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livro mestre discipuloTítulo: O Mestre e o Discípulo / The Master and the Disciple

Considerações sobre a a relação Guru-discípulo

200p, Aum Publications, Nova Iorque

Você pode encontrar o livro em inglês e em português.

 



 

Eu li a versão em inglês e traduzi a introdução, escrita originalmente por Sunanda, que aborda de forma resumida parte da filosofia contida no livro sobre o tema. Abaixo, traduzi alguns trechos para ilustrar o tema. Os capítulos são:

 

Prólogo: O Guru

O Papel do Guru

Escolhendo um Guru

O Mestre Realizado

O Mestre e o Discípulo

Unicidade com o Mestre

Estórias e Peças

Nosso Caminho

 

INTRODUÇÃO

 

O que é um Mestre espiritual genuíno, e que espécie de sabedoria ele incorpora? Quem são seus discípulos e que força os compele a segui-lo? Nesta expressiva coleção de escritos, o Mestre espiritual Sri Chinmoy ilumina para nós a dinâmica profundamente tocante que liga o Mestre espiritual ou Guru e seu discípulo. Essa dinâmica é eloquente com amor, e evidencia uma visão transformadora da vida. As palavras de Sri Chinmoy revelam uma verdade espiritual mais elevada, cuja conquista se dá através da odisseia que Mestre espiritual e discípulo empreendem juntos. A natureza dessa odisséia merece nosso entendimento.

Nos termos de Sri Chinmoy, um verdadeiro Mestre espiritual ou Guru é alguém que atingiu a Deus-realização, a perfeição última na sabedoria da vida, e que busca transmitir essa sabedoria a outros. A qualquer um com uma ardente sede por conhecimento interior e paz, tal sabedoria é facilmente visível na alma Deus-realizada. Sri Chinmoy emana brilho e paz tão profundas, e amor tão acolhedor e incondicional, que não se pode escapar de sentir um silencioso deleite em sua presença. O Mestre iluminado raramente transmite sua sabedoria através de palavras e nunca através de instruções didáticas. Seu ensinamento é o silêncio do seu olhar fixo e atento, a harmonia dos seus gestos, a compaixão do seu sorriso e a imensidão do seu coração. Sua autoridade advém do seu amor e paz, e é por estes que os discípulos se associam a ele com consciente devoção à vontade de seu Mestre.

Há poucas almas Deus-realizadas e menos ainda Mestres espirituais Deus-realizados. Como Sri Chinmoy enfatiza, o genuíno Mestre espiritual, reconhecendo que a riqueza interior que ele descobriu é direito de nascença e tesouro oculto de cada ser humano, oferece seu presente aos indivíduos sofredores e buscadores em todos os lugares. Esse presente necessário vem sem cobrança, porque amor e paz não têm preço e nos ensinam a ver seus reflexos em todas as coisas criadas. E assim, com infinita compaixão, o Mestre espiritual toma as frustrações e dores daqueles que vêm a ele e dá em troca sua paz e alegria.

Um Mestre espiritual é um artista de infinita paciência. Nele, estão juntas a determinação de um guerreiro destemido e a delicadeza da mais terna mãe. Usando anos como unidade de tempo, ele molda o material humano recalcitrante de seus discípulos na própria imagem da paz. Essa empreitada é enorme. A paz é tão natural para a alma humana como o ar é para a respiração, e ainda assim às vezes ela nos escapa. Todos nós dizemos querer nada mais do que paz, embora cada um viva num mar de turbulência. O problema está em nossa ignorância, dúvida e devoção inadequada à fonte de paz dentro de nós. Portanto, o Mestre espiritual deve repetidamente compelir seus discípulos a se afastarem das falsas soluções para as dificuldades da vida e a encontrar seu próprio e derradeiro refúgio no templo de seus corações.

Através da sua simplicidade de criança, alegria e serenidade, o Mestre continuamente oferece ao discípulo uma imagem do verdadeiro objetivo do discípulo. Primeiro, a influência do Mestre provê o discípulo com repetidas, porém temporárias, experiências de tranquilidade e deleite. Mas, com o passar do tempo, essas experiências despertam no discípulo uma fé florescente em seu próprio potencial interior. Essa fé anseia pela realização de sua própria visão interior. Sri Chinmoy escreve: “É trabalho do Mestre espiritual fazer seus discípulos sentirem que, sem amor, sem verdade e luz, a vida é sem sentido e infrutífera. A coisa mais importante que um Mestre espiritual faz por suas crianças espirituais é trazer a eles a percepção consciente de algo vasto e infinito dentro delas mesmas, o qual não é nada menos que o próprio Deus.”

Para Sri Chinmoy, o principal veículo de instrução espiritual é a meditação, através da qual o Mestre gradualmente desperta qualidades que permitirão ao discípulo progredir interiormente e combater os efeitos das forças e hábitos negativos e autodestrutivos. Através da meditação, o discípulo começa um processo que por fim transforma as raízes do seu ser. Esse processo o compele a cessar de se identificar com eventos exteriores, os sucessos e fracassos da sua vida. Em vez disso, ele começa a encontrar uma fonte confiável dentro de si, uma fonte tão profunda que é imperturbável pelas vicissitudes da vida. Cada evento da vida, alegre ou doloroso, torna-se uma ocasião através da qual o discípulo aprofunda sua devoção a essa fonte de notável beleza e acalenta o deleite que ela lhe oferece. A misteriosa jornada em direção a essa fonte desconhecida revela-se um milagre de alegria e gratidão, que, para o verdadeiro buscador, torna-se a realidade motriz da sua vida. Todas as demais experiências perdem importância frente à necessidade dessa jornada em direção à paz, luz e deleite.

Sri Chinmoy nos diz que, à medida que o Mestre espiritual alimenta a sede interior de seus queridos discípulos, ele os leva a perceber que a altura e a realização de Paz infinita do Mestre são deles mesmos. Quando o discípulo percebe essa verdade, ele entende que obediência verdadeira ao seu Mestre é nada mais que sua constante determinação em permanecer no seu coração e pedir a luz do Mestre para si. Obediência exterior, ou cumprimento dos conselhos e pedidos do Guru espiritual, apenas expressa o reconhecimento exterior de que, como o seu Mestre é todo para ele, o discípulo anseia ser todo por seu Mestre. Como ele é um com seu Mestre, o discípulo faz da visão do Mestre a sua própria. Porque o Mestre é um com seu discípulo, ele alegremente aceita as imperfeições do discípulo como suas, e assume total responsabilidade por transformar aquelas imperfeições em perfeições.

Com maravilhosa gratidão, o discípulo percebe incontáveis vezes que seu amor-próprio, carregado de dúvidas sobre si mesmo, é nada comparado ao amor que seu Mestre nutre por ele. A princípio hesitante, e depois com crescente devoção, ele se entrega à experiência desse amor. Com o poder curativo de sua compaixão, o Mestre lentamente substitui as limitações do seu discípulo por sinceridade da mente, pureza do coração e devoção a uma visão de vida santificada.

Sri Chinmoy chama seu caminho um caminho de amor, devoção e entrega. O discípulo ama seu Mestre, e através dele ama seu próprio eu mais elevado. Ele devota-se a nutrir, com infinito cuidado e afeição carinhosa, a realidade que seu Mestre traz à tona em seu interior. E, finalmente, ele alegremente entrega todo o seu ser, com todas as imperfeições, à vontade da sua própria realidade. Através da unicidade com seu Guru, ele aprende que cada um de nós possui Deus dentro de si, e que toda a criação é nada senão a Luz de Deus. Ele vê que seu papel é simplesmente ser dessa Luz, para manifestá-la e para amá-la e acalentá-la nos outros. Com uma enxurrada de deleite, ele abraça a dádiva da vida. Com gratidão, ele oferece essa vida à visão de seu Mestre. E com inimaginável compaixão, seu Mestre lhe mostra o oceano de paz da sua própria vida.

Sunanda

 

 

Trechos do livro:

 

 

SEU VERDADEIRO PROFESSOR

 

Aquele que o inspira

É o seu verdadeiro professor.

 

Aquele que o ama

É o seu verdadeiro professor.

 

Aquele que o força

É o seu verdadeiro professor.

 

Aquele que o aperfeiçoa

É o seu verdadeiro professor.

 

Aquele que o valoriza

É o seu verdadeiro professor.

 

 

 

O MESTRE E O DISCÍPULO

 

Um verdadeiro Mestre espiritual é aquele que tem unicidade inseparável com o Altíssimo. Por via de sua unicidade, ele pode facilmente entrar no buscador, ver seu desenvolvimento e aspiração, e saber tudo sobre sua vida interior e exterior. Quando o Mestre medita em frente aos seus discípulos, está trazendo Paz, Luz e Beatitude das Alturas, e isso entra neles. E do interior eles aprendem automaticamente como meditar. Todos os verdadeiros Mestres espirituais ensinam meditação em silêncio. Um Mestre genuíno não precisa explicar exteriormente como meditar ou dar-lhe uma forma específica de meditação. Ele pode simplesmente meditar em você, e seu olhar silencioso o ensinará como meditar. A sua alma entra na alma dele e traz dela a mensagem, o conhecimento de como meditar.

 

 

 

O MESTRE REALIZADO

 

Deus-realização é Auto-descoberta no mais elevado sentido do termo – a percepção consciente da sua unicidade com Deus. Enquanto permanecer em ignorância, sentirá que Deus é um outro ser, que tem Poder infinito, e que você é a mais débil pessoa na Terra. Mas, no momento que realizar Deus, virá a saber que você e Deus são absolutamente um, tanto na vida interior quanto na exterior. Deus-realização significa a sua identificação com seu próprio e absolutamente mais elevado Eu. Quando puder identificar-se com o seu mais elevado Eu e permanecer nessa consciência para sempre, quando puder revelá-la e manifestá-la à sua ordem, então saberá que realizou Deus.

 

 

A vida dele é cheia de barulho,

A vida dele é cheia de correria,

A vida dele é cheia de pressa.

Ele é uma imagem da insinceridade,

Ele é uma imagem da ingratidão,

Ele é uma imagem do fracasso.

Ele falha em silenciar a tempestade de sua carne,

Ele falha em sair do abismo de sua dúvida,

Ele falha em sepultar o caixão do seu medo.

Ainda assim

Ele será salvo,

Ele será libertado,

Ele será completo.

Pois

Ele ouviu os passos de seu Mestre.