Por Patanga Cordeiro, com textos de Sri Chinmoy
“Conheça a ti mesmo” – essa é a vida do Hinduísmo.
O hinduísmo é uma religião tão antiga quanto a humanidade, certamente anterior a 12.000 a.C. Aqui tentaremos explorar o tema e responder algumas das perguntas comuns a quem está pensando sobre o tema.
O que é o hinduísmo? É uma religião ou uma cultura?
O hinduísmo abriga muitas filosofias e credos. Ele é tudo abrangente em seu amor e dá importância a todas as personalidades espirituais do mundo. O hinduísmo incorpora certos ideais externos e enxerga a verdadeira harmonia nos ensinamentos de todas as religiões. De uma certa forma, o hinduísmo é mais uma cultura espiritual auto disciplinada do que uma religião. –Sri Chinmoy, World-destruction: never, impossible! part 1, Agni Press, 1994
A religião Hindu e o amor a Deus
Eu nasci na religião hindu, mas a minha religião agora é apenas amar a Deus e servir a Deus. Amar a Deus abrange todas as religiões:Cristianismo, Hinduísmo, Judaísmo, Islamismo e outras. Eu nasci como hindu, mas sendo um amante-Deus, amo todas as religiões e considero todas as religiões como minhas. – Sri Chinmoy, Aspiration-body illumination-soul, part 1, Agni Press, 1993
“The Hindu attitude to religion is interesting. While fixed intellectual beliefs mark off one religion from another, Hinduism sets itself no such limits. Intellect is subordinated to intuition, dogma to experience, outer expression to inward realisation.” – Dr Radhakrishnan
O hinduísmo sabe como absorver; ele sabe, também, como rejeitar para ser capaz de sentar-se aos pés da Verdade. O hinduísmo é um clamor incessante pela Verdade. Ele aspira ser a essência de uma panaceia espiritual tudo abrangente para alimentar a humanidade. – Sri Chinmoy
Deuses hindus
Frequentemente há curiosidade sobre os deuses hindus e suas esferas de atuação. Talvez por esse motivo, também haja muita confusão sobre o tema! Tentarei explicar de acordo com a minha própria cognição, baseado nos ensinamentos de Sri Chinmoy, meu Mestre, que conheceu bem a religião hinduísta. Eu mesmo não possuo religião, mas profunda reverência e admiração por todas, bem como seus ensinamentos me auxiliam no meu caminho espiritual.
Deuses do hinduísmo: monoteísmo ou politeísmo?
O hinduísmo aponta para Brahman como a causa e a consequência, o início e o fim, o tudo e o nada ao mesmo tempo, o absoluto e o relativo em um só. Assim, do ponto de vista mais ocidental, cristão, do termo, Brahman seria o termo no hinduísmo equivalente a Deus. Portanto, o hinduísmo é uma religião monoteísta.
Há vários deuses do hinduísmo (deixarei aqui com letra minúscula “deus”, de forma a não confundir com o termo “Brahman”/”Deus” com letra maiúscula). Cada um deles é o representante de qualidades divinas. Assim como Deus/Brahman pode ser visto como a completude de qualidades infinitas, como Beleza, Luz, Compaixão, etc, os deuses individuais do panteão hindu podem ser vistos como personificações dessas qualidades. Por isso conhecemos os nomes como Ganesha, Saraswati, Kali, etc. Observando qualquer um desses deuses do hinduísmo, podemos ser levados na direção do Brahman absoluto / Deus.
Brahma (não confunda Brahma com Brahman), Vishnu e Shiva seriam agrupamentos maiores, com mais qualidades e mais capacidades que os deuses cósmicos que mencionamos anteriormente. Se o tridente é uma arma, é como se Brahma, Vishnu e Shiva fossem cada uma das três pontas. Juntos, eles formam a arma completa. Brahma representa o aspecto Criador, Vishnu o mantenedor e Shiva o Transformador. Assim, diz-se do hinduísmo ser politeísta.
Por isso um devoto pode ter sucesso na sua prática através do Brahman absoluto ou dos deuses cósmicos – ao fim, trata-se da mesma coisa com formas diferentes
O sistema de castas do hinduísmo
O sistema de castas da Índia hinduísta possui quatro castas principais: brâmanes (sacerdotes, professores, estudiosos), kshatriyas (guerreiros, protetores da justiça), vaisyas (trabalhadores manuais, fazendeiros, artífices) e sudras (serviçais e prestadores de serviços considerados de mau karma: caça, açougue, couro, etc). Nas palavras de Sri Chinmoy:
O sistema de castas serviu e ainda agora serve a um certo propósito. Apesar de todas as suas degenerações, ele tem sido um sistema que une as diferentes partes da sociedade. Se tentamos vê-lo como um sistema que une pessoas ao invés de dividi-las, compreenderemos melhor o valor que teve por milhares de anos. A sociedade foi concebida como uma grande família. Cada grupo trabalha para fazê-la funcionar harmoniosamente. Numa família, um irmão pode ser um professor espiritual, outro um executivo, outro um mercador e outro um fazendeiro.Cada um auxilia a família nas horas de necessidade. É o conhecimento combinado e cooperação harmoniosa que criaram uma verdadeira unidade na vida familiar. O mesmo acontece com o sistema de castas. Cada grupo possui responsabilidades e deveres. Cada um trabalhava pelo bem do todo. Mas a questão é como se utiliza esse sistema. Por si só, o sistema de castas tinha muita verdade e valor, mas posturas ruins se apossaram dele e fizeram que o sistema todo fosse trocado por algo mais adequado a uma sociedade moderna e avançada. Sri Chinmoy, AUM – Vol. 1, No. 7, February 27, 1966
O livro sagrado do hinduísmo
O hinduísmo possui vários livros sagrados, incontáveis até. Podemos classificar alguns deles assim, como principais, em ordem aproximadamente cronológica: Os Vedas, Upanishads, Ramayana, Mahabharata e Bhagavad Gita. Dentre eles, o mais famoso e importante é o Bhagavad Gita:
Livros sagrados do hinduísmo: o Bhagavad Gita
O Gita é uma mera palavra? Não. Um discurso? Não. Um conceito? Não. Uma forma de concentração? Não. Uma forma de meditação? Não. O que é, então? Ele é A Realização. O Gita é o Coração de Deus e o alento do homem, a garantia de Deus e a promessa do homem.
A inspiração do hinduísmo é o cuidado-alma do Gita. A aspiração do hinduísmo é o despertar-bênção do Gita. A emancipação do hinduísmo é a luz-compaixão do Gita. Mas dizer que o Gita é monopólio do hinduísmo é um absurdo. O Gita é propriedade comum da humanidade.
O ocidente diz que tem algo especial para oferecer ao oriente: o Novo Testamento. O oriente aceita o oferecimento com a mais profunda gratidão e oferece o seu maior orgulho, o Bhagavad Gita, em troca.
O Gita é único. Ele é a escritura das escrituras. Por quê? Porque ele ensinou ao mundo que a emoção pura, a devoção genuína, pode facilmente correr lado a lado com a sólida filosofia, o desapego dinâmico.
- Sri Chinmoy
Os livros sagrados do hinduísmo: Mahabharata e Ramayana
De histórias e lendas, das devoções dos povos e de revelações védicas, dois grandes épicos foram criados: o Mahabharata e o Ramayana. Ambos são livros sagrados do hinduísmo, construídos ao redor das vidas dos grandes heróis e santos e da guerra entre o bem e o mal. O Ramayana conta os feitos do príncipe Rama de Ayodhya, que para a fé hindu é um dos Avatares humanos, a ‘vinda’ ou encarnação de Deus. O Mahabharata tem em seu cerne a história de cinco irmãos de família real, os Pandavas, e sua rivalidade com seus primos, pelo trono do reino. Eles são auxiliados em seus desafios por Krishna, também um herói e rei, e outro dos Avatares humanos. Ambos os épicos oferecem uma visão do dharma, a conduta correta da vida humana, juntamente com ensinamentos e exemplos abundantes de como essa visão pode ser manifestada através da ação correta.
O Mahabharata contém o Bhagavad Gita, ‘A Canção do Senhor’, que são os ensinamentos de Krishna a seu amigo íntimo e discípulo Arjuna, quando a batalha que é o clímax do épico está prestes a começar. Essa é a mais conhecida das escrituras hindus, e, como Sri Chinmoy diz, “a propriedade comum de toda a humanidade.” Incontáveis buscadores encontraram no Gita não apenas inspiração e consolo, mas também lucidamente enxergaram princípios espirituais que podiam aplicar em cada situação interior e exterior. A vida é certamente uma batalha tal como a que Arjuna se deparou, e Krishna certamente ensina como essa batalha pode ser encarada, lutada e vencida. O comentário de Sri Chinmoy explica como e por quê. O ensinamento do Bhagavad Gita é amor, devoção, entrega e o yoga dinâmico da ação, que somente é possível quando vivemos no amor. Ele é, em essência, o próprio ensinamento de Sri Chinmoy também – ancestral, moderno e eterno.
Os videntes védicos do hinduísmo
Viram a beleza universal da vida
E se tornaram
A fragrância transcendental
Do seu alento.
Hinduísmo e meditação
Por fim, rapidamente, a meditação se encaixa no hinduísmo como uma das práticas espirituais que levam à unicidade com o Divino, Brahman, Deus. Desde os primórdios da religião hindu, os videntes védicos (rishis) começaram a sedimentar as bases do hinduísmo através das visões que tinham durante suas meditações.