada ela alcança a Meta. A dúvida baseia-se na observação exterior. A aspiração é fundada na experiência interior. A dúvida termina em fracasso porque vive na mente física finita. A aspiração termina em êxito porque vive na alma sempre-ascendente. Uma vida de aspiração é uma vida de Paz. Uma vida de aspiração é uma vida de Felicidade. Uma vida de aspiração é uma vida de Plenitude divina.
Para saber qual é a sua missão especial, você tem de mergulhar fundo dentro de si. A esperança e a coragem devem acompanhá-lo em sua jornada infatigável. A esperança despertará a sua divindade interior. A coragem fará florescer a sua divindade interior. A esperança o inspirará a sonhar com o Transcendental. A coragem o inspirará a manifestar o Transcendental aqui na Terra.
Para sentir qual é a sua missão especial, você tem de criar. Essa criação é algo naquilo em que por fim você se torna. Você perceberá que a sua criação não é nada senão a sua auto-revelação.
É certo haver tantas missões quanto almas, mas as missões só se cumprem depois das almas alcançarem um certo grau de perfeição. O mundo é um teatro divino; cada participante toma um papel para o seu êxito. O papel do servo é tão importante quanto o do mestre. Na perfeição de cada parte individual está a plenitude coletiva. Simultaneamente, a plenitude individual só alcança a perfeição quando o indivíduo estabelece a sua conexão inseparável e percebe a sua unicidade com todos os seres humanos do mundo.
Você é um dos pés à cabeça, apesar de haver lugares nos quais você se chama ouvidos e outros nos quais se chama olhos. Cada parte do corpo tem seu próprio nome. Contudo, são todas partes do mesmo corpo, e uma não pode levar a cabo a ação da outra. Os olhos vêem, mas não podem ouvir. Os ouvidos ouvem, mas não podem ver. Assim, o corpo, sendo um, é também muitos. Igualmente, também Deus é um e manifesta-Se de muitas formas.
Deus nos conta a nossa missão, mas não entendemos a Sua linguagem, e Ele tem de ser o Seu próprio intérprete. Quando os outros nos falam sobre Deus, nunca podem nos dizer completamente o que Deus é. De um lado, eles O desfiguram. Do outro, nós não compreendemos. Deus fala em silêncio, Ele elucida a Sua mensagem em silêncio. Portanto procuremos também escutar e entender Deus em silêncio.
A sua alma tem uma missão especial? Sim. A sua missão está nos mais profundos recessos do seu coração, e você terá de encontrá-la e realizá-la. Não pode haver um caminho externo a satisfazer a sua missão. O cervo produz odor de almíscar no seu próprio corpo, e então o cheira, fica fascinado e tenta descobrir a origem desse cheiro. Ele corre e corre, mas não consegue encontrá-la. Na sua busca sem fim, o cervo perde toda a sua energia e por fim morre. Mas a origem que ele procurou tão desesperadamente estava dentro de si mesmo. Como poderia encontrá-la noutro lugar?
Com você é o mesmo caso. A sua missão especial – que é a descoberta da sua parte divina – não está fora, mas dentro de você. Procure no seu interior. Medite no seu interior. Você saberá a sua missão.
É um privilégio excepcional
Ter a beleza de uma mente serena,
A pureza de um coração amoroso
E
A divindade de uma vida humilde.
todos os textos são de autoria de Sri Chinmoy