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Prazer e deleite, sofrimento e purificação

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

Deleite e consciência divina

Há uma grande diferença entre prazer e alegria. O que acontece é que o mundo humano, a consciência humana, clama por prazer; e, a cada vez que o prazer é satisfeito, vemos que a frustração emerge do prazer. Mas sentindo que a alegria está vindo para as nossas vidas, essa alegria irá da alegria para mais alegria, alegria abundante, alegria ilimitada. Assim, quando há verdadeira alegria em nós – quando meditamos por cinco ou dez minutos – obtemos a alegria interior que nos satisfaz. Todavia, quando pensamos no prazer, em comprar algo desnecessário, como um Cadillac ou algo do tipo, estamos obtendo prazer com aquilo. Logo em seguida nos sentimos frustrados, pois o que obtivemos não é bom o suficiente; queremos algo mais confortável. Estamos correndo atrás de conforto. Se corrermos atrás do conforto com o auxílio do nosso desejo, naturalmente não ficaremos satisfeitos. Já, ao clamar por alegria, alegria interior, toda vez estamos correndo em direção à satisfação, pois a alegria interior só quer que satisfaçamos Deus; e apenas ao satisfazer Deus é que podemos ser verdadeiramente satisfeitos.

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Há uma noção comum de que, se passarmos por sofrimentos, tribulações e dor física, nossa existência será purificada. Essa ideia não está fundamentada em realidade. Há muitas pessoas que sofrem por causa do seu karma passado ou por causa de forças não divinas que as atacam, mas não podemos dizer que essas pessoas estão se aproximando do seu objetivo. Elas têm de aspirar mais sinceramente para alcançar seu objetivo. Não abraçaremos a dor; tentaremos superar a dor se ela aparecer. Ao encararmos a dor como uma experiência, seremos capazes de transformá-la em alegria através da nossa identificação com a alegria, a qual devemos então tentar trazer para dentro da dor.

Dores físicas, vitais e mentais devem ser transformadas em alegria através do nosso constante clamor interior por algo que irá nos dar verdadeira e permanente satisfação. Na vida espiritual, a melhor coisa é encarar a dor como uma algo que deve ser transformado numa experiência de alegria. A alegria é a única realidade eterna, a única realidade permanente e duradoura. Mas seria completamente errado dizer a que, a cada vez que sofremos, damos um passo em direção à nossa meta.

Algumas pessoas sentem que a dor é indispensável, mas não é necessário passar pelo sofrimento para que possamos entrar no reino do Deleite. Muitas pessoas realizaram Deus através do amor. O Pai possui amor pelo filho, e o filho possui amor pelo Pai. Esse amor nos leva à nossa meta. A nossa filosofia enfatiza a maneira positiva de se aproximar da Verdade. Temos uma luz limitada; tentemos aumentá-la. Que façamos progresso de muita luz para luz abundante e Luz infinita.

 

A mais elevada descoberta é esta: viemos do Deleite, estamos no Deleite, nos tornamos o Deleite e, ao fim da nossa jornada, nos retiramos para o Deleite.

 

Agora o Deleite está no mundo interior. O mundo exterior é todo sofrimento. Vemos as pessoas discutindo e brigando. Temos muitos elementos não divinos em nós: medo, dúvida, ansiedade, etc. Mas, quando mergulhamos fundo no nosso interior, através da nossa meditação mais elevada descobrimos que o Deleite é a nossa origem, a nossa Fonte. No Deleite jogamos o Jogo cósmico e, ao fim do Jogo cósmico, nos retiramos novamente ao Deleite.